A Última Chance escrita por BailarinaDePorcelana


Capítulo 35
Parte II - Capítulo 35 - Batendo Em Retirada


Notas iniciais do capítulo

AMORES, DESCULPEM A DEMORA! Mas tenho saído bastante e talz, então demorei mesmo. Me sinto tão culpada! E por isso me esforcei e estou postando de madrugada (forçando minha cabça que está doendo ao limite), então se tiverem erros ou coisas mal explicadas, por favor, avisem, ok? Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/273898/chapter/35

Capitulo 35

 Batendo Em Retirada

             O tempo era meu maior inimigo.

             As horas, que normalmente pareciam se arrastar, agora pareciam ir rápido demais sem me dar a chance de me preparar para o que estava por vir, e quanto mais pensava nisso mais me sentia impotente diante de tal situação. Meus olhos pesavam por ter ficado toda a madrugada acordado pensando no que fazer.

             Sacrifícios são necessários, eu repetia para mim mesmo tentando me convencer de que eu estava fazendo o certo. E eu sabia que estava. Estaria arriscando tudo e todos. Não foi tão difícil tomar minha decisão após Savannah dizer que me ama e ver Lori, já melhor, sentada na sala preocupada enquanto acariciava distraidamente sua barriga. Eu nunca arriscaria tudo o que havia ali.

             Estava em meu quarto com a janela e a porta trancadas, mas não me importava com o fato do lugar estar completamente abafado e quente, ou o fato da janela já estar embaçada deixando ainda mais fraco o brilho dos primeiros raios de sol. Enquanto isso rodava impaciente a garrafa em minhas mãos.

             Nunca gostei de beber coisas alcoólicas, mas estava pensando seriamente em começar. Ainda sim me sentia desconfortável, e esse era um dos motivos pelo qual a porta estava trancada. O outro era que eu queria ficar completamente sozinho, e tê-la aberta dava a sensação de ter alguém presente comigo ali.

             Tinha muito no que pensar e pouco tempo para isso. Como resolver a vida de um grupo inteiro dessa forma, em um impasse, em apenas um dia? Meu coração se apertava sempre que pensava no fato de que talvez eu arruinasse tudo e todos ali. Eu não me perdoaria se isso acontecesse.

             Joguei a garrafa de lado pronto para me levantar do chão frio, mas desisti no meio do caminho e sentei novamente, me esparramando mais ainda. Estava realmente propenso á ideia de um suicídio, mas era covarde demais para fazer algo que acabasse com minha vida. O incrível era que tinha coragem de acabar com a de outros.

             A pressão exercida em minha cabeça era o pior de tudo; era como se todos os meus pensamentos estivessem prontos a romper á força uma porta por meu crânio e escapar pelo vento. Bem, eu não reclamaria muito.

             No meio de todos esses devaneios, alguém bateu á porta, e não me dei ao trabalho de abrir ou mesmo perguntar quem era. Mas depois da milésima batida percebi que a pessoa parecia determinada em continuar ali, então fui abrir a porta. Do outro lado, Lola segurava uma bandeja com um prato com sopa e um copo d’água.

             - O que está fazendo aqui? – perguntei, e minha voz saiu mais fria do que pretendia, mas ela não pareceu de importar.

             - Não é óbvio? – revirou os olhos e passou pela pequena brecha entre mim e o batente da porta, adentrando o quarto.

             Lola deixou a bandeja sobre a escrivaninha e se deitou em minha cama preguiçosamente, enquanto eu continuava observando-a meio que sem entender os últimos momentos.

             - Já está chegando a hora, não é? – ela perguntou despreocupada.

             - O que? – perguntei assustado olhando pela janela, onde o sol á pino refletia intensamente a brancura da neve; como o tempo passara tão rápido? – Ah, droga. Nem percebi o tempo passar e... Como você sabe a hora que tenho que me encontrar com Melissa?

             Passei a mão nervosamente pelos cabelos olhando a garota que balançava infantilmente os pés que estavam para fora da cama.

             - Eu estava lá. – Lola falou animada – Quero dizer, quando estava conversando com a Barbie falsificada do manicômio.

             - Como? Por quê?

             - Eu não deixaria você ficar sozinho com aquela lá. E se ela tentasse alguma coisa? – explicou como se fosse muito óbvio – Eu segui vocês e fiquei alguns metros de distância, em cima de uma árvore. Acredite, ela estava bem na mira da minha arma. Um deslize da parte dela e aquele cabelo falso barra sorriso de esquizofrênica já era.

             Fiquei estático observando os enormes olhos castanho claros de Lola, que no momento estavam regados de orgulho e certa dose de raiva. Estava surpreso com a ideia de que aquela pequena mulher que mais parecia uma criança poderia ter se esgueirado pela floresta congelada e subido uma árvore, tudo em um silêncio absoluto, simplesmente para me proteger. E isso me deu uma ideia; pensaria nisso depois.

             - Mas... Por quê? – perguntei confuso e sem saber o que mais dizer.

             - Você tem que se alimentar. Coma tudo! Não quero que desmaie por falta de alimentação num momento tão crítico. – ela ignorou minha pergunta, se levantando da cama – E sei que acha que sua escolha é ruim, mas é a única coisa a fazer para continuarmos em segurança. Você consegue.

             Suspirei entristecido. Em poucas horas estaria colocando minha família e minha sanidade em risco. Lola, parecendo perceber meu medo, me abraçou forte e acariciou meus cabelos delicadamente.

             - Não fique com medo. Você sabe que é preciso e que é o certo, não há dúvidas. É por todos nós. – ela se afastou, resmungando – Droga, essa Melissa tinha que aparecer agora. É tudo falta de ir para a esquina fazer o trabalho dela.

             Dei um sorriso fraco com o comentário enquanto Lola saia, e me sentei ma cadeira da escrivaninha para comer a comida que ela havia me trazido, tomando a sopa e o copo de água rapidamente.

             Assim que terminei fui para o meu armário e peguei uma mochila velha, toda puída, e coloquei algumas roupas dentro, assim como algumas anotações minhas e, entre algumas delas, encontrei uma antiga foto minha e de Melissa. Nunca tinha reparado realmente, mas agora conseguia perceber seu sorriso falso. Bufando, rasguei a foto e a joguei no chão de qualquer jeito. Pisando duro, fui para minha escrivaninha e peguei todas as armas e munições que guardava ali e também coloquei na mochila, deixando uma num lugar fácil de pegar num caso de emergência.

             Pareciam ter passado poucos minutos, mas quando percebi a luz do sol já entrava em meu quarto deixando-o num tom alaranjado e nostálgico de “início do fim de tarde”. Repirei fundo e vesti um casaco grosso, logo saindo do quarto. Desci as escadas de dois em dois degraus.

             - Onde ela está? – perguntei apressado, assim que cheguei á sala.

             - Ali. – T-Dog apontou para o sofá.

             Fui até ele e me ajoelhei no chão ao lado de Delilah que estava deitada e ainda desacordada, agora devidamente vestida com um casaco grosso. Segurei sua mão e a apertei contra a minha. Estava prestes a destruir tudo o que tínhamos ali, e vendo-a de maneira tão frágil me fazia imaginar se era o certo.

             - Me desculpe. – sussurrei em seu ouvido e, por um momento, pensei ouvir algo vindo dela, mas ela continuava da mesma maneira de antes.

             - Já está na hora. – Rick falou.

             E, com essa deixa, coloquei minha mochila ao lado do sofá. Dei uma ultima olhada em quem estava ali na sala. A maioria tentava mostrar um olhar confiante, mas era óbvio o medo. Os únicos que não pareciam perturbados eram T-Dog, Glenn, Maggie, Rick, Savannah, Taty e Lola. Essa ultima mantinha os dois polegares levantados e um sorriso enorme no rosto, como se dissesse boa sorte. Já Savannah mantinha o rosto sem expressão enquanto me acompanhava com os olhos. Suspirei mais uma vez e saí de casa, em direção ás árvores.

             - Finalmente. – a voz irritantemente doce de Melissa ecoou pelo espaço alguns minutos depois de caminhada – Já estava pensando que teria que matar toda aquela gente.

             - Você fez sua proposta, e agora tenho minhas condições. – falei ignorando seu comentário.

             - Ah! Pelo que vejo não trouxe nada do que pedi. – falou fazendo um beicinho de desapontamento. – Mas vamos falar sobre outras coisas primeiro, algo mais... Interessante. O que acha de uma pequena diversão?

             Ela se espreguiçou lentamente deixando á mostra o enorme decote no único suéter que usava. Uma visão que seria considerada privilegiada em outros tempos. Mas não nesse.

             - Eu não estou brincando.

             - Ok, senhor eu não quero nada porque já tenho uma loira aguada. – Melissa passou a mão por meu corpo provocando arrepios – Diga logo as condições.

            - Você terá que vir comigo buscar. Não vou trazer até aqui.

             Melissa me olhou dos pés á cabeça, os olhos faiscando numa intensidade e fúria que assustava. Mas ela não me afetaria; não mais.

             - Ou eu posso simplesmente entrar naquela maldita casa e pegar o que quero. – ela sugeriu ironicamente.

             - Bem, contando que você não pode invadir uma casa sozinha – falei, provocando uma careta na garota – há mais pessoas cercando a casa. O que você tem a perder? Você pode simplesmente dar um sinal, e tudo estará acabado.

             Ela semicerrou os olhos parecendo desconfiada, mas depois de alguns segundos parecendo pesar prós e contras saiu andando em direção á casa. Deixei-a ir na frente, enquanto observava atentamente – e com discrição – á nossa volta, procurando algum indício de pessoas por ali, mas nada. Se Melissa não estava blefando os que a acompanhavam eram bons em se esconder.

             - É melhor não estar tentando me enganar, Lancaster. Eu não estou de brincadeira. O meu futuro está em jogo aqui, e não pense que só porque ficamos juntos por três anos não quer dizer que eu não vá enfiar uma faca bem no seu cérebro.  – ela falou com a mão na cintura, onde a protuberância de uma arma era visível.

             Chegamos na casa e passei á frente dela. Sabia que se não fizesse isso haveria alguma briga. Passei por todos e, enquanto me preparava para subir as escadas, Melissa parou no meio da sala, olhando com tristeza para Delilah.

             - Ah, coitadinha. Quem fez isso á ela? Eu queria agradecer. – ela desfez a expressão triste e gargalhou.

             Se aproximando de Delilah, Melissa segurou seu rosto com uma mão, afundando com vontade as unhas em suas bochechas. E, apesar da visível raiva nos olhos de todos presentes, ninguém moveu um músculo sequer, á não ser Daryl que apertou uma mão em punho, se mantendo inexpressivo.

             - Nós... Já vamos. – Carol murmurou, e saiu da casa sendo seguida por Lori e Carl. Assenti discretamente e voltei a subir as escadas, percebendo que a saída dos três com seus olhos clínicos e que pareciam felinos.

             - Vamos logo. – resmunguei, já do topo.

             Passamos devagar pelo segundo andar e subimos a escada que dava para o terceiro andar ainda mais lentamente. Da janela no final podia ver o carro em que Carol estava saindo.

             - Sabia que tinha algo aqui em cima. – Melissa falou orgulhosa – Aliás, porque aqueles três saíram?

             - Não queríamos que as crianças vissem... O que vai acontecer.

             - Ah, sim...

             Chegamos á frente da porta do que um dia fora o escritório e uma aura brilhante, animada e hostil cercava a loira, que quase pulava de ansiedade. Tentando me acalmar, peguei a pequena chave em meu bolso e coloquei na fechadura, rodando lentamente. Abri a metade da porta para que fosse possível ver o interior e, quando completamente exultante Melissa se inclinou para dentro do cômodo, a empurrei para dentro e tranquei novamente a porta.

             - Me tire daqui. Agora! Ou todos vão pagar por isso! – Melissa gritou, e apenas pela voz podia sentir toda a sua fúria incontrolável.

             - É melhor olhar para trás. – avisei e saí correndo, mas não sem antes ouvir a exclamação de terror dela.

             Desci as escadas correndo, sabendo que aquilo não duraria muito tempo. Dentro daquele lugar estava o zumbi que havíamos pego na cidade dias antes. Ele seria o bastante apenas para alguns segundos, e mesmo que Melissa fosse mordida ela não deixaria barato. Não sabia qual era o sinal dela para seus “companheiros”, mas logo seríamos atacados. Assim que cheguei na sala, peguei minha mochila e a coloquei nas costas.

             - Vamos logo! – falei ansioso correndo para fora de casa.

             Alguns passaram á minha frente e conseguiram ir mas, no momento em que saí, tiros foram ouvidos e as paredes da casa foram acertadas. Voltei rapidamente conferi em volta para ver quem havia ficado, e vi poucos. Além de mim, apenas Savannah, Glenn, Taty, Lola e Daryl, que mantinha Delilah em seus braços, enquanto lá fora os tiros continuavam e eu agradecia por alguns já estarem bem longe.

             - Veja se os fundos estão da mesma maneira. – Daryl pediu á Savannah, que assentiu e correu para os fundos.

             Segundos depois conseguimos ouvir o barulho de tiros se intensificando, vindo do outro lado da casa, o que deixava lógico que também estavam cobrindo os fundos. Savannah voltou logo depois, balançando a cabeça negativamente.

             - Tem armas de longo alcance? – Glenn perguntou, preparando sua própria arma.

             - Tem algumas. No carro. – falei suspirando inconformado.

             - Já prevíamos um ataque e você deixa logo essas armas no carro? – Daryl perguntou indignado.

             Estava pronto para responder, mas um forte estrondo fez toda a estrutura da casa balançar e meus ouvidos se encherem por uma horrível pressão.

             - Granadas de precisão? – Lola perguntou com os olhos arregalados.

             - Granadas de precisão. – Glenn respondeu indo para a janela mais próxima e abrindo o mínimo possível dela, não hesitando em atirar.

             Uma busina foi ouvida do lado de fora, mostrando a pressa dos outros. Eles não poderiam abrir o portão enquanto não estivéssemos todos prontos para partir, pois assim que isso acontecesse a casa seria invadida.

             Os tiros cessaram por um momento e coloquei a cabeça para fora, verificando, e foi á conta de uma bala passar raspando pelo alto da minha cabeça. Os tiros recomeçaram e peguei minha arma, começando a atirar. Podia ver claramente alguns homens empoleirados em galhos altos e muitos estavam difíceis de acertar pela distância. Apesar disso, consegui acertar um. Não acho que tenha o matado, mas com certeza com um grave ferimento ele ficou.

             - Que tal simplesmente contarmos até três e corrermos para o carro? – Taty falou pela primeira vez, e só então percebi que ela só estava concentrada demais atirando para falar.

             - Podemos ser atingidos. – Glenn contraindicou.

             - Podemos ser atingidos em qualquer lugar. – Daryl falou – Esse lugar não vai durar para sempre. Aquilo antes era uma granada de precisão, e foi perto, provavelmente tentavam atingir a casa. E uma hora outra vão conseguir e pow! Vamos pelos ares!

             - Ok, vamos contar até três e correr! – Savannah falou impaciente.

             - Um... – Lola começou a contar e nos olhamos, concordando – Dois...

             Um pouco á frente, Savannah moveu os lábios formando “eu te amo”, e eu repeti o gesto.

             - TRÊS! – Lola gritou e esperei todos saírem antes de me mover.

             Quando começava a correr atrás deles, algo segurou firmemente meu braço e parei no meio do caminho. Não consegui ver nada, a não ser um punho vindo em direção ao meu rosto e o impacto, que fez meus olhos lacrimejarem.

             - Seu imbecil, desgraçado! Ta achando que é quem? – Melissa me empurrou para o chão, colocando o pé sobre meu peito.

             Ainda com a vista embaçada pelo soco, senti um chute em meu estomago que me fez perder o ar. Sem desistir, puxei sua perna, o que a fez cair ao meu lado fazendo um barulho estranho no chão. Me levantei rapidamente e ela fez o mesmo. Mas ela estava coma  vantagem, pois tinha sua arma apontada para mim.

             - Diga adeus, otário. – ela falou destravando a arma.

             Coloquei a mão na arma em minha cintura tentando destrava-la ali sem chamar muita atenção, mesmo sabendo que não conseguiria sacá-la ou atirar antes dela. Mas não foi preciso. No momento em que Melissa puxava o gatilho, uma faca passou zunindo por meus ouvidos, atingindo em cheio a parede ao nosso lado, acima do braço de Melissa.

             - Tire suas patas do meu namorado, cadela. – Savannah falou lentamente de uma maneira sinistra, com uma faca em cada mão – E é melhor não duvidar.

             - E vai fazer o que, mini vadia? Volte logo pro bordel de onde você saiu. – Melissa falou irônica, numa posição agressiva.

             - Você não devia ter dito isso. – Savannah sorriu.

             Antes que eu pudesse perceber (na verdade estava prestando mais atenção na arma apontada para minha cabeça), as outras duas facas voaram em nossa direção, uma delas atingindo a parede á centímetros do meu rosto e a outra o ombro da outra loira, que urrou de dor.

             - Anda, vamos! – Sav me puxou para fora da casa.

             Os tiros haviam diminuído e conseguimos passar pelo caminho entre a casa e o carro sem muitos momentos de quase morte, e entramos sãos e salvos no carro. Suspirei agradecido por ela ter aparecido no momento certo e a partida foi dada no carro. O portão foi aberto e o carro passou rapidamente. O ultimo vislumbre que tive fora dos olhos esmeralda de Melissa com uma expressão tão assustadora que me fez arrepiar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ae? O que acharam do "lance" entre o Ethan e a Lola? Tem potencial para algo mais? -v-
Espero que tenham gostado!
Beijos e até a próxima ♥