Meia noite; uma hora da manhã; duas horas da manhã...

Minha mãe me trouxe um chá para eu ficar mais calma e Prim cantou para eu dormir, mas foi ela que acabou dormindo.

Eu estaria indo para o distrito 7 daqui algumas horas e não tinha ideia do que me esperava lá. Estava ansiosa e com medo. Não sabia o que deveria fazer...

- Tudo bem Katniss, eu vou estar com você! – disse Gale quando me trouxe até o meu quarto ontem.

Isso realmente me deixava um pouco mais segura, foi por isso que eu tinha feito de tudo para ele continuar na minha equipe. Ir sozinha, sem ninguém para eu contar me deixava com muito medo.

Eu ri. A culpa era de Peeta. Tinha me acostumado a estar com alguém nessas situações. Mas agora eu estava quase chorando. Estávamos nós separando de novo e eu nem ao menos consegui me despedir de verdade.

Na entrevista, tive a oportunidade de me despedir de beijá-lo uma ultima vez, mas não tive oportunidade de pedir para ele me desculpar, para saber se realmente – ouvindo da boca dele – eu estava perdoada por todas as coisas que o fiz passar.

Eu me levantei decidida. Iria procurar Peeta e dessa vez eu iria conseguir falar tudo o que eu queria; dessa vez nada poderia me atrapalhar.

Fui andando sorrateiramente pelos corredores de dormitórios até chegar ao corredor do quarto dele e de Haymitch. Tudo estava em perfeito silencio e quase tudo escuro com exceção de uma porta que estava aberta e deixando passar um pouco de luz.

- Até que enfim você chegou! – ouvi Haymitch dizer. – Então, Coin decidiu ajudá-lo?

Eu me posicionei perto da porta tendo um pouco de visão de Peeta de pé, de costa para a porta e consegui saber que Haymitch estava sentado na cama. Nenhum dos dois pareceu me perceber, e agora eu nem queria isso, pois estava curiosa com o assunto.

- Ela nem me escutou – reclamou Peeta.

- Falei que seria inútil -  respondeu. – Para o seu bem e o bem de Katniss é melhor não darem mais trabalho sobre isso – alertou Haymitch com uma voz de preocupado.

- Eu só não me conformo – disse Peeta revoltado. – Nós estamos fazendo todo o trabalho para ela, estamos nós arriscando para isso quando a única coisa que precisávamos era de paz e mesmo assim ela continua nos tratando como mais um objeto da capital...

- Ela só está tentando manter as coisas em ordem. Katniss nunca foi uma garota fácil de controlar. E independee de tudo, temos que ver que Coin só está tentando manter essa revolta e vencê-la. Nós precisamos de vocês.

- E isso significa colocar a Katniss em risco? Mandá-la para a morte? – replicou Peeta, não concordando ainda.

- Vocês se manterão vivos se pararem com essas ideias. O que querem? Peeta e Katniss contra a capital e o distrito 13? Isso não me parece uma boa maneira de sobreviver – contestou Haymitch quase como uma bronca.

- Nós não estamos indo contra Coin, só não concordo com o que ela esta fazendo com Katniss – tentou explicar Peeta.

- E foi assim que tudo começou! – bufou Haymitch.

- O que quer dizer?

- Quero dizer que, é melhor vocês se comportarem e não arrumarem confusão, você não pode saber onde está pisando – ele deu uma pausa em sua bronca olhando para a porta e eu tive que me encolher para ele não me ver.  – Não se pode arriscar... – eu o vi se levantando.

Sem pensar duas vezes sai correndo para ele não me ver, virando o próximo corredor. Até voltei para ver se conseguia ouvir o termino da conversa, mas ele tinha fechado a porta e preferi não arriscar.

Parei na porta do meu quarto, totalmente confusa e assustada. Do que Haymitch estava falando? Como assim tínhamos que tomar cuidado? Com o que?

Eu estava com aquela sensação que sentia na capital, como se, a todo o momento, estivesse sendo vigiada e um passo em falso fosse algo letal. Será que realmente Coin era assim?

Tudo o que eu tinha ouvido dela mesma e agora com o que Haymitch falava me dava quase certeza de que tinha ou alguma coisa mesmo errada, ou alguma coisa muito mal explicada.

Mas talvez Haymitch só estivesse tentando fazer Peeta parar com confusões, porque realmente é o que estávamos fazendo, principalmente eu que não demonstrava nem um pouco de respeito por Coin, e isso também poderia explicar 100% do por que ela não gostava de mim. Tinha que ser isso.

Mas agora as minhas suspeitas de estar em perigo pareciam tão reais e isso fazia voltar todo o meu medo pela minha família e as pessoas que eu amo. Eu não poderia coloca-los em risco de novo.

Agora eu tinha que prometer que independente de qualquer coisa, eu iria fazer de tudo para proteger a todos que eu amo e a mim. Eu iria me comportar.

Quando girei a maçaneta percebi que tinha falhado de novo em meu objetivo. Não consegui falar com Peeta e estaria indo embora sem a chance de me despedir.

Parecia que tudo sempre queria me ver afastada de Peeta.  

- Soldado Eveenden, vamos. O que você está fazendo aqui? – eu ouvi alguém me chamar.

- Me deixe em paz! – resmunguei.

- Você está grogue? – ele me perguntou.

- Eu si estou tentando dormir! – respondi realmente meio zonza. Não consegui me lembrar muito bem, mas tenho quase certeza que passei do hospital e tomei alguns remédios para dormir aqui... Mas aqui a onde?

Eu abri os olhos e vi o céu. Sim, tinha vindo parar no primeiro andar onde tinha uma pequenina salinha que tinha o teto de vidro e dessa forma dava para ver o céu.

- Você não pode ficar aqui! – disse a voz desconhecida.

- E quem é você...- comecei a dizer olhando para o homem e me deparei com o grandalhão do Boggs.

Não sei por que, mas eu ri.

- Você não parece estar bem. Melhor ir a enfermaria...

- Lá eles só vão me dar mais remédios para dormir – eu dei uma pausa. – Bem, talvez eu precisasse mais de remédio, assim eu conseguiria dormir.

- Bem, você não parece estar nada bem. Como veio parar aqui?

Eu voltei a fechar os olhos, já que estava sentada na única cadeira que tinha nessa sala e querendo voltar a dormir.

- Será que eu não poderia ter um único memento de próprias escolhas?  - enquanto estava com a ideia de que sempre teria alguém para falar o que eu deveria ou não fazer. – Você não acha que eu deveria poder dormir vendo o céu e sem ninguém me perturbando antes de morrer?  - agora eu estava chorando. – Todo mundo deveria ter essa chance, não acha?

- Por que você acha que vai morrer? – perguntou Boggs.

- Bem – eu comecei surpresa com o interesse -, eu não sei, mas eu não posso esperar até saber, não acha? – repliquei rindo entre as lagrimas.

- Tudo bem – disse o grandalhão. – Talvez, realmente todos merecessem um momento assim na vida.

- Obrigada!