Meu nome é Maiki . Kobayashi Maiki . Mas pode me chamar de Mai-chan – Ela disse , sorrindo para as garotas na sua frente .

- Mai-chan , - Disse Patty – Você veio por causa da escola ?

- Escola ? Ah ! A Shibusen ! Sim . Eu vim do Japão para estudar aqui . Por quê ? – Maiki respondeu , confusa .

- Nada . – Disse Liz , sorrindo sarcasticamente . – É só que tem uma grande quantidade de novos estudantes na Shibusen , agora que o Kishin foi derrotado . Antes ela não era tão ... popular assim .

- Ah , sim . Imagino que não .

Então , Mai-chan , como foi que aquele cara te atacou ?

- ... Bom , eu estou meio perdida , não sei muito bem onde é a rua da minha casa . Eu morava aqui há muito , muito tempo atrás com meu pai . Ele era um Death Scythe .

- Ooh ! – Liz disse , surpresa .

- Hehehe – Riu Maiki , vendo a surpresa da garota . – Então , eu esbarrei naquele homem , e ele ofereceu me mostrar o caminho .

- Ah . – Disse Patty , fazendo não com a cabeça .  – Você é muito ingênua , Mai-chan .

- É verdade . – Disse Liz . – Essa cidade é cheia de pessoas ruins . Você deve tomar cuidado . Bom , de qualquer forma , nós podemos te levar até sua casa . Vivemos aqui faz um bom tempo , e já estamos acostumadas com a cidade .

- Ah , é mesmo ?! – Disse Maiki , encantada . Conhecer pessoas boas depois de ser atacada era um alívio . – Muito obrigada,Liz-san e Patty-san ! – Ela agradeceu , se curvando .

As três caminharam juntas , enquanto Liz e Patty explicavam algumas coisas importantes sobre a escola para  Maiki , até que elas chegaram numa grande mansão que talvez , antigamente , foi muito bonita . Era grande , dois andares , com um solar. As paredes antes brancas , agora estavam amareladas e rachadas em vários lugares . A grande varanda no meio do segundo andar parecia meio perigosa , e algumas das grandes janelas que iluminavam a casa estavam quebradas . Os pinheiros que rodeavam a entrada agora estavam malcuidados , e cheios de ervas-daninhas , assim como os arbustos e flores ao redor deles . Os grandes e majestosos portões e cercas negros estavam tortos , e um dos portões estava caído .

Maiki olhava para a casa com tristeza . Aquele lugar , que antes fora seu lar , estava acabado . E ela teria de viver lá sozinha . Mas ela logo se lembrou de algo que seu pai dizia muito : “ Não há nada que não se possa consertar . “ Maiki ia definitivamente dar o seu melhor para restaurar a grande mansão , mesmo que demorasse .

- Aqui estamos . – Disse Liz , com as sobrancelhas erguidas . – Tem certeza de que é aqui .

- É . – Disse Maiki , mantendo um olhar decidido . – Esse é meu novo lar . – Ela pegou suas malas , pegou a chave de dentro do bolso e caminhou até a porta , desviando do portão caído e das ervas-daninhas . Liz e Patty seguiam atrás dela , meio inseguras . Maiki enfiou a chave na fechadura e observou enquanto a porta se abria rangendo .

A porta dava diretamente para uma grande sala com uma lareira apagada e um sofá mofado . O linóleo no chão estava incrivelmente sujo , dava até nojo olhar . As paredes tinham quadros grandes , agora mofados , rasgados ou simplesmente tortos ( ou os três de uma vez só ) . No canto mais longe da sala , havia uma grande escadaria com alguns degraus quebrados e sujos , com outro sofá mofado do lado . Duas portas podiam ser vistas dali : uma continha um pequeno banheiro que não deve ser descrito por seu estado grotesco e outra levava para uma enorme cozinha quase tão grotesca . Da cozinha , uma porta levava à sala de jantar , com flores mortas , uma toalha imunda e rasgada e alguns talheres sujos .

Enquanto andava pela casa , Liz morria de medo . “ Parece uma casa de filme de terror “ . Pensava ela , tremendo . Enquanto sua irmã pensava em grandes festas de Halloween sendo realizadas lá .

Grande parte da força de vontade de Maiki desapareceu quando ela viu o estado da casa . Estava muito pior do que ela imaginava . Era quase a Ala Oeste do filme da Bela e a Fera . Um pouco envergonhada , ela se virou para Liz e Patty , que olhavam para a casa com terror e uma cara demoníaca , respectivamente .

- Bom ... – Maiki disse , com uma voz envergonhada e um sorrido forçado . – Obrigado por terem me trazido até aqui , onee-sans .

- A-ah , de nada ! – Disse Liz , tentando esconder o medo . – Hã ... daqui a uma hora vai ter a cerimônia de abertura . Nós vamos . Você deveria ir também . Podemos te apresentar para alguns dos nossos amigos .

- Ah , claro ! Tudo bem ! – Ela disse , feliz por ter achado uma maneira de passar um tempo fora da casa acabada .

- Bom , até mais então ! – Disse Liz , sorrindo ( por poder sair daquela casa de horrores ) .

- Até mais , Mai-chan ! – Disse Patty , com um sorrido simpático e sua risada estranha .

- Até mais ! – Disse Maiki , sorrindo .

Após as irmãs passarem , Maiki fechou a porta , se encostou nela e suspirou . Mas a porta rangeu tanto que ela achou que não era uma boa ideia . Decidiu ir explorar o andar de cima ( se a escada não quebrasse enquanto ela subia ) . Lentamente , foi colocando seus pés com delicadeza nos degraus , com medo de que a escada desmoronasse . Por ato do destino ( ou do Shinigami-Sama ) , a escada somente rangeu . Maiki suspirou aliviada e parou , observando o espaço à seu redor .

A pequena sala do andar de cima era praticamente como as sala de baixo ; Uma porta no meio da parede levava a um banheiro enorme e mais sujo que o debaixo , deixando Maiki com medo de um trauma de banheiros . Uma porta levava a um grande quarto , com uma imensa cama de casal , como aquelas de conto-de-fadas ( tirando o fato de que estava rasgada e suja ) . O quarto também continha um grande armário vazio e sujo , e uma linda penteadeira de madeira esculpida , agora com um espelho imundo e cheia de buracos . Maiki ficou triste pela penteadeira . Essa ela não poderia consertar . De repente , viu uma pequena foto num canto da penteadeira . Ela pegou a foto e levou mais perto ao rosto . A foto era velha e estava meio ruim de enxergar , mas podia-se ver um homem , de cabelos pretos ondulados até o pescoço e olhos cinzas , e um sorriso amável no rosto , mas com um quê de tristeza  . O homem segurava uma trouxinha nos braços , onde podia-se ver o rosto de um bebê . Um bebe com olhos azuis claros como o céu , e uma pequena mecha de cabelo preto liso . O bebê dava uma risada para o pai , mostrando que nem dentes tinha ainda .

Aquela foto comoveu Maiki . Era definitivamente ela quando bebê e seu pai , bem mais novo do que ela o conhecia . Porque ele aparentava tristeza ela não sabia , mas era bom poder vê-lo de novo sorrindo , após tanto tempo vendo seu pai fraco e doente . Lágrimas tentavam escapar de seus olhos , mas ela logo passou a manga do vestido secando-as . “ Ele foi para um lugar melhor “. Era oque ela repetia a si mesma sempre que lembrava dele . Além disso , era também oque sua avó dizia . Maiki saiu do cômodo e foi para o outro . Nele estava um quarto com papel de parede rosa-bebê , mas todo rasgado e sujo . No cômodo estava um berço de madeira branco com uma das pernas quebradas , um trocador sujo , e um pequeno armário imundo , com maçanetas em formato de coração . Aquele quarto lhe trazia algumas frações de memórias . Era seu quarto de bebê . Mais uma vez sentindo a tristeza subindo-lhe a garganta , ela engoliu em seco e voltou para o primeiro quarto . Colocou suas malas em cima da cama . Decidiu arrumar o armário depois , precisava ficar pronta para a cerimônia . Ela separou as roupas que iria usar ; uma camisa de mangas curtas branca , seu espartilho preto e  sua saia preta com babados brancos . Os sapatos e a meia seriam os mesmos . Ela tirou com cuidado o vestido e o colocou em cima da mala . Colocou as roupas e foi até a penteadeira . Com um lencinho , limpou o espelho , pelo menos o máximo que era possível , e tirou os laços roxos . prendeu duas marias-chiquinhas nas mesmas mechas onde estavam os laços e prendeu dois lacinhos pretos com babados brancos e caveiras . Ajeitou a gargantilha e se encarou . Ela parecia uma pequena boneca , frágil e delicada . Deu um sorriso , tentando parecer confiante .

Olhou para um pequeno relógio sujo na penteadeira ; faltava alguns minutos para a cerimônia . Respirando fundo , a garota saiu do quarto , desceu as escadas e saiu pela porta da frente ,  com o peito aliviado de poder sair daquele lugar .