POV Narradora

            O jovem rapaz nerd de 17 anos virava para lá e para cá em sua cama. Parou, abriu os olhos e ficou encarando o teto branco do quarto. Suspirou entediado. Ele já estava acordado há quase meia hora e ainda faltavam 10 minutos para levantar e ir para a escola. Ele estava ansioso, como todas as manhãs. Como poucas pessoas, ou melhor, pouquíssimas pessoas, ele gostava de ir à escola. Ele era aplicado, inteligente e gostava de estudar. Tinha um futuro e tanto e, se ele persistisse, iria longe.

            Mas há tempos atrás, ele descobriu algo que o desanimou. Ele temeu que isso pudesse atrapalhar seus planos. Há dias, não dormia direito preocupado com isso.

            Ele era um mutante. Ele já ouvira algo a respeito, mas nunca em sua vida pensou que um dia pudesse ser um deles. Sua descoberta o afetou profundamente e ter que conviver com esse poder o chateava. Ele não gostou nada de saber que é um mutante. Ele só queria ser normal, como todos os outros. Mas ele pensa que jamais será o mesmo.

            O alarme do despertador toca e finalmente ele se levanta, se arruma e arruma suas coisas. Já na porta do seu quarto, ele ouve a voz da mãe o chamando.

            - Félix, filho. O café da manhã já está na mesa. Venha logo.

            - Já estou indo. – gritou de volta.

            Chegou à cozinha, se sentou à mesa e tomou seu desjejum.

            - Animado para o primeiro dia de aula? – seu pai perguntou.

            - Muito. – respondeu sorrindo, ao se pegar pensando que logo verá a menina que ele sempre gostou. Sofia.

            - É o que parece mesmo. Está com um sorriso... Tem alguma garota por trás disso? – sua mãe perguntou sorrindo maroto.

            Félix quase engasgou com o café. “Está tão na cara assim?” Ele pensou. Sofia era uma menina popular e líder de torcida. Ele era apenas um nerd que vive com a cara nos livros e a ajudar outros alunos em matérias atrasadas. Ele pensava que jamais teria chance.

            - Aahn... Não é isso. É... É só ansiedade do primeiro dia. Vocês me conhecem?

            - Conhecemos tanto que temos certeza que tem uma garota por trás desse sorriso. – seu pai disse e pausou. – Quem é a garota? – perguntou e Félix bufou derrotado, dizendo finalmente:

            - Ela é uma garota popular da minha escola. Eu nunca vou ter chance com ela. E, além disso, ela não é de compromissos longos. Já ficou com metade da escola. – pausou. – A única coisa que sei é que gosto muito dela e ela nem sabe meu nome. Só sabe quando precisa de ajuda em alguma matéria.

            - Ah, filho. Não fala assim. Você devia “tomar uma atitude”. Não é assim que dizem os jovens de hoje em dia? Então... – pausou e tomou um gole do café. – E se ela não quiser nada, ela não sabe o que está perdendo.

            Félix sorriu e assentiu. Terminou seu café e foi para a escola. Cumprimentou alguns amigos e colegas e assistiu a todas as aulas atentamente. No final da aula, ele ficou conversando com seus amigos, numa praça em frente à escola.

            - Então Félix... Você vai chegar na garota?

            - Não sei, Pedro. Eu tenho medo da rejeição.

            - Você quem sabe. – disse e Félix levou a mão ao queixo.

            - Acho que vou seguir esse conselho. Eu tenho que criar coragem pelo menos uma vez na vida. – disse e avistou Sofia saindo da escola. – E vou agora. – disse e seu amigo assentiu sorrindo maroto.

            Félix começou a seguir a garota. Metros depois ela parou e olhou para trás. Félix rapidamente se escondeu. A garota virou para frente. Félix respirou aliviado, por ter quase sido pego. Olhou em volta e se transformou em um cachorro. Continua seguindo Sofia, só que agora em quatro patas.

            Sofia se sentou em uma cadeira em uma lanchonete e ficou olhando a sua volta. Parecia esperar alguém. Félix a olhava de longe, com seus olhinhos de cachorro. E finalmente quem a garota esperava chegou. Era um rapaz. Sofia se levantou e o beijou. Sentaram-se e ficaram conversando. Com os ouvidos de cachorro, Félix ouviu.

            - Ai amor. Estou tão feliz. Amanhã fazemos 2 meses de namoro.

            - Eu também estou feliz amor. – o outro disse e se beijaram outra vez.

            Pelos olhinhos caninos de Félix saíram lágrimas. Ele logo saiu dali. Pelo relógio da igreja, ele viu que já eram quase 1 hora. “Estou atrasado” Pensou. Transformou-se numa águia e saiu voando, literalmente, para casa.

            Ao chegar lá, seus pais o esperavam no sofá e ele reparou numa visita.

            - Você demorou. – sua mãe disse calma.

            - Eu estava com uns amigos. Acabei perdendo a hora.

            - O que é isso no seu ombro? – seu pai perguntou. Félix olhou e era uma pena. Ele passou a mão pelo ombro, tirando a pena.

            - Nada. – pausou. – Quem é ele? – disse apontando para o senhor careca.

            - Meu nome é Professor X. Já conversei com seus pais e eles concordaram. – pausou. – Você é um mutante e quero que vá comigo para a minha escola.

            - Vocês já sabem? – perguntou olhando para os pais.

            - Sim. Por que não nos contou? – perguntou sua mãe.

            - Eu não queria que soubesse. E eu não quero ir. Não quero ser e viver como um mutante. Eu... – parou.

            - Tudo bem filho. Nós concordamos em deixar você ir. – seu pai disse.

            Mesmo triste Félix assentiu e foi arrumar suas coisas.

            - Não se preocupem Senhor Ricardo e Senhora Laura. Seu filho estará seguro na minha escola e ele será treinado.

            - Eu espero. Vai ser tão difícil para ele. Principalmente nos dias de hoje. As pessoas não aceitam os mutantes.

            - Mas um dia vão aceitar. – o professor disse.

            Félix apareceu com suas coisas e eles foram.