Estou em meu quarto me arrumando, Peeta está na casa dos pais se despedindo, acabo de sair do banho e de colocar um simples, porem lindo, vestido laranja que vai até os meus joelhos, esse é claro, feito por Cinna. Ele tem me dado alguns vestidos desde que saímos da arena, nunca perdi o contato com meu amigo, embora nunca tenha a chance de usar um se seus vestidos no 12.

Eles são tão bonitos, mas é claro que esses não são vestidos do estilo Capital, são bem mais simples, porem ainda são vestidos de Cinna, sendo assim, muito bonito para se usar por aqui. Mas hoje é o dia da colheita, hoje há centenas de papelzinhos no pote das garotas apenas com o nome “Katniss Everdeen”. Hoje é o dia que me sortearam para a morte, então acho que um vestido de Cinna seria apropriado.

Acabo de fazer minha tipica trança, já estou com minhas simples sapatilhas nos pés, e com meu broche do Mockingjay em cima de meu coração.

Suspiro, não ha mais nada que eu possa fazer, a colheita ainda demorara mais de uma hora, mas Prim insistiu que eu colocasse o vestido para ela ver, é claro que eu não a negaria isso. Embora tenha tentado ser forte, vejo que minha Patinha está arrasada.

Passo minha mão sobre minha barriga, que ainda não tem nenhum volume, se não fosse pelo teste, minhas tonturas e meus enjoos, nem eu mesma diria estar gravida. Mas eu e Peeta não estamos conseguindo enganar muito bem as pessoas, todos já devem saber que tem algo de errado, ou pelo menos desconfiam.

Vejo meu reflexo no espelho, com minha mão sobre a barriga, imagino como será minha vida depois que eu for sorteada, pelo reflexo do espelho vejo uma lacrima escorreu por meus olhos novamente, então alguém bate na porta.

–Pode entrar. –digo após secar meu olhos, para me certificar que ninguém me verá chorar mais. Vejo Prim na porta. –Olá querida. –digo, vejo que os olhos de Prim estão inchados, embora não esteja chorando agora.

–Voce está linda. –ela diz.

–Graças a Cinna. -digo.

–Não, voce sempre foi bonita Katniss.

–Não Prim, voce sempre foi bonita. –digo e sorrio, vejo os olhos de Prim se encherem de água, eu a abraço, tentando fazer com que as minhas lagrimas permaneçam em meus olhos. –Por favor, por favor ãao chore.

–Voce vai voltar Katniss? –ela diz, agora chorando. –por favor, pelo menos tente.

–Eu vou tentar Prim, juro que vou –digo, afinal nao tenho escolha, e Prim e o meu único consolo caso eu volte. –Prim, olhe para mim. –ela obedece. –seja forte, tudo bem? –digo e então começo a chorar tambem. Penso se Prim ficará triste quando souber do bebe, uma hora ou outra eles irão descobrir, sei que irão. Pode ser na arena, na Capital, não sei quando, mas uma hora descubrirão.

–Eu te amo Katniss.

–Eu também te amo Prim. –digo e seco minhas lagrimas e tambem as suas. Ela será tudo que me retará, preciso dela, quem sabe ela não me ajudaria com meu filho, que crescerá sem um pai. -não tem ideia de como precisarei de voce se eu voltar. –digo, sem pensar.

–Como assim? –ela pergunta.

–Nada Prim.

Nós descemos e encontro minha mae na sala, chorando.

–Mãe. –digo. Ela levanta a cabeça e vem até mim.

–Voce esta linda.

–Obrigada. -eu a abraço. –podemos conversar? –digo apontando para a cozinha com a cabeça, ela acena em corcondancia e me segue, deixando Prim na sala.

–Pode falar.

–Primeiramente, quero deixar claro que se eu morrer na arena voce não vai poder ficar chorando pelos cantos como estava fazendo agora. Terá que ser forte por ela, voce é o adulto dessa família, sempre foi. –digo dura. -segundo, se Haymitch estiver sóbrio ele ajudará voces, cuide para que isso aconteça. O pai de Peeta e os irmãos dele provavelmente também irão ajudar. Não a deixe pegar tassaras nem assistir as partes violentas dos jogos.-digo e sinto novamente as lagrimas em meu rosto, é claro que não deveria estar emotiva assim, de novo. –Juro que tentarei vencer, por todos voces.- a abraço.

–Sei que tentará. Não vou deixar Prim sozinha. -ela diz e seca as lagrimas que estavam prestes a cair. -Não de novo.

–Ótimo.-digo, então voltamos a sala. Peeta deverá voltar da casa dos pais para irmos juntos a praça daqui a pouco.

–Vai ficar tudo bem. –digo a Prim, estamos abraçadas de novo. Ficamos assim até que Peeta chega.

–Olá. –Peeta diz, ele esta com os olhos levemente inchados assim como eu, e já está com a roupa da colheita .-Vamos Kat? -ele me estende a mão.

–Claro. -digo, saímos da casa com minha mãe e Prim, uma de minhas mãos está entrelaçada com a de Peeta, e a outra com Prim.

–Katniss! -ouço um grito atrás de mim, todos nos viramos de uma vez, então vejo Gale.

–Gale? -digo.

–Por favor, temos que conversar. –ele diz, cheguei a pensar que ele não viria se despedir de mim. –a sós, por favor. –eu hesito, vejo que o aperto de Peeta fica mais forte e rígido. Ele me olha preocupado. Eu não ficava sozinha com Gale desde o beijo.

–Tudo bem. –digo para ele. Prim também me olha com um certo receio, afinal ela também sabia do beijo. –vamos lá dentro, voces já podem ir se quiserem, lhes encontro lá. -digo aos outro e nós entramos e ele me encara por alguns segundos.

Então Gale me abraça.

–Achou que não ia me despedir? -ele pergunta.

–Achei que não... -ele se solta de mim.

–Katniss, por favor, me conte o que está acontecendo. -ele pergunta aflito.

–C-como assim? –digo nervosa, o que será que ele sabia?

–Eu te conheço a anos, sei que tem algo de errado.

–O fato de eu estra voltando para a arena não é o bastante? -digo com o tom da irritação na minha voz escondendo a preocupação na mesma.

–Sei que não é isso. Voce não é assim.

–Assim como? -digo segurando uma lagrima.

–Voce sabe do que estou falando.-ele fala –voce está estranha, não parece voce!

–As pessoas mudam Gale.

–Não tanto assim! -ele diz e as lagrimas ficam mais intensas em meus olhos, chegando a embaçar minha visão. -eu te conheço muito bem Katniss, e sei que voce não fica cansada tão facilmente na floresta, não tem enjoos ou tonturas apenas por estar nervosa, também jamais deixaria Peeta dar a vida por voce, pois sei que é o que voces combinaram, apesar de eu, voce e Peeta sabermos que não conseguiria viver com a culpa de pensar que o motivo da morte dele foi voce! Sei que deve ter um motivo maior para tudo isso! -não consigo conter as lagrima que escorrem pelo meu rosto -e não é e nem nunca foi do tipo que se deixa chorar na frente das pessoas.

–Não é assim.-digo, vejo que ele esta próximo demais da verdade,Gale já tem todas as peças, basta montar o quebra cabeça corretamente, eu torço para que ele não o faça.

–Por que voce não quer me contar? -ele está bravo, e eu também.

–Por que não posso.

–Não pode ou não quer? -ele pergunta em um tom acusatório.

–Por favor, por favor não faça isso comigo.-digo, colocando as maos no rosto.

–Está vendo do que eu estou falando? Voce não é assim. Voce não se rende ao choro fácil assim. Só chora e vomita, só faz isso agora! Parece ate que está doente ou... -ele para de falar e seus olhos se arregalam, ele engole a seco.

–...Grávida. –terminamos a frase junto.

–Ótimo. Descobriu. Feliz agora?- digo. Ele ainda está paralisado me encarando.

–P-por que não me contou?

–Por que não mudaria nada. –digo já sentindo algumas lagrimas escorrerem contra minha pele. –ninguém sabe a não ser Peeta, e eu não quero que ninguém saiba.

–Ah meu Deus. -ele ainda esta pasmo com a noticia, pasmo e em panico. Ele encara o chão, então seu olhar para em minha mão, mais especificamente, em minha aliança. -espere, isso é...

–Uma aliança. -eu completo. –Eu e Peeta nos casamos a um tempo, mas não pode ser oficial. -eu explico. Não sei como ninguém reparou nela, devem ter achado que era tipo um anel de compromiço de namoro, sei lá.

–Voce está com tanto tempo? -ele pergunta, agora com os olhos fixos em minha barriga, procurando algum sinal da gravides, mas que ainda é imperceptível. 

–Quase dois meses e meio. -digo e ele finalmente me encara nos olhos, e noto seus eles cheios de água, tomados pela dor, angustia e tristeza. Não se se é pelo fato de eu ir para a arena gravida, ou pelo simplesmente eu estar gravida de Peeta, ou talvez ainda com medo por meu filho. Pode ser que todas as opções a cima.

–Nossa. –ele diz e engole a seco.

–Por isso aceitei fazer esse maldito treinamento, por isso deixarei que Peeta se voluntarie hoje, por isso deixarei ele morrer na arena e por isso tenho que sair viva dela. –explico, agora é minha vez de não olha-lo nos olhos. –não posso deixar uma criança que ainda nem nasceu morrer, não posso deixar meu filho...- não consigo completar, pois agora choro desesperadamente, minha voz morre no meio da frase e não consigo completa-la mais.

–Katniss eu... -Gale chega mais perto de mim, tentando consolar meu choro. Ele também está completamente descolado, não sabe o que fazer, mas eu sei.

–Gale, eu tenho que ir. –eu o interrompo e já estou virada para sair quando ele segura meu braço.

–Boa sorte, com tudo. -ele diz. E sai junto comigo.

Vejo que Peeta ainda me espera, apesar de minha mãe e Prim já terem ido. Vou até Peeta e vejo que Gale seguiu para o lado oposto a nos.

–O que aconteceu? –Peeta pergunta vendo meus olhos vermelhos. –ele descobriu, não foi? –aceno com a cabeça. -bem que voce disse.

–Contei tudo a ele. O plano,o casamento... -Peeta me olha preoculpado. –Não fazia sentido esconder o resto da historia sendo que a parte principal ele já sabia. -Peeta concorda com a cabeça.

–A colheita começa em meia hora.-ele diz. –quer entrar, tomar água lavar o rosto e se acalmar um pouco?

–Tudo bem, apesar de tudo não podemos parecer fracos para o publico.-digo decidida a não voltar a chorar. –ganhamos os jogos porque somos fortes e habilidosos, e não por piedade ou misericórdia. -digo. –até por que, se dependesemos disso já estaríamos mortos. -digo arrogante.

–Estava sentindo falta dessa Katniss, a forte, destemina e determinada.-ele diz sorrindo levemente. -aquela a qual me apaixonei aos cinco anos de idade. -ele me abraça.

Então entramos novamente, tomo um copo d’água e lavo o rosto, minha cara de choro desapareceu quase por completo. Peeta esta sentado no sofá.

–Vem cá. -ele chama e eu sento no sofá deitando minha cabeça em seu colo.

–Ainda temos quanto tempo até a colheita?

–Uns 15 minutos. -ele fala. -Não podemos demorar, nossas famílias devem estar preocupadas.

–Tudo bem. Nos já vamos.-digo

–Sabe Kat, acho que essa deve ser a cena que eu mas desejei em toda a minha vida. –eu o olho sem entender. Serio? Essa é a cena que ele sempre desejou? -digo, se não fosse pelos jogos. -ele completa.

–Como assim? -digo.

–Nos dois casados e voce gravida deitada em meu colo no sofá da sala.-ele explica abrindo um sorriso triste. –em toda a minha vida devo ter desejado uma cena dessas, mas nunca pensei que um dia chegasse realmente a acontecer e agora que está aqui, não poderei aproveitar isso.- seguro sua mão.

–Eu também nunca pensei que estaria em uma cena dessa, sempre pensei que morreria sozinha, nunca tive em mente o plano de uma família.-digo. –agora, isso virou o meu maior desejo.- digo e ele beija o topo de minha cabeça. -desejo que nunca poderei realizar.

–Vai ficar tudo bem. -ele diz e coloca as mãos sobre a minha barriga. -voce vai ver. -ele se abaixa para me beijar de novo, dessa vez minha boca, um beijo rápido.

–É melhor irmos. -digo e me levanto.

–Tudo bem. -ele se levanta e me estende sua mão, eu a pego. Dou uma ultima olhada em minha casa, Peeta nota. –não se preocupe.

–Tudo bem. -digo e vamos em direção a praça.

Ao chegarmos lá, vejo Haymitch está no máximo apresentável, o que deve ser um novo recorde para ele, Peeta vai com ele para o lado dos garotos, e eu para o das garotas.

É realmente assustador, geralmente o local é cheio e apertado, hoje o lugar das garotas esta completamente vazio, a não ser por mim. Vejo o distrito inteiro me observando.

Então Effie chega no palco, ela não está tão animada como nos anos anteriores, mas tenta manter sua postura.

–Bom, hoje como todos sabem, é o aniversario de 75 anos dos Jogos Vorazes. Portanto celebraremos o terceiro massacre quaternario.-ela bate palmas tendo fingir entusiasmo. Ninguém bate palmas com ela, as batidas morrem com o silencio do publico.- Bem, como sempre, primeiro as damas. -ela se dirige para o globo das garotas com muitos papeis. Então retira um, com um nome obvio. No entanto ela suspira discretamente antes de dizer.

–Katniss Everdeen! -ela fala. O estranho, é que na verdade, por muitos anos eu desejei que Effie jamais falasse meu nome, no entanto, o que me fez ir pra arena no ano anterior não foi o meu nome ser sorteado, foi o de Prim. De modo que é um pouco estranho, sendo que essa é a primeira vez que sou, de fato, sorteada para a colheita.

Subo no palco e Effie anda até o globo dos meninos.

–Agora os garotos. -ela diz, ainda tentando fingir alegria, ninguém ali está feliz. Ela coloca a mao no globo e retira um nome.- Haymitch Abernathy!

–Eu sou voluntario! -Peeta se oferece quase no mesmo instante. O olhar de Effie é de total descrença, ela franze os lábios e solta um suspiro discreto.

–Podem subir, tributos. -ela nos chama, nos lançando um olhar triste

Nos subimos no palco e eu olho para a plateia, vejo que Prim está chorando abraçada com minha mãe, essa não chora, mas vejo o esforço que ela faz para não fazer, ela está cumprindo sua promessa, ela será forte por Prim.

Vejo que Gale também está entre a multidão, como vejo apenas de longe, eu não tenho certeza, mas Gale também parece estar chorando, e se não está, antes estava.

Nunca vi Gale chorar antes, ele não havia deixado cair uma unica lagrima em minha ultima colheita, mas eu também não tinha, agora tudo mudou,mas assim como eu, ele nunca foi de mostrar seus sentimentos com clareza, tinhamos juntos nossos desabafos na floresta, mais nada sentimental, tanto que só fui descobrir que Gale gostava de mim quando ele me beijou.

–Este ano, infelizmente, serão suspensas as despedidas das famílias.-ela diz me tirando de meus pensamentos, fico triste, embora eu já tenha me despedido de minha familia e Peeta da sua.- Porem, dessa vez voces poderam se despedir do seu distrito.- ele diz e se afasta do microfone.- Ele é todo de voces.- nos nos aproximamos.

–Bem, nós não fomos avisados desse novo procedimento, então não temos nenhum discurso pronto. -Peeta fala. -acho que só nos resta agradecer a nossas famílias, amigos, e todos aqueles que nos apoiam. Devo toda a minha vida a meus pais e meus irmão. -ele fala. Luto para não deixar que minhas lagrimas caiam. Peeta aperta minha mão, me incentivando a falar.

–Eu também agradeço por todo o carinho proporcionado por todos, minha mãe, e minha irmã Prim, e pessoas que se tornaram importantes em minha vida.-digo e olho para os pais de Peeta, estão chorando junto a Simila e Brood. –e é claro, aos antigos amigos, que nunca me abandonaram. -digo olhando a Gale, não posso dizer que ele é meu tal amigo, afinal, ele é conhecido como meu primo.

–Já pensei muitas vezes o quantos é ruim deixar pessoas tao queridas novamente. -Peeta diz. –acho que seria a pior parte dos jogos para um tributo, deixar sua família. -suspira e completa. –mas acho que a unica coisa pior do que deixar pessoas queridas, é ir para a arena acompanhado delas.- ele aperta a minha mão. -ir para os jogos junto de uma pessoa que poderia vir a ser minha noiva ou esposa. -ele diz e eu sorriu triste.

–Voce tem ideia de quanto eu te amo? -digo o abraçando, quase não contendo o choro.

–Eu também te amo. -ele diz e me abraça, na verdade não faço a minima ideia se nossa declaração de amor foi ouvida por todos, minha voz foi abafada pelo abraço e estava falha. Pouco importa, falei para Peeta, não é necessário que mais ninguém ouça.

Olho para a plateia, vejo que a maioria delas nos encara tristes por nos, provavelmente ouviram.

–Nos agradecemos por todos voces, pelo amor e pelo carinho.-Peeta diz por fim. Então nos vamos em direção ao trem, que nos levara para a Capital, onde seremos preparados para a morte.