P.O.V Freddie

Era hora da minha aula de português, mas eu estava bem longe da sala “certa”. Eu estava na classe de marcenaria, sendo a Sam. Porém, descobri que eu não levo nenhum jeito para coisa. Tinha um garoto que ficava me ajudando toda hora. Teve um momento que eu me irritei por ele querer bancar o herói e falei:

– Eu sei me virar muito bem sozinha, obrigada. – disse, tentando parecer o máximo com a Sam.

– Sempre me disseram que você é agressiva, docinho. Isso não é nenhuma novidade. Na verdade, é por isso que eu estou afim de você. – o babaca disse. Dito isso, ele passou uma das mãos no meu queixo. Estava escrito Jimmy no pequeno crachá que ele usava. Sim, todos nós dessa aula tínhamos de usar um crachá com nossos nomes.

– Para com isso, seu idiota! – eu disse, e dei um chute no joelho dele. Em seguida, simplesmente mudei da mesa dele (estávamos em duplas) para a de uma garota furiosa com a mini-serra. Ela de vez em quando me olhava, mas parecia que ela tinha medo de mim. O restante da aula foi só barulho e madeira voando, não sei como a Sam consegue suportar duas horas e meia dessa coisa. Finalmente o sinal tocou e eu fui para o almoço.

– Heey, bocós. – eu disse, quando avistei Carly, Sam e Chuck. Me sentei a mesa, e Carly ficou me encarando, na verdade encarou a todos, com um ar de culpada.

– O que houve, Carlita? – eu falei o primeiro apelido que apareceu na minha cabeça.

Ela deu um sorrisinho de lado, e corou. Ela me passou um bilhete que dizia:

Hoje você vai sentar comigo na mesa do almoço.

– G

– É do Gibby? – eu exclamei em voz alta, incrédulo.

– É... – ela disse, e tornou a sorrir. – eu... Eu devo ir? – perguntou.

– Do que vocês estão falando? – Sam tentou se intrometer, mas não pôde. Era uma coisa de amigas. E nesse momento, ela não era a melhor amiga da Carly. Chuck parecia mais interessado em descobrir o que ele estava comendo: Ervilha gigante ou azeitona miúda?

– Não sei, você decide. Você quer ir? – eu disse ignorando totalmente a pergunta de Sam.

– Quero... Mas vocês não vão ficar chateados se eu sentar com outras pessoas no almoço? – ela indagou.

– Por mim tudo bem. – falei.

– Certo. – Sam disse. – mas onde você vai sentar? Com o Gibby? – ela acrescentou, tão incrédula quanto eu.

Carly já estava levantando quando assentiu. Ela pegou a bandeja e lá se foi... Parecia tão feliz, sorrindo de orelha a orelha... Eu a acompanhei com o olhar até lá, e todos a saudaram com muito entusiasmo. Sam também a acompanhou apenas encarando-a, e tentando entender o que tinha acontecido. Já Chuck, não tirou os olhos de sua ervilha-azeitona. Depois, ele saiu correndo, com a mão na boca, como quem fosse... Passar mal. Ficamos apenas eu e Sam.

– Agora você vai responder a minha pergunta, Sam. – eu disse para ela.

– Não sei do que você está falando. – ela disse, dando uma mordida no seu sanduiche de atum.

– Se ter me beijado foi um erro. – repeti, ficando arrepiado por ter lembrado da noite anterior.

– Não... Não sei. Quer dizer, nós não nos conhecemos nem há uma semana! Não quero que você fique com uma má impressão sobre mim... – ela falou.

– Tenho certeza que você teve a mesma impressão de que nós não nos conhecemos há tão pouco tempo assim, não acha? – eu disse. Sam era tão familiar, tão conhecida... Ela devia ter a mesma sensação quando nos beijamos.

– EU NÃO QUERO MAIS FALAR SOBRE ISSO! – Sam berrou.

– Então vamos falar sobre, você ser eu, por exemplo! – eu disse. Assunto era o que não nos faltava.

– Como será que isso deve ter acontecido? Eu quero voltar a ser eu... – ela falou.

– Certo, usemos a lógica. Vamos lembrar de tudo que nos aconteceu ontem. Depois de... Você sabe... Nós... É... Eu subi pro meu apartamento.

– E eu fui para minha casa. Minha mãe não estava em casa, eu só troquei de roupa e dormi. Ai eu acordei e TA-DA! Eu virei você! Eu acordei no seu quarto, e você deve ter acordado no meu, certo? – Sam disse.

– Certo, só que nós precisamos de mais detalhes. Eu subi, minha mãe me deu uma bronca por ter chegado tarde em casa e eu fui deitar. Mas antes de dormir... Eu... Eu pensei em você. – eu disse, com meu cérebro funcionando a toda. – e eu tive um sonho, muito, muito, mas muito sem sentido e doido. Algo também aconteceu com você?

– Eu... Eu acho que também devo... Posso ter pensado em você antes de dormir... E eu também tive um sonho meio louco. Eu era um presunto gigante, e eu corria atrás de uma...

– Manteiga! Eu também tive esse sonho, Sam! – eu falei. Tentei lembrar ao máximo o que acontecia. – porém, eu era a manteiga no meu sonho, não o presunto. Eu dizia algo do tipo: Eu te odeio, é muito difícil ser eu, sabia?

– E eu disse algo como: Ei, você nunca sabe o que pode acontecer com você... Para destrocar, o espírito do outro você deve captar. – ela disse, franzindo a sobrancelha. – foi algo sinistro.

– Isso tem que ter alguma relação com a gente... Vamos ver. Se eu era a manteiga, e você era o presunto, isso quer dizer que seriamos nós dois, “humanos” no sonho. Você disse “como é difícil ser eu...” E eu posso ter revidado alguma coisa... Isso quer dizer, que eu duvidava de que ser você era difícil... E a gente pode ter trocado de corpo por causa disso! – eu disse.

– Então a gente pode ter trocado de corpo por causa de nossas desavenças? Para ser tipo uma... Lição? – Sam tentava entender. – mas nenhum de nós disse nada disso um para o outro...

– Pode ser o que a gente queria ter dito... Você acha fácil ser eu? – perguntei.

– Bom... É... Um pouco. – ela respondeu. – quer dizer, você só faz dever de casa e vê as críticas do seu site... Que nem é seu, na verdade! Deve ser moleza ser Nerd... Você não tem vida social, deve ser um tédio. Mamãe gosta de não fazer nada...

Aquilo era um completo absurdo!

– Ah, claro, como se ser você fosse a coisa mais difícil do mundo! Você não estuda, só come, assiste TV e dorme! E é claro, grava seu Web Show... Que nem é seu na verdade! – eu me defendi.

– Ei, é sim! Eu sou uma das donas! Fica quieto, Noob, você não tem nenhuma moral para falar de mim. – Sam disse, com raiva.

– Ok, vamos apostar então. Uma semana. Você vai agir como eu, e eu tentarei ser você. Vamos ver quem tem a vida mais difícil. Pode pedir arrego a hora que quiser. – eu falei, dando um sorrisinho de vitória.

O sinal bateu, era o fim do almoço.

– Certo! Boa sorte, Mané, vai precisar. Ah, saiba de uma coisa: Eu não gosto de você! – ela falou.

Hahaha, como se eu gostasse dela!

– Eu te odeio, nunca irei gostar de você! Apesar de você não saber o quão difícil é ser eu...

– Não se precipite querido, você nunca sabe o que pode acontecer. – Sam disse.

Essas frases soaram familiares. Ignorei o fato e marchei para a próxima aula que eu nem tinha ideia de qual era. Se eu era a Sam, eu ia aproveitar. Eu ia matar a próxima aula. Ah, como é fácil ser a Sam...