Murderous Thoughts Of a Murdered Mind escrita por Signore Hemlock


Capítulo 1
Reflexões mortíferas de uma mente assassinada




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Murderous Thoughts of A Murdered Mind

 (Música de fundo: Xasthur - Wanderer of Dissonant Worlds)

 

 

“Ele foi um herói... Um homem que arriscou tudo para proteger o mundo shinobi, a Vila da Folha... e, o mais importante de tudo, seu pequeno irmão”.

 

Tobi/Uchiha Madara para Uchiha Sasuke, após este ter derrotado Uchiha Itachi...

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   Meu fim está próximo. Meus olhos enxergam a escuridão se aproximando de forma clara e irremediável. Meu corpo doente não há mais de suportar todo esta negatividade que eu carrego e com a qual eu manufaturei minhas habilidades. Minha mente está em ruínas e o desabamento se aproxima. Eu vou morrer. Eu hei de morrer. Tenho de morrer porque sou um resquício de um caduco mundo passado, uma imundície do mundo presente e, por isso mesmo, por tudo isso, tenho de ser eliminado, pois não quero e não posso ser um veneno, uma assombração, uma lembrança dolorosa para um mundo futuro.

 

   ...

 

   Ainda não chegou meu fim. Falta pouco. Terei eu de me “distrair”, se isso for possível, comigo mesmo enquanto meu fim não chega? Parece que sim. Ficar resmungando comigo mesmo de forma esdrúxula enquanto meu fim não chega é patético. E eu que achei que estava calmo, que estava em plena aceitação com o meu fim... Tsc, acho que me enganei.

 

   Com relação a isso, minha morte é aceitável? Tudo o que me aconteceu é aceitável? O que eu fiz e o que provavelmente deixei de fazer e tanto os atos monstruosos como traições, assassinatos e terror quanto os deleites da vida que ou não pude usufruir intensamente como o carinho de familiares e amigos verdadeiros ou não pude conhecer como o aconchego do amor ou as delícias do sexo... hahaha, dá para acreditar numa coisa dessas...? Enfim, certamente nada disso o é. Minha morte é aceitável? É. Minha morte é aceitável. Minha morte, minha eliminação, meu fim que ainda não chegou é aceitável e é o que tem de acontecer comigo. Isso tem de ocorrer comigo para que minha iniqüidade seja extirpada da face da terra. Meus crimes, meus pecados, têm de ser expurgados. Sou herdeiro de uma época destruída pelos de minha espécie e eu mesmo sou um dos destruidores desta era... Mas uma era que ainda está em seu início, uma época que não foi plenamente estragada e que pode ser consertada. Por isso tenho de morrer, tenho de ser eliminado enquanto é tempo, abandonar a cena e deixar que atores mais nobres atuem em meu lugar e. Não, já chega. Pare de pensar e espere seu fim Itachi!

 

...

 

...

 

...

 

   Meu fim ainda não chegou. Será que enquanto eu não fizer toda uma auto-confissão dentro de mim mesmo a minha morte não virá? O que mais eu posso dizer – melhor: pensar – melhor: devanear comigo mesmo? Que pergunta, é óbvio que eu tenho ainda o que conjecturar comigo mesmo, pelo mesmo comigo mesmo, no mínimo comigo mesmo. Ninguém acreditaria na minha história se eu a contasse. Será que outros dirão a minha história? Será que a dirão de forma correta, sem manipulações, tanto para o mal quanto para o bem? Não sou um mártir, oh não!, não sou! Fiz

 

   Estou ficando cansado.

 

...

 

...

 

...

 

   Fiz – pavimentei minha estrada com sangue, cadáveres, negrume, ódio e seu irmão mais velho, o desprezo. Essa deve ser uma boa analogia entre eu e meu irmão – a minha morte que não chega, meu irmãozinho tolo: Sasuke “Ódio-kun” & Itachi “Desprezo-sama”. Estou achando graça de mim mesmo, que engraçado! Ria enquanto seu fim não chega!

 

   Não, isso não tem graça nenhuma.

 

   Estou perdendo o juízo.

 

   Não mereço nenhum sufixo “-sama” e Sasuke é mais um cão raivoso. Meu irmão irmãozinho tolo é um cão raivoso. Eu o fiz assim, eu sozinho. Palmas para mim. Eu também sou um tolo, palmas para mim! Deveria eu tê-lo eliminado e tê-lo poupado desta vida de raiva, ódio e desprezo? Não. Foi acertado deixá-lo viver, agora no fim das minhas contas, para provavelmente mergulhar em queda livre na escuridão? Que falta de fé Itachi! Será que, após a minha morte em suas mãos, ele encontrará a paz? Provavelmente não. Que falta de fé Itachi! Não quero crer nisso. Não posso crer nisso. Minha propensão é crer nisso. Tudo indica que é isso que há de acontecer. Não quero crer nisso...

 

   Espero que ele seja salvo.

 

   Melhor: espero que ele se salve.

 

   Isso cansa. Quero silêncio.

 

   Nós, ninjas, somos criaturas banhadas em sangue ou em tolice ou ambos, no meu caso. É isso que eu penso. Os civis que nos apóiam ou nos admiram ou nos temem também são assim? Creio que sim, não todos e não publicamente. Pare de tentar encontrar alguma culpa secreta nos outros. É culpa da política belicista da nossa civilização? Também o é. Pare de tentar jogar toda a culpa em algo “abstrato”.

   Queria dormir.

 

   Queria dormir. Isso vai acontecer logo. Há de vir o sono ao qual ninguém acorda nem há de acordar jamais, pelo menos não mais aqui nesse mundo. Há de haver um outro mundo para mim? Uma criatura movida à rancor e preenchida por amargor como eu merecerá uma outra vida em outro lugar. Duvido muito, no meu caso. À mim só está reservado o MU* provavelmente...

 

   É isso que penso. É melhor pensar assim

 

...

 

   Pensar assim é deprimente. Não consigo parar de pensar assim.

 

...

 

   Vou me concentrar em algo mais fácil de ser avaliado para mim eu acho: minha vida. Tudo que me ocorreu foi justo, é aceitável? Aceitável não o é, diz minha vaidade. Justo também não, diz minha autocomiseração. Ou seria auto-piedade. Isso lá importa? Auto-compaixão talvez? Isso lá importa? “quando se é poderoso, muito ódio é adquirido ao longo de sua vida”. Foi o que certa vez eu disse para meu irmão. Estou em desgosto para chamá-lo de “irmãozinho tolo”.

 

   Irmãozinho tolo! Pronto, denominei-o novamente assim!

 

   Continuando: não é só quando se é poderoso que se adquire muito ódio, e também inveja principalmente, além de desprezo e isolamento do mundo real. Quando se está acima dos comuns dos mortais – que forma mais arrogante de se expressar! – em qualquer coisa, mais isolado, deslocado, desajustado alguém se encontra ou há de se encontrar do mundo real, em especial – quero crer nisso – quando se é mais genuinamente virtuoso que os outros. Seria mais fácil. Não que eu esteja dizendo que eu seja virtuoso...

 

...

 

   Pausa. À toa, antes de mais nada.

 

...

 

   Seria mais fácil se eu fosse alguém normal, se não se criasse tantas expectativas em cima de mim. Se minha família não me visse como uma proeminente arma a ser utilizada em busca do poder. Mas tudo isso são pensamentos tolos, pensamentos cheios de comiseração à mim mesmo. Oh pobrezinho de mim! Pensamentos típicos de alguém que se tornou um monstro por conta própria, de alguém que deliberadamente se afastou do mesquinho dito mundo real – que forma arrogante de se auto-expressar, Uchiha Itachi! – e, não preparado para suportar as conseqüências, fica choramingando consigo mesmo. Pois bem, eu estou sim pronto para a conseqüência final, e a conseqüência final é a minha morte. Espero que ela seja o início de um grande conserto nas coisas...

 

...

 

Quero acreditar nisso...

 

...

 

...

 

   Se esse mundo fosse uma fictícia história encantada, o climax dos meus pensamentos teriam enfim sido alcançados e eu teria enfim minha última batalha. Seja paciente Itachi, seu fim está chegando... Não creio que seria de toda injustiça minha se pensasse comigo mesmo, no íntimo, que muitas das torpezas de qualquer indivíduo provenha de suas relações familiares, políticas e sociais. Suas tradições e anseios em cima de qualquer indivíduo costumam ser torpes, esdrúxulas, hipócritas e tanto aqueles que alimentam tudo isso como aqueles que vergonhosamente abaixam a cabeça e aceitam toda essa podridão – à qual elas chamam de “tradição” – não só lutam para manter tudo isso como lhe condenam se você não entra no jogo – e você tem de entrar no jogo e agradecer por estar jogando!

 

   Ora Itachi, por mil demônios, o que está fazendo? Pensando, perdão – não, devaneando, mil perdões! E onde fica a resistência consciente do indivíduo? Onde fica os valores mais elevados do espírito e da virtude? Pare de arranjar culpados para o que lhe ocorreu, para o que fez e para o que você é! Ah Uzumaki, ah Naruto-kun, ah Uzumaki Naruto, se ele me ouvisse agora, se ouvisse tudo que pensei até agora, com certeza ele faria um discurso ingênuo e infantil, cheio de boas intenções, dizendo que estou errado e que o que eu fiz foi errado e que tinha um outro jeito – ele só não iria me dizer qual, obviamente... Ou talvez não! Talvez ele nem me condenaria e talvez ele saberia me dizer, de forma lógica e acertada, sobre o que eu deveria ter feito! Ah Uzumaki Naruto, ah Uzumaki, ah Naruto-kun...

 

ME SALVE!

 

(Essa seria a parte em que alguém cairia em susto...)

 

   Eu me lembro dele, aquele barulhento. Isso é algo realmente divertido de se lembrar. Estou até me sentindo um pouco mais confortado só de pensar que é ele quem irá salvar à todos. Será que ele será bem sucedido? Será que se tornará um grande Hokage, talvez o maior deles? Será que justamente sua persistência utópica, ingênua, infantil, sonhadora, meiga – não tenha vergonha em ser ridículo Itachi! Você sempre foi! –, ilógica, sincera, honesta, limpa e teimosa que há de nos redimir? Espero que sim, espero realmente que sim, Quero mesmo acreditar nisso. Oxalá que isso realmente se concretize. Também espero não que meu irmão me perdoe...

Não, isso é desnecessário...

Não! Isso é necessário se ele não quiser ter o mesmo destino do seu irmãozão tolo.

Enfim, não espero nem que ele saiba a verdade sobre mim, mas sim que se salve, que seja feliz, que não trilhe o mesmo caminho que eu, enfim... que não leve uma vida desprezível tal qual eu, eu mesmo e minha própria asquerosa pessoa doentia pessoa lhe disse para viver para me matar. Uma vida tal qual a minha...

 

...

 

   O que foi que esse caminho me privou mesmo? Ah sim, do conforto, da alegria e amparo dos amigos, além de... não, a “linearidade“ das minhas reflexões vãs, se é que podem ser denominadas assim, se esgotou. É inútil pensar mais sobre tudo isso. Pensar atormenta, cansa e doí. Esperar também cansa...

 

   Agora, que venha o silêncio, que é de tudo.... o resto!

 

...

 

...

 

...

 

   Vejamos, no que mais eu posso pensar enquanto meu fim enfim não chega, enquanto o enviado dos deuses da punição e da vingança enfurecidos encarnados em meu irmão não chegam? Kisame vai ficar decepcionado com minha morte. Bem, ele que agüente. Pein talvez fique de luto por mim, já que afinal de contas, eu também sei o que é a dor.

A dor que deveras eu sinto.

A dor que deveras ele sente.

A dor que todos nós ainda ermos de sentir, ponto de exclamação!

 

...

 

Maldito Mada-

 

Minha morte chegou!

 

oOoOoO

 

Itachi: O que você vê... com o seu sharingan?

Sasuke: o que eu vejo, Itachi? [pausa] Com o poder que eu adquiri, eu vejo algo claro como o cristal...

 

(Sim, vamos. Diga Sasuke, diga o que você vê. Diga o que eu estava aqui aguardando ansiosamente)

 

Sasuke: eu vejo a sua morte.

 

(Exatamente. É para iso que estamos aqui meu irmão tolo. Estamos aqui para concretizar a minha morte! Calaram-se enfim meus pensamentos. Fiz minha silenciosa confissão. Meu fim enfim chegou...)

 

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Notas finais do capítulo

Saudações à todos os nobres leitores, escritores e participantes enfim do Nyah. É com grande honra e vergonha que faço minha estréia aqui (foi mais fácil classificar a história do que imaginei) com uma fic em homenagem ao Itachi de Naruto, o melhor e mais bem construído personagem da série que o Kishimoto construiu (embora o "Não Há Gatos" Pein não fique muito atrás em matéria de complexidade. Shikamaru também é um bom personagem e finalmente o próprio Naruto está tomando jeito). Quanto à morte dele, claro que não fiquei de todo feliz por ele ter falecido DE CANSAÇO (eu me RECUSO a dizer que aquele escroque, paquiderme, esdrúxulo e outros adjetivos negativos que fariam com que a fic tivesse classificação para maiores de 18 anos no que se refere àquela COISA chamada Sasuke o matou. Tá na cara que quem lutou bem mais foi o Itachi!), mas o mangá como um todo parece ter amadurecido e ficado melhor com a morte de tão grandioso personagem. De qualquer forma, prestar minha homenagem à um indivíduo tão icônico (sério, eu tenho grande predileção por personagens-mártires como esse, talvez por eu me identificar tanto...) era o mínimo que eu poderia fazer até para mim mesmo...

Só como informação, a técnica do "monólogo interior" que eu tentei transpor para essa fic consiste em um discurso não pronunciado em que o narrador (que pode ser um personagem ou não de uma história) expõe questões de cunho introspectivo, revelando motivações interiores. Pode ser direto ou indireto, quando narrado em primeira ou terceira pessoa, respectivamente. Quem já leu algum livro do irlandês Samuel Beckett ou, para ficar num exemplo brasileiro, Clarice Lispector conhece bem essa técnica, que se parece um tanto quanto com as POVs em fanfics, apesar de ser mais complexo.

Enfim, é isso. Quem quiser deixar reviews, positivas, negativas e de preferênia sinceras sintam-se à vontade ^^



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