O sol já estava se pondo, Koushirou sentou-se na cadeira que ficava frente à Dalian, encarando-a com aqueles lindos olhos amarelos:

– Kiyomi disse que queria falar comigo – Disse abrindo um sorrisinho, como sempre, malicioso.

“Falar... Com ele? Não me lembro de ter dito que precisava” Pensou, apoiando o queixo sobre as costas da mão esquerda, “Ah... É mesmo, eu queria falar com ele sobre a minha ligação com a tal garota que Koushirou veio procurar na minha escola” continuou o raciocínio que foi interrompido pelo garoto:

– Então, do que se trata?

– Bem – Dalian tentava achar as palavras – Kiyomi me disse que você veio até a minha escola à procura de uma antiga amiga do colegial... Mas ela não quis dizer o que eu tenho haver com isso... – Koushirou fez uma expressão um tanto de surpresa, mas não demorou muito a abrir aquele incômodo sorriso maldoso.

– Quer mesmo saber?

– Se eu não quisesse, estaria perguntando? – A garota respondeu com um tom sarcástico. Koushirou levantou-se, sentando ao lado de Dalian, que se afastou um pouco. Ele pegou uma mecha dos cabelos negros da garota, enrolando lentamente com as pontas dos dedos:

– Sabe, pode não parecer, mas quando eu estava no colegial, meus cabelos eram do tamanho dos seus, e o resto das pessoas caçoavam muito de mim por esse motivo – Ele parou de mexer nos cabelos de Dalian, e puxou-a para mais perto de si – Seu rosto fica ainda mais fofo quando você está corada – E sorriu. Dalian o empurrou, fazendo com que ficasse mais longe.

– Não mude de assunto! Continue a história – Ela falou com o tom de voz mais forte, colocando as mãos no rosto, tentando tapar as bochechas avermelhadas.

– Como queira – Continuou dando um longo suspiro, apoiando-se nas palmas das mãos – Como lhe disse, as pessoas caçoavam muito de mim, e eu não tinha quase nenhum amigo. Mas tinha uma garota... Que ela era diferente dos demais. Ela era gentil, e me tratava como qualquer outra pessoa... Tornamos-nos amigos e tudo mais. Mas eu acabei saindo do colégio e não a encontrando mais... Até que eu descobri que ela estudava no colégio Miaki.

– Ela deve ser importante para você... Mas, Qual a minha ligação com essa história? – Perguntou ela bastante curiosa, arrumando a blusa.

– Você não tem nenhuma suspeita?- Dalian pensou um pouco, mas nada vinha em sua mente e respondeu negativamente com a cabeça.

– Essa garota da qual eu estava procurando, se chamava Dalian Matsuo.

A garota arregalou os olhos, seu coração começou a bater rapidamente. Koushirou levantou e sentou ao lado dela, virando-a e levantando seu queixo para que ela olhasse em seus olhos:

– Agora entendeu porque eu sei o seu nome? – Disse, aproximando seus lábios aos de Dalian, que estava corada como um pimentão. Mas antes que a garota fizesse alguma coisa ou ele a beijasse, a roda-gigante parou e a porta da cabine onde eles estavam se abriu. Ela aproveitou a chance e se afastou de Koushirou, levantando e saindo correndo porta a fora:

– J-J-Ja ne! - Gritou de longe, afinal, ela havia corrido com toda a sua força.

***

“C-Como que esse cara... e e-eu... amigos?” pensava ela, subindo as escadas que davam em seu apartamento. Ao chegar à frente da porta, algo lhe chamou atenção. Na fechadura... Estava a chave com pingente de panda que ela havia perdido. Ela tomou coragem, e abriu a porta com todo cuidado possível para que não fizesse barulho, mas o som ecoou em todo o apartamento. Ela entrou e olhou aos arredores, nada de suspeito. Tirou o celular do bolso e subiu as escadas. “Esqueci de trancar a porta” pensou descendo novamente a escada. Mas quando estava em sua metade, levou um susto ao ver um garoto que já havia trancado a porta e estava a encarando. Suas pernas voltaram a tremer e seu coração batia num ritmo acelerado, afinal, o garoto da porta não era nem Koushirou nem Aoshi, tinha cabelos castanhos, olhos da mesma cor e era mais forte que os dois garotos juntos:

– Eai belezinha? – disse o rapaz num tom áspero, andando lentamente até sua direção tirando o cinto de couro e desabotoando os botões da calça preta que vestia. Dalian reconhecera o rapaz, era um dos garotos que Kiyomi disse que estavam a perseguindo e sabia que teria que agir rápido se quisesse evitar ser estuprada por aquele imbecil de dois metros de altura. Subiu as escadas e correu até o final do corredor onde ficava a porta da sacada, deu uma rápida olhada para o garoto que a olhava de um jeito que era de se dar nojo. Sua espiração estava ofegante. Ela abriu com força a porta e trancou-a, subiu sobre a pia de mármore e respirou fundo, não havia outra opção ou pulava ou sofreria as consequências. Deu um impulso com a perna direita, apoiando seus braços sobre o muro, fazendo força para escalá-lo. Dava para ouvir os passos pesados do garoto que estavam cada vez mais próximos a porta. Ela sentou-se ao muro e acabou cortando a coxa com um pedaço de arame que se encontrava sobre o mesmo, mas ignorou o corte e pulou, caindo no chão de cerâmica da sacada de Aoshi.

Suas pernas doíam demais, tanto que Dalian não teve coragem de olhar para ver o quanto tinha se machucado. O sol já tinha se pondo e começava a chover. Ela piscava lentamente os olhos, seu corpo todo doía. Uma queda de quatro metros de altura não era moleza, e ela também havia caído de mau jeito, o que complicava bastante.

Dalian avistou os pés de alguém em meio à chuva que caía com mais intensidade. Era Aoshi, ele fez uma cara de assustado ao ver o sangue que escorria pelo chão. Mesmo o corte da coxa de Dalian sendo pequeno, soltava uma quantidade de sangue disporpocional ao mesmo. Dalian fez um sinal de silêncio esticando o dedo indicador e colocando frente aos lábios, afinal, temia que o garoto pulasse o muro a sua procura. Eles ficaram alguns minutos em silêncio após o barulho de algo sendo arrombado e alguns gritos como “Onde essa vadia foi?!” e “Que merda!”.

Aoshi chegou perto de Dalian, tirou algumas mechas de cabelo que estavam frente aos seus olhos e pegou-a no colo, pressionando sua bochecha esquerda contra seu peito. Abriu a porta e foi em direção ao seu quarto, colocando-a sobre a sua cama:

– Você está toda encharcada, vai pegar um resfriado – Falou ele num tom gentil, pegando algumas toalhas e uma blusa de manga comprida que estavam sobre uma mesinha de madeira. Ele levantou a camiseta encharcada da garota, deixando a mostra o sutiã rosado, mas Dalian o parou, segurando sua mão, e acabou perdendo as forças logo em seguida, ficando inconsiente.

(...) Continua...