Capítulo III

Palavras

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E se você for, se você for,

E me deixar aqui por minha conta,

Eu ainda esperarei por você.

In My Place, Coldplay. 

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– Mas...? – Jun prendeu a respiração. Alguma coisa havia mudado Kakashi, e agora ela estava curiosa para saber o que havia mudado-o. O que havia feito o brilho dos olhos dele voltar.

– Eu a escutei. – E ele não se conteve. Deixou que um amplo sorriso de espalhasse pelo rosto. – Eu nunca escutava o que as pessoas falavam naquele grupo de ajuda. Eu não queria estar lá. Mas como aquela era a úlma vez que eu estaria lá, eu decidi escutar, e o que ela disse... Bem, o que ela disse me fez mudar de ideia.

– O que ela disse?

– O que ela disse? – Kakashi percebeu que a menina começa a desconfiar. – Bem, eu lembro que eu ergui a cabeça e meus olhos se encontraram com os dela. Os olhos dela não estavam mortos como os meus. Ao contrário. Eles estavam alegres e pareciam ter uma garra por viver. Ela havia perdido os pais recentemente. Também num acidente. Ela dizia que no começo havia se culpado, pois os pais estava indo assistir... – Kakashi maneou a cabeça. Ele não se lembrava direito dessa parte.

– Uma apresentação. – Jun interrompeu os seus pensamento. – Eles estavam indo assistir uma apresentação de piano.

– Sim... – Murmurou. – Ela disse que eles estavam indo assistir a sua apresentação de piano. Só que eles morreram no caminho. E ela disse que por mais culpada que ela se sentisse, ela sabia que seus pais não lhe culpavam, ao contrário. Se eles estivessem vivos, eles é que se culpariam por não ter conseguido chegar a tempo para a apresentação. Ela sabia que eles a amavam, e isso era tudo o que importava.

Jun segurou as lágrimas que queriam sair.

– Você realmente estava prestando atenção, não é? – Perguntou com um pequeno e tímido sorriso.

– Sim. Eu estava. E esse foi o motivo de eu não ter morrido naquele dia. Esse foi o efeito das suas palavras em mim.

– Nunca pensei que algo que eu dissesse poderia alcançar uma outra pessoa e...

I am out of control

(Eu estou fora de controle)

'Cause my heart and my soul

(Por que meu coração e minha alma)

I gave it to you, and you made me new

(Eu dei a você, e você me fez novo)

I wanna be by your side

(Eu quero estar ao seu lado)

Everywhere, every time

(Todos os lugares, todo o tempo)

I am lost inside your green eyes

(Eu estou perdido dentro dos seus olhos verdes)

– Obrigada. – Ele a interrompeu. – Eu nunca tive a chance de lhe agradecer. Você deixou de frequentar as seções depois daquele dia. Então... Arigatou.

– O que é isso! – Jun riu. – Não precisa me agradecer!

– Mas eu preciso! – Kakashi disse enfático. – Foi você quem me devolveu a vontade de viver. Você me fez novo. E se não fosse por você, eu teria feito uma besteira. Suas palavras me lembraram que os meus amigos que morreram me amavam, tanto quanto eu os amava. Se eu morresse, não seria justo. Não seria justo com a memória que eu tenho deles. A vontade de Obito e Rin é de que eu viva. E eu vou viver. Por eles.

As lágrimas escorreram dos olhos de Jun antes que ela pudesse sequer pensar em secá-las. Aquilo que Kakashi estava lhe contando era tão triste e emocionante. Ela nem podia acreditar que ela também fazia parte dessa história. Pois haviam sido as suas palavras a salvá-lo.

– Eu... – Começou e não soube como continuar.

– Aqui. – Kakashi lhe estendeu um lenço, que Jun, prontamente aceitou. – Deixe-me esclarecer agora o porquê de eu vir aqui... – Suspirou e continuou. – Eu lhe vi, algumas semanas depois daquele ocorrido. Você pareceu não me reconhecer, e eu fique sem-graça de chegar em você e despejar essa história. Por isso deixei para lá. Mas eu percebi que o seu uniforme é de uma escola que há no caminho entre a minha casa e o meu trabalho, então...

– Então você começou a me observar? – Jun perguntou, as lágrimas já extintas.

– Sim... Eu queria lhe agradecer, sempre quis. – Kakashi apoiou a cabeça na mão. – Mas eu não tinha coragem. Então me tornei um observador.

– Você quer dizer um skalter, não é? – Jun não resistiu fez aquela pequena piada, deixando que um riso saísse em seguida.

– Como você preferir... – Kakashi deu de ombros e também riu.

– Obrigada por me contar tudo isso Kakashi. – Jun abriu novamente o bonito sorriso que tinha. – Foi importante para mim saber que as minhas palavras tiveram um efeito tão possitivo em alguém.

– Dakara... Eu é quem devo agradecê-la, ok? Então pare de me agradecer.

– Hai, hai! – Jun concordou com um aceno de cabeça, rindo. – Watashi...

–Sim?

– Eu gostaria de lhe fazer uma pergunta. – Jun prendeu a respiração, um pouco temerosa pelo que estava por falar.

– Pode fazer. – Kakashi deu de ombros, não notando o nervosismo da menina.

– Você vai continuar a vir? Vai continuar a vir para me ver? – Disse de uma vez só, soltando o ar junto.

– Ah... – Kakashi não esperava por aquela pergunta. E muito menos tinha uma resposta para ela. Olhou dentro dos olhos verdes de Jun. Ainda havia algumas lágrimas nas pestanas dela. Suspirou. – Apenas se você me permitir. – Aquela era a melhor e mais justa resposta que ele poderia dar. Se Jun lhe dissesse para parar de vir, ele pararia. Mas se ela não lhe proíbisse... Bem, nisso ele pensaria depois.

O grisalho engoliu em seco e esperou Jun falar.

– Então se eu disser para você nunca mais aparecer...?

– Eu nunca mais vou aparecer. – Kakashi completou, com a boca seca. Ele não queria isso. Mesmo que ele não pudesse ser próximo dela, ele queria continuar a ver seus sorrisos e também os seus tão brilhantes olhos verdes. Mas ele respetaria o desejo de Jun, se esse o fosse.

– Mas e se eu disser que eu não me importo? Você vai continuar a vir como se nada tivesse acontecido? – Perguntou, verdadeiramente curiosa.

– Eu realmente não sei. – Kakashi disse num suspiro. – Eu não posso fingir que nada aconteceu. Se eu aparecer por aqui e você me ver, você vai saber que eu estou aqui para lhe ver e isso vai ser...

– Estranho? – Jun disse numa risada.

– Exatamente. – Riu também. – Isso vai ser extremamente extranho. Então eu realmente não saberia o que fazer.

– Talvez seja melhor, para nós dois que eu lhe diga para nunca mais aparecer, não é? – Jun maneou a cabeça e o sorriso sumiu. Ela não sabia o que fazer naquele tipo de situação. Kakashi não era um skalter, bem talvez, mas pelo menos ele não era uma pessoa perigosa.

– Talvez. – Concordou.

– Mas… - Jun mordeu o lábio inferior, indecisa. – Eu preciso ir! – Se pôs de pé num pulo.

– Nani? – Kakashi perguntou sem entender. Parecia que Jun ia falar alguma coisa... O que será que havia dado nela?

– Volte aqui amanhã! – Disse enfática. – Amanhã eu lhe darei a minha resposta!

E antes que Kakashi pudesse sequer ter um pensamento coerente, Jun se pôs a correr dali.

Continua...