Deep in the Meadow escrita por Pennyweather


Capítulo 3
Boas e más impressões


Notas iniciais do capítulo

Olá, colegas (8) Tá aí o capítulo!



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Está tudo tão quieto que posso ouvir a respiração lenta de Madge. Ficamos por um tempo parados, em um silêncio desconfortável, na mesma posição em que lançamos a flecha, apenas observando- a, cravada no centro da árvore. 

– Bom... - digo, sussurrando em seu ouvido. - agora você sabe como atirar.

Ela assente com a cabeça.

Passamos o resto da tarde na campina. Ela me surpreende ao aprender rapidamente como montar uma boa armadilha e ao acertar a flecha bem no centro do alvo improvisado que fiz para ela. Não trocamos muitas palavras, é claro.

Mas fico me perguntando se tudo isso não está errado. Levar justo a filha do prefeito para a floresta. E se pacificadores nos pegam? Mesmo com toda a nossa rivalidade, eu jamais me perdoaria por deixar alguém tão inocente com Madge virar uma Avox.

Ao anoitecer, sento ao lado de Madge no gramado fresco. Ficamos um tempo observando a lua surgir lentamente no céu. Acho que é a primeira vez que me sinto tão próximo da filha do prefeito.

– Obrigada.

– Dívidas são dívidas. - respondo.

Desviamos o olhar por um par de segundos até que Madge comenta:

– Está ficando um pouco tarde. É melhor irmos.

Ela está certa. É perigoso ficarmos até tarde na floresta e não posso ter tanta proximidade com a filha do prefeito. É perigoso para ela e é perigoso para mim.

–Vamos, então. - digo e bufo, me levantando e logo após oferecendo minha mão à Madge com a intenção de ajudá-la a se levantar.

Passamos pelo vão da cerca e, tomando o cuidado de não sermos vistos, saímos correndo, chegando à praça onde estão passando os jogos. Respiro aliviado, juntamente de Madge, ao constatarmos que Katniss está bem. Mas fico irritado ao descobrir que o padeiro se juntou aos carreiristas em uma tentativa desesperada de proteger Katniss. Ele deve ser muito idiota mesmo, se acha que vai conseguir driblar os carreiristas. Esses caras são espertos. Mas fico agradecido pelo gesto, afinal, pelo menos tem alguém naquela arena que quer o bem de Katniss.

Saímos da praça e nos dirigimos até a casa do prefeito Undersee.

– A gente pode fazer isso de novo?

–Isso o quê? - pergunto, colocando as mãos no bolso. Evito olhar diretamente para ela - como sempre.

–Irmos para a floresta. - ela torce o nariz. - Sei que o combinado era só hoje, mas... Ah, esqueça. Não é uma boa ideia.

Penso um pouco. É errado, estou a colocando em perigo, levando-a para a floresta. Mas uma parte de mim quer repitir o dia de hoje.

- Não! É uma boa ideia. Vai ser bom para você aprender mais e...

- Já entendi. - ela ri pelo nariz. - Então até amanhã, Hawthorme.

– Boa noite, Madge Undersee.

Ela sorri fraco e se despede de mim.

Quando chego em casa, caio direto em minha cama. E quando me dou conta, já estou pensando no dia seguinte que passarei com Madge - o que é completamente contra meus princípios. Mas não tenho tempo de pensar muito, pois o sono me atinge rapidamente.

POV. Madge

Ao fechar a porta, dou de cara com meu pai sentado na sala. Provavelmente ficou me esperando chegar. Olho para o relógio. 23h30min. Agora entendo o porquê de papai estar com uma cara tão brava.

– Oi, pai. - cumprimento-o, receosa.

– Onde a senhorita estava?

–Ah. - paro um pouco para pensar. Se eu dissesse ao meu pai que estava com Gale, ele ficaria irritado por eu ter estado com o caçador clandestino do distrito. - Eu estava com uma amiga. A... A Julieta.

No momento em que digo isso, percebo em como sou idiota. Por quê inventei um personagem? Meu pai poderia desconfiar ainda mais.

– Julieta? Você nunca me contou sobre essa garota. - afirma meu pai, desconfiado, ajeitando os óculos.

– Ah, pai. É só uma amiga. - reviro os olhos, aborrecida.

Ele arqueia uma sobrancelha. Mas por fim, desiste.

– Tudo bem. Vai dormir, então.

Deito na cama e fico pensando. Por mais que amanhã eu tenha aula, e eu devo dormir se quiser conseguir acordar cedo, fico pensando. Não sei por quê, mas Gale Hawthorne desperta um calor inexplicável em mim - por mais que ele seja o cara mais arrogante e implicange do mundo.

Na manhã seguinte, me levanto e, antes de sair de casa, dou um beijo na bochecha de minha mãe - que como sempre, está na cama - e dessa vez tomo o cuidado de alertar meu pai sobre o tempo que passarei fora com "Julieta".

Ele assente com a cabeça, mas não tira os olhos do jornal que está lendo. Dou de ombros e vou para a escola.

Quando estou entrando no colégio, encontro-me com Gale nos portões. Ele está sempre com aquela expressão incomodada, aquele olhar desconfiado.  Até já me acostumei.

– A gente se encontra aqui mesmo na hora da saída, ok? - avisa ele. - E nada de comentar sobre isso para as pessoas.

Reviro os olhos.

– Até parece que eu faria isso. 

Nos separamos e vou para o corredor onde tem as aulas do primeiro colegial e Gale, para o corredor das aulas do terceiro colegial, porque ele é 2 anos mais velho que eu.

Quando estou andando em direção à sala de aula, sou empurrada bruscamente contra um dos armários onde guardamos o material. A dor é tanta, que fecho os olhos com força por um momento. Quando os abro, tenho a pior visão que poderia ter.

Blake Stanford.

Um dos garotos mais populares e pegadores da escola. É daqueles caras que fica com todas e anda com um grupinho de descolados. Ele sempre tem um desagradável cheiro de bebida, porque ele e seus amiguinhos ficam trazendo bebidas alcoólicas em garrafinhas de água. Eles já foram suspensos milhares de vezes por causa de seu comportamento, mas parecem não se importar com isso.

Ele é do terceiro colegial, mas como de uns meses pra cá ele tem adquirido o costume de me perseguir, ele fica me esperando até o sinal tocar. O que é estranho, porque não sou nem um pouco popular e não tenho muitos amigos. Ele deve me querer porque sou uma das únicas com quem ele ainda não ficou, praticamente. Devo admitir, ele é bem bonito, alto, loiro e forte. Mas ele é tão idiota que a beleza não compensa. E antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele fala com brutalidade:

– Oi, Mad. Tudo bem? Eu estava te esperando, se atrasou é? - a voz dele denuncia que ele bebeu mais do que o normal. 

Abro a boca para falar, mas ele me prende mais ainda contra o armário e continua falando:

–Te vi com o Hawthorne, agora há pouco. O que está acontecendo? Está me trocando pelo caçador? - ele pergunta, rindo. Os amigos babacas dele começam a se amontoar ao redor de nós e dão risada também.

–Te trocar? Você fala como se eu tivesse alguma coisa com você, idiota. Não importa o que você faça ou tente fazer, você nunca vai conseguir me ter, Blake. Diferente das vagabundas que você pega por aí, eu me dou ao respeito.

Os amigos de Blake se entreolham ao ouvirem minha resposta. 

–Muito bem, Mad. Vai lá com o caçador. Mas não se esqueça: eu ainda vou tornar a sua vida um pesadelo.

Ao falar isso, ele me solta violentamente e sai com seus amigos, indo em direção ao corredor do segundo colegial. Idiota.

O resto da aula foi normal. Os professores passaram registros enormes para copiar, nos deram tarefas, almoçamos e depois fomos dispensados.

Me dirijo até o ponto de encontro que marquei com Gale. E então, entre a multidão, vislumbro um garoto alto e bonito, com cabelos morenos, vindo em minha direção. Dou um suspiro de alívio. Gale.

Ele para em minha frente e pergunta, meio à contragosto:

–Vamos?

Faço que sim com a cabeça. Quando estamos saindo da escola, percebo olhares sobre nós. Percebo que a pessoa que mais nos encara é Blake. Mas finjo não me importar.

Gale e eu combinamos que antes de irmos à Campina, vamos à praça assistir aos Jogos. Quando chegamos lá e começamos a assistir, posso ver que Gale está bem aflito. Katniss está ficando desidratada muito rapidamente. A busca por água é sem sucesso. Ela está longe de encontrar algum líquido naquela região da arena. Fecho os olhos e começo a rezar para que Katniss encontre água. Vê-la naquele estado está me dando uma dor absurda. Eu queria tanto poder dar pelo menos um gole daquele líquido puro e transparente para ela. Infelizmente, isso não é possível.

Percebo que Gale está ficando esquisito, imagino que seja pela visão da amiga desidratando. Sinto-me obrigada a fazê-lo sentir-se melhor, mesmo sabendo que ele provavelmente não faria o mesmo por mim.

– Gale, você não vai se sentir melhor assistindo isso. Por favor, vamos embora. A Katniss vai ficar bem. Te ver aflito desse jeito está me deixando nervosa. Não vale a pena você ficar aqui assistindo isso. Só vai piorar as coisas.

Ele dá uma última olhada no telão e assente com a cabeça. Saímos da praça e vamos até a floresta, com o cuidado de não sermos vistos.

Caminhamos por um bom tempo, até chegarmos no mesmo lugar de ontem, e nos sentamos um pouco.

–Você acha que ela vai sair de lá viva, Undersee?

Sinto-me confusa.

– Katniss é bem esperta. - digo, esperando que essas palavras resumissem o que quero dizer.

Ele abaixa a cabeça. Acho que ele não quer demonstrar a tristeza, porque ele se levanta e diz, tentando, sem sucesso, parecer indiferente:

–Venha. Vamos treinar o arco e flecha.

E então, passamos o resto da tarde conversando vez ou outra e treinando.

Quando a lua começa a surgir no céu, resolvemos ir embora. Ao passarmos pela cerca eletrificada, vislumbramos algo branco. O reconhecimento nos atinge.

São pacificadores. E estão vindo em nossa direção.


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Notas finais do capítulo

Pois é: fodeu. APOSKAPOSKAPOSKAPSKAP
Gostaram? Quem ficou iritado com o Stanford que se manifeste e levante a mão.
\O/
rs. Até o próximo capítulo!