Cárcere Das Almas escrita por Wendy
Notas iniciais do capítulo
Amy Winehouse pode ser uma boa pedida para trilha sonora de alguns capítulos.
O público poderia visitar o Louvre, a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, a Catedral de Notre-Dame, o Palácio de Versalhes, mas eles preferiram, aquela tarde nebulosa se apinhar numa casinha de esquina que ainda preservava o estilo antigo do período pré-revolução.
Uma casa de dois andares, recém reformada, com tudo aquilo de papel de parede, tapeçaria e aqueles objetos em tom de ouro velho que decoravam as casas dos burgueses da revolução. Agora enfeitada de rosas vermelhas nas jardineiras, luzes âmbar e quadros de vidro com desenhos em papel.
Os curiosos que quisessem entrar nada pagavam e nada deviam. Pois quem não se renderia à tentação de ver "A desnuda mais cobiçada de Paris"? - Como dizia o cartaz no tripé frente a casa.
Uma coleção de desenhos da mesma mulher. Mas não eram quaisquer desenhos, nem qualquer mulher, até então.
— Uma completa desconhecida! Que disparate! - As mais velhas mexeriqueiras diziam - E olha só a quantidade de homens que a fizeram de musa!
A exposição estava cheia, saia gente pelas janelas, portas, varandas e a tímida abóbada de vidro da casa de Jean. Este, contente com a confusão que havia feito no centro de Paris.
Esse era seu objetivo. Mostrar todos os desenhos, enquadrados e perfeitamente conservados após anos e anos de espera. Expôr para todos os parisienses e quem mais quisesse ver, a intimidade de Marie.
Marie para os apaixonados, Marie para os conformados, Marie para ele e para os visitantes, Marie, a pura inocência voluptuosa.
Dos desenhos saiam parte de sua alma, cuspida pelos olhos claros que o grafite não definia a cor. Azuis, verdes se tivéssemos muita imaginação. Seios, púbis, coxas, mãos, costas, ombros, boca, dedos e todo resto de pele que puder nomear estavam ao alcance da vista.
Cabelos longos caiam pelo chão, misturavam-se àquela vasta imagem do infinito. Marie apresentava timidez, ruborizando na maioria dos desenhos do começo da carreira e mais sensualidade para o final.
Os desenhos eram datados com as mais diversas caligrafias e dedicatórias. Homens, homens, homens. Sempre homens. E enquanto Jean apreciava mais uma vez seu segundo desenho favorito ouviu o quebrar de um vidro.
— Jean! Jean! - gritou a noiva do alto da escada - Uma senhora está revoltada! Acho melhor começar esse bendito discurso agora mesmo e explicar de uma vez por todas essa sua pornografia!
Ele subiu as escadas enraivecido, tentando calcular o prejuízo que teria tido, o mínimo rasgo que o papel poderia ter sofrido com a quebra do vidro.
— O que está acontecendo aqui? Será que eu posso saber?! - Esbravejou.
— Essa senhora quebrou o quadro. - Disse a noiva apoiando as mãos em seu peito, segurando-o.
— E por que a senhora fez isso?!
A mulher chorava soluçando ajoelhada no chão, como uma criança. Segurando o desenho com força. Um chapéu creme emoldurava a cabeça repleta de cachos brancos. E as pérolas pendiam do pescoço, agora ensopado pelas lágrimas.
— Meu avô... Meu avô a desenhou. Escreveu uma dedicatória dizendo que a amava! Meu avô!
— Senhora, é impossível que seja o seu avô. Isso aconteceu há mais de duzentos anos. Devolva-me o desenho, é de valor incalculável para mim.
Ela levantou do chão com um pouco de dificuldade, apoiando-se nas paredes, fugindo dos cacos de vidro.
— Explique-me rapaz. Diga-me o que está ganhando difamando a memórias destes pobres defuntos ao expor seu fraco por putas.
Jean segurou a mão da senhora com suavidade, desvencilhando-se da noiva. Retirou sua preciosidade das mãos enrugadas e feias daquela mulher. Não, Marie não precisava passar por aquilo. Pobre alma do reino de Deus.
— De certo já passa da hora de minhas explicações. Mas a senhora, por favor, retire-se da minha frente ou não respondo por mim. Não insulte esta mulher, nem em pensamento.
A velha retraiu-se avermelhada. Recolheu a bolsa no colo e preparou para dar-lhe de presente uma bofetada.
— Darei a chance de se redimir, moleque. Que tem essa puta de tão especial para ser idolatrada como santa por você e sua casa?
— Toda minha geração saiu de seu ventre. Um ventre seco para os médicos. Esta mulher sobreviveu à fome trabalhando honestamente. Ela não queria ter de depender de homens e por isso é julgada até hoje.
O silêncio tomou conta do recinto e todos os homens e mulheres curiosos calaram-se diante do rapaz para ouvir a história de Marie.
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