Uma vez eu vi um amarelo batendo na janela do meu quarto. Era grande, forte e quente. Me disse que o azul ia ser lindo, acolhedor, e que traria boas coisas.

Levantei da minha cama de marrom e olhei para o teto. Naquele quarto tinham somente minha cama, meu armário, uma mesa com um banco estofado, um espelho, uma janela e uma porta. Todos de marrom, em diferentes tipos e tons, mas com uma harmonia quente. Quase como o amarelo que batia na minha janela.

Espreguicei-me e fui para o espelho dar uma olhada no reflexo. Eu era branca com um preto longo que me descia pelas costas em semi-cachos. Estava com roxos embaixo dos castanhos, mas isso eu já esperava. Logo depois daquela noite, com o azul tão escuro, tão assustador. Havia vermelho por toda parte...Toda parte. Havia também pretos, que me encaravam com aquele prateado manchado.

Manchado de vermelho. O vermelho da minha mãe. Rosa. Delicada. Machucada.

E se eu tivesse esperado? Aqueles pretos me davam tanto medo. Eram tão escuros. Os verdes da minha rosa tentavam me acalmar. Seus pretos me enchiam de um perfume que me parecia laranja, quente, acolhedor. Mesmo quando aqueles pretos a olhavam.

Eu fugi. Senti-me cinza sem ela. Não poderia deixar minha própria rosa sozinha. Ela era minha rosa. Minha rosa.Eu a amava de mais pra ligar pro resto. Eu procurei meu próprio prateado.

Havia vermelho. Muito vermelho. Que escurecia cada vez mais que escorria daquele branco com pretos tão assustadores. O vermelho dele me deixou enjoada. Minha rosa olhou pra minha branca mais verde que eu já fiz na vida, e me disse que estava tudo bem. Estava tudo bem.

Eu acordei com um amarelo muito forte no meu branco. O azul era lindo.