Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 28
XXIII — Discussão.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado. [17/04/2014].



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/273792/chapter/28

P.O.V CASTIEL TISSOT.

Eu não estava acreditando que ela havia voltado. Cara, a Debrah me esperou, voltou pro colégio pra fazer a prova final e me convidar novamente a entrar na banda dela. Eu não sei se fico bravo ou se simplesmente aceito o convite, cujo é meu maior sonho.

Eu tô meio indeciso... ela disse que quer a resposta até o final de semana. Espero arejar minha cabeça até lá, arrumar as malas e ir à Paris. Eu sei que tem a Jane e estou sendo egoísta, mas é meu sonho.

Meu sonho.

Banda. Drogas. Bebidas e mulheres.

Desde moleque eu queria que minha vida fosse assim. Agora que eu consegui, não sei se desisto tão cedo.

Saí da minha casa e fui até a de Jane. Teria que começar desde hoje o teatrinho sobre o quão difícil é deixá-la e essas coisas. Ela poderia participar da banda, mas sei que Debrah e ela não se dão nem um pouco bem. Eu estou feliz e triste por dentro, isso é possível? Deve ser.

Bati na porta da casa de Íris, hoje era a semana de ela passar com a idiota daquela menina. Puta merda, eu não me conformo com Lysandre namorando aquela chata.

Ninguém me atendeu. Disquei para o número do celular dela e nada.

Tentei mais duas vezes, e então ela atendeu. Disse que já estava no colégio, chegara mais cedo para ajudar no clube de basquete. Sendo assim, eu fui para o colégio também, cheguei lá cinco minutos adiantado para bater o sinal.

Quando entrei no corredor, Jane estava lá falando com Armin.

— Oi — falei chegando ao lado dela.

— Oi — ela me devolveu ao mesmo tom. — Foi mal não ter te esperado hoje.

Assenti positivamente. Ergui a mão retamente e mostrei para Armin, ele saiu. Mas antes, teve a cara de pau de depositar um beijo na bochecha de Jane e dizer "te vejo de tarde". Ah, ah. Tu vai ver um soco no estômago mais tarde, filho de uma égua.

Fomos caminhando pelo corredor, fiz questão de passar meu braço direito ao redor de sua nuca. Ninguém estava passando por lá, até Debrah aparecer. Fingi que não tinha nada, que nunca conversei com ela. Apenas olhei para ela e desviei lentamente minha cabeça.

Chegamos até o pátio, não iríamos entrar na aula. Era a pior de todas, pra mim. Biologia. Eu nunca vou usar essa merda na minha vida, então faço questão de não comparecer às aulas do professor Faraize.

Sentei-me embaixo da árvore. Jane disse que iria para a aula, porque precisava de notas. Dei de ombros e a observei ir quieta. Fechei meus olhos e comecei a escutar Wake Up do Rage Against The Machine. Cara, essa banda é muito foda, por isso é a minha favorita.

Se não fosse minha favorita, não iria ser boa.

Não dava bola para o que acontecia ao meu redor, mas conseguia escutar alguns passos de pessoas que supostamente poderiam estar aí. Ou era coisa da minha cabeça, ou havia alguém aí. Continuei onde estava, sem ligar muito para os outros.

Aqueles passos começaram a me incomodar. Então, abri meus olhos e olhei para cima. Quem era? Quem você exatamente imagina.

— Escutando o quê? — ela perguntou, com aquela voz de idiota dela.

— Música — respondi.

— Você ainda está assim? — ela perguntou. — Esquece! Eu vim aqui pra te convidar... pra realizar teu sonho de entrar em uma banda. Por favor, por um segundo, esquece tudo o que aconteceu no passado! Não seja infantil!

— É fácil falar — zombei, rindo pelo nariz. — Você não esteve no meu lugar durante esse tempo. Eu só te digo isso.

Ela deu um meio sorriso e se ajoelhou em minha frente. Não era aquele ajoelhamento do tipo: "quer casar comigo?" Que engraçado. Ela colocou os braços em volta das pernas e sentou em cima das canelas.

— Eu só quero que você venha comigo até Paris. Realizaremos o nosso sonho. Nosso. Seremos famosos, a gente vai crescer muito. Vai brilhar mais do que as estrelas lá no céu — ela apontou pra lá.

Ridícula.

Mas eu gostei.

— Quem sabe — disse, um pouco sem interesse. — Eu tenho que pensar ainda. Não é fácil abandonar tudo o que eu tenho aqui.

— E o que você tem aqui, Castiel? — merda, merda.

Não respondi. Virei minha cabeça para a direita e me deparei com a última pessoa que deveria estar ali.

Jane.

Ela mordi o lábio inferior. Tinha os olhos quase fechados, e eles estavam úmidos, porque aquilo era nítido. Ela tinha os dois punhos cerrados. Coloquei minha mão na grama para pegar impulso e me levantar. Mas quando iria fazê-lo, ela correu.

Eu odeio isso. Se ela estava ali até agora, por que foi correr na hora que eu iria me explicar? Idiota.

Balancei minha cabeça negativamente e fui atrás dela mesmo assim.

Consegui alcançar ela quando estava entrando no banheiro. Não entendia esse fetiche dela em quando estar triste, entrar no banheiro. Só não posso pensar besteira. Caralho. Eu vou começar a rir aqui no meio do corredor. Vai dar eco. Ela vai escutar. Eu vou me ferrar.

Alarguei meus passos e peguei-a pelo braço, impedindo de continuar a caminhar.

— O que você quer agora? — ela perguntou, com o nariz vermelho.

— Temos que conversar. Você não pode sair fugindo assim dos problemas. Temos que encará-los, e por isso quero que me escute.

Tenho que parar de ser grosso e direto.

— Estava falando a verdade naquela hora? — ela perguntou. O que você tem nessa cidade? A mim? Lysandre?

Fiquei quieto por um tempo.

— Eu não acredito... — ela murmurou, balançando a cabeça negativamente. — Você... Você não poderia simplesmente responder: eu tenho a vocês dois! Por que não respondeu isso, Castiel? — ela se desesperou um pouco. — Você quer ir embora?

— Cara, fica calma um pouco! — bradei. — Merda... desculpa... eu não queria gritar com você. Eu só quero que entenda o meu lado, a minha vida. Os meus objetivos.

Ela colocou os dedos na têmpora, massageando-a. Fora uma encheção de saco correr atrás dela. Eu não iria respondê-la, até porque eu queria sair daquela cidade e não queria. Eu estava tão perturbado quanto ela. Mas desde quando as mulheres irão nos dar a razão? Elas tem um gênio difícil, o que me deixa completamente irritado. Minha vontade é de socá-la agora.

Porra, por que raios ela não consegue entender o meu lado? Se ela estivesse ao meu lugar? Eu poderia dizer: "não, você não vai viajar!" claro que não poderia. Agora ela pode? Ah, mas isso é muita injustiça. E eu tô muito revoltado com isso. Sério.

— Castiel... — ela me chamou.

— O quê? — tentei não parecer muito grosso. Acho que funcionou. — Olha, se você vai falar para eu não ir, não adianta. Eu preciso pensar, eu preciso ir, mas ao mesmo tempo não ir. Você me entende? Eu tenho até o final de semana para dizer a resposta para Debrah.

É o meu sonho! Você não entende, sua idiota!

— Olha tudo o que Debrah fez pra você! — ela disse.

— Seremos profissionais. Eu só vou estar trabalhando, em nenhum momento disse que iria se amigo dela ou outra coisa.

— Então isso quer dizer que você vai?

Mais três minutos e eu jogo essa guria longe.

Coloquei minha mão na cara e balancei meu corpo para a direita.

— Isso é uma suposição! — bradei novamente. — Eu já estou de saco cheio! Você não me entende, por quê? Eu posso responder: porque você não passa de uma egoísta! Agora eu vou ter que abandonar um sonho pra manter uma relação? Porra! Nós podemos continuar namorando, se você me ama de verdade, poderá aguentar a distância!

— Mas eu não consigo! Eu posso te entender, mas quem garante que não vai me trair com a Debrah?

Repulsei meu corpo para trás, de olhos arregalados. Respirei fundo, tentando não puxar um revólver e estourar os miolos dela.

— Foi essa a confiança que você deposita em mim? Muito obrigado. Eu fico feliz em saber que você me acha um canalha.

Quebra essa agora, Jane Slander.

Me desviei de seu corpo e caminhei para o fim do corredor. Se ela quiser brigar, que seja longe dos ouvidos da sala de aula.

— Você não sabe o que eu sinto! Eu amo você, Castiel!

— Se me amasse de verdade — falei, cheio de ódio: — Confiaria em mim. Me deixaria ir. Me esperaria voltar. Ou continuaria comigo, mas pelo visto, não é isso o que você quer.

Ela entreabriu a boca. Não permiti que continuasse:

— Egoísta.

Saí praticamente chutando tudo a minha frente. Ela simplesmente não entende meu lado? Então que fique sem a minha presença pra sempre. Porque agora eu vou, e não quero nunca mais saber de Jane Slander. Eu quero que ela vá pro Inferno, e nunca mais saia daquela porra.

Merda de vida. Merda de namorada. Merda de Castiel.

Antes de voltar para buscar minha mochila, recebi uma ligação. Era Debrah. Sorri.

* * *

P.O.V JANE SLANDER.

Voltei para a sala de aula totalmente abalada. Pedi para o professor se podia entrar. Ele me perguntou onde eu estava. Demorei a raciocinar, então falei que passei mal e fui para a enfermaria. Ele pareceu não acreditar muito, mas mesmo assim me deixou entrar.

Subitamente, a diretora entrou na nossa sala. Interrompeu todo o que estávamos fazendo, pedindo um pouco de atenção. Após isso, ela disse que as aulas estariam suspensas por hoje, porque teriam de reparar a acústica do corredor principal do colégio.

Pediu para que todos arrumassem seus materiais e fossem embora, sem ninguém ficar no colégio.

Saí do corredor mais rápido possível. Tudo em mim dizia para encontrar Castiel e resolver as coisas. De certa maneira, o que ele disse é verdade. Eu estou sendo egoísta, e se o amo de verdade, entenderei em ficar em outra cidade. Mas há um problema comigo... eu não consigo suportar isso.

Eu o amo de verdade?

Balancei a cabeça de um lado para o outro, tentando conter este pensamento. Atravessei a rua e encontrei Castiel sentado na calçada, com os braços encostados no joelho, fumando. Suspirei aliviada, caminhei até ele.

— O que você quer? — ele perguntou, frio.

Arqueei minhas sobrancelhas.

— Qual é o seu problema?

— Você é o meu problema — ele olhou para mim. — Eu acabei de receber uma notícia que não me deixou acreditar ainda. E agora eu percebo o tempo que gastei brigando contigo, um tempo que eu poderia ter simplesmente usado como resposta.

— Castiel...? — gemi. — Eu... Eu vim aqui de boa vontade pra te pedir desculpas e recebo isso? Cara, se você quiser ir, vá! Tudo bem? Não existe mais Jane nenhuma pra te impedir de seguir seu sonho idiota.

Ele se levantou em um impulso, jogando o o cigarro longe.

— Sonho idiota? — ele sussurrou. — Nunca mais ouse dizer isso! Deixa de ser infantil! Cale essa boca! Você não tem a minha vida! Não tem nenhum direito de chamar os meus objetivos de idiota! — ele gritou, com a maior força possível.

Estávamos caminhando e discutindo. Eu ia para trás, mas Castiel avançava para cima de mim, apontando o dedo na minha cara, me dizendo coisas absurdas por eu ter chamado seu sonho de idiota. Ele disse que eu não o compreendia, que era egoísta e muito mais coisas. Eu estava prestes a chorar, mas engoli tudo o que poderia liberar naquela hora.

Tentando fugir da briga, atravessei a rua, mas ele continuou vindo atrás de mim. Foi aí que eu percebi... que não tinha cuidado um carro vindo até nós. Eu consegui chegar ao outro lado... mas não pude pensar disso sobre Castiel.

Eu só consegui ver o corpo dele rolando pelo capô do carro e indo até o chão.

— Castiel! — gritei, correndo até o carro, acumulando lágrimas nos meus olhos que não me permitiam enxergar direito. — Castiel!

Ajoelhei-me diante dele, segurando sua cabeça em cima da minha perna. Liberei as lágrimas e as observei caírem na testa dele. Após isso, vi uma mulher vindo em minha direção.

— Liga pra a ambulância! — gritei. — Rápido! Sua idiota! Quem você pensa que é? Não nos viu atravessando a rua?

Ela me olhou assustada. Pegou trêmula o celular e se afastou de lá. Eu só consegui ouvir ela dizendo "Oh, meu Deus! O que eu fiz?" Eu não conseguia respirar direito, era difícil vê-lo naquele estado na minha frente. Olhei para seu casaco, seu celular estava lá.

Funguei e puxei-o para mim. Vi que havia uma mensagem não lida:

"Eu achei um guitarrista melhor que você. Sorry, honey... quem sabe na próxima! Acho que pessoas como você, não merecem reconhecimento."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Cês tão com mais raiva da Debrah ou da Jane?