Wendy olhava fixamente através do vidro transparente que estava a sua frente. Mas afinal de contas, por que as estrelas brilhavam tanto? Pareciam estar fitando-a. durante todas as noites, quem as colocara ali para espiona-la?

Ao final, gotículas de água caíram levemente no vidro, fazendo caminho pela área onde a garota fixara os olhos. Distraiu-se novamente. A garoa logo se tornara mais forte.

Charle dormia tranquilamente, como se estivesse tendo o melhor sonho do mundo, calmo e sereno. A menina cansou-se de olhar para o nada e se deitou.

Foi tomada por um profundo sono. Um sonho não muito claro se revelou a garota.

Um campo de girassóis, uma figura estranha e ela.

Corria e quando percebeu, estava em um lugar diferente de antes. Lama aos pés e perseguia a tal figura. Porque fugia? Porque ela o estava seguindo? Ela tinha uma leve ideia da razão.

– Você sabe que é um sonho? – Perguntou a pessoa. Ele tinha um sorriso sem felicidade e sombrio estampado no rosto.

***

O rapaz não sabia exatamente o motivo de estar em cima do vagão de carga de um trem. O pior é que ele se encontrava bem em cima de uma montanha de carvão, dos que com apenas um toque era capaz de deixa toda a extremidade de sua pele com cor escura. A essa altura ele já estava camuflado na noite.

A melhor coisa que poderia acontecer, aconteceu. Chuva.

– Ah que ótimo. – Disse ele sem humor. Já molhado, cansado e sujo. Não era bem um problema, só seria se fosse encontrado pegando a carona. – Será que irão se incomodar de eu entrar só um pouquinho?

Mesmo sabendo da resposta foi sorrateiramente até a escada que levava às portas divisórias. Um de seus pés de repente escorregou e ele perdeu o equilíbrio, acabou por ficar pendido com apenas uma das mãos na barra laminada e escorregadia.

– Estou vendo que hoje não é o melhor dia pra mim...

***

Virou-se novamente na desconfortável beliche de baixo que fora tirada da parede, transformada de banco para cama. Não é a toa que era a classe econômica...

Gray olhou para a jovem que dormia à frente. Havia um lado bom em não ter dinheiro para outra cabine.

De uma hora a outra a loira se virou e deparou-se com o mago do gelo encarando-a.

– O que foi Gray? Não consegue dormir? – Sussurrou ela.

– É... Algo assim...

Lucy deu uma risadinha e cobriu a boca com a mão para abafar o som.

– Então... Vai tentar cair no sono agora? – Perguntou ele meio hesitante.

– Não sei. Você quer conversar lá fora? – Olhou diretamente nos olhos do mago de gelo. – Meu sono não veio e talvez só venha mais tarde.

– Ah, claro... – Disse ele desviando o olhar. Por algum motivo achava que estava hesitando demais naquela noite, completamente diferente de como estava no dia. Talvez a mudança de luz lhe afetasse em algo.

Levantaram-se bem devagar para não acordar os outros amigos. Procuraram um lugar tranquilo para não incomodar ninguém, o que não foi muito difícil já que a maior parte das pessoas estava dormindo.

– Você já pensou na possibilidade das estrelas retribuírem o olhar que dá a elas? – A loira olhava fixamente para os vários pontinhos presos ao céu.

– Que tipo de pergunta é essa? – Disse ele meio confuso, mas depois de um curto período de tempo um sorriso de canto apareceu em seu rosto. – Não, mas eu realmente acho que elas esperam que você as olhe. Se não quisessem porque brilhariam tanto?

Lucy olhou para ele e realmente não esperava por aquilo, ele também olhava para as brilhantes enquanto expressava um sorriso que do canto passou para a boca toda.

Quando virou a cabeça percebeu que a garota o olhava fixamente.

– Você parece com elas Lucy – Disse com os olhos na direção dos dela.

– Eu? Haha, que nada. Quero apenas... – Uma pausa enquanto ela pensava no que dizer. Na verdade se perdera a muito nos olhos negros do rapaz. – Apenas...

Ele virou a cabeça e riu.

– Ei, porque começou a rir?!

– Porque você estava fazendo uma cara muito fofa e engraçada.

– Fo-Fofa?! Eu... hm – Não se aguentou e caiu na gargalhada junto com o amigo.

– Ok. – Ela parou para tentar recuperar o fôlego novamente. – Melhor pararmos antes que acordemos alguém.

– É. – Disse ele tirando uma lagrima sobressalente dos olhos após a risada toda. – Vamos voltar.

***

Ouviu um barulho acima de sua cabeça. Wendy levantou o tronco e virou a cabeça meio atordoada. Seu sono era bem leve, por isso pequenos barulhos a assustavam de vez em quando.

Olhou para a fora da janela tentando ver se havia algo pendurado o trem, como um ladrão ou algo assim, nunca se sabe.

Tudo o que viu foi um vulto passando e se segurando com o que pareciam ser mãos no parapeito da janela.

Ela gritou tão alto que fez Charle cair da cama.

– Wendy! O que foi? – Perguntou ela assustada e sonolenta.

– Eu-eu-eu... – Gaguejou ela com as pernas um pouco tremulas, apesar de seria, às vezes era muito medrosa. - Vi alguma coisa no lado de fora da janela.

– O que? – Disse Charle enquanto esfregava os olhos. – Não está imaginando coisas?

– Não, eu vi mesmo algo passando. – Se aproximou da janela e logo quando o fez um rosto apareceu bem na direção do dela.

– AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH. – Desta vez as duas gritaram em uníssono e a azulada caiu no chão.

O rapaz estava encapuzado e tentava o máximo possível se segurar para não cair. Bateu de leve com a palma da mão no vidro.

– Oe, me deixa entrar. – Disse ele com o som de sua voz um pouco abafada.

A menina se levantou e o olhou desconfiada.

– Não sou ladrão! – Bateu mais uma vez.

Ela o encarou profundamente, então destravou a tranca e deixou-o entrar.

– Quem é você?

– Bem, meu nome não interessa muito, somente a mensagem que tenho a lhe entregar.

– Mensagem? – Ela ficou tensa por alguns momentos, quem mandaria alguma coisa a ela?

– “No lugar onde não existem relógios e a eternidade acaba após alguns segundos. Quem você mais espera é quem pode encontrar”. – O homem retirou o capuz, revelando o cabelo de um azul um tanto mais claro que o de Wendy, junto de uma marca vermelha na parte direita do rosto.

Ela já o havia visto.

– Você...

– Esta foi a mensagem deixada por aquele alguém. Procure-o. – Ele recolocou o capuz e saiu pela janela sem dizer mais uma palavra. A azulada andou até lá para ver se ele havia caído, mas não o avistou.

– Wendy, você conhecia ele? - Charle perguntou meio apreensiva.

– Acho que sim. – Ela voltou a deitar-se na cama. – É melhor irmos dormir por agora, só não sei como as pessoas não acordaram com nossos gritos. – Deu uma risadinha e a gatinha acabou por acompanha-la.

“Tudo pelo o que ela poderia esperar seria o amanhã”.