Decline escrita por Yumi Saito


Capítulo 19
XVII — Encurralada. |Parte 1|.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado, totalmente modificado. [28/03/2014].



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P.O.V AMBRE.

Eu não fazia ideia que aquela gente era barra pesada. Eu não fazia ideia de que um dia eles iriam mandar eu sequestrar a novata, dar um susto nela, e depois dizer que era tudo brincadeira. A cada mês que passava, eu abria os olhos e via para onde estava me metendo. Aquilo não tinha nem pé e nem cabeça. Parecia mais... aquelas boas vindas de universidade. Só que de um jeito mil vezes pior. Eu não tenho estômago para fazer isso com Jane.

Mas eu não tive outra saída.

Minha família estava destruída. Meu pai havia se separado de minha mãe, foi embora sem dizer para onde ia. Minha mãe, nunca volta para casa. Mas quando volta, está sempre com um alguém diferente. Isso me dá nojo... muito nojo!

Faz uma semana que estou morando com Nathaniel e ele cuidando de mim. Ele não sabe de nada... E nem ficará sabendo. Não ficará sabendo que estou sendo ameaçada por um cara barra pesada do grupo. Eu não quero sofrer as consequências, e não tenho outro jeito.

Minhas olheiras estavam profundas, não conseguia dormir.

— O café está na mesa, Ambre.

Era a voz de Nathaniel. Saí do meu quarto e fui para a cozinha. Quieta, peguei uma barrinha de cereal. Eu estava sem apetite, consegui comer apenas metade dela.

— Está com olheiras enormes — ele continuou. — Dormiu bem esta noite?

— Não muito.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não... — respondi. — Apenas não conseguia pegar no sono.

Ele ficou quieto. Eu não conseguia esquecer da ameaça, e quando esquecia, o pensamento voltava novamente, sem me deixar em paz. Nathaniel me encarava, mas eu apenas refletia sobre aquilo. Quando acordei para a vida, Nathaniel estava me chamando:

— Ambre, você está bem?

— Hm?!

— Eu perguntei se você está bem.

— Sim... eu só estava distraída.

— O que está acontecendo?

— Nada... — respondi. — Apenas estou com sono.

Acabei me distraindo de novo. Eu olhava para Nathaniel, mas não conseguia ouvi-lo. Mal podia decifrar o que os lábios dele mostravam. Segurei-me no apoio da mesa para não desmaiar. Alguém tocou a campainha e eu voltei a despertar. Tinha mais sorte do que juízo, literalmente.

Nathaniel foi atender:

— Charlotte — ele disse.

— Oi — ela falou.

Senti minha cabeça balançar involuntariamente.

— Ambre está muito estranha... — ele disse, mas consegui ouvir. — Vá falar com ela. Minha irmã pode te dizer o que aconteceu. Eu falo com ela, mas ela não me responde. Bom... me avise depois.

— Tudo bem, mas desde quando ela está assim?

— Desde hoje de manhã.

O assunto morreu. Nathaniel pegou sua mochila e saiu de casa. Tinha quase cem por cento de certeza que ele foi para o colégio. Ao contrário de mim, que tinha medo até de sair de casa. Botar os pés em uma calçada novamente era algo difícil.

— Ambre?! — ela me chamou.

— Estou aqui.

— O que está havendo?

Ponderei, pensando em uma resposta. Tentei não tremer, e respondi cabisbaixa:

— Apenas não me sinto bem, hoje.

— E o que você sente?

— Nada demais.

Charlotte suspirou. Sentou-se na minha frente, pegou uma maça e analisou-a. Voltou a olhar para mim:

— Eu sou sua amiga... Fala. Conta comigo, pra tudo.

— Dor de cabeça — blefei. — É isso... dor de cabeça, o que eu sinto.

Engoli em seco e ela não me respondeu. Deu de ombros, ainda olhando para mim. Eu sabia que Charlotte não desistia fácil, por isso, teria que dar um jeito de cortar as asinhas dela.

Eu não queria guardar isso pra mim, mas também não poderia contar. E se eu chegar a contar, espero não me dar mal.

Olhei para o relógio e vi que poderia me atrasar em poucos minutos. Levantei em um pulo da cadeira e procurei por minha bolsa. Jane não poderia ficar sozinha... a não ser que ela quisesse ser alvo de Vicktor. Aquele cara... eu não sei porque raios Li foi achá-lo. Menino mais filho da puta que ele não existe.

— Me espera! — Charlotte disse, levantando-se.

Não respondi.

Caminhamos apressadamente, já que agora não tinha mais nenhum carro que me levasse ao colégio. Quando chegamos, passei pelo corredor e ela não estava lá. Fui para o Grêmio Estudantil e nada. A professora me obrigou a entrar, mas não obedeci. Eu estava preocupada... fui para o pátio e o anão de jardim não estava.

Por fim, fui procurá-la na sala de música. Achei alguém.

— Jane? — chamei. Agradeci por Charlotte ter me deixado sozinha. — Jane, você tá aí, estrupício?

— Quem é Jane?

Parei de andar. Olhei para o piano e lá se encontrava uma garota de cabelos castanhos. Pelos meus cálculos, a menina era Melody. Nunca fui com a cara dela, essa garota vive se esfregando no meu irmão.

Decidi perguntar para ela sobre o paradeiro da novata:

— Viu a Slander por aí?

— Já te disse que não conheço nenhuma Jane.

Me surpreendia o fato de Melody fazer parte do Grêmio Estudantil e não saber quem é Jane. Aquilo foi demais pra mim, a burrice era tamanha que eu tinha vontade de vomitar na cara dela.

Saí sem dar satisfações, deixando-a plantada esperando algum comentário meu. Se fosse para fazer um comentário, falaria da saia curta dela. Pegaria o tecido da cortina da sala e costuraria a remenda ali mesmo. Onde já se viu, se quiser andar com uma saia dessas, que vá pelada ao colégio.

Eu não tinha achado ela. Mas quando fui ao pátio, desistindo de tudo, derrotada... Ela estava lá, sentada, com os fones no ouvido. Parecia tranquila, de certa forma, aquilo me aliviou.

— Onde você estava?

— Na aula de química.

Jane parou, subitamente e me olhou. Estreitou os olhos, me encarou e soltou uma risadinha. Tirou os fones do ouvido e mordeu o lábio inferior:

— Desde quando se importa com isso?

— Não... é que... — droga. Pensa em alguma coisa, sua inútil. — Nathaniel disse para que eu... te falasse... que ele achou os seus arquivos escolares.

Por pouco não consegui falar. Por sorte, escutei uma discussão de Nathaniel e Castiel ontem. Eles estavam brigando por causa dos arquivos escolares de Jane. E, quando fui espia-los, vi Castiel entregando uma pasta. E tudo indicava que estava lá a papelada da novata.

Eu fui no quarto dele para conferir e, de fato, era verdade.

— Ah... — ela se surpreendeu. Que bom! Eu vou falar com ele depois.

Dei um sorriso... falso.

— Mas pode vazar agora, Ambre. Obrigada pelo recado.

Eu estava quase morrendo para não contar à ela o que estava acontecendo. Ela iria zombar da minha cara, e dizer que era mais uma de minhas brincadeiras de mau gosto. Era óbvio que não, mas... Já brinquei tanto com Jane que uma hora a pessoa perde a confiança.

Ainda mais comigo.

* * *

Fui acordada, às dez da noite, por meu celular tocando. Tateei-o na escrivaninha, e antes de atender, verifiquei a hora. Era nove da noite. Cliquei no botão verde antes que perdesse a ligação.

— Alô?

— Ambre — falou. — É a Charlotte!

— O que você quer? Sabia que interrompeu meu sono? Espero que seja algo bem importante... Sério mesmo.

Ela demorou em responder, mas consegui escutar sua respiração pesada. Charlotte balbuciou algumas palavras, mas nenhuma se concretizava em uma frase... de fácil entendimento. Pressionei-a, e então, ela explodiu. Como uma bomba.

— Vicktor me falou do grupo... Eu não acredito que você aceitou!

— Ele me ameaçou — quase gritei. — Eu não tive outra saída, Charlotte. Eu não sei o que fazer... Você não tem noção do quão bagunçada está a minha cabeça. Eu não sei o que fazer... Eu estou com muito medo.

Fiquei mais alguns minutos tentando explicar para aquela cabeça dura que eu fui forçada a aceitar fazer tal ato. Ficamos horas conversando a respeito, foi cansativo. Aliás, Charlotte também fazia parte do grupo, mas não estava em um nível avançado como o meu. Continuamos conversando, tentei desviar do assunto, mas Charlotte insistia e voltava nele. Ela não sabia como me feria com essa insistência. Era porque... ela não estava no meu lugar.

Desliguei o telefone.

Fui dar uma volta no parque... era de noite, e garotas como eu não deveriam sair sozinhas. Nathaniel estava trancado no quarto, não iria sentir minha falta mesmo. Não fazia importância... Ele não se preocupava muito comigo, pois sabia que as coisas deveriam andar do jeito que eu quisesse. E, sendo assim, eu sempre me ferrava. Me ferrava porque eu fazia errado, e como eu queria. Sempre ia pelo lado mais fácil, mas também, mas errado.

Sentei-me em um dos bancos e comecei a fitar aquelas grandes árvores que encobriam um lugar... meio tenso. Seria ali o que eu e Vicktor iríamos fazer. Aquelas árvores já não faziam mais parte do parque... Era um lugar totalmente público, embora quase ninguém tivesse coragem de entrar lá. Falavam horrores daquele pequeno local.

Era nessa hora em que eu me arrependia amargamente de ter começado a fazer parte do grupo. Se eu soubesse que as coisas sairiam fora de controle como agora, eu já teria pulado fora há muito tempo. Mas eu acabei me lembrando... de quando fiz um juramento. De quando cortei um pouco do meu dedo indicador. Deixei o sangue escorrer, provando fidelidade ao grupo.


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