Momentos Na Chuva escrita por Anonimi Written


Capítulo 1
Capítulo 1: Mau agouro, vazio e o tempo parado.




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“No vazio cabe um monte de coisa, mas nenhuma se encaixa. Todas deslizam pelo rio de lágrimas que inundam todos os meus andares vazios. A hora que eu chorar, vai ser o choro mais triste do mundo”.



Prólogo.



Nunca fui do tipo de garota que acreditava em príncipes encantados e no cara perfeito e, embora eu não odiasse os homens, nunca quis me apaixonar. A paixão te deixava fraco, vulnerável.


O que eu tentava evitar a todo custo.


Não podia ser fraca, não podia ter um único ponto fraco. Não podia deixar Ultear se quer imaginar que eu tivesse algum ponto sensível.


Se não eu estaria ferrada. Ainda mais.


Porém foi inevitável, impossível, não me apaixonar perdidamente por Gray Fullbuster. Não saberia dizer a partir de quando, esse tipo de coisa simplesmente acontece e, quando você se da conta, não consegue saber o motivo. Mas eu sabia dizer o motivo. Não tinha apenas um, era uma junção de varias coisas.


A personalidade, as qualidades, os defeitos, os olhos, o cheiro, o cabelo, os trejeitos e o modo como ele fazia com que eu me sentisse segura .


Tudo.

Eu sempre achei que esse tipo de coisa – magica? – nunca aconteceria comigo.


Nunca achei que seria salva.


Mas o amor era isso.


Magia pura.





...














Capitulo um: Mau agouro, vazio, e o tempo parado.



O tempo parara para mim no momento em que meus pais morreram.


Essa era uma das piores horas do dia para mim. A ora em que eu mais sentia o vazio.


A hora em que eu entrava em casa.


Eu saberia dizer com exatidão o que senti quando meus pais morreram. Primeiro veio a surpresa, depois a inconformidade – e ela continuou lá – seguida da dor, tristeza, amargura e, finalmente, do vazio.


Dor. Tristeza. Amargura. Vazio.


Eles também continuaram


A dor era algo fácil de se acostumar, mas o vazio não. No começo você acha que depois de um tempo ele desaparece, não é bem assim. Ele aumenta. Aumenta de tal forma que você se vê consumida por ele.


O pior?


No momento que ele te consome não tem mais volta.


Suspirei assim que a Mercedes em que eu me encontrava passou pelos gigantes portões da mansão onde eu morava. Meu corpo tremeu involuntariamente, como sempre fazia, a medida em que eu me aproximava.


Então eu fiz o procedimento de praxe. Guardei todos meus sentimentos em uma caixa e coloquei a mascara da garota fria e forte, a mascara que eu sempre usava quando estava perto de Ultear.


Sai do carro mecanicamente, com a mochila sobre os ombros, e caminhei vagarosamente até a porta, para dar tempo da mascara se fixar melhor. Girei, contrariada, a maçaneta.


Ultear, estranhamente, me esperava na sala.


Usava um elegante terno preto, assessórios finos e discretos a adornavam, usava uma maquiagem leve, seus longos cabelos negros estavam presos elegantemente em um coque e calçava scarpins vermelhos. Seu rosto tinha uma expressão dura como pedra.


– Chegou tarde, Juvia – Ela falou assim que adentrei no recinto, sua voz era fria.

– Foi – Disse sem emoção, colocando a mochila de qualquer forma em meu lado e sentando no sofá em frente ao de minha tia – Minha turma teve uma aula extra hoje.

– Soube que seu boletim chegava hoje – Ela foi direto ao ponto.

– Aqui está – Tirei o papel rapidamente de minha mochila e entreguei a ela.


Respirei fundo, prevendo a bronca que levaria. Eu tinha tirado dez em todas as matérias menos história, que eu tirara nove e meio. Ultear não aceitava que eu tirasse uma nota abaixo de dez.


Inconcebível, inaceitável” Dizia ela.


– Você tirou nove em história – Observou, tanto sua expressão como voz demonstrava descontentamento – Como você pode ser tão inútil a esse ponto, Juvia? Você não faz nada da vida! O mínimo que você deveria fazer era tirar um dez! Tão burra e inútil como sua mãe!


Me levantei bruscamente. Meu corpo todo tremia, podia sentir meu rosto esquentando e lagrimas começavam a querer descer de meus olhos.


Vermelho.


Eu via tudo vermelho.


Raiva. Ódio. Desprezo.


Como ela consegue falar isso da minha própria irmã? Como ela se atreve a falar isso? Como? Ah, quanta era a vontade que eu tinha de acabar com essa mulher!


Respirava e inspirava fundo repetidas vezes, numa tentativa de controlar a raiva e impedir que as lagrimas fugissem de meus olhos. Eu não iria chorar na frente dela, definitivamente não.


Um sorriso esboçava-se no rosto de Ultear.


Ela tinha conseguido o que queria, me deixar com raiva e nervosa. Mas eu não daria o gostinho da vitória para ela. Não choraria, me acalmaria e agiria como se aquilo não fosse nada demais.


Peguei minha mochila e, com a voz sem emoção e um sorriso falso – como todos os meus eram –, disse.


– Não é uma prova que vai definir se eu sou inteligente ou não – Fixei meu olhar sem vida nela – E, sinceramente, tanto faz o que você acha ou não de mim ou minha mãe, só me importo com opiniões de pessoas que realmente valham a pena. Bom, mas de qualquer forma tirarei um dez na próxima prova de historia. Vou para o me quarto estudar e depois vou dormir. Não vou jantar.


Deis as costas para ela e direcionei-me até meu quarto, que ficava no segundo andar da mansão.


Meu quarto era o único local onde me sentia relativamente a vontade naquele lugar. Grande, com paredes lilás, uma cama de dossel, janelas grandes e com uma cortina grande, escrivaninha, criado mudo, closet e lavabo era um local aconchegante e, ao mesmo tempo, impessoal.


Havia apenas uma foto no local, que ficava no criado mudo em um porta retrato de prata. Era uma foto do tempo em que eu era feliz. Do tempo que meus pais ainda estavam vivos. Essa foto fora tirada um pouco antes de meus pais morrerem. Estávamos em um parque, eu tinha oito anos e um grande sorriso iluminava meu rosto, meus pais, em cada lado meu, seguravam meu ombro, rindo. Uma grande toalha cheia de iguarias se estendia no chão.


Tirei meus sapatos de qualquer jeito, joguei minha mochila em um canto qualquer e deitei em minha cama, com meus braços em cima de meus olhos.


Fazia oito anos desde que meus pais tinham morrido. Fazia oito anos que minha desgraça começara. Oito anos de vazio. Vazio sem fim.


Eu não chorara no enterro de meus, não chorara nunca mais.


Também não conseguia mais sorrir.



Eu precisava, desesperadamente, de uma mudança. Precisava, desesperadamente, que o temo voltasse a correr.



“Você tem que ser o espelho da mudança que está propondo. Se eu quero mudar o mundo, tenho que começar por mim”.


...


Uma sensação de alivio se ponderou sobre mim assim que adentrei no recinto.


O Fairy Tail Latte era um Maid Café de estrutura mediana, aconchegante, com uma decoração simples e com uma clientela significativa.


A primeira vista eu ficara com um pé atrás de trabalhar ali, mas a gerente era simpática, as funcionarias eram gentis, o salario era justo e o estabelecimento era flexível quanto a horários. Era simplesmente o que eu precisava.


– Boa tarde, Juvia – Levy, minha melhor amiga, me saudou com um sorri assim que cheguei no vestiário.

– Boa tarde, Levy.

– Você está bem? – Me encarava com uma ruga de preocupação no rosto – Parece meio pálida.

– Eu estou bem – Vesti a primeira parte do uniforme curto demais em minha opinião – Apenas um pouco cansada. Cheia de trabalhos para entregar.

– Não acha melhor pedir uma folga ?– Levy prendou os cabelos em uma maria chiquinha – Posso de substituir, se quiser.

– Obrigada, mas não – Vesti a segunda parte – Quanto mais eu trabalhar mais dinheiro eu ganho. Não posso me dar ao luxo de tirar uma folga. Além disso menti para minha tia dizendo que iria fazer um trabalho com umas amigas.

– Tudo bem, mas qualquer coisa eu estou aqui, ok? Eu, mais do que ninguém, te compreendo.


A mãe de Levy morrera ao lhe dar a luz e seu pai a culpava por isso. Eu e Levy queríamos juntar o máximo de dinheiro possível até completarmos a maior idade para não termos de trabalhar tanto na época de faculdade. Até porque eu não tinha certeza de que ficaria com minha herança, Ulltear possivelmente estava dando um jeito de ficar com tudo o que era meu, e o pai de Levy, provavelmente, a expulsaria de casa assim que pudesse. Combinamos de dividir um apartamento assim que saíssemos, enfim, de nossas respectivas casas.


– Obrigada, Levy – Fechei meu armário – Você é a melhor amiga do mundo! Pode contar comigo também, viu? Bom, hoje é o meu dia de levar o lixo, tenho de ir para a cozinha.


A cozinha era perto do vestiário de modo que o percurso até lá era rápido. Como sempre o recinto estava com um cheiro agradável e com varias conversas paralelas e risos. Dei bom dia para todos os funcionários, peguei o lixo e sai pela porta dos fundos.


Chovia finamente e o beco estava praticamente deserto.


Um arrepio percorreu minha espinha.


Se tinha uma coisa de me dava aversão tanto quanto Ultear essa coisa era a chuva.


A chuva era como um tipo de mau agouro para mim. Era incrível como sempre chovia antes de alguma coisa ruim acontecer comigo. Sempre.


Era como se a chuva me avisasse, em algum tipo de brincadeira mórbida, que alguma desgraça aconteceria. Ela me perseguia. Me dava medo. Eu não gostava disso. Não gostava mesmo.

Um frio na barriga se fez presente. Uma sensação ruim.


Botei o conteúdo na lixeira e rumei para a despensa. A sensação ruim me acompanhava e eu fazia de tudo para afasta-la. Lavei minha mão e peguei um bloco de papel e uma caneta.


O Fairy Tail Latte estava mais lotado do que o normal, talvez por causa da chuva ou por sua reputação estar aumentando, eu não saberia dizer.


Eu anotava pedidos, os entregava e distribuía sorrisos falsos. Tudo normal.


Até que tudo aconteceu.


Dentre todas as pessoas do Magnolia School, o colégio de alta classe que eu frequentava, a ultima pessoa que eu esperava ver aqui, que eu queria ver, era ele. Gray Fullbuster entrara. Os cabelos levemente molhados devido ao chuvisco, uma expressão de tédio no rosto e mãos nos bolsos.


Sua expressão ao me ver passou nitidamente de tediosa a surpresa. Sentou em uma mesa mais reservada e me encarou com um pedido mudo para que eu fosse falar com ele.


Gray era o garoto mais popular da minha escola. Com as garotas aos seus pés, membro principal do time de futebol americano e inteligente, ele era arrogante, egocêntrico e altamente mimado. O tipo de pessoa que eu não gostava.


Era mais do que obvio que, sendo quem era, o Fullbuster espalharia para todo mundo que eu trabalhava em um maid café. Eu não ligava para o que o pessoal da escola acharia, mas se Ultear descobrisse – e ela certamente ficaria sabendo quando o Fullbuster espalhasse – eu estaria em maus lençóis.


Uma Loxar trabalhando em um maid café? Intolerável.


Ela ficaria furiosa.


E, é claro, pegaria todo o dinheiro que eu estava juntando.


Desanimada e quase conformada com meu azar me encaminhei até a mesa onde o moreno havia se sentado.


Uma coisa eu não podia negar: ele era lindo. Alto, musculoso, pele clara como marfim, olhos ébanos inteligentes e com o cabelo escuro e rebelde pela noite era praticamente impossível que qualquer garota não babasse por ele.


Mas eu não era qualquer garota.


– Juvia, o que você está fazendo aqui? – Ele perguntou assim que me aproximei, com um brilho malicioso no olhar.


Dei um suspiro.


– Estou trabalhando – Falei o obvio.


Gray balançou a cabeça, rindo.


– Permita-me editar a pergunta: por que a herdeira de uma das famílias mais ricas do Japão esta trabalhando em um lugar como esse?

– Assunto pessoas – Respondi – Agradeceria se você não contasse para ninguém.

– Acredite, eu estou pensando seriamente em contar para todo mundo que você trabalha aqui, seria divertido – Ele gargalhou – Mas você pode tentar me convencer a fazer o contrario se sentando aqui e me contando tudo o que eu perguntar.


Fiz uma careta e me sentei.


– Como você sabe, meus pais morreram quando eu tinha oito anos e eu fiquei sob os cuidados de minha tia – Encarei a mesa, subitamente interessada em um pequeno amasso de meu uniforme – Mas, bom, minha tinha não morre de amores por mim e tenho quase certeza de que ela dará algum jeito de ficar com tudo que meus pais construíram. Por isso – Enfatizei – Estou trabalhando escondida aqui, para me prevenir.


Por alguns instantes eu poderia afirmar que Gray me olhava com pena, mas a pena, tão rápido quanto veio, se foi, dando lugar a malicia.


– Eu não vou contar para ninguém o seu segredo – Ele pausou, dramático, e eu soube que imporia alguma condição – Se você fingir ser minha namorada por dezoito dias.


Franzi o cenho.


– Como? Por que você quer que eu faça isso? – A estupefação era visível em meu tom de voz, fechei meus punhos.


– Meus pais estão me enchendo o saco por eu não arrumar um namoro serio e por eu não ser responsável e maduro... Como Lyon, meu irmão – Fez uma expressão de raiva – E eles só irão me dar o carro que eu quero se eu arrumar um relacionamento que dure.


Não pensei duas vezes antes de responder.


– Eu aceito.


– Então esta combinado – Ele estendeu sua mão para que eu apertasse, não apertei.


Me olhou curiosamente.


– Não confio em você – Dei de ombros.


Ele se levantou.


– Ha, ha – Riu – Sempre me surpreendendo. Até segunda, Loxar. Prepare-se – Dizendo isso me deu as costas e saiu.


De uma coisa eu tinha plena convicção.


Eu estava ferrada.













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