The 17th Hunger Games escrita por DowneyEvans


Capítulo 6
A Seção Particular


Notas iniciais do capítulo

Oooooi genteee, quanto tempo eu fiquei sem postar!! Era isso que eu temia, começar e não terminar uma fic aqui!! Mas podem ter certeza que eu não vou abandoná-la, ok?? Aaah, mais uma coisa: Tem uns 300 anos que eu li esse livro, então eu não lembro de quase bosta nenhuma srsrs aí, tem algumas coisas que eu tirei da minha cabeça nesse capítulo, tipo os horários e como funciona esse dia para os Tributos, etc... Espero que gostem e me perdoem pela demora!! PS: Valeeeeu Giih pela capa!! :3
*Silver bipolar ¬¬
*Capítulo meio dramático no começo e blah blah blah



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– SARAH!!

– OI! QUE HORAS SÃO??– pulei da cama e peguei o relógio do criado mudo.

– São 4:30. Vamos! Vá tomar banho, rápido, quero que esteja lá por volta das 5h, assim, pelo menos pode treinar com sua espada em paz, antes dos outros!

– Tão cedo? – reclamei fazendo biquinho.

– Anda logo! Eu ainda tenho que acordar Baron!

Saffra saiu correndo do meu quarto. Eu fiz uma força tremenda para levantar meus músculos, mas consegui. Depois de um tempinho enrolando, sentada na beira da cama, fui como uma múmia para o banheiro. Tomei um banho quente e demorado. Coloquei a água bem fria para ver se eu acordava, mas eu quase virei uma pedra de gelo. Então fiquei ali lavando meu cabelo no quentinho mesmo, até que Saffra abre a porta bruscamente. Estranho, pensei que tivesse trancado...

– MORREU AÍ DENTRO?

Aquelas palavras me fizeram lembrar de uma pessoa. Uma pessoa que disse exatamente o mesmo. Na mesma ocasião. Uma pessoa que estava orgulhosa em eu ter vindo para cá. A memória dessa pessoa tirou toda a minha sonolência e preguiça, deixando uma raiva explícita.

– Estou saindo. – respondi friamente enquanto me secava no vapor quente que saia das paredes e secavam meu cabelo rapidamente. Ela então fechou a porta e foi embora. Logo depois eu saí, e a roupa novamente estava em minha cama. Me vesti bem devagar, sem tirar a expressão séria do meu rosto. Lembrar da minha mãe me deu uma tristeza profunda... Eu sinto raiva dela e a tratei mal, ao mesmo tempo que eu me sinto péssima em relação a isso. Nunca mais irei vê-la de novo. Por mais que sinta ódio por ela, não vou negar que sinto saudades... Sinto saudades do meu irmão, sinto saudades da minha escola horrível, sinto saudades de andar descalça na praia depois da aula, sinto saudades até mesmo de meu pai, o canalha que nos abandonou quando eu tinha apenas 6 anos...

Tudo isso veio em minha mente em um mix de raiva, tristeza, angustia, saudades, lembranças...

Uma lágrima escorreu em meu rosto. Minha expressão era vazia, não sei o que realmente estou sentindo, só sei que quero me ver livre daqui. Quero fugir dessa prisão, onde não há saída, não há escolha! Eu nem sequer posso sair do prédio!

Depois de um tempo eu estava pronta, então fui à Copa, onde já estavam Saffra, Tiberius e Lenny, que estavam tãaaaao animados quanto eu...

– Cadê Baron? – perguntei me sentando.

– Bom dia pra você também... – responde Lenny colocando o batom em meu bolso. Não estou com muita paciência para discutir sobre isso agora de novo, então fingi que não percebi.

– Bom dia. Mas cadê ele?

– Aah Sarah... Ele não está se sentindo muito bem, ele vai mais tarde. – Saffra explica.

– O quê??? Sabe que eu também não estou me sentindo muito bem? Sabe... Eu tenho certeza absoluta, de que nunca mais irei ver minha casa, minha família, a praia, o mar, tudo que me deixa feliz, e também nunca irei ver nenhum de vocês de novo!

– Sarah... – tenta continuar calmamente, mas eu a interrompo.

– Que foi?? Não é você, quero dizer, nenhum de vocês, que vai ter que ir para uma desgraça de arena pra morrer sem ter escolha e um mínimo de chance!

– Sarah, por favor... – ela continuava.

–Sem poder fazer nada!!

– Sarah!!

– E vocês amam isso não é? Adorariam me ver morrer esfaqueada, decepada, - eu contava nos dedos – de frio, de fome... E eu sei lá que outra forma miserável vocês querem me ver sofrer!

Sarah me escuta! – Saffra se levanta bruscamente de sua cadeira.

– Você acha mesmo que eu gosto disso?? Que eu estou aqui porque quero?? Todo ano é a mesma coisa... Eu me apego aos tributos, criamos laços tão fortes, e no final... Eu sou obrigada a mandá-los para a morte! EU TAMBÉM NÃO TENHO ESCOLHA! Vejo eles morrendo das formas mais dolorosas e não posso fazer nada! Simplesmente ficar com um sorriso no rosto porque o presidente quer!! Mas eu acredito que ninguém possa gostar dos Jogos de verdade, NINGUÉM! Eles só fingem, para assustar os Distritos. Se tiver um povo doentio de uma pequena parte da Capital, que seja! Mas não diga nunca que eu acho isso legal, por favor!! Só estou aqui porque fui escalada pelo próprio presidente Rain, e não quero me tornar uma Avox...

Todos olhavam admirados para ela, ninguém dizia uma palavra sequer. Saffra foi se sentando novamente, bem devagar, vendo que todos continuaram olhando para ela, não pôde evitar as lágrimas, e logo chorava rios! Colocou as mãos no rosto para tentar esconder, mas não deu certo.

– Me... Me... Me desculpe! Eu, eu... Eu nunca pensei dessa forma! Não sabia que para vocês as coisas também eram assim! Eu só... Me sinto tão mal, tão injustiçada...

– Você se sente mal, Sarah? – Saffra levanta o olhar – pense então como eu me sinto! Me sinto tão culpada, tão suja, tão... Eu sinto como se EU tivesse matado os tributos!

Nunca pensei desse jeito antes. Nunca tentei olhar pelo lado Saffra. Para mim, todos da Capital eram a mesma coisa, que todos gostavam dos Jogos, mas... Nunca pensei que eles também sofressem algum tipo de pressão em relação à isso. Nunca mesmo. Minha mãe só queria que eu fosse, pois achou que eu seria motivo de orgulho, mas, como eu já sabia, seria motivo de tristeza.

– Imagine como eu me sinto então... – Lenny põe um cigarro da boca – Como se todo o treinamento que eu lhes dou é insuficiente, de nada vale, e quando morrem... O culpado sou eu, que não ensinei nada válido, ou que realmente possa ajudar...

– Me desculpem! Eu só estou meio...

– É sério Sarah, eu faço de tudo mesmo! Eu tento o que posso, mas nem sempre é possível que pelo menos um de vocês escapem... Muitos chegam na final, mas... – Lenny ia se desculpando.

– ESTÁ BEM! – gritei – EU ACORDEI COM O PÉ ESQUERDO HOJE, ENTÃO ME DESCULPEM! –fui me acalmando – É que, estou estressada, só isso...

Todos continuaram calados e voltaram a comer.

– Posso ir falar com Baron? Provavelmente ele sente o mesmo que eu...

– Está em seu quarto. – responde Lenny olhando fixamente para sua tigela de cereais. – Merope está tentando animá-lo.

Por que eu sinto tanto ciúmes dessa mulher??

– Okay, eu vou lá conversar com ele. – me levantei, fui até seu quarto, e bati na porta. Merope atendeu com uma cara triste e fez sinal para que eu entrasse. Então eu entro e ela fecha a porta atrás de mim.

– Olá. – me sentei na beradinha da cama. Ele não respondeu, apenas ficou olhando fixamente para a parede.

– Érr... Será que eu posso dar uma palavrinha com ele? – pergunto. Merope assente e diz saindo do quarto:

– Pense no que eu te disse querido, okay? – ela vai embora. Acho que tanto ela, quanto Saffra deviam ter acordado hoje, umas 2:30 da manhã, por que, para já estarem com aquela maquiagem toda, devem ter demorado pelo menos umas 2h se arrumando.

– Oi Baron.

– Sarah. – ele responde desanimado.

– Parece que hoje todos nós estamos pra baixo não é. Quero dizer, é a primeira vez que vejo Merope sem ser rindo ou gritando.

Ele não responde, continua sem olhar no meu rosto.

– E então, o que você tem? Está passando mal?

Ele me jogou o olhar mais mortal que já haviam me mandado na minha vida. Que medo.

–Tá legal, não precisamos mentir um para o outro. Eu sei exatamente o que sente, eu também me sinto assim, é uma coisa que somente os Tributos entendem, uma dor que só quem passa por isso é capaz de compreender...

Ele finalmente olhou para mim e parece que li seus pensamentos. –Sarah, tem uma angústia tão grande no meu peito...

– Beleza, mas não é por isso que não vai deixar de treinar não é? - me levantei - Precisamos pelo menos tentar. – ele me ignorou e voltou a olhar para a parede.

– Baron, você por acaso pensa que comigo é diferente? Só estou tentando parecer inatingível para os outros, mas se você tivesse visto a discussão que acabamos de ter na mesa de jantar, eu...

– Eu ouvi...

– Então vem comigo que você não está sozinho. – puxo ele pelo braço mas ele me olha sério.

– Muito obrigado Sarah, mesmo, mas eu realmente não estou me sentindo bem hoje, estou com muita dor de cabeça... Mas eu irei mais tarde, eu prometo...

Como se dor de cabeça fosse realmente um problema! Quero dizer, Saffra quase me causou um traumatismo craniano ao me acordar ontem, nem por isso eu faltei ao treino! Mas resolvi deixar quieto, afinal, ele é bem mais sensível do que eu.

– Okay então... – soltei sua mão – acho que já vou indo.

Saí daquele quarto e fui para o meu. Eu não iria esperar Tiberius fazer um penteado demorado e complicado de novo, só perderia mais tempo. Peguei um elástico na penteadeira e fiz aquele meu penteado estranho, mas que não solta.

Corri até a Copa onde todos já me esperavam, me olhavam querendo respostas.

– Não consegui convencê-lo. – disse friamente seguindo até o elevador. Apertei o andar do treinamento rapidamente. Não queria falar com Saffra de novo, me sinto péssima por ter julgado ela daquele jeito, igualando-a a aqueles palhaços. Eu realmente pensei que ela fosse como eles... Ela me lançou um olhar tão triste que fechei a porta de uma vez. Não aguentaria olhá-la nos olhos agora.

Logo, eu já estava lá embaixo.

Olhei em volta e por sorte não havia quase ninguém ainda, apenas Luna, que estava só na camuflagem e ambos do 10. Me senti aliviada por ainda não ter ninguém realmente perigoso aqui. Fui até a estação das espadas e peguei uma simples, de uma mão, afiada e toda esculpida no punho. Quase babei nela, minha espada no minúsculo Centro de Treinamento do 4 era toda destruída, mas logo voltei à realidade. Fiquei um tempo treinando com ela, e depois mudei para algumas de estilos e tamanhos diferentes. Fico feliz por ter me dado bem com a maioria delas, mas logo minha atenção se prende ao menino do 10. Ele estava na estação do lado, a de lanças.

Parece que Baron terá concorrência.

Ele não era tão ruim, na verdade era bom, muito bom. Senti um arrepio percorrendo meu corpo. E se esse garoto conseguir uma lança na arena?! E se Baron não conseguir?! Estou sentindo medo por ele, preocupação. Ele nem veio treinar, suas chances estão diminuindo!

Estava toda tensa observando o menino quando alguém chega por trás de mim e me cutuca.

– Olá garota com cheiro de mato. – Silver sorria ironicamente.

– S-silver... O-oi, há quanto tempo está aqui?! - olhei de novo e mais da metade dos Tributos se encontrava ali – Eu não vi nenhum desses chegar!

– É porque você estava muito distraída com essas espadas. – O sorriso dela aumentou mais ainda. Engoli em seco. Ela me viu. E se ela me viu todos aqui podem ter me visto também. Como eu pude ser tão estúpida em não notar a presença deles?! Estava concentrada demais.

– Muito esperta você... – ela analisava a ponta de uma faca – ontem você parecia realmente ser horrível tentando impressionar aqueles Carreiristas. Agora vejo que era tudo uma encenação...

– Por favor, diga que nenhum daqueles panacas me viu! – quase implorei.

– Fica tranquila, eles ainda não chegaram. Aliás, acho que só eu sei esse seu segredinho. Todos aqui estão tão tensos como você enquanto olhava para ele – ela aponta para o 10, que ainda jogava lanças – Aaaaaah já sei!! Está com medo pelo seu amiguinho não é? Acertei?

Mordi o lábio.

– Claro, claro que acertei! Que lindo isso! Com medo pelo seu... – ela sussurra com deboche – amigo.

– Por favor, não conte para ninguém sobre o meu plano, eu imploro! – ignorei a parte de Baron, para mudar de assunto.

– Ah, qual é! O que eu ganharia com isso? – ela cruza os braços – Eu não quero que nenhum daqueles idiotas ganhe! Estou querendo ganhar essa coisa, tenho quase certeza de que não vou conseguir, e ainda quer que eu entregue de bandeja para eles? Haha!

Fiquei meio sem reação, olhando para o chão... Depois de mais ou menos um minuto ela volta a falar, chamando minha ‘’atenção’’ para ela.

– Além do mais... O que eu poderia fazer a seu respeito...?

Fiquei confusa com aquela pergunta, então fiz um ‘’ahn?’’

– Tipo, eu pegaria uma espada na Cornucópia, só para você não pegar? Isso não faz sentido nenhum, ainda por cima que eu deixaria de pegar meu arco por sua causa! Nem que fosse para te ajudar!

Uau, que consideração.

– Mas é disso que eu estou falando Silver. – ela parece não entender – Pra você não seria muito vantajoso fazer uma coisa dessas, mas... Para os Carreiristas... Eles... Podem!

Ela fica meio pensativa por um tempo mas depois responde:

– É, parece que você é uma pessoa bem inteligente Sarah Redpath... – ela sabe meu nome?? Quero dizer, pensei que as pessoas aqui me conhecessem por ‘’Garota Selvagem’’, e Silver sabe até meu sobrenome. Não me lembro do sobrenome dela, era alguma coisa com Y...

Ela deixa a faca no suporte e sai andando. Puxo-a pelo braço novamente.

– Que é?

– Quer dizer então, que você não vai contar né?

Ela me olhou com uma cara...

– O que foi que eu acabei de dizer?? – corei um pouco, deu a impressão de que eu não escutei nada do que ela falou. Ela, ao ver isso, voltou com o sorriso no rosto. – Relaxa 4...

Ela dá um riso abafado, se solta da minha mão e pega seu arco das costas. Depois ela vai embora para a estação de facas, e ficou lá conversando com o maior entusiasmo com o menino de seu Distrito. Tive tempo de gritar um ‘’obrigada’’ mas ela nem deve ter ouvido. E depois ela ainda vem me zoar com Baron... Garota bipolar, eu hein...

Continuei ali por mais um bom tempo. Por volta de umas 9h, Baron apareceu, ainda assim com a maior cara de sono. Eu avisei a ele sobre o possível concorrente, então a partir daí, ele já ficou de olho no garoto. Eu fiquei só nas espadas mesmo. Nenhum sinal dos Carreiristas até o momento, o que era uma coisa boa.

Já era quase meio dia, a hora do nosso almoço, quando a mulher musculosa que nos instruíra no primeiro dia apareceu nos avisando:

– Atenção Tributos! Quero que todos estejam aqui presentes aqui dentro de 20 minutos para a Seção particular. Estão liberados.

Eu já ia olhando para o lado, para trocar aquele nosso olhar de ‘’e agora’’ com Baron, mas tudo o que vi foi uma multidão de Tributos correndo em direção à saída para seu almoço.

Continuei parada. E agora? O que eu faço?

**

Minhas mãos estavam suando. O garoto do 3 acabara de entrar e a próxima seria eu. Mas não faço a menor ideia de como impressionar os Idealizadores.

Bom, agora eu estou esperando em uma fila, em frente Centro de Treinamento, aguardando o meu nome ser chamado. Os Tributos entram de acordo com a ordem numérica de seus Distritos. Meninas primeiro, meninos depois. Atrás de mim está Baron, que olhava fixamente para a porta. Ou estava concentrado de mais, ou segurando um pum. Depois dele estava Silver, paralisada como uma rocha, e o resto dos outros Tributos em seguida, que estavam todos tensos, sem mexer um músculo.

Os Carreiristas chegaram no Centro de Treinamento exatamente na hora que a treinadora estava nos alertando. Metidos. Se acham tão bons que podem chegar a hora que quiserem, e não precisam ao menos treinar.

Dixie foi a primeira a entrar na Seção Particular, saiu de lá com um sorriso de orelha a orelha. Russell? Não preciso nem comentar então. Pomeline saiu nos encarando como lanchinhos e um sorriso malicioso no rosto. Wade, que nunca sorri, saiu de lá com uma expressão vitoriosa. Arrrgh! Queria tanto ter um jeito de mostrar para eles que não estão com a bola toda, e que eu sou melhor, só para quebrarem a cara! Mas tem um certo probleminha nisso aí: eu não sou melhor. Nem de longe.

E é com isso que me preocupo. O único jeito de provar isso para eles é tirando uma nota excelente hoje. Só não sei como fazer isso! Eu não sei fazer nada de diferente! Eu sei alguns golpes sim, nada de especial, mas duvido muito que vou impressionar...

O garoto do 3 acabara de sair, interrompendo meus pensamentos. Ele tinha as mãos e o rosto todo sujo de lama. Provavelmente tinha feito algo com camuflagem, mas isso não importa agora. A única coisa que eu consigo pensar é na voz robotizada saindo do alto-falante:

– Sarah Redpath.

Essa era a minha deixa para entrar. Respirei fundo e fui nessa.

Entrei no Centro e vi que haviam todos os jurados (idealizadores) em uma arquibancada um pouco acima do meu alcance. Deve ser para eles não se acidentarem quando algum Tributo lançasse uma arma, sei lá. Eles nem notaram minha presença, estavam conversando alto e dando risadas – como Saffra e Merope. Então tive uma ideia:

Meu objetivo é impressioná-los, e se eu quisesse passar a ideia de que era superior a todos os outros, deveria agir diferente deles: como se eu já soubesse que iria ganhar e fizesse piada com isso, sendo desleixada e engraçada!

Era uma ideia genial, ao mesmo tempo que arriscada. Mas como eu não penso antes de agir, fui logo executando meu ‘’plano’’ que acabei de inventar, e tentei improvisar.

– SARAH REDPATH!! – praticamente gritei e todos eles se voltaram para mim. – E aí – fiz aquele sinal com os dedos na testa. Eles se entreolharam como se eu fosse doida (na verdade era basicamente isso que eu queria demonstrar) e um deles fez sinal para que eu me aproximasse. Fui andando igual a uma bêbada até chegar na frente deles e repeti:

– Sarah Redpath, Distrito 4, ou como devem conhecer, ‘’Garota Selvagem’’ – dei um sorriso irônico.

– Pode começar. – o outro disse.

Caminhei novamente toda tonta até aonde se encontravam as espadas e peguei uma comum. Olhei para trás para ver se eles ainda estavam prestando atenção e eles olhavam sem piscar para mim. Então, de surpresa, dei um salto e comecei a massacrar os bonecos. Depois disso, peguei outra espada, e com uma em cada mão, comecei a correr entre os obstáculos e rolar neles e no chão, para eles verem a minha agilidade. Quando terminei, voltei para aonde estava, na frente deles para ver suas reações. Alguns pareciam impressionados, mas como eu previ, não tinha feito nada de especial. Mas aí veio uma ideia muito louca na minha cabeça, uma memória na verdade.

Uma vez, eu havia ficado presa no Centro de Treinamento do 4. Eu tinha ficado lá até tarde treinando, então nem vi quando fecharam, até que apagaram as luzes. Eu me assustei, então peguei uma espada e a segurei com força. Podia jurar que ouvi um ruído, tinha alguém se aproximando. Estava tudo escuro, não dava para ver nada, então eu não estava pensando direito. Sem noção que eu sou, me virei rapidamente, torci o pulso e atirei a espada. Ela foi girando até o outro lado da sala e atingiu o braço do pobre zelador. Depois disso, eu batizei esse golpe como ‘’golpe bumerangue’’ já que com aquele movimento, a espada voava como tal.

É isso. Era disso que eu precisava para marcar presença com eles. Vou fazer o golpe bumerangue.

– Aiai... – disse sinicamente tirando a franja descontrolada do meu olho. Mas não muito, para deixar aquela coisa de ‘’selvagem’’. Depois daquelas cambalhotas todas, acho que estou pior que no dia da Colheita. Mentira, isso é impossível – golpear com uma espada é muito fácil, quero ver vocês jogarem-na.

Eles não responderam, não podem falar com a gente, a não ser para nos chamar, ou dispensar. Se acham muito melhores para falar com simples Tributos, mesmo assim ignorei a regra e continuei a falar com eles.

– Sabe que eu não sou muito fã de luta corpo-a-corpo? – disse normalmente – Vem cá, já viram alguém arremessar uma espada? – novamente sem resposta, mas todos observavam cada movimento meu atentamente. Então fui até alguns bonecos-alvos, 4 para ser exata e com o batom que Lenny tinha posto em meu bolso escrevi em cada um deles: ‘’CARREIRISTAS’’

Depois, fui até a seção de plantas, peguei uma folha grande e espessa o bastante para cobrir meus olhos, e voltei para o meu ‘’lugar’’, pegando um pouco de distância. Todos eles olhavam admirados pelo simples fato de eu ter escrito ‘’CARREIRISTAS’’ nos alvos, mas logo se voltaram para mim novamente, que já com a ‘’venda’’ nos olhos, disse:

– Vamos ver se eu sou realmente boa nesse negocio.

Comecei a girar no lugar até ficar tonta. Fiquei imaginando ao rosto deles agora, devem achar que eu sou mais doida ainda, então parei. Demorei um pouco a parar com a tontura mas depois me concentrei. Eu podia muito bem estar de costas para os bonecos, e atirar na parede, mas já tinha feito isso no escuro uma vez, não seria diferente. Meus instintos me fizeram virar para a direita, então com toda a força que tinha dentro de mim, eu joguei. Não podia errar. Não mesmo. Essa era a única chance.

Abri a ‘’venda’’.

Coitados dos ‘’carreiristas’’, estavam todos com um corte na barriga.

Aaaah! Aaaaaaaaahh!!!! Eu acertei!! Eu nem acredito!! Ai meu Deus!! Acho que vou ter um ataque do coração aqui!! É tão feliz!! Meu eu interior fazia uma festa enquanto que por fora e só disse irônica:

– E então?

– Ahn... Está dispensada. – respondeu um dos Idealizadores sem desviar o olhar impressionado dos bonecos.

– Valeu aí tiozinhos. – saí antes que pudessem retrucar. Me lembrei de Saffra, provavelmente ela vai me matar pelo que eu falei agora.

Passando pela porta, Baron me seguiu com os olhos até que seu nome foi chamado e o mesmo entrou. Fui direto para o nosso andar, com um sorriso maior que o de Dixie e mais malicioso do que o de Pomeline.

**

– Está bom?

– Delicioso! Do que é? – perguntei enquanto dava outra colherada em minha gelatina.

– Frutas vermelhas. – responde Saffra.

– Aaah isso é muito bom! – diz Baron com boca cheia de creme.

– É eu sei...

Estávamos sentados no grande sofá da sala de televisão (na verdade todas as salas tinham televisão) esperando para serem anunciadas as notas da Seção Particular. Enquanto não começa, está passando uma novela ridícula de uma mulher que não sabe se decidir entre dois caras. Enquanto Saffra, Tiberius e Merope se divertiam gritando loucamente para a mulher da TV beijar um tal de Gary, eu e Baron comíamos uma gelatina divina de frutas vermelhas, só escutando os escandalosos a gritar.

Não conversei muito com Saffra desde o ocorrido de hoje de manhã, e ela até agora também não tocou no assunto. Então, quando deu propaganda, decidi puxar o assunto.

– Ér... Saffra, eu queria falar com você sobre o que eu disse hoje de manhã...

A energia de fã maluca pela novela retardada dela baixou para zero nesse momento.

– Não temos nada a falar sobre aquilo.

– Eu sei, é que... Eu só queria me desculpar, eu só...

– Tudo bem. Não tem nada com que se desculpar. Vamos apenas fingir que nada aconteceu, okay? – ela deu um sorriso.

– Okay... – voltei a comer minha gelatina, olhando para baixo, quando me lembrei de que haviam avoxes aqui. E elas eram mudas, não surdas. Portanto entendi o porquê de Saffra não querer falar sobre isso.

– Aí gente! Por que não me avisaram que já tinham chegado? – Lenny apareceu se espreguiçando e bocejando na sala.

– Ahn... Por que você estava dormindo? – mais afirma do que pergunta Baron.

– Que isso! Eu só estava tirando um cochilo!

– O dia todo? – digo.

– Hein? – ele olha para o relógio de parede - Mas o que? Já são 7:30?? Como assim? Eu fui deitar eram 10 da manhã!!

– Pois é – debocha Saffra.

– O que vocês fizeram na Seção Particular hein? – pergunta Lenny, mas toda a nossa atenção é desviada para a TV no momento em que uma voz dá um aviso:

‘’ Atenção senhoras e senhores telespectadores. Interrompemos sua programação para um aviso importante! Vão ser reveladas agora, as notas da Seção Particular dos nossos queridos Tributos da Edição 17 dos Jogos Vorazes!!’’

Pude ouvir o estouro das pessoas na rua.

Saffra resmunga alguma coisa sobre perder sua novela, mas Lenny se senta rapidamente do seu lado fazendo um ‘’shh!’’

O apresentador de cabelos verdes aparece e começa a falar:

‘’ Primeiramente boa noite a todos, mas vamos logo ao que interessa! Às notas dos Tributos!’’ ele dizia todo alegrinho enquanto pegava um envelope. Todos nós estávamos tensos olhando para a televisão sem nem piscar. Eu particularmente estava tremendo tanto que minha gelatina caiu toda no chão.

‘’ Do Distrito 1, Dixie! Com nota... 10!!’’

MERDA! Merda! Merda! Merda!!!

‘’Também do Distrito 1, Russell! Com nota... 8!!’’

Ai Senhor! Muito obrigada! – 8 não é uma nota ruim, muito pelo o contrário, mas pelo menos ele é pior do que Dixie e suas faquinhas de manteiga...

‘’E agora, do Distrito 2, Pomeline, com nota... 9!!’’

Aaaaah está ficando cada vez mais tenso para o meu lado!!

‘’ Wade, com nota... 10!!’’

Aaaaaaaaahhhh!!!!

Lenny aproveitou quando ele falava as notas do 3, para dizer:

– Ahn... Quem sabe vocês podem ter tirado notas assim também!

‘’ Do Distrito 4... Aaah sim, todos se lembram dela, a ‘Garota Selvagem’!’’

Fala logo seu puto!!

‘’Sarah, com nota... ’’

Comecei a roer as unhas. E se os Idealizadores não gostaram do que eu fiz?? Ou do jeito do qual eu os chamei?? ‘’tiozinhos’’? Eu devia ter ouvido Saffra naquele dia que ela me alertou sobre isso.

‘’... 9!’’

Meu coração parou.

Ai. Meu. Deus.

Eu tinha tirado 9!! N-o-v-e!! Eu nem sei se isso foi real, ou só uma miragem. Eu não acredito!! Fiquei apenas olhando incrédula para a TV enquanto os demais que estavam no sofá me assediavam e me davam os parabéns. Eu mesma nem me mexia, mas depois, quando finalmente caiu a ficha, fiquei com um sorriso abobado no rosto só de pensar na cara de Pomeline agora, sabendo que eu tirei exatamente a mesma nota que ela. Temos as mesmas chances.

Todos se aquietaram de novo quando o homem da TV falou o nome de Baron.

‘’...com nota... 9!!’’

A euforia conseguiu ser ainda maior que quando anunciaram a minha nota.

– Parabéns Baron!! E você pensando em se entregar tão fácil... – dei um abraço nele.

– Ér... - ele disse sem graça.

Para o resto das notas ninguém ligou muito, só ficamos festejando nossa pontuação comendo gelatina com creme. Eu realmente queria ver a cara de Pomeline agora. Ela sabe que eu sou boa, só não sabe em que. Isso está ficando cada vez melhor...

Só tem uma coisa: o que quer que Dixie e Wade tinham feito, foi ainda melhor do que o que eu fiz. E ainda por cima, garoto do 10, o das lanças, havia tirado 7, que não é nada mal. Mas decidi não pensar muito nisso, afinal, olha só o notão que eu tirei!

– Mas agora me contem gente, o que vocês fizeram? – pergunta Lenny com a boca cheia.

– Bom...



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Notas finais do capítulo

kkkkkkkk e aí? Gostaram?? Tadinha da Saffra!!! Pelo menos EU não sabia que o povo da Capital se sentia assim u-u kkk Tô ligada que o capitulo ficou muuuito viajado, mas ok. Reviews???