Não me lembro mais qual foi nosso começo. Sei que não começamos pelo começo. Já era amor antes de ser.

Clarice Lispector

Era sexta-feira, véspera de final de semana. Meu dia preferido, assim teria dois dias inteirinhos para desfrutar da companhia de Kakashi.

Mal deu o toque de saída do colégio corri para casa, normalmente eu costumava esperar minhas amigas e os garotos que não me largavam. Sim eles não me largavam porque eu tinha evoluído, estava com dezoito anos de idade, tinha-me transformado numa linda garota!

Por isso esses moleques não me largavam. Mas eu não estava nem um pouco virada para o lado deles, nada disso…

Assim rapidamente cheguei a casa, subi as escadas e coloque os materiais escolares no quarto. Suspirei aliviada soltei um pequeno murmúrio.

– Oi Kakashi! Voltei. Daqui agente se fala. – Cumprimentei alegre como era hábito de há uns anos para cá, eu nem sabia se ele realmente estava me ouvindo, mas mesmo assim eu gostava de pensar que sim.

Os anos tinham se passado, mas nem isso trouxe as respostas para as perguntas que precisavam ser respondidas. Mas em compensação, minha idade me trouxe a teimosia que eu iria precisar para descobrir.

Sai do quarto em seguida, fechando a porta atrás de mim, não valia a pena esperar por uma resposta de Kakashi, ele nunca a dava.

Minha mãe preparava o jantar como sempre foi habitual durante todos esses anos. Meu pai estava num bar qualquer bebendo ate cair para o lado e algum vizinho ter de trazê-lo para casa. Desde que meu pai deixou de me bater devido ao fato de eu já não ser uma criança, seu novo passatempo passou a ser o álcool. Provavelmente isso deveria abalar-me, e abalaria se Kakashi não tivesse aparecido na minha vida.

Ajudei minha mãe com o que faltava do jantar, e em silêncio as duas jantamos sem conversas. Seria um ambiente estranho e tenso para alguém de fora, mas para mim era normal. Se isso me incomodava?

Não!

Não desde que meu mundo se começou a resumir a meu quarto, e um certo alguém que lá insistia em passar os dias e as noites. Minha vida. Minha vida real estava no meu quarto, tudo o resto á minha volta eram meros detalhes.

Após comermos, e termos lavado os pratos, desejei boa noite para minha mãe muito rapidamente e subi para meu mundo.

Abri a porta entrando no quarto e a fechei.

Acendi o interruptor da luz, que passou a ser dentro do quarto, fiz questão de fazer meu pai mudar o interruptor. Como eu disse me tornei muito teimosa e persistente.

Com a luz acesa e a porta trancada para garantir a minha privacidade, despi a roupa que usei durante o dia todo, o meu pijama já estava pronto em cima da cama.

Mas foi então que senti a brisa fresca que já me era tão familiar balançar os meus cabelos. Era Kakashi, eu sabia que ele não iria se mostrar para mim, mas também sabia que ele estava aqui e isso bastava para tudo fazer sentido. Sorri ao saber que ele estava presente, mas então minha ficha caiu, como eu nunca tinha assimilado isso?

Senti o meu rosto ficar mais vermelhas que um tomate. Eu nunca tinha visto as coisas da perspectiva que estava vendo agora, algo tão simples e óbvio que sempre me passou ao lado.

Eu estava praticamente seminua, e não estava sozinha no quarto, Kakashi estava aqui, sempre esteve como em tantas outras noites que fiquei ainda mais exposta.

– Há Kakashi Você vai ficar proibido de entrar sem bater antes. – Brinquei enquanto apresada vesti o meu pijama

Já vestida corri para a porta e desliguei a luz.

– Pronto seu fura portas já pode vir ter comigo, luzes apagadas para eu não te ver como você sempre gosta. – O incentivei enquanto me dirigia novamente para minha cama.

– Sabe Jun, minha pequena, foi Hilário ver você finalmente ficar ciente de certas coisas, foi engraçado. – Kakashi se fez ouvir, o seu tom de voz era calmo e divertido. Senti que ele se aproximava de mim.

– È você acha piada não é? – Ralhei fingindo estar brava. - E Kakashi, Pare de me chamar pequena, mesmo no escuro você já deve ter visto que de pequena eu já não tenho nada. – Embirrei cruzando os braços acima do peito, realmente não gostava que ele me tratasse por pequena. Queria que ele visse que eu tinha crescido, e muito.

Ouvi um suspiro demorado de Kakashi e novamente e voz dele deliciando os meus ouvidos.

– Pronto Jun, não precisa ficar zangada. A pequena vai ficar para trás, agora você é apenas a minha Jun que lhe parece? – Sugeriu enquanto sentia-o sentar na cama perto de mim.

– Me parece ótimo. – Prontamente respondi a ideia de ele me chamar de sua realmente era agradável. - E você será o meu Kakashi. – Aproveitei o momento, afinal se eu seria dele, ele teria que ser meu. Apesar de nem fazer ideia do que ele era ao certo.

O silencio reinou por segundos. Teria ele não gostado das minhas palavras? Logo minha duvida foi esclarecida.

Senti a mão de Kakashi puxar-me para mais perto de si, e envolveu meu corpo em seus braços me apertando confortável contra o seu próprio corpo. Era muito boa a sensação de estar nos seus braços. Eu sabia que nunca o tinha visto de verdade, o sentia, o tocava, mas nunca o havia visto isso não diminuía nem um pouco o quanto ele era importante, pelo contrario, aumentava ainda mais o meu fascínio e carinho por ele.

Afundei minha cabeça em seu peito retribuindo ao máximo seu carinho aproveitando o momento. Se Kakashi fosse um sonho ou até mesmo um delírio, eu não queria despertar nunca.

Após alguns minutos o afastei e deitei-me na cama, procurei por sua mão a segurei e o puxei para deitar ao meu lado. Senti alguma hesitação da parte dele, mas quando me ouviu soltar um pequeno resmungo a hesitação sumiu e se juntou a mim.

Ainda o segurando pela mão, me aconcheguei no seu corpo.

O ouvir soltar um suspiro pesado. O que me deixou intrigada.

– Que foi Kakashi? Esse suspiro é porque não quer estar assim comigo? – O questionei mostrando desagrado no tom de voz, lidar com a rejeição não era o meu ponto forte.

Senti-o dar uma pequena risada perto da minha orelha.

– Nada disso sua boba, eu adoro estar assim com você, só que o meu suspiro é de frustração, por estar assim tão perto e não puder… - Se calou para não continuar a frase. Isso não me deixou nada satisfeita. O que ele não podia?

– E não puder? – O incentivei, realmente queria saber o que ele não podia.

Um suspiro foi o que obtive como resposta. Nada feliz apertei a mão dele com força, esperava ao menos o ter magoado. Ele estava sendo mau comigo.

Kakashi mais uma vez soltou uma risada e calmamente respondeu.

– E não puder te fazer minha. Minha frustração é por eu não lhe poder ter como sempre desejei.

As palavras de Kakashi penetraram fundo na minha mente. E milhões de perguntas se formavam, mas a única coisa que realmente me atordoou, foi o fenômeno de Kakashi dizer que me queria. Pela primeira desde que ele entrou na minha vida, senti que talvez ele não fosse meu amigo.

Pelo contrário senti que no fundo não era amizade o que tanto me fazia querer viver eternamente no meu quarto. Era outro tipo de sentimento muito mais completo e intenso.

Era amor.