Julie.

Era uma tarde de Sexta, saí de casa e me sentei no meio fio da rua de minha casa. Puxei a manga do meu casaco e observei meu braço, cheio de cortes. Não fui eu que os provoquei, e sim meu pai, que por motivos misteriosos me cortava quando eu o desobedecia. Eu sempre fui uma menina revoltada, talvez porque meu pai se casou com outra. Desde então, me tornei outra pessoa.

Fui tirada de meus devaneios com alguém me tocando no ombro. Olhei pra trás e vi Daniel.

-O-oi.. -Ele falou sorrindo.
-Oi.
-DANI MEU AMOR! -Luana veio em nossa direção, com uma roupa ridicula rosa neon.
-Ah.. oi Luana! -Ele sorriu amarelo. Porque?
-Vem, vamos logo! A festa nos esperaaaa! -Ela o puxou pelo braço e ele apenas sussurrou um tchau pra mim. Luana se virou um pouquinho e falou:
-Fica longe dele.

E então os dois saíram no carro rosa choque dela. Fiquei sem entender o "Fica longe dele", pra mim a Luana tava afim do Martin e não do Daniel. Ou seria ao contrário?
Não sei, nem quero me meter na vida desses três.

Me levantei e entrei em casa, dei de cara com Racchel, minha madrasta. Ela era simpática na frente dos outros, mas comigo ela nem sorria, e sempre era mal encarada. Ia subir para meu quarto mas ela me puxou pelo braço, me fazendo ficar frente a frente a ela.

-Que foi? -Perguntei.
-Garota, você pensa que é quem?
-Juliana, mais conhecida como Julie. -Sorri sarcástica.
-Ha ha ha, muito engraçado mocinha. Quero saber que retrato é aquele no seu quarto!
-Ah, se você não sabe, ali sou eu e minha mãe.
-Olha aqui, se eu ver mais alguma coisa relacionada a sua mãe nessa casa você me paga! Tá ouvindo?
-Nossa que meda! -Me soltei dela e subi as escadas.
-PENSA QUE EU NÃO SEI DO SEU SEGREDO? -Parei e me virei pra ela. -O recado foi dado, jogue fora o retrato ou..
-Ou?
-Todo mundo vai saber o que você fez.

Fui correndo pro meu quarto, com algumas lágrimas correndo nas minhas bochechas. Tranquei a porta e peguei o retrato que estava em cima da minha "mesinha de estudos", fiquei sentada na cama o olhando, o banhando com meu choro. Abri a porta de meu guarda-roupa e coloquei ele lá debaixo de todas as minhas roupas.

Entrei em meu banho e joguei a escova no espelho, o quebrendo e fazendo alguns cacos de vidro caírem na pia. Peguei um e enfiei de vez no meu braço esquerdo, soltando um gritinho fino, mas mordi meu próprio lábio para tentar abafar o ruído. Logo em seguida começou a sair sangue, eu nunca fiz isso, mas quando meu pai fazia em mim eu sentia um alivio momentaneo, então me cortei. Retirei o vidro e lavei meu braço, depois o sequei e fui me deitar um pouco, já imaginando o que poderia vir pela frente.

"Eu preciso ser forte" -Pensei, e logo depois adormeci.