Lágrimas de Sol escrita por Anastacia B, Kah Correia


Capítulo 4
Capítulo 4 - O Telefonema


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Primeiramente, obrigada pelos comentários. Vocês são 10!!!
Eu queria dizer também, que estou lendo todos os comentários e se ainda nãos os respondi, é por que estou bastante enrolada e prefiro postar primeiramente.
Um beijo e espero que estejam gostando =)
#NÃO DEIXEM DE COMENTAR#



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Já se fazia mais de um par de meses, que o novo médico estava trabalhando aqui- e em pouco tempo, conseguiu ajudar bastante, vários pacientes. Eu ainda não conseguia entender, por que ele realmente, parecia se importar. Não que isso realmente fosse de todo o ruim, mas ultimamente, eu estava acostumada com as pessoas me oferecem as costas, ao invés de uma mão amiga – e isso, era bastante normal por aqui também, para as outras pessoas.

Eu agora, o observava de longe, enquanto atendia alguns pacientes e se postava realmente, como alguém apaixonado por sua profissão. Dimitri, como assim preferia ser chamado, estava agora agachado em um canto de sombra, enquanto conversava com uma idosa senhora. A mulher pelo que entendi ali, estava sofrendo de um problema parecido com o meu. Por causa do seu dinheiro e idade avançada, acabou sendo descartada pela sua família. A observando assim, me lembrei por um momento, de minha própria avó materna. O jeito como a idosa mexia suas mãos e a preferência, por roupas floridas, a fazia ainda mais semelhante, a Sra. Isadora Hathaway.

-Rose? – Uma voz masculina e com um leve sotaque, me despertou de meus devaneios. Virei meu rosto, soltando o pincel já sujo e tinta azul, para encarar os olhos escuros do médico. Ele tinha suas mãos no bolso do jaleco e seu cabelo marrom, estava solto.

-Sim? – Perguntei, tentando soar desinteressada. Eu mal notava que ele havia saído de sua posição inicial.

-Como andam suas noites? – Ele novamente, me fez aquela pergunta chata. Depois do dia, em que ele teve que me atender no ambulatório, sua obsessão por minhas noites mal dormidas, estava chegando a um ponto quase que, irritante.

-Já te disse ontem e antes de ontem, que eu estou bem – Desviei o olhar, tentando me concentrar em meu novo quadro. A forma de uma orquídea branca de azul, já estava parecendo mais convidativa.

-Então essas olheiras, devem ser genéticas. – Seu tom era quase que divertido. Virei-me para encara-lo e vi que ele agora, estava sentado próximo demais, em um banquinho de madeira maciça, que uma das enfermeiras estava, há poucos minutos atrás. Seus olhos eram divertidos, assim como seus lábios, que esboçava um sorriso curto e relaxado.

-Herança do meus pai – Desconversei, tentando ignora-lo.

-Vejo – Ele respondeu pensativamente. – Quando irá me vender um quadro desses? – Novamente me virei para ele, espantada dessa vez.

-Não me diga que realmente, quer compra-lo – Eu quase sorri, então mordi meu lábio.

-Eu gosto deles e já te disse ontem e também, antes de ontem – Okay. Ele estava me repetindo e talvez, refletindo bem demais, minhas próprias palavras. Seu olhar e expressão, continuavam descontraídos.

-Espertinho – Sorri dessa vez. De alguma forma estranha, esse homem conseguia fazer fluir em mim, sentimentos que eu achava, que tivessem realmente sido extintos.

-Eu falo sério Rose, estou preocupado com a sua insônia. – Dessa vez, o tom de voz de Dimitri, mudou um pouco. –Hoje cedo conversei com Carlo, que me entregou sua ficha médica.

-O médico alto e ruivo? – Franzi as sobrancelhas.

-Exatamente – Dimitri então, tirou algo de seu bolso um papel dobrado. –Aqui consta, que você se negou a fazer os últimos exames. Pergunto-me, por que você tomou essa decisão.  –Ele não parecia aborrecido ou até mesmo zangado, mas algo em sua expressão, não me fez querer discutir.

-Cansei de ficar horas e mais horas, dentro daqueles corredores sem luz ou ar. – Refleti me lembrando do dia, em que havia chegado ali. As pessoas de alguma forma sabiam que eu não era louca, mas meu histórico recente, contato em primeira pessoa pelo meu tio, não deixou dúvidas, de que eu tinha problemas sérios mentais.

-E também notei em sua ficha, um histórico bastante peculiar. – Novamente me vi na obrigação de virar para Dimitri. Sua expressão não se alterou em nada, da última vez que havia virado. Ele por sua vez, parecia agora, querer escutar alguma coisa de minha parte.

-Que eu talvez seja louca, ou tenha traumas de infância? – Ironizei, me sentindo estúpida e talvez, um pouco infantil. Soltei de vez o pincel de minha mão e a depositei no meu colo.

-Sinceramente? – Dimitri voltou a olhar o papel e pelo movimento, uma mecha do seu cabelo, foi para a área de seus olhos. O sol embora fraco, deixava-o com uma aparência quase que angelical. Pela minha precária análise, eu poderia arriscar que sua idade, não era mais do que trinta anos. –Acho que você, assim como a maioria das pessoas aqui, teve uma vida injusta em certo ponto, ou passou apenas por uma maré de má sorte. – Ele disse, depois de virar novamente para mim. – Mas eu acredito seriamente, em segundas chances. Em alguns casos, terceiras e quartas também. – Novamente ele sorriu. Um meio sorriso dessa vez, e algo dentro de mim, pareceu se mexer. Algo como vida.

-Eu sofri bastante – Refleti mais para mim mesma, do que para ele. – Você não faz ideia de como eu ainda sofro.

-Eu faço tanta ideia disso, que estou disposto a te ajudar Rose. – Ele então fez algo que eu não esperava. Dimitri pegou uma de minhas mãos do colo e a segurou. – Eu posso e quero te ajudar, mas isso depende mais de você, do que de mim. Olhe as pessoas ao redor. Eu tenho um amigo aqui, que sua irmã está em uma situação muito ruim. – Ele olhou rapidamente ao redor, como que buscando algo, ou apenas uma palavra propícia, enquanto eu apenas encarava seus olhos gentis. – Ela sofreu bastante também, mas parece não ter muita melhora.

-Está falando da irmã do seu amigo médico? – Perguntei, me sentindo meio intrometida por se quer, ter cogitado algo particular dele. Mas mesmo assim, não consegui ignorar o fato de que eu sabia, de quem ele estava falando. Era de Mia, uma paciente da clínica. Eu havia ouvido rumores, de que ela havia sido sequestrada e violentada e isso, havia acabado de vez com sua vida. Ela bem de longe, se passava por uma pessoa normal, até que algum enfermeiro tentasse leva-la para seus aposentos. Ela se colocava absurdamente furiosa e revoltada. Isso acontecia também, quando seu irmão, resolvia visita-la. Na cabeça confusa de Mia, tudo isso era culpa, de sua família.

-Conhece Mia? – Dimitri pareceu realmente surpreso, como se duvidasse que eu observasse o movimento ao redor. Seus olhos se voltaram para os meus e foi ai, que ele pareceu estar ciente, de que ainda segurava a minha mão. Desajeitado, ele a soltou. Fiquei surpresa com a naturalidade, daquele pequeno gesto.

-Eu a vejo sempre, principalmente na hora das refeições. – Como Mia era considerada pela sua dupla personalidade, a maior parte do tempo, ela não passava comigo e sim, na ala norte, com um número mais concentrado de enfermeiros e médicos, caso ela resolvesse surtar sem mais nem menos.

-Ah sim. – Dimitri concordou com a cabeça. –Carlo agora passa grande parte do seu tempo lá. – Seus olhos novamente se desfocaram, como se ele tivesse seus pensamentos, bem longe dali. O som de uma banda de rock soou e logo, vi Dimitri retirar um aparelho telefônico do seu bolso. –Mê de um minuto, sim? – Ele olhou rapidamente para a tela do celular e solto um longo suspiro.

-O que foi? – Perguntei, antes de controlar minha curiosidade.

-Minha noiva. – Dimitri parecia encabulado e sua pele, adquiriu uma nova tonalidade escarlate.

-Oh – Desviei o olhar, tentando ser menos evasiva. –Por que não atende? De qualquer forma, estou encerrando aqui, antes que minha enfermeira favorita, apareça. – Virei os olhos, me lembrando do rosto da enfermeira.

-Ela quer que eu vá para New York – Dimitri fez uma careta, ainda encarando o telefone.

-Você é de New York? – Mal contive minha empolgação em ouvir, o nome de minha antiga cidade.

-Ela é de New York – Dimitri corrigiu – Eu morava lá há algum tempo, por causa da faculdade e tudo mais. Minha mãe mora em Vancouver.

-Eu sou de Nova York. Fazia faculdade lá – Sorri com a lembrança, dos meus dias coloridos. Logo, seu celular parou de vibrar em sua mão. Ela havia desistido.

-E por que resolveu abandonar a luta, por tudo isso? – Dimitri se levantou e eu segui seu exemplo e logo em seguida, comecei a juntar meu material de pintura.

-Meus tios eles... – Mordi o lábio antes de continuar com aquilo. Eu ainda não estava preparada para falar.

-Pode confiar em mim. – Ele insistiu.

-Lembra-se quando lhe disse, que eles somente se importam consigo mesmo? – Virei de costas, tentando esquecer a forma, como seus olhos queimavam enquanto ele me observava. Respirei fundo, antes de me virar novamente. – É basicamente isso. – Forcei um meio sorriso, tentando parecer convincente, mas ele pareceu não engolir isso muito bem.

-Está mentindo e, vou te dar até depois do jantar, para pensar bem em como me contar tudo isso, para que eu possa de verdade, ajudar você. – Seus olhos eram brilhantes e eu vi determinação ali.

-Dimitri eu... Quer dizer Doutor... – Me atrapalhei com as palavras, enquanto o encarava.

-Dimitri está bom e sim, eu vou ser insistente. Vejo-te depois do jantar, para tentarmos achar juntos, um tratamento alternativo, para a sua insônia. – Ele então piscou e me deu as costas, ainda encarando seu aparelho celular.


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