BORN TO KILL - versão Clove escrita por Mrs Delacour


Capítulo 30
Tique-taque


Notas iniciais do capítulo

HEEEEEEY :)
Como cêis estão? Bem, eu sei.
Capítulo GRANDE (euachei) dedicado á Lethicia Vieira, porque ela disse que o outro cap. estava pequeno. Aproveite Lethicia.
E não! Eu não virei um ser ignorante só porque não estou respondendo os reviews, é que eu to com preguiça mesmo rçrç. Mas fora isso, ta tudo bem.
Espero que gostem do cap. E obrigado á leitoras que estão elogiando a fic. Beijoos pra vocês e boa leitura.



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             [Rolling In The Deep – Adele]

- Porque tanto olha para lá? – diz Peeta. Demoro a perceber que ele está falando comigo.

- Oh, sim, eu não sei – digo – Eu... Ah... É só uma sensação boba.

- De estar sendo vigiado? – ele diz.

- É – digo – Isso.

- Não deve ser nada – ele diz, sorrindo. Balanço a cabeça em concordância.

Madge se aproxima de nós e se senta entre mim e Peeta. Qual é a razão desse comportamento? É como se eu e Peeta não pudéssemos ficar perto um do outro ou então iríamos explodir. É como se Peeta fosse só dela. Que eu saiba eles não estão namorando e nem tiveram um relacionamento. Ou tiveram?

- Será que eles têm morangos aqui? – ela diz.

Morangos? Como assim? Para mim já chega. Continuo a olhar para ela sem entender aonde ela quer chegar com essa conversa de morangos.

- Eu vou me deitar – digo – Se virem para ficar de vigia.

- Não, Clove. Fica mais um pouco – Peeta sorri.

- Boa noite, Peeta – digo, fria e direta.

Mesmo sabendo das condições de Peeta e sabendo que Madge é uma imbecil lesada, eu os deixo decidir quem ficaria acordado e na responsabilidade de nos acordar e nos alertar que há perigo. Se Madge ficar de vigia estamos ferrados.

Me deito entre Finnick e Cato. Não demoro muito para adormecer. Os sonhos esquisitos reaparecem. Maysilee Donner está nele e Katniss Everdeen também.

[...]

- Acorda, Clove – a vozinha irritante está de volta.

- O que você quer, Madge?

- Todos saíram para caçar, só ficamos nós duas. Achei melhor te acordar. Sabe, não é muito bom ficar na arena sozinha – ela diz.

- Hum – digo – Você não sabe nem ao menos usar uma arma? Um arco e flecha? Uma faca? Uma espada?

- Não – ela diz.

- Nada? – digo

- Nada.

- Como assim? Como... Você vem para o Massacre Quaternário e nem ao menos sabe usar uma arma! – grito.

- Qual o problema? – ela diz, naturalmente.

- Ah... Ãn... Nenhum – sussurro. Estou tão chocada que perdi a voz. Quer dizer então que se alguém aparecer agora eu vou ter que fazer tudo sozinha?

Escutamos trovoadas. Fortes e tão altas que tapo meus ouvidos com as mãos. Outra névoa? Mas ela não está próxima. Puxo o braço de Madge e saio correndo em direção á floresta. Não tão distante da praia porque Cato, Finnick e Peeta podem aparecer a qualquer momento e quando perceberem que sumimos ficarão malucos. A trovoada para e escutamos barulhos de pingos nas folhas. Mas a chuva não cai onde estamos. Ela está mais perto agora, só que não tanto.

- Olha – diz Madge, apontando para a praia – Eles voltaram.

- É, voltaram – digo, ainda prestando atenção na chuva.

- Está sentindo o cheiro de sangue? – ela diz, e gira a cabeça várias vezes em busa de algo.

Pela primeira vez tenho que concordar com a Maluca dos Morangos. É cheiro de sangue. Dessa vez é Madge quem me puxar para a praia.

- Aí estão vocês – diz Finnick. Ele já está disposto e não parece o mesmo de ontem á noite.

- Estamos – digo. Estou tão dispersa que digo qualquer coisa á qualquer um, ou apenas repito sua última palavra pronunciada – Chuva – aponto para a floresta.

- Não devemos confiar em mais nada, nem ao menos na chuva. Se é que podemos chamar de chuva depois do que aconteceu – diz Peeta.

Ao longe, ouve-se gritos apavorados. Da posição contrária à nossa, a selva começa a vibrar. Sentimos a terra tremer. Uma onda surge bem no alto da montanha, acima das árvores, rugindo encosta abaixo.

Um canhão soa. Vemos o aerodeslizador aparecer sobre a área no local onde a onda começou e pegou um corpo do meio das árvores. Doze, penso. Desde que entrei aqui não parei para ver os rostos dos vitoriosos mortos no céu, mas o canhão é impossível não se ouvir.

  Percebemos uma movimentação estranha vinda da mata. Escondemos-nos atrás de uma pedra enorme, mas não tão alta – o que nos permite ter um campo de visão excelente, até eu que sou baixinha cosigo ver tudo. Um ser avermelhado sai de dentro da floresta. Correndo que nem louco.

 - Bestantes? – diz Cato.

Não é um ser e sim um vitorioso. Ou uma vitoriosa. Ela se esfrega e parece ter nojo de si mesma.

- Venham logo seus lerdos – escuto ela gritar para os outros. Não consigo identificá-la por causa da distância e por causa do líquido vermelho que está em seu corpo. O trio está em péssimas condições. Um está praticamente sendo arrastado pelo outro, e o terceiro vaga em círculos, como se estivesse fora de si. Eles parecem ter sidos mergulhados em tinta e depois deixados para secar.

A única arma que posso usar agora é o arco e flecha que Madge carrega nas costas. Sim, dei a ela, pelo menos ela serve para carregar alguma coisa. O pego de suas mãos e me preparo para o ataque. Surpreendo-me ao ver a vitoriosa que antes gritava, pisar na areia, frustrada, e cair no chão.

A vitoriosa que acaba de gritar não é ninguém menos que Johanna Mason.

- Aquela ali não é a... – digo, procurando por Finnick para lhe dizer quem é o ser avermelhado, mas ele já não está mais ao meu lado – Finnick? Finnick!

Todos procuramos por Finnick e só depois de um tempo percebemos que ele já correu para perto de Johanna há muito tempo. Troco olhares de duvida com Peeta – que está ao meu lado.

- Johanna! – grita Finnick.

- Finnick!- ouço a voz de Johanna responder.

- Vamos embora. Deixe que ele morra sozinho – diz Madge.

- Madge... Calada – digo – Nós não podemos deixá-lo.

Cato e Peeta assentem e saímos correndo em direção aos seres avermelhados, deixando Madge sozinha atrás da pedra. Johanna está sentada no chão, gesticulando muito e apontando para a floresta, sem contar que ela fala rápido demais. Ela me lembra a falecida Mags. Oh, Mags. Mesmo sem entender nada do que ela falava, eu adorava a sua presença. Seu sorriso desdentado. Seus anzóis. Os petelecos que ela me dava a cada vez que eu falava alguma coisa errada. Enfim... Mags se foi. Lembrar-me dela só traz tristeza.

Á medida que nos aproximamos, vejo quem são os companheiros dela. É Beetee, de costas no chão, e Wiress que acabou de se levantar e continua girando em círculos.

- Uma chuva – diz Johanna, perdida nas palavras – A gente pesou que se trava de uma simples chuva, por causa do relâmpago, e estava todo mundo morrendo de sede. Uma chuva onde pudéssemos ao menos beber uma gota de água. Mas quando ela começou a descer, a gente viu que na verdade era sangue. Sangue quente e espesso. Não dava para ver, não dava para dizer se era ou não sem beber um pouco – onde está a Johanna Mason sarcástica e ignorante? A garota que vivia nua no Centro de Treinamento? Ela virou uma maluca – Nós simplesmente começamos a cambalear de um lado para o outro, sem rumo, tentando sair de lá, quando Blight atingiu o campo de força – seu tom de voz frenético passou a ser gritos exagerados. Ela gritava e gritava. Repetia por várias vezes chuva e sangue e gesticulava como uma maluca.

- Sinto muito, Johanna – diz Finnick. Demoro um pouco para perceber que Blight era o companheiro masculino de Johanna, os dois do Distrito 7, mas quase não me lembro de tê-lo visto.

- Tudo bem. Ele também não era grande coisa – ela se acalma - E me deixou sozinha com esses dois – com o sapato ela cutuca Beetee – Ele estava com uma faca nas costas na Cornucópia. E ela...

Olhamos para na direção de Wiress, que gira sem parar, coberta de sangue, e murmura:

- Tique-taque, tique-taque.

- É isso aí, a gente sabe. Tique-taque. Pancada está em estado de choque – diz Johanna. Isso parece atrair Wiress para Johanna. Ela anda na direção de Johanna com uma feição de braveza, e Johanna a empurra duramente para a praia – Fique aí quietinha, certo?

- Deixe-a em paz – rebato.

- Deixá-la em paz? – irritada como sempre.  Ela dá um passo para frente antes que eu possa reagir e me dá um tapa com tanta força que fico tontinha – Quem você acha que os tirou daquela selva de sangue para você? Sua... – Finnick pega Johanna, que não para de se debater e me falar coisas absurdas, coloca-a no ombro e a carrega até a água. Ele a molha repetidamente enquanto ela berra um monte de coisas realmente insultuosas para mim. Tenho uma vontade de atirar, mas não atiro.  É que se por um acaso eu morrer na arena, você promete que cuida da Johanna para mim?, me lembro do pedido de Finnick no Centro de Treinamento. Odeio promessas.

- O que ela quis dizer? – pergunto a Cato.

- Não sei. No começo, você os queria como aliados – ele diz.

- É verdade. No começo.

Cato pega Beetee no braços, eu pego Wiress pela mão e voltamos para nosso acampamento pequeninho na praia. Peeta e Madge continuam parados olhando para o mar onde Finnick e Johanna estão.  Sento Wiress no banco de areia para que ela se lave um pouco, mas ela apenas esfrega as mãos uma na outra e ás vezes murmura:

- Tique-taque.

Arrastamos Beetee até a esteira que Finnick fez. Depois de tirar suas roupas encharcadas de sangue – deixando-o apenas com suas roupas casuais, as que usamos debaixo do traje da arena obrigatório – percebo um corte em suas costas de no mínimo uns 14 centímetros de comprimento que vai do ombro às costelas. Ai bem que não é tão profundo. Por mais que eu sinta uma vontade absurda de vomitar, me mantenho firme. É quando penso no musgo que Mags me deu para assoar o nariz na vez em que eu chorei horrores porque Peeta deu de cara com o campo de força.

Felizmente, a coisa parece ser bastante comum na floresta. Arranco um punhado das árvores próximas e volto para a praia. Esmago todos em uma pedra até se tornem um só bolo de musgo, coloco-o em cima do corte de Beetee e aperto com o maior cuidado, suando um bocado porque nunca fiz isso antes, corto um pedaço da sua roupa ensanguentada e a lavo na beira da água do mar e a amarro em suas costas como um perfeito curativo. Despejamos um pouco de água nele para que o sangue seco saia por inteiro de seu corpo moreno.

- Até que você é boa nisso. Curar – diz Peeta, que me ajudou esse tempo todo a cuidar de Beetee, enquanto Madge e Cato procuravam por comida e um córrego para nos trazer água fresca.

- Nem tanto – digo, na defensiva – Vou ver como está Wiress.

- Pancada – ouço Peeta sussurrar, com um sorriso disfarçado no rosto. Quero xingá-lo por chamar Wiress de Pancada. Já disse que não gosto disso e ele continua a dizer. Além do mais, porque estou com raiva do Garoto dos Pães, mesmo? Por várias vezes eu tento evitá-la, mas é impossível. Se não ajudarmos um ao outro, estamos perdidos.

Pego um punhado de musgos para utilizar como paninho e me junto a Wiress no banco de areia. Ela até me ajuda e se esfrega sua pele sozinha para tirar o sangue. Mas percebo seus olhos dilatados de medo.

- Tique-taque.

Ela parece querer me dizer alguma coisa, mas sem Beetee para explicar seus pensamente, fica difícil.

- É Wiress. Tique-taque – digo a ela, o que parece tranquilizá-la um pouco mais. Lavo o macacão dela até que não haja nem um traço de sangue e a ajudo a vesti-lo novamente.

Quano estou enxugando o macacão de Beeteee, uma Johanna brilhando de tão limpa sai lentamente da água do mar e um Finnick já sem as marcas das feridas causadas pela névoa sai ao seu lado. Durante um certo tempo, Johanna bebe água sem parar para respirar e se empanturra de crustáceos enquanto tento convencer Wiress a engolir alguma coisa. Finnick conta a Johanna, que está com os olhos brilhando de tanta concentração nas palavras pronunciadas pelo – pode-se dizer – sedutor, os detalhes sobre a névoa com uma voz fria e grossa, evitando o detalhe mais importante da história.

Todos se oferecem para montar guarda enquanto os outros descansam, mas no fim acabamos ficando eu e Johanna de vigias noturnas. Ficamos sentadas em silêncio até todos caírem num sono profundo.

Johanna olha de relance para Finnick, para se certificar de que ele realmente está dormindo, e então se volta para mim:

- Como foi que perderam Mags?

- Na névoa. Nós corremos e corremos até que não aguentamos mais. Eu fiquei de carregar Mags porque Finnick e Cato carregavam Peeta que deu de cara com o campo de força. Eu não consegui levar Mags e ela se foi – digo.

- Você sabia que ela era mentora de Finnick? – diz Johanna, num tom acusatório.

Balanço a cabeça na negativa. Eu realmente não sabia.

- Ela era quase da família dele – diz ela alguns instantes depois, só um pouco menos estressada.

Observamos a água tocar nossos pés.

- Não seria mais fácil se nos escolhessem e nos executassem de uma vez? Do que nos trancar nessa merda de lugar e nos fazer lutar com quem gostamos tanto? – ela diz, com os olhos cheios de água.

- Seria sim – respondo.

Ficamos em silêncio por um tempo. Johanna Mason não consegue esconder de mim o choro que está entalado na sua garganta, e sei que ele está lá há muito tempo.

- Tique-taque – ouço atrás de mim. Wiress veio se arrastando até nós. Seus olhos estão fixos na selva.

- Ah, só pode ser brincadeira – diz Johanna, secando suas lágrimas – Tudo bem, vou dormir. Montem a guarda vocês duas – ela se afasta e se deita ao lado de Finnick.

- Tique-taque – sussurra Wiress.

- Tique-taque. Hora de dormir – digo. Coloco-a na minha frente e faço com que ela se deite, acariciando seus cabelos bem devagar, como Cato fazia comigo e agora já não faz mais, e consigo tranquilizá-la. Aos poucos ela cai no sono, mas não deixa de dizer: - Tique-taque.

O sol quente se ergue no céu até ficar exatamente em cima de nossas cabeças. Deve ser meio-dia, penso. Estou tão distraída que começo a cantarolar e mexer da cintura para cima do meu corpo para dançar num ritmo totalmente desengonçado. Continuo a cantar e dançar e então vejo do outro lado, á direita, um raio atingir uma árvore e a tempestade elétrica recomeça. Bem na mesma área em que ocorreu na noite de ontem. Alguém deve ter se movido e acionado o ataque. Fico cantarolando e dançando, observando os raios. Pensando na morte de mais um vitorioso. Continuo a dançar loucamente, mas sentada no meu lugarzinho, na praia. Penso na noite anterior, em como o relâmpago começou logo depois que o sino soou. Doze badaladas.

- Tique-taque – diz Wiress.

Doze badaladas ontem à noite. Como se fosse meia-noite. Em seguida o relâmpago. O sol acima de nós. O sol, a lua. E o raio.

As coisas começam a se encaixar. Lentamente, me levanto e dou uma geral na arena, ainda dançando e cantarolando, ligando os pontos. O raio ali. Na fatia seguinte do bolo veio a chuva de sangue, onde Johanna, Wiress e Beetee foram pegos. Estávamos na terceira seção, bem ao lado daquela, quando a névoa apareceu. Tique-taque. A canção que cantarolo segue como uma trilha sonora dos meus pensamentos. Dos pontos que ligo. Minha cabeça gira para o outro lado. Algumas horas atrás, por volta das dez, aquela onda veio da segunda seção à esquerda de onde o relâmpago está agora surgindo. Meio-dia. Meia-noite. Meio-dia. Canção. Dança. Tique-taque. Então me lembro do homem da estação de trem:

- Garota das facas, quem diria – diz um homem que demonstra ser maluco, pois nossos olhos acompanham-no enquanto ele dança na nossa frente - Vão ser abatidos pela Capital. Tique-Taque. Vão morrer. Tique-Taque.

- Tique-taque – diz Wiress em seu sono. Á medida que vejo o raio cessar e a chuva começar bem á direita dele, percebo que as palavras de Wiress fazem sentido.

Paro de cantarolar e dançar a trilha sonora dos meus pensamentos. Meus olhos soltam para foram e ergo a cabeça como se tivesse chegado ao ponto certo. Como se eu tivesse fechado um caso como um detetive faz.

- Oh, meu Deus – digo entre dentes – Tique-taque – Corro até onde posso e meus olhos vasculham ao redor do círculo total da arena e sei que Wiress está certa. Demoro a acreditar, mas: - Tique-taque. A arena é um relógio.


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