2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 14
A revelação


Notas iniciais do capítulo

O capítulo hoje vai ser bem longo, espero que tenham paciencia pra lerem até o final! E por favor, deixem reviews tá? Quero saber como estou indo.



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No capítulo anterior, Franja descobriu a verdade sobre o vale Cho Ming. Essa era a peça que faltava para completar o quebra-cabeças e agora ele sabe que precisa contar a verdade para o resto da turma.

28 DE FEVEREIRO DE 2012

- Se eu falei com o Ângelo esses dias? Não...
- Então você não notou nada de diferente?
- Bem... de diferente teve uma coisa sim. - Aninha contou para ela sobre o fato inusitado que tinha acontecido em seu trabalho, quando apareceu perto do seu computador aquele biscoito da sorte. Mônica se interessou.
- O que ele dizia?

Ela tirou o papel da bolsa e mostrou para a amiga, que leu a mensagem sentindo arrepios pelo corpo inteiro.

- Credo, acho que o Ângelo pegou pesado!
- Ah, é? Então foi ele quem deixou isso aí na minha mesa?
- Foi sim. Ele tem deixado pistas pra turma toda querendo avisar de alguma coisa que vai acontecer em julho.
- E o que vai acontecer?
- Depois da escola, a turma toda vai reunir na casa do Cascão. Parece que o Franja tem uma coisa importante pra dizer. Aí a gente fica sabendo.

O sinal do fim do intervalo bateu e Mônica voltou para a sala ainda pensando na mensagem que Ângelo tinha deixado para Aninha. Era uma mensagem simples e ao mesmo tempo cheia de significados.

- E aí, falou com a Aninha? – Cebola perguntou aproveitando-se de que o professor ainda não tinha chegado.
- Falei. O Ângelo deixou uma mensagem pra ela num biscoito da sorte.
- E o que a mensagem dizia?
- Dizia: "Viva o hoje, pois o ontem já se foi e o amanhã talvez não venha”.

O rapaz remexeu inquieto em sua carteira.

- Parece que o negócio é sério mesmo!
- Acho que sim, Ce. Nossa, isso até deu medo!
- Bom, por enquanto vamos esperar pra ver o que o Franja vai falar. Ele disse que descobriu muitas coisas no site do primo do louco...
- Agradeçam a Denise-toda-poderosa-que-tudo-sabe-e-tudo-vê! – uma figura espalhafatosa surgiu diante deles, quase matando os dois de susto! – Foi graças as minhas dicas quentíssimas que ele descobriu esses babados loucos!
(Mônica) – Denise, o assunto é sério! Sabe-se lá o que vai acontecer em julho?
- Eu não sei, mas vou publicar tudinho no meu blog! Aí, quando acontecer, todo mundo vai saber que eu falei primeiro!
(Cebola) – Ninguém merece!

Quando o professor entrou na sala, Denise teve que ir ao seu lugar deixando Cebola feliz por ter ficado livre do falatório dela. Ele pegou o caderno da Mônica, onde ela tinha anotado as pisas que cada um deixou e leu uma a uma, procurando juntar as peças do quebra cabeça.

1. Cebola e Mônica- Filme sobre terremotos.
2. Xaveco - Chamar a atenção sobre a data 2012
3. Denise - O vídeo no blog do Licurgo
4. Titi - Olimpíadas de julho deveriam ser adiantadas
5. Cascão - Chapada dos Guimarães e dos Veadeiros
6. Carmen - Tomar cuidado com o sol
7. Magali - Chamar a atenção para os maias
8. Cascuda - Ir a chapada dos Guimarães e dos Veadeiros antes de julho
9. Franja - Construir um sismógrafo
10. Aninha - Frase “Viva o hoje, pois o ontem já se foi e o amanhã talvez não venha”

Isoladamente, aqueles itens não faziam nenhum sentido, mas quando um era relacionado com a outro, ele pode ver que transmitiam uma mensagem ao mesmo tempo clara e sinistra. Aquilo, somado as construções estranhas que Franja disse ter visto no vale Cho Ming, mostrava para ele que algo extraordinário  e talvez catastrófico ia acontecer em julho.

Magali ouvia e observava seus amigos conversando sobre aquele assunto, trocando bilhetes e mensagens de celulares. Ela mantinha a cabeça baixa, fingindo estar estudando o livro de matemática sendo que na verdade sua mente dava voltas com tudo aquilo. Ao saber que o Franja tinha convocado uma reunião, ela tentou repetir para si mesma que era para tranqüilizar a turma dizendo que nada ia acontecer em julho.

“Calma, não deve ser nada! o Franja é inteligente demais pra acreditar nessas coisas!”  ela repetia para si mesma todas as vezes que lembrava desse assunto. Ainda assim, ela sentia uma coisa ruim em seu peito todas as vezes que Mônica tocava no assunto ou quando Cebola aparecia com alguma notícia de terremoto que tinha acontecido no território brasileiro. Será que aquilo não ia acabar nunca?

Depois da aula, Mônica ainda a lembrou do encontro na casa do Cascão. Magali respondeu.

- Eu vou depois do almoço. A gente se encontra lá, tá bom?
- Tá bom.

As duas se separaram e Magali foi para sua casa ainda sentindo seu coração apertado. Não, ela não pretendia ir a esse encontro de jeito nenhum. E se o Franja desse uma notícia ruim? Como lidar com aquilo? Sua vida não ia mais ser a mesma e ela tinha medo de perder o sossego.

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Enquanto esperava o sinal abrir para atravessar a rua, Dorinha sentiu uma presença do lado dela.

- Oi, Ângelo! Você já sabe da reunião que o Franja convocou pra hoje?
- Sei sim. Você vai, não vai?
- Claro! Acho que finalmente o pessoal vai saber da verdade.

O sinal abriu e Ângelo ajudou a moça a atravessar a rua. Quando chegaram do outro lado, ele falou.

- Por favor, conversa com o pessoal e dá aquele recado que eu te falei. Eles precisam acreditar em mim.
- Pode deixar que eu falo sim.
- E tem mais uma coisa que eu queria pedir.
- O quê?
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- Filha, você não está comendo direito. Algum problema? – sua mãe perguntou ao ver que Magali estava praticamente beliscando a comida quando geralmente sua filha comia com apetite.
- É que eu não tô com muita fome hoje não, sabe...
- Aconteceu alguma coisa?

Ela pensou e perguntou.

- Mãe, e aquelas trincas que estão aparecendo aqui em casa?
- Ah, essas trincas? Eu heim! Elas estão dando um trabalhão pro seu pai! Quando o pedreiro conserta uma, aparece outra!
- ... – ela abaixou a cabeça, controlando a vontade de chorar. Sua mãe levantou uma sobrancelha.
- É isso que te preocupa?
- E se nossa casa cair? E se o bairro inteiro desmoronar e não sobrar nada? O que a gente faz?

Lili assustou-se com as perguntas da filha, que lhe pareceram fora de propósito.

- Magali, isso não vai acontecer nunca!
- Mas e os terremotos que estão tendo aqui no Brasil?
- Isso? Bom, na TV falaram que de vez em quando acontecem terremotos aqui mesmo, só que nenhum deles causa grandes estragos.
- Então é normal?
- De certa forma, sim. Ah, filha! Não fique impressionada com essas coisas. Anda, coma direito que você precisa se alimentar!

Depois do almoço, Magali foi para o seu quarto e ficou andando em círculos, sentando-se e levantando-se várias vezes sem saber o que fazer. A hora do encontro na casa do Cascão estava se aproximando e ela oscilava entre a decisão de ir ou ficar trancada em seu quarto debaixo da cama. Por fim ela tomou uma decisão e saiu na direção oposta a da casa do amigo. Não, ela não pretendia comparecer aquela reunião de jeito nenhum! Se seus amigos queriam saber de más notícias, era problema deles. Ela não queria se desgastar com aquelas coisas!

Magali desligou o celular e correu até o campinho, onde ela sabia que não ia encontrar ninguém da turma. Ela sentou-se a sombra de uma arvore e ficou ali, encolhida e abraçando os joelhos numa tentativa de se proteger de algum perigo iminente. Enquanto durasse a reunião, ela não ia sair dali de jeito nenhum.

- Tomara que ninguém venha me procurar aqui, tomara! Eu não quero saber de nada, não quero saber de nada! – ela foi repetindo em voz baixa enquanto balançava levemente seu corpo para frente e para trás.

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Chegando na casa do Cascão, Mônica viu que boa parte da turma estava lá, mas ainda faltavam alguns membros.

- E a Magali?
(Cebola) – Ué, ela não veio com você?
- Não! Ela disse que ia vir depois do almoço!
– Então liga pra ela!
- Eu tentei, mas só dá na caixa de mensagem!
– Então eu acho que ela não vem mesmo. Sei lá, ela tava meio estranha durante a aula. Parece que isso tá mexendo um pouco com a cabeça dela.
- Coitada... Tomara que o Franja tenha uma notícia boa pra dar, assim ela fica mais tranqüila.
- Você não vai atrás dela?
- Melhor não. Se forçar demais, pode ser pior. Vou deixar ela quieta por enquanto.

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Magali estava tão fechada em si mesma que não percebeu que uma pessoa tinha se sentado a sua frente. Só mesmo quando uma mão suave pousou em seu braço é que ela levantou a cabeça.

- Dorinha? O que tá fazendo aqui?
- Eu pergunto a mesma coisa. A turma toda já deve estar reunida na casa do Cascão, só falta a gente!
- Falta você. Eu não vou!
- Por que não?
- Porque eu não quero saber!
- E por que você não quer saber?
- Porque não!
- Você está com medo?

Ela não respondeu e abaixou a cabeça novamente.

- Magali, eu sei que você está com medo porque eu também estou, e com muito!
- O Ângelo deve ter se enganado, ou então o Cebola é que não entendeu o recado dele direito! Não pode ser isso, não pode!
- Seja como for, você só vai saber se comparecer a reunião da turma. Sentada aí você não vai saber de nada!
- E por que eu iria querer saber de alguma coisa?
- Se a notícia for boa, você vai ficar aliviada e a vida segue. Senão, você poderá ter uma chance de fazer alguma coisa pra si mesma e pra sua família.

Magali levantou a cabeça novamente.

- Minha família...
- Isso mesmo! Magali, não importa o quanto você fuja, isso não vai mudar os fatos. E olha, de fraca você não tem nada, viu? Eu sei muito bem o que você fez no reino dos gatos e fez tudo sozinha!
- Isso é...
- Você tem que ser forte, amiga! Seja lá o que for que irá acontecer, você tem que ser forte! Por você e pelos seus pais! Se você fraquejar, se continuar não querendo saber da verdade, quem irá avisá-los?
- Ai, é mesmo! – ela exclamou assustada. – Eu não tinha pensado nisso!
- Pois então pense. E venha comigo pra casa do Cascão. A turma está esperando a gente.

Após pensar mais um pouco, Magali enxugou as lágrimas e levantou-se, sendo seguida por Dorinha.

- Tá bom, eu vou. E seja o que Deus quiser!

Dorinha sorriu feliz por ter conseguido empurrar Magali para frente. Não foi a toa que Ângelo tinha lhe pedido que fosse até o campinho antes de ir para a casa do Franja. 
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Foi com grande alivio que Mônica viu Dorinha e Magali chegando juntas. Pelo aspecto da amiga, deu para ver que ela tinha chorado.

- Magá, você tá bem?
- Tô sim, Mô. Vamos ouvir o que o Franja tem a dizer.

Sem que Magali percebesse, Mônica agradeceu Dorinha em voz baixa e as duas se acomodaram para esperar o início da reunião.

Todos estavam reunidos na casa do Cascão, já que seus pais tinham saído e ali eles poderiam conversar sossegados. A turma inteira estava presente, sem faltar nenhum membro, deixando a sala menor do que era realmente. Uns sentaram-se nos sofás, outros se acomodaram nas diversas cadeiras que Cascão tinha colocado. DC havia se sentado no chão só para contrariar e Cebola estava em um lugar onde podia ser visto e ouvido por todos.

- Pessoal! – começou tentando fazer silêncio. – É o seguinte, eu chamei vocês aqui porque o Franja tem algo importante a dizer.

O burburinho cessou e ele pode falar mais claramente.

- Seguinte. Outro dia a Mônica e eu percebemos que o Ângelo queria nos dizer algo, mas não podia falar diretamente. Então ele começou a deixar pistas pra a gente seguir e descobrir pro nós mesmos.
(DC) – E o que vocês descobriram?
- É complicado de explicar, mas quem viu aquele vídeo no blog do Licurgo já deve ter uma idéia do que seja.
(Quim) – Você tá falando que aquilo vai mesmo acontecer? Tá doido?

Algumas conversas paralelas iniciaram e ele teve que conseguir silêncio novamente.

- Olha, gente, todas as pistas que o Ângelo deixou apontam pra esse caminho. Vocês o conhecem, ele é nosso amigo desde que éramos crianças e sempre nos protegeu. Ele não ia fazer brincadeira com esse tipo de coisa.
(Carmen) – Pode até ser, mas aquele vídeo no blog do Louco é absurdo demais! Terremotos destruindo o mundo todo? Menos, né?
(Mônica) - Isso já está acontecendo. Ou ninguém aqui está vendo nos noticiários o aumento na quantidade de terremotos? E as trincas que andam aparecendo nas casas de todo mundo?
(Titi) – Deve ter outra explicação, sei lá. Até agora eu não percebi nenhum terremoto.
(Xaveco) – É porque não tem terremoto no Brasil. Só alguns tremores de terra e nada mais.

Os outros concordaram. Mesmo que estivesse ocorrendo uma onda de terremotos em outras partes do mundo, eles não acreditavam que havia chances de tal coisa acontecer o Brasil também. Cebola voltou a falar.

- Gente, isso é pra valer! Já tá rolando terremoto acima de cinco aqui em São Paulo mesmo! A coisa vai ficar séria e o Franja até já tem provas de tudo!

Todos ficaram em silêncio novamente e as atenções se voltaram para o Franja, que já tinha ligado seu laptop e carregado as imagens do vale Cho Ming. Antes de mostrar as fotos, ele falou sobre as medições do seu sismógrafo, sobre o aumento da taxa de neutrinos emitidos pelo sol e os efeitos que essas partículas estavam exercendo no núcleo da terra e também sobre o campo magnético terrestre, que estava diminuindo rapidamente. Ele tentou falar tudo isso de forma que até a Carmen fosse capaz de entender.

- E não é só isso, galera! A Denise tinha olhado aquele blog do primo do Licurgo e me enviou uns links...
- Eu sempre dou dicas quentíssimas! – ela o interrompeu, orgulhosa por sua colaboração.
- Nesse blog tem o mapa de um local onde ele dizia estar sendo construídas arcas para salvar as pessoas.
(Jeremias) – Fala sério! Você tá mesmo acreditando nesse maluco? Ele é primo do louco, esqueceu?
- Ele pode até ser primo do Licurgo, mas pelo menos nesse ponto ele acertou. Eu usei um satélite da nave Hoshi para olhar o local e olhem o que eu encontrei!

Ele mostrou as fotos para o resto da turma e todos se amontoaram em frente ao laptop enquanto as imagens iam sendo mostradas uma a uma. Dava para ver que eram grandes barcos.

(Tikara) – Isso deve ter alguma explicação!
(Cebola) – E por que eles iriam construir barcos enormes naquela altitude? Não tem água ali e eles estão longe do litoral!
(Lucas) – E será que são barcos de verdade? Pode ser outra coisa...
(Franja) – O governo da China diz que aquilo ali é uma represa, mas dá pra ver muito bem que é outra coisa bem diferente. Se eles estão mentindo, é porque estão escondendo algo muito grave!

Apesar das evidências, as opiniões ficaram divididas e a maioria não estava levando aquilo a sério.

(Denise) – Tá bom, vou fazer de conta que acredito que alguma coisa vai mesmo acontecer. E aí? O que a gente faz?
(Carmen) – Você disse que os bichinhos do sol vão enfraquecer o campo de sei lá o que da Terra... então eu terei que fazer um estoque de protetor solar?
(Cebola) – Não, Carmen. Não se trata só disso! Pessoal, a coisa vai ficar feia por aqui, a gente tem que procurar um local seguro!
(Quim) – E onde seria?
- Pelas pistas que o Ângelo nos deu, os locais seriam a Chapada dos Guimarães que fica no Mato Grosso ou dos Veadeiros que fica em Goiás.
(Denise) – Pirou na batatinha? Você quer que a gente arranque daqui pra ir até esses outros estados?
(Marina) – A Denise está certa, Cebola! Nossos pais não vão querer sair daqui pra ir a esses lugares.
(Nimbus) – Eles não vão nem acreditar na gente! 
(Cebola) – Tentem convencê-los, o assunto é muito grave! Aqui não vai dar mais pra ficar!
(Carmen) – Bom, minha família tem uma linda casa de praia em Santos!

Franja balançou a cabeça e falou a ela como se falasse com uma criança de dez anos.

- Carmen, com a série de terremotos que teremos na terra, o litoral é um dos piores lugares para se ficar.
- Por quê?
- Terremotos no oceano geram tsunamis, que são ondas gigantescas que inundam e destroem tudo por onde passam.
- Então não vai dar pra ficar em Santos?
- Nem em Santos, nem em praia nenhuma. Nessa situação, quanto mais para o interior do país a gente for, melhor.

O pessoal começou a conversar entre eles, uns reclamando da distância que teriam de percorrer para ficarem seguros, outros duvidando seriamente da veracidade dos fatos. Com algum trabalho, Cebola conseguiu voltar a falar.

- Pessoal, vocês precisam convencer seus pais a saírem daqui o mais rápido possível. Quanto mais a gente demorar, pior vai ser!
(Titi) – Eu não entendo... se algo de tão grave vai acontecer, por que o Ângelo não falou diretamente? E pensando bem, por que ELE não está aqui nessa reunião pra falar o que tá acontecendo?

Dorinha, que até então estava em silêncio, levantou-se de onde estava sentada e respondeu.

- Porque ele não pode. No lugar de onde Ângelo vem existem regras que não podem ser quebradas. Ele não tem permissão para falar diretamente, por isso foi nos dando pistas para que a gente pudesse descobrir sozinho.
(Marina) – E você acredita nele?
- Sim, acredito. Eu sempre confiei nele e acho que vocês deveriam confiar também. Ele é anjo da guarda da nossa turma e quer nos ajudar, mas nós temos que fazer a nossa parte também.
(DC) – Humpt! Detesto regras! Por que ele não abriu uma exceção pra gente? Ficou com medo de perder as asinhas?

Dorinha balançou a cabeça e falou com toda paciência.

- Não, DC. Ele me disse que se fosse contra a lei, poderia acabar perdendo a função de anjo da guarda e a gente nunca mais iria ver ele de novo.

DC ficou mudo, sentindo-se um tanto envergonhado com a brincadeira.

(Aninha) – E por que ele falou pra você?
- Ele não falou, eu descobri por conta própria. Gente, vocês precisam confiar no Ângelo! Ele nunca brincaria com uma coisa dessas!

Marina começou a soluçar, escondendo o rosto com as mãos.

- Então isso é sério?
- Sim, amor. É sério. Vem cá... – Franja a envolveu carinhosamente tentando confortá-la e aquilo pareceu iniciar uma reação em cadeia.
(Denise) – Me quebra um ovo que eu tõ chocada! O que a gente vai fazer?
(Carmen) – Ai meu santo! Se o mundo acabar, meu papi não vai poder me dar o carro no ano que vem!

Um desespero geral foi tomando conta de todos. Foi preciso que Mônica gritasse furiosamente para que os ânimos se acalmassem.

- Gente, calma lá! Eu sei que isso é grave, mas ficar chorando não vai adiantar nada! O que vocês tem que fazer é convencer seus pais a saírem daqui o mais rápido possível!
(Cascuda) – Aí é que está, Mônica! Eles não vão acreditar na gente!
(DC) – Quando verem os terremotos, vão acreditar.
(Cebola) – É, só que aí vai ser tarde. Nós temos que buzinar no ouvido deles até cansar! É o único jeito.
– Meu pai não vai querer abandonar a padaria!
(Cebola) – Ele pode abrir uma padaria em outro lugar, Quim, mas só se vocês sobreviverem.

Ele abaixou a cabeça e Magali o abraçou carinhosamente. Ela também chorava e nem conseguia falar direito por causa da angústia que sentia.

(Xaveco) – Peraí! E pra onde a gente vai?
(Mônica) – Temos que escolher entre a chapada dos Guimarães ou dos Veadeiros. Foi onde Ângelo indicou como lugares seguros.
(Cebola) – Vamos tentar ir pro mesmo lugar, mas se não der, cada um vai para onde for possível. Aqui é que não dá pra ficar mais.

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Boris olhava tudo por uma janela, vendo que o pessoal estava reunido. Seus ouvidos sensíveis puderam ouvir a conversa. “Então eles já sabem? Porcaria! Aquela menina me deu trabalho a toa! Bem... já que estou aqui, não vou perder a caminhada!”

Nimbus sentiu uma espécie de inquietação que o fez olhar para a janela e ver ali um gato preto. Ele logo viu que era o gato comparsa da Viviane. O que ele queria ali?

- Gente, espera que eu volto já.

Antes que alguém pudesse perguntar alguma coisa, ele saiu da casa rapidamente e foi encontrar com o gato.

- O que foi, Boris?
- Vim trazer um recado da Ramona.
- Aconteceu alguma coisa com ela?
- Fica quieto e escuta porque eu não tenho muito tempo.

Após ele explicar brevemente o que tinha acontecido com Ramona e o que estava prestes a acontecer com o planeta, Nimbus cerrou os punhos com raiva.

- Como ela pode fazer isso com a própria filha? Eu tenho que ir ajudá-la agora!

O gato deu uma risada cínica com a ingenuidade do rapaz.

- Não queira bancar o cavaleiro de armadura brilhante agora, rapaz. A Ramona estará mais do que segura quando formos pra outra dimensão. Preocupe-se em salvar o seu próprio traseiro.
- Ela vai ficar bem?
- Pode acreditar que sim. A Viviane é carne de pescoço, mas seria capaz até de dar a vida pela filha dela.

Os olhos do rapaz encheram de lágrimas.

- Eu nem pude me despedir dela...
- Paciência. Ela disse que te ama e que sente muito por não poder falar com você pessoalmente.
- Ela não tem que se desculpar, eu entendo. Diz pra ela que eu também a amo...
- Que meloso, já estou ficando com diabetes! Está bem, eu preciso ir agora antes que a dona bruxa perceba que eu saí. Adeus e boa sorte!

O gato desapareceu dali, deixando o rapaz desolado.

- Mano, o que foi?

Ele enxugou as lágrimas rapidamente e deparou-se com DC junto os seus amigos que estavam logo atrás.

- DC, gente, o negócio é pra valer mesmo.
- Então quer dizer que... – DC parou de falar sentindo um nó na garganta. Havia coisas que não podiam ser contrariadas e a gravidade da situação era uma delas.

Ele repassou para os amigos o que soubera da Ramona, deixando todos apreensivos e com lágrimas nos olhos. Mônica e Cebola se abraçaram, sendo imitados pelos outros casais da turma. Embora já imaginassem que aquilo ia acontecer, ter a confirmação era doloroso demais. Os jovens voltaram para dentro e DC tentava consolar o irmão, embora ele próprio estivesse com muito medo.

Após enxugar as próprias lágrimas, Cebola voltou a falar.

- Então é isso, gente. Antes do fim desse ano, isso tudo aqui não vai existir mais.

Magali protestou.

- Não é justo! A gente cresceu aqui e agora tudo será destruído!

Mônica a abraçou, tentando consolá-la.

- Amiga, o importante é a gente sobreviver. O resto a gente vê depois.
- Como a gente vai sobreviver, Mô? O mundo inteiro vai se despedaçar! – Magali começou a chorar de novo e Quim tentava confortá-la para evitar que aquilo contagiasse o resto da turma.

Não havia muito o que se fazer a não ser fugirem dali o quanto antes.

(Cebola) – Se a gente deixar para a última hora, pode não dar mais. Temos que convencer nossos pais de todo jeito!

Todos concordaram. Era hora de tomar novos rumos em suas vidas.


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