Quando Gil e Sara chegaram à festa de premiação da Major League, toda a atenção dos repórteres e fãs que aguardavam na entrada do hotel se virou para eles.

Lembrando-se dos conselhos de Catherine para ser agradável aquela noite, Gil sorriu para todos e parou para algumas fotos, sempre com o braço ao redor da cintura de sua namorada. O que ninguém reparou foi na figura invejosa de Dean que chegara no mesmo instante.

Após incontáveis minutos o casal conseguiu entrar no prédio e foram escoltados de imediato por uma das Hostess do evento. Mais uma sessão de fotos se seguiu- agora oficial- e finalmente eles foram levados até a mesa reservada aos Devils.

No local já estavam os pais de Gil, Ian- acompanhado por uma moça que o casal não conhecia-, DB e Júlia, Doug e sua esposa e um dos executivos dos Devils. Todos saudaram os recém-chegados animadamente. DB havia reservado cadeiras para Gil, mas antes que o jogador pudesse se sentar ele foi puxado por Doug para seu lado.

—Gilbert, meu garoto!- Doug exclamou, e Gil pediu licença aos amigos e, puxando Sara pela mão, foi até onde Doug estava conversando com um senhor bem-apessoado, a quem Gil vira uma dúzia de vezes pelos corredores do estádio dos Devils.

— Frank, aqui está nosso braço de ouro e esperança de alguns prêmios esta noite! - Doug apresentou o jogador.

—Prazer, senhor.

Doug então apresentou Franklin Harding, dono da patrocinadora master do time. Os minutos que se seguiram foram, na opinião de Gil, intermináveis. Ver Doug puxando o saco deste senhor era, ao mesmo tempo, engraçado e revoltante. Nenhum homem da idade dele devia passar por essa humilhação, Gil decidiu. Felizmente, Franklin foi logo chamado por outro senhor, levando em sua sombra o gerente. Mas antes que pudesse comemorar um minuto de paz outra voz chamou por Gil.

— ¡Hola, Gilberto!

Era Carlos Valentim. Gil abriu um sorriso genuíno ao ver o pitcher. Carlos era um dos poucos com quem ele falara aquela noite que realmente apreciava o basebal como um esporte e não um meio de lucrar.

—Carlos! Bom te ver por aqui- os dois trocaram um aperto de mão e um sorriso- Honey, este aqui é Carlos, ele joga pelos Cubs. Esta é Sara, a minha namorada.

— ¡ Encantado, señorita!.- Muito educadamente, Carlos apertou a mão de Sara também.

— Você jogou muito na final, deu um trabalhão para os meninos aqui- a morena brincou e o jogador levou na esportiva.

— Gostaria de ter dado un poquito más- e riu de si mesmo- Mas o seu novio é um excelente jogador. Não ficaria surpreso se depois dessa noite recebesse uma chuva de propostas de clubes interessados em você.

—É, mas ainda tenho um ano de contrato com os Devils- Gil respondeu.

— Se um time quiser, Gilberto, isso não será empecilho algum.

Neste momento, uma morena em um vestido brilhante chegou com duas taças de champagne em mãos e deu uma delas para Carlos.

— Com licença, aqui Cal.

—Obrigado, cariño. Deixe-me apresentar Gil e sua namorada. Esta es mi mujer, Marina.

— Um prazer. Agora, deixe-me adivinhar, estes dois estão falando de esportes novamente? Sara, venha comigo se divertir e deixe estes dois falando de trabalho.

Marina levou Sara rapidamente dali, e Gil não teve nem tempo de piscar. O jogador só viu a namorada novamente quando ela veio lhe chamar para se sentar, dizendo que a cerimônia de premiação já iria começar.

Na mesa dos Devils o clima era de antecipação. Além de Gil, eles teriam mais duas chances de prêmios com “melhor técnico” e “melhor pitcher”. Gil, por sua vez, concorria a melhor rebatedor e melhor jogador do ano.

Gil aguardava entre sua mãe e Sara, cada uma segurando uma de suas mãos. Eles assistiram com orgulho William ser premiado e Carlos Valentim lhes tirar o prêmio de pitcher. D.B. nem se aborreceu, pois assim como Gil, era grande admirador do jogador. E quando Gil levou o prêmio de melhor rebatedor foi com uma salva de palmas e nenhuma surpresa.

O prêmio mais aguardado, entretanto, foi anunciado com bastante firula. Apresentou os concorrentes e, com uma calma estudada, abriu o envelope e revelou o ganhador: Gil Grissom.

A mesa dos Devils explodiu de felicidade e, um tanto atônito, Gil se levantou para pegar seu prêmio. O apresentador o congratulou e entregou o pequeno troféu a Gil, e indicou o microfone para que o jogador pudesse discursar.

Ao olhar aquele povo todo batendo palmas e assoviando, Gil sentiu o rosto se afoguear. Ele nunca se acostumara em ser o centro das atenções. Seu olhar percorreu um momento pela plateia e encontrou com o de Valentin. O jogador também competia pelo prêmio, mas novamente Gil levara a melhor. O adversário sorriu e levantou o copo em saudação. Gil apertou o troféu em mãos e procurou o rosto de sua família. Betty estava com o rosto no pescoço de William, seus ombros balançando com a força de seu choro- de felicidade. William encarava o filho com o orgulho no rosto. Sara estava abraçada a DB, os dois entoando um coro de “eu já sabia, eu já sabia”, totalmente incondizente com os trajes finos que usavam, mas quem ligava? Era hora de discursar.

— Obrigado, obrigado! Quem me conhece sabe que não sou de muitas palavras, mas quero tirar um minuto para agradecer... agradecer a meus pais, os maiores incentivadores de meus sonhos... a minha agente, incansável em seu trabalho, ao pessoal dos Devils, a meus amigos e minha namorada. Sem vocês eu não estaria aqui em cima. O suporte de vocês significou muito. E eu também não posso me esquecer dos fãs de basebal lá fora... é por vocês que eu tento me superar a cada dia, porque sei que vocês esperam o meu melhor. Então... esse prêmio não é só meu. Eu divido com todos vocês. Obrigado.

Gil fez uma pequena reverência para a plateia e saiu ovacionado do palco. O restante da cerimônia? Ele nem viu passar direito. Tanta gente querendo falar, lhe parabenizar. O troféu passou de mão em mãos na mesa. Quando a cerimônia enfim acabou, DB convidou o casal para irem até uma boite para fechar a noite. Gil só queria ir para seu quarto e ficar a sós com sua namorada, mas a morena aceitou pelos dois.

Apesar de inicialmente não querer ir, o entusiasmo de seus colegas passou para ele, fazendo com que Gil genuinamente se divertisse. Eles beberam mais um pouco, dançaram, tiraram fotos com os fãs que estavam por ali. Já estava amanhecendo quando Sara puxou seu homem e falou de ir embora.

—Só me dá um instante no banheiro. Te encontro lá fora, ok?

Gil então pagou a conta deles e foi até a saída da boite. O ar fresco da manhã e os primeiros raios de sol trouxeram conforto ao jogador e ele se encostou na parede e fechou os olhos.

Do nada, entretanto, Gil sentiu o cheiro de cigarro bem a seu lado. Abriu os olhos e viu seu colega, Dean ali a seu lado.

—Olha só quem eu encontro!

Gil deu dois passos para o lado, distanciando-se dele.

—Dean... não sabia que estava aqui?

—Eu, perdendo a nossa comemoração? Não, longe de mim.

Gil sabia que havia bebido um pouco mais do que queria, mas o homem à sua frente estava completamente bêbado. Sua fala enrolada, o cheiro de álcool exalando dele e o uso da parede para se manter em pé denunciavam sua condição. E se Gil não queria papo com esse homem sóbrio, imagina agora?

— Que bom, fico feliz que esteja se divertindo, mas agora eu...

—Perai Gilbret! Você nem me deixou te parabenizar pelo troféu.

Dean abaixou e pegou uma garrafa de champagne que Gil nem percebera ali, elevou e gritou

— Um brinde a você! Que discurso bonito, quem ouve até pensa que você dá a mínima para a equipe...- ele bebeu mais um gole da bebida e continuou- sabe ... eu estive falando com uma reporte ainda agora... ela estava chateada que você não deu atenção a ela, mas eu disse que como bons amigos eu poderia contar um pouco sobre você...

—Ah é?- Gil não gostou nada daquilo- E o que você disse, já que somos tão bons amigos?

—Nada... só a verdade, sabe... como são as coisas de verdade nos devils... quem é o preferido da diretoria, sabe? Afinal, quem vê as estatísticas todas não tem ideia de como elas podem ser manipuladas... se um jogador é preterido por outro só por ter o mesmo sangue do treinador...

Gil sentiu o sangue ferver... aquele homem estava ali, sorrindo depois de ter feito sua caveira para uma repórter qualquer... ah, isso ia dar trabalho... Gil respirou fundo e tentou manter a calma.

—E para quem você falou essas merdas, Dean?

—Ah, você tá chateadinho? Queria a atenção da mídia toda para você? Eu só fiz dar mais um pouco de notícia para eles...

— Aí está você! Vamos, estou morta!

Gil e Dean se viraram para ver Sara chegando perto deles. A morena passou um braço ao redor da cintura do namorado, deu um beijo nele e falou para Dean.

—Com licença, Dean, mas vou levar seu amigo embora.

O jogador, entretanto, não estava disposto a deixar seu rival partir assim sem antes descontar um pouco de sua raiva em cima dele.

—Isso aí Gilbert! Foge lá com sua vadiazinha como o bom covarde que é!

A velocidade com que Gil reagiu ao insulto foi grande. Mal Dean terminava sua fala e ele já se encontrava no chão, cortesia do soco que levara de Gil.

—Gil! Pelo amor de Deus!- Sara gritou e tentou segurar seu namorado, que claramente não terminara sua agressão.

—Sai da frente, Sara! Esse babaca vai ter o que merece!

Dean gritou mais umas profanidades e Sara se meteu na frente dele, os braços abertos para evitar que Gil reagisse. Péssima ideia. Dean resolveu revidar o soco e empurrou a morena para o lado. O que se seguiu foi uma confusão no estilo UFC, e só parou quando os seguranças da boite saíram da casa para intervir.

Felizmente, os musculosos conseguiram dar conta do recado e os jovens foram mandados embora.  Eles só entenderiam o tamanho da confusão que criaram no dia seguinte.