Into Your Arms escrita por AnaSabel


Capítulo 30
Capítulo 29




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/275200/chapter/30

Tudo estava branco. Uma fina camada de neve cobria todo o chão, os telhados das casas e esmagava toda a vegetação que havia conseguido sobreviver. O céu estava coberto de nuvens e apenas uma luz pálida conseguia ultrapassá-las. Era depressivo.

Calcei minhas botas marrons e vesti um cachecol azul marinho. Ao sair de casa um frio dolorido me atingiu e desejei ter colocado mais uma blusa - apesar de já estar com quatro delas. Corri até o carro de minha tia, o qual ela havia me emprestado e liguei o aquecedor, indo para o centro de St. Louis. A cidade estava vazia. Eu devia ser a única pessoa em sã consciência a sair de casa. Estacionei o carro e agradeci mentalmente tia Rose por ter colocado correntes nas rodas.

Suspirei de alívio quando o calor reconfortante do Bistrô me recebeu e pedi um cappuccino assim que sentei em uma das mesas próxima à janela. Virei-me em direção a ela e minha respiração condensada formou um pequeno circulo em minha frente. Mordi meu lábio ressecado, enquanto o frio parecia cruzar o vidro e entrar em meu corpo como pontadas de tristeza, fazendo eu me apertar no casaco pesado. A neve trouxera o silêncio consigo. Era como se tivessem colocado uma mordaça em tudo ao meu redor.

Assim que a garçonete depositou na mesa a xícara quente de café com o vapor que subia em direção ao meu rosto, fazendo-o corar, a porta do Bistrô abriu e Steven passou por ela. Vestindo calça jeans, uma jaqueta de couro preta – que por sinal era a única manga longa que usava - e botas coturno pesadas, ele sentou-se a minha frente. Talvez eu não fosse a única pessoa a sair de casa num dia como aquele. Talvez fosse a única em sã consciência.

– Você não sente frio, não? – perguntei, incrédula.

– Oi pra você também, Hathaway. – ele abriu um sorriso presunçoso. – E já que perguntou, o frio não me atinge do mesmo modo que atinge você.

– Está explicado. – falei e tomei um grande gole de cappuccino, deixando o líquido queimar minha língua e descer arranhando minha garganta. Era bom.

– Por quê? Está precisando de um braço quente, uma cama, talvez?

Revirei os olhos, tentando conter um riso.

– A única que deve estar em sua cama é Ashley.

Steven riu.

– Você tem razão, mas quem disse que estou falando da minha cama? Afinal tem uma livre no bairro Soulard Neighborhood apenas esperando por você.

Ele apoiou os braços em cima da mesa e entrelaçou as mãos, inclinando-se em minha direção e me encarou.

– Ah. – murmurei, colocando uma pequena mexa de meu cabelo atrás da orelha. – Vou rejeitar essa opção. O que você está fazendo aqui? - desviei o assunto.

– Dando uma volta... Vendo se ninguém morreu. – ele deu de ombros. – Sabe como é.

– Claro, parece bem promissor. – ironizei. – Você sabe de Ash?

– Está dormindo... – Steven mordeu o lábio inferior.

Assenti.

– Com Ashley você não precisa se preocupar. Ela está segura comigo. – disse.

Eu acreditava nele, mas cerrei os olhos para provocá-lo e tomei mais café.

– Ei, espero que esse olhar não seja do tipo “Você é um vampiro e está namorando minha melhor amiga. Tome cuidado”.

Eu ri.

– Estou brincando. Sei que você não vai fazer nada para machucar ela, quer dizer, nada no sentido vampiresco.

– E nem em outro sentido. – Steven me garantiu, jogando uma piscadela.

Ele encostou-se a cadeira, cruzando os braços e franziu o cenho.

– Por que você terminou com Andrew? – disparou.

– Não estou aqui pra falar sobre ele. – retruquei.

– Eu sei, mas – Steven hesitou, medindo suas palavras. – eu não entendo. Você acabou de me dizer que não se importa com o fato de eu ser um vampiro, então por que se importaria de Andrew ser um híbrido?

– Você sabe que não se trata apenas disso. – sussurrei, com a voz fraca.

Ele suspirou.

– Está bem, ele mentiu, você tinha o direito de ficar zangada, mas não poderá ficar a vida toda se sentindo assim. Passou. Agora você sabe a verdade.

– É mais complicado que isso. – falei desconcertada, desviando o olhar.

– Não vejo como. – desdenhou.

– Steve, eu sei que você só está defendendo Andrew, mas eu apenas preciso de mais tempo.

O sorriso voltou ao seu rosto.

– A verdade é que você nunca experimentou a cama de Andrew. Não do mesmo modo que Ashley experimentou a minha, se é que me entende.

Soltei uma gargalhada que ecoou pelo espaço vazio.

– Eu duvido que você teria conseguido ficar tanto tempo longe dele se tivesse passado por essa experiência. – ele continuou.

Quase me engasguei com o café.

– Acho que já ouvi o suficiente. – falei, rindo. – Eu vou indo, você vai ficar por aí?

– Por enquanto.

Levantei-me da cadeira e antes de deixar a mesa, Steven se virou em minha direção.

– Tome cuidado. – murmurou.

– Eu sempre tomo.

Ele me lançou um último sorriso despreocupado e logo após pagar meu café, saí do Bistrô. O nevoeiro cinza envolvia o mundo e pequenas gotas de chuva congelada começaram a cair, enquanto eu ia de uma loja a outra à procura de um presente para tia Rose. Faltavam poucos dias para o Natal e eu não havia pensado em nada, principalmente porque não havia o que dar para uma pessoa que tivesse tudo.

Parei em frente ao toldo listrado preto e branco da H. Stern e prometi a mim mesma que aquela seria minha última opção. Fechei o guarda-chuva preto que estava usando e o deixei apoiado contra a parede. Entrei na relojoaria e bati os pés para tirar a fina camada de neve que cobriam a sola de minha bota. Uma mulher, anos mais velha que eu, me atendeu e logo o balcão da loja estava cercado de colares de todos os tipos. As pedras brilhavam contra a luz, me deixando confusa sobre qual escolher. Porém, acabei escolhendo um colar de ouro com um pequeno pingente de esmeralda. Combinaria com os olhos de tia Rose.

Perambulei mais alguns minutos pelo balcão e depois agradeci, saindo da loja. Os flocos de neve caiam pesados sobre as marquises coloridas e se derramavam pela calçada, deixando tudo ainda mais opaco. Foi quando abri o guarda chuva que então o vi. Do outro lado da estrada uma figura encapuzada, meio oculta pelo nevoeiro, sorria para mim. No instante em que o vi, ele começou a andar em minha direção.

Um choque me percorreu, frio como água gelada. Desorientada, segui em direção ao carro que havia deixado a algumas quadras de distância. Meus pés afundavam levemente sobre a neve viscosa, enquanto eu dava passadas longas. Tentei manter minha respiração regular e não deixar o desespero me tomar. Apertei o cabo do guarda chuva até os nós de meus dedos ficarem brancos e a palma de minha mão arder. Peguei o celular dentro de meu bolso e o posicionei à minha direita. Com a tela apaga, usei-o como um espelho, tentando enxergar alguém por entre a neve que caia constantemente.

Não havia nada.

Virei-me e apenas avistei um oceano cinza. Desconfiei que fosse minha mente me pregando mais uma de suas peças. Porém quando retornei para minha direção inicial, ele estava parado a minha frente. O mesmo sorriso doentio e sarcástico apareceu em seu rosto, fazendo minhas pernas fraquejarem e meu coração querer atravessar minhas costelas. Não me mexi, com medo do que qualquer movimento meu poderia causar. Minha respiração parou naqueles demorados segundos em que ele se aproximou de mim, perfurando meu olhar.

– Corra, passarinho. – sussurrou.

E foi o que fiz. Segui para qualquer direção, sem realmente ver para onde estava indo. A névoa embasava meus olhos e meu rosto ardia com o frio. O guarda chuva sumiu de minha mão e a neve que caia ensopava meu cabelo e minha roupa. Vultos pretos me perseguiam me deixando atordoada.

– Pare! – gritei para o nada.

Apertei os lábios para não cair no choro, enquanto uma pequena gargalhada ecoava no vazio.

– Está com medo, passarinho? – proferiu.

Então ele tomou forma a alguns metros a minha frente. Seus passos ruidosos, vindo lentamente em minha direção. Percebi uma pequena mancha de sangue no canto de sua boca. Estremeci e me afastei conforme ele ia se aproximando.

– O que você quer? – minha voz soou fraca, como súplica.

– Você. – ele não hesitou em dizer. A voz fazendo os pelos de meus braços se eriçarem. – Quero sentir seu sabor. Quero seu sangue enchendo minha boca, escorrendo por minha garganta e saciando minha sede. Acho que já demorei tempo demais.

Balancei a cabeça, como se aquilo fosse adiantar de algo. Lágrimas covardes escorreram por minhas bochechas.

– Hunter... – sussurrei. – Pare.

As bordas de meus olhos escureceram, se misturando com a luz opaca e o sorriso em seu rosto que cada vez se alargava mais. Meu medo o estimulava e o deixava cada vez mais satisfeito. Não pude perceber exatamente o que aconteceu nos próximos segundos, mas senti meus calcanhares baterem em algo duro e desabei na neve macia. Arrastei-me debilmente no chão, tentando escapar da figura negra e distorcida que se aproximava. Encolhi-me, como uma bola, junto com a neve e escondi o rosto entre as mãos, esperando pelo próximo ato de meu perseguidor. Mãos firmes agarraram meu braço e um grito estridente arranhou minha garganta, seguido por murmúrios amedrontados.

– Shh. – alguém sussurrou. – Lissa, sou eu. Olhe para mim.

Porém eu não podia ver. Estava assustada demais para desfazer- me de minha pequena bolha.

Foi quando me ergueram e senti o calor de suas mãos em meus braços que consegui abri os olhos. Estavam embaçados pelas lágrimas. Senti um moletom passar por minha cabeça e enfiei os braços nas mangas compridas demais. Ele me aninhou em seu peito e um choramingo cortou minha garganta.

– Olhe para mim.

Ergui a cabeça e olhos verdes encontraram os meus. Suas mãos seguraram meu rosto e seus dedos acariciaram minha bochecha, me aconchegando em seu calor próprio. Seus lábios repousaram nas incansáveis lágrimas que ainda escorregavam por minha face, as enxugando.

Sem dizer nada, ele me levou para casa.

Andrew estendeu uma coberta grossa em cima de meu corpo e sentou-se ao meu lado no pequeno sofá. Enrolei-me no cobertor e o puxei até o pescoço. Minhas roupas ainda estavam úmidas no corpo, porém não acreditava que teria forças para trocá-las. A única peça que me mantinha aquecida era o moletom azul marinho de Andrew.

– Você deveria tomar um banho quente.

– Estou bem. – falei rouca e um tremor açoitou meu corpo, me entregando.

Sua mão repousou em minha testa.

– Você não está bem, está congelando. – murmurou.

Assenti, pois sabia que era verdade.

Ele se aproximou cautelosamente, como se pedisse permissão, passando um braço ao redor de meu corpo e envolvendo minhas mãos entre as suas. Eram febris comparadas as minhas. Encolhi-me na lateral de seu corpo, desesperada por seu toque. Repousei a cabeça um pouco abaixo da curva de seu pescoço e tentei absorver o máximo de calor que conseguia.

Quando meus olhos se tornaram pesados e eu já estava embriagada pelo seu cheiro, senti Andrew se remexer embaixo de meu corpo. Estávamos enganchados demais para eu não deixar de perceber seus movimentos.

– Onde você está indo? – sussurrei.

– Para casa.

Suas palavras me despertaram por alguns segundos e enrolei minha mão livre em sua camiseta. Não medi consequências quando ouvi o som de minha própria voz pedindo para ele ficar, porém sabia o quanto aquilo iria me machucar quando ele dissesse adeus.

Andrew ajeitou-se no sofá novamente e fechei os olhos, sabendo que ele não me deixaria sozinha. Uma de suas mãos acariciou meu cabelo até eu adormecer em seus braços.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Demorei muito?
Espero que tenham gostado hahah
Hunter aparecendo de novo e acho que deu pra matar um pouquinho a saudades de Lisdrew (♥)
Enfim, não esqueçam de deixar a opinião de vocês! Beijos



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Into Your Arms" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.