Lágrimas de Sol escrita por Anastacia B, Kah Correia


Capítulo 2
Capítulo 2 - Impressão


Notas iniciais do capítulo

Olá gente!
Segue mais um post!
Por favorzinho, não sejam leitoras fantasmas. Se você passou pela fic, não custa nem dois minutos, para que deixe um recado.
Beijos e obrigada pelas leitoras que comentaram =)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/276799/chapter/2

-Eu ainda não consegui entender, como você veio parar aqui, Belikov – Carlo, meu ex-colega de classe e médico, comentou enquanto me via preparar meus instrumentos, para atender, meus primeiros pacientes. Estávamos agora, em uma das salas de neurologia disponíveis, de Santa Maria. Como eu praticamente me voluntariei para o cargo, facilitei as férias de dois outros médicos, plantonistas.

-Eu já te disse que neurologia é o que eu faço de melhor então, lide com isso. – Virei os olhos, sorrindo para ele. – Para Carlo, era inadmissível eu estar lidando com loucos em um hospital, quando tinha um destino promissor pela frente. Eu era noivo de Natasha Ozera, filha de um dos homens mais influentes da cidade de New York e dona, de uma rede de hotéis milionária. Atualmente, eu havia mudado para Vancouver a pedido de minha mãe, para que ficasse um tempo mais perto dela, antes de realmente me casar com Natasha e me mudar de vez, para a casa que havíamos comprado, em New York.

Como nosso casamento estava programado só para o final do ano, eu ainda tinha um pouco mais de onze meses, para me sentir útil e trabalhando, com uma de minhas grandes paixões, Neurologia. Eu estava formado há um pouco mais de três anos e exercia minha profissão, trabalhando em um hospital particular local. A grande parte dos meus dias era entediante, graças aos mesmos pacientes monótonos e cheios de dores de cabeça crônicas, graças à vivência, em uma das cidades mais movimentadas e estressantes do mundo. New York.

-E por que uma clínica de loucos? Não poderia ter escolhido um consultório no centro? Poderia ser mais interessante – Carlo bufou, limpando seu estetoscópio. Uma brisa leve, fez com que seus cabelos castanhos avermelhados, se despenteassem um pouco.

-Eu não sei por que está sendo contra, que eu trabalhe aqui. – Franzi o cenho, ajeitando meu jaleco. – Você já trabalha aqui há alguns meses e não reclamou, tanto assim. Além do mais, aquele monte de pessoas ricas e chatas, estava começando a mexer de vez, com o meu sistema nervoso.  – Desviei o olhar, para lança-lo ao relógio. Em menos de cinco minutos, eu estaria recebendo meus pacientes.

-E você age como se fosse bastante humilde – Carlo sorriu e eu virei os olhos. -O caso de eu estar aqui não é esse e você, sabe muito bem disso – Carlo abriu a porta, puxando o pequeno tapete branco, da entrada da sala. – Minha irmã mais nova esta aqui e o mínimo que posso fazer por ela e por mim mesmo, é mantê-la segura, enquanto está passando pelo tratamento.

Mia, a irmã mais nova de Carlo, havia passado por um trauma muito grande há alguns meses atrás, quando foi vítima de um sequestro, que durou um pouco mais de um mês e meio, quando ela foi mantida em um cativeiro. Os sequestradores queriam dinheiro, mas embora a família de Carlo não tivesse se importado em nada para pagar a fiança, sua irmã mais nova foi torturada e violentada e custou um bom tempo, para que ela finalmente conseguisse sua liberdade. Quando isso aconteceu a pouco mais de quatro meses, ela foi trazida para o Internato Santa Maria, que era um dos mais luxuosos do continente, para tentar se livrar do trauma. Mia não saiu de casa, comeu ou tomou banho, durante quase duas semanas, antes de seus pais realmente descobrirem, que ela precisava de ajuda.

-Mas como ela lida com você? – Perguntei para Carlo que agora, fitava a janela pensativo.

-Mia me reconhece graças a Deus, mas às vezes é como se não me reconhecesse. – Ele resmungou pensativamente. – Às vezes ela me quer por perto, mas outras vezes como hoje de manhã, apenas não queria me ver a sua frente.

O problema de lidar com pacientes com problemas cerebrais e nitidamente abalados, era que na maioria de vezes, eles eram bastante instáveis e com dupla personalidade dominante, deixando assim a convivência bastante difícil principalmente, nos primeiros meses. Hoje quando cheguei à clínica por exemplo e encontrei Carlo, ele estava abatido e agora, eu sabia o real motivo. Sua irmã novamente, o estava negando.

Abri minha boca para comentar, quando a enfermeira entrou na sala.

-Doutor Belikov, seu primeiro paciente já aguarda para ser atendido.

-Pode pedir que o primeiro entre, Anna – Me posicionei em minha cadeira e logo, Carlo saiu pela porta, me deixando sozinho na sala. Iria ser um longo dia.

Assim que terminei com alguns pacientes marcados, almocei com Carlo e outro médico e logo aproveitei o tempo extra, para visitar meu novo quarto e conhecer um pouco mais, sobre o novo hospital que agora eu estava trabalhando. Dormir no emprego, não era uma regra, mas se eram disponibilizados dormitórios bastante agradáveis e com serviço de quarto, como um incentivo a mais, caso algum paciente realmente, precisassem de atendimento fora do expediente.

Assim que meu tempo de folga havia acabado, comecei a atravessar o pátio principal, onde vários pacientes estavam aproveitando o dia de sol, para fazer algumas atividades ou até mesmo, observar o dia claro. Embora estivéssemos acabando de sair do inverno, as temperaturas estavam bastante agradáveis. Parei na sombra, enfiando minhas mãos no bolso do jaleco, tentando absorver um pouco do calor transmitido. Foi quando que quase instantaneamente, a vi.

Uma jovem de aproximadamente vinte anos, estava sentada bem no centro do pátio, cercada de vários quadros pintados. Ao seu lado, servindo como apoio de seu material artístico e lhe favorecendo com uma pequena sombra, uma fonte com um anjo. Sua roupa tinha uma leve coloração de respingos de tinta, assim como em alguns pontos de seu rosto. Seu cabelo castanho e bastante volumoso, agora estava amarrado em um malfeito coque, alegando pressa e possivelmente impaciência, com que ela estava lidando. Em seu rosto, traços de cansaço e tristeza, embora ela parecesse extremamente concentrada, no que estava fazendo. Aproximei-me alguns passos dela, mas mesmo assim, ela não desviou seus olhos determinados, da tela.

-Boa tarde – A saudei, ainda com as mãos no bolso.

-Olá – Ela respondeu sem dar, muita importância. Era mais como algo mecânico, do que como se ela tivesse realmente prestando atenção naquilo.

-Seus quadros são realmente bonitos. – A incentivei a conversar e foi nesse instante, que seus olhos cruzaram com os meus, mesmo que suas mãos não desgrudassem da tela.

-Obrigada – Ela respondeu sem nenhum vestígio de sentimento. Novamente, parecia que eu estava lidando com uma máquina ao invés, de um ser humano. Notei que ela tinha olhos grandes e castanhos, com cílios volumosos.

-Você sempre gostou de arte? – Me sentei ao seu lado, usando de apoio à borda da pequena fonte. Minhas se cruzaram automaticamente em meu peito.

-Não, mas não se tem muita coisa para fazer, por aqui – Ela forçou um sorriso triste, fazendo com que uma mecha se desfizesse de vez, de seu coque e caísse livremente em um canto do rosto.

-Há quanto tempo está aqui? – Me vi interessado. Ela parecia jovem demais e extremamente consciente, para se estar em um hospital como aquele. Talvez bem, fosse somente minha impressão.

Ela ia responder, quando uma enfermeira se aproximou de nós.

-Srta. Rose, está na hora dos remédios. – Uma mulher com mais de cinquenta anos, se aproximou da moça e lhe tocou suavemente o braço.

-Oh sério? – A moça pareceu desapontada de repente. – Eu estou bem Anita. – A jovem franziu o cenho, tentando parecer convincente.

-Não teve mais dores de cabeça? – A enfermeira não pareceu totalmente certa, sobre o que a moça falava.

-Eu tive, mas já faz algum tempo. – A jovem quase que choramingou, sabendo que dessa vez não escaparia.

-Então, vamos tomar assim mesmo – Dessa vez a enfermeira puxou a jovem pelo braço suavemente e ela por sua vez, soltou um longo suspiro.

-Dr. Belikov espero não ter interrompido seu atendimento, mas a Srta. Rose aqui, precisa ser medicada. – A enfermeira se voltou para mim sorrindo um pouco.

-De forma alguma – Justifiquei prontamente. – Depois conversamos mais Rose.

Ao invés de responder, ela apenas me lançou um olhar significativo e eu tive a impressão, que ela parecia nitidamente carregar, todo o peso do mundo em suas costas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!