Olá, mamãe, estou bem... - comecei á escrever uma carta para minha mãe.

Por que estou mentindo? Não estou bem, aqui é uma droga, meu pai esta parecendo um covarde recebendo ordens de um cara que tomou o lugar dele, toda vez que o cara me manda fazer algo, meu pai abaixa a cabeça e não faz nada, covarde, e aqui estou eu, deitado dentro de uma barraca com um garoto magricelo e ainda mais covarde do que eu era... Nós fomos os últimos á chegar de uma corrida e o cara que manda no meu pai disse que teríamos que dormir nessa barraca ate que melhorássemos e meu pai, como sempre, não fez nada.

[...]

O garoto ate que é legal, mas depois de cinco dias aqui, ele acabou saindo e voltou para á casa dos pais, mas antes que ele fosse embora, ele me deu uma moeda da sorte, disse que o ajudou muito e queria que a moeda fizesse a mesma coisa comigo, me desse muita sorte, pois, vou precisar e aqui estou eu, olhando para o teto da barraca com minhas lentes de contato, meu pai quebrou meu óculos, já era de se esperar.

Está chovendo muito lá fora... Estou escutando as noticias na rádio - que o meu ex-colega de barraca deixou - e escutei o que aconteceu no aniversário da Melissa e de Suzana, estou muito preocupado e quero correr para lá imediatamente, mas não posso, ainda não mudei, não muito... Só parei de usar óculos e estou deixando meu cabelo bagunçado, o cara que manda no meu pai disse que eu parecia um bebê chorão com aquele cabelo. Vou mudar, e quando eu estiver forte e bonito, vou voltar e me vingar de todos... Especialmente de Melissa e Ambre.

Eles vão ver que não deviam ter mexido comigo, de terem me zoado e de terem achado que eu era fraco, sou forte e vou mostrar para todos isso... Que eles se preparem, pois um novo Kentin vai chegar, daqui á cinco meses vou voltar e todos vão perceber que mexer comigo foi uma má ideia, na verdade, PÉSSIMA. Agora acho melhor eu dormir, vou ter que acordar ás cinco da manhã para treinar e preciso dormir bastante para poder aturar todos eles e mostrar que estou mudando, que não vou ser mais fraco, que vou mudar e pra melhor.

[...]

– KENTIN, SEU MAGRICELO, ACORDA. – gritou o cara que manda no meu pai.

Acordei e ele esta olhando-me com muita raiva, levantei, comi um rápido café da manhã, pão quase duro e café... Depois fui tomar banho, isso tudo em quinze minutos. Depois todos ficaram de frente para ele e meu pai, fizemos abdominais, corremos, nos arrastamos na lama, carregamos mochilas pesadas e várias outras coisas. Depois fomos almoçar feijão, arroz e carne acompanhado de água. Depois voltamos á treinar e lanchamos.

[...]

Depois de uns cinco minutos descansando, voltamos á treinar... Ficamos assim ate ás oito da noite. Depois fomos jantar á mesma coisa do almoço e em seguida fomos dormir. Meu pai pegou á carta que fiz para minha mãe e disse que ia entregar pra ela, apesar que sei que o cara que manda nele vai ler e se achar algo que ele não ache certo, vai rasgá-la e mandar outra, escrita pelo meu pai.

Ás vezes penso que ter vindo para cá foi uma má ideia, mas mando esse pensamento embora, estou aqui pra parar de ser fraco e chorão, sinto que meu pai sente vergonha do que sou, mas que agora que estou aqui, ele está começando á mudar de ideia e vai ver que o fraco agora é ele, que vou ser mais forte que todos aqui.

[...]

Está chovendo forte de novo, minha barraca mexe muito, tem água entrando nela.

– KENTIN, ENTRA AGORA. – gritou o cara que manda no meu pai.

Peguei minhas coisa e entrei, fiquei num quarto com mais dois garotos, eles são viciados em vídeo game e os pais deles acharam que ir para lá seria melhor. Eles são loiros e tem olhos castanhos, se chamam George e Samuel, ate que são legais, quer dizer, tirando o fato de roncarem muito. Acho melhor eu dormir, amanhã será um dia e tanto, pois chegarão novos garotos e nós os ajudaremos á se instalarem e a treinarem também.