UN 2814 - Risco Biológico [Atualizada] escrita por Kuro


Capítulo 5
Capítulo 5: Como uma Cidade Fantasma


Notas iniciais do capítulo

E a história finalmente começa.
Boa Leitura.



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Julia apertou a mão contra a perna e seguiu andando no corredor. Estava ficando sem fôlego. Seus ouvidos zumbiam e, empurrando as portas, procurava o banheiro.

Lá abriu uma prateleira, e, depois, a outra. Achou o que queria e, de repente, se agachou. Ficou ali, praticamente de quatro, com ânsias de vômito.

Quando melhorou, pegou a pequena caixa, foi se arrastando até a parede, e se sentou com as pernas esticadas á sua frente. Abriu a caixa revelando ser um Kit de Primeiros Socorros, uma garrafa, bandagem, antibióticos e fósforos.

Pegou a garrafa com álcool dentro, girou para um lado e tirou a tampa, ofegando, quase chorando, e começou a jogar no corte da perna. Jogou o álcool a esmo, murmurando palavras incompreensíveis, em pânico, com o rosto molhado de lágrimas. Pensou no garoto que a salvou, de nome esquecido pela dor, à encontrá-la daquele jeito, com a perna sangrando, e a deixar para trás.

E, então, começou mesmo a chorar. Nunca na vida tinha se sentido tão sozinha.

Secou as lagrimas que escorriam pelo seu rosto, parando para respirar, e sentindo aquele piso frio.

Já na cozinha, olhou mais além, na direção de Nanda a garotinha ao qual se postou a ajudar, e a de Bob, se não fosse o cachorro elas ainda estariam lá. E sorriu. A menina retribuiu o sorriso.

– Ele vai voltar logo? – Pergunta a menina.

Como responderia algo que ela mesma se perguntava? Mesmo assim respondeu. – Sim, logo ele vai voltar.

E se ele não voltasse, se realmente as abandonassem? Um tremor passava por seu corpo ao pensar nisso. Seu coração ficou acelerado, como naquela vez na sorveteria. Quando aquele ser, baixinho e com a barriga salpicada e saliente, grunhia desesperadamente como se soubesse que ela estava lá, mas não sabia onde. Respirou profundamente, e lembrou-se do momento que aquele garoto a ajudou. E enfim lembrou o nome do garoto.

– Você quer comer alguma coisa, Nanda?


Localização: Em uma rota qualquer.


O sol do fim da tarde brilhava na estrada onde um daqueles monstros andava cegamente, atraído por um som de motor.

Mesmo não estando lá, lembro do momento exato em que aquilo aconteceu, quando o jovem rapaz estava encostado em uma parede, trêmulo, espiando o arame alto que ficava em volta da casinha e do campo de beisebol. Este pensava na vida que levava até que aquele dia chegou para mudar tudo. E então, fitava sua camisa antes branca, agora suja e sem uma manga.

O outro, enfiado numa van branca em bom estado, estava com a roda presa entre um caminhão de bombeiros tombado e a calçada da rua. Envolto de mortos vivos que atraiam e amontoavam-se em volta do carro pelo barulho do motor, barulho que aumentava cada vez que ele pisava no acelerador. Pensava em sair dali, deixar a van para trás, mas ela estava com a maior parte do seu suprimento e acima de tudo, sua moto. Moto que esteve nos melhores e piores momentos da sua vida.

A comprou com 16 anos um pouco antes de ter um acidente de carro, não havia nem a usado, o acidente comprometeu suas pernas e o fez ficar de cadeira de rodas. Médicos diziam que ele poderia voltar a andar, mas ele saiu do hospital convicto de que nunca iria conseguir sair da cadeira de rodas. Sua família pediu para ele fazer a terapia, tentavam convencê-lo de todos os modos, mas não conseguiram. Foi então depois de meses passando a mão no banco da moto, de querer montá-la e sair por ai apertando a toda força seu acelerador e de sentir o vento no rosto, que ele começou a fazer a terapia.

De repente, um solavanco acontece depois que um daqueles mortos choca-se contra um lado da van, sem pensar muito o garoto pisa no acelerador e começa a disparar enquanto os zumbis se aproximavam; Cegos, iam empurrando uns aos outros como aquele pessoal da Espanha que fogem do touro, mas em vez disso, aqui iam atrás dele.

Ele os encarava, não tinha medo e agora muito menos remorso, foi em direção a uma esquina com alguns deles na entrada. Acelerou, virou o volante para a direita e depois pisou no freio. A van ficou de lado e os mortos vivos bateram-se contra ela. Trocou a macha e foi dirigindo.

Dentro da casinha o barulho do motor era mais silencioso, o jovem estava segurando um capacete de Baseball nas mãos. Estava preocupado com a idéia de que anoitecesse antes dele sair dali quando ouviu uma voz mais adiante entre o barulho, que agora parecia estar mais alto.

Ele se aproximou do arame e foi tentando ouvir o som da voz. Quase dobrando uma van branca se aproximava, com aquele outro jovem rapaz que aparentava nervosismo, balbuciava algumas pragas e falava sozinho. Ele se sentiu paralisado. Ficou olhando enquanto a van se aproximava e com ela, um menino com quem ele havia crescido, que estava junto na sua lembrança mais remota.

– Pablo! Ele Gritou.

O barulho do carro impedia-o de ouvir o jovem falar, e seguiu praguejando tudo. E a van some.

Não pensou duas vezes, soltou o capacete e pulou novamente a cerca de arame alto. Disparou avenida abaixo. Chegou a uma rua deserta e lamacenta, a van passava ao fim da avenida.

Dobrou a esquina e foi seguindo o som do motor. A sua calça era encoberta na lama a cada passo, e a respiração ia aumentando. Depois de passar a avenida, viu a van entrando em uma rua mais a frente. Viu um beco estreito que interligava com a outra rua. Foi se esgueirando e por fim atravessou a estreita passagem. Parou entre as faixas da rua, esticou os braços.

Prendeu a respiração. A van parou e com ela os murmúrios. A porta se abriu.

O jovem percebeu que ainda não havia soltado o ar. Exalou devagar, sem fazer barulho. E ficou olhando enquanto ele se aproximava.

Um som metálico ecoou no ar. Pablo seguia em sua direção empunhando sua arma. Afinal, para ele era apenas uma pessoa qualquer que aparentava ter sido mordido.

Ajeitou seu boné, parou próximo do outro. Pedro levantou a cabeça. – Sou eu o Pedro.

– Pedro! É realmente você? - Disse enquanto andava. - Ainda está vivo? – prosseguiu.

Tentou falar com um tom de deboche, mas sua voz saiu um tanto trêmula. Pedro fez um gesto com a cabeça, como quem confirmava suas suspeitas.

– O que aconteceu com você, e esse sangue na camisa?

– Um corte.

– Você está bem...?

– Não foi comigo.

– Entendo...

Os dois se fitaram e um clima pesado pairou pelo ar, talvez desconfiança. Pablo se aproximou mais um pouco e Pedro tremeu quase caindo, mas o rapaz o segurou e logo após entraram na van.

Tanta coisa aconteceu que ficava até difícil de falar, por isso os dois ficaram boa parte do tempo em silêncio ouvindo apenas o som do motor enquanto iam em direção a casa, ao encontro de Julia e Nanda.

E finalmente na frente da casa o barulho terminou. As portas da van se fechavam e lá de cima do segundo andar a Garotinha os fitava. Pedro com o sangue escorrendo junto ao suor pelo seu corpo; E Pablo que acendia um cigarro e ajeitava o rifle.

A porta se abre e Pablo se depara com Julia se apoiando nela. Estava com o cabelo de uma cor de fogo fora do comum, em um tom mais escuro do que o normal. Estava molhado. Parecia ter saído de um banho recentemente; Vestia uma camisa larga de um verde musgo e uma bermuda jeans, que mesmo não parecendo, era sua calça, agora cortada até os joelhos.

Pablo olha para sua perna, engoliu em seco. A aparência da garota o lembra a de Alice. Sem desgrudar o olhar ele saca o rifle, enquanto derruba o cigarro da boca. A garota se encolheu instintivamente.

Em questão de segundo Pedro se posiciona a sua frente. – Tudo bem...

– Mas... A sua perna... – Diz o rapaz que baixava a arma entre as palavras.

– Você está bem, Julia? – Pedro pergunta, enquanto o outro rapaz procura entender a situação.

– Sim. Diz ela enquanto se recupera do susto.

Então os dois adentraram a casa. A porta não estava mais com a barricada feita por Pedro, por algum motivo Julia a retirou, provavelmente esta pensara em sair e ir atrás do garoto.

Pablo a observava receoso, engoliu em seco após vê-la semelhante ao, agora cadáver, corpo de Alice. Já a ruiva agora apenas sorria. Como se nada o houvesse acontecido.

Ela sorria transparecendo uma felicidade genuína, estava feliz de saber que o rapaz voltara como prometido e não como as idéias que teve no banheiro momentos atrás.

Pedro entra em uma sala.

Pablo senta-se em um sofá. A ruiva se dirige para um pequeno banquinho à frente deste. A menina a partir da escada, que leva ao segundo andar, apenas observa o rapaz. Por fim, Pedro volta.

– E então, quem são elas? - Pablo pergunta enquanto se ajeita no sofá.

– Essas são Julia e Nanda, eu as ajudei no caminho, e bem, fui ajudado também.

– É um Prazer. - Ele a cumprimenta com um sorriso malicioso se formando em seu rosto.

– O prazer é meu, como se chama? - Ela sorri naturalmente.

– Pablo.

Conversaram por um bom tempo. O clima estava ficando cada vez mais agradável. Ninguém desconfiaria que eles tivessem passado pelo inferno hoje.

– O que eram aquelas coisas? – Pablo perguntou.

Julia olhou para Pedro, e este não disse nenhuma palavra.

– Hoje, enquanto eu procurava bandagens encontrei um rádio. O liguei e dizia que uma epidemia está acontecendo em todo o mundo, pessoas estão andando por ai como se fossem canibais, mordendo e comendo outras, e os que escapam de ser comida destes, acabam sendo tempos depois um deles.

Pablo e Pedro e se entreolharam.

– Está realmente acontecendo?

– Não sei... - Diz Pedro.

– Tudo faz sentido, ou você acha que todas essas pessoas se tornaram maníacos canibais!?

– Eu não sei... – ele dizia enquanto instintivamente agarrava sua bermuda.

– Isso é tudo o que você dirá?

– O que você quer que eu diga? – Começando a elevar a voz.

– Esse não é o Pedro que eu conheço... Já sei, aquele deve ter morrido naquele dia...

– Cala a boca!! Aquele dia... – Ele se exalta, mas não consegue terminar a frase, pois Nanda se aproxima dele.

Passaram um tempo ali em silêncio, naquela sala agora escura, Julia os observava curiosamente. - o que houve aqui? - Até que Nanda encosta-se às suas pernas e dorme.

Durante a noite, Pedro sonhou, como sempre. Se isso pudesse ser realmente considerado um sonho, e não um pesadelo.

No começo, viu camisas e pessoas a sua volta, mas, logo depois, eles o levaram para um lugar escuro, onde a descoberta de praxe o esperava. Ele estava sozinho.

Quando acordou, quase aos gritos, Pedro viu que, nessa ocasião queria voltar para o sonho. Este mais valia do que este pesadelo que atormentava sua cabeça, o de ver pessoas mutiladas e sedentas, que corriam ao seu redor, que o perseguiam incansavelmente, como se fosse um simples peixe e eles o seu maior predador.

Nanda estava a sua frente, com os olhos fixo em si. Pedro sentado na poltrona sentiu um cheiro morno que exalava das cobertas. A princípio tentou se convencer de que nada havia acontecido, mas quando se aproximou de Nanda e colocou a mão sobre sua cabeça, ela chorou e falou em seu ouvido. - me desculpe – murmurou. – Desculpe... -, e foi só.

Provavelmente, ele sentira o cheiro e compreendeu.

Pedro abraçou-a delicadamente e a levou para o banheiro. Saíram de lá minutos depois. - não se preocupe. – ele disse, enquanto trocava os lençóis. E, quando a colocou na cama, alguma coisa se movimentou no lado de fora, na sacada. Olhou para a menina, que encolheu timidamente os ombros.

Em seguida, dirigiu a sacada. Olhou para fora e deu de ombros. - Então era você. Lá estava Pablo sentado em uma poltrona. Perdido em pensamentos. Não conseguiu pregar os olhos a dormir, pois cada vez que tentava um novo flashback passava em segundos; Os corpos, os canibais que o seguia, o som do rachar do rosto de Alice... Cada sensação, cada barulho, tudo! Tudo o que aconteceu a sua volta parecia voltar pelos poros de seu corpo, como se fosse um castigo divino.

– Sim. Desculpe por mais cedo...

Pedro então encostou seus braços na sacada e os cruzou, ajeitando o seu rosto. Olhava a extensão da cidade, parcialmente apagada. – Hoje.. Eu matei uma pessoa... – Um pequeno momento de silêncio infiltrou-se entre eles. Afinal, não havia palavras que pudesse demonstrar o que ele sentia.

– Eu pretendo sair daqui, quero ver minha família, quero ir logo pela manhã. E Pablo prosseguiu - Você não quer vir comigo? -.

– E se...

– Ninguém virá nos salvar. Não aqui.

– Quando a minha TV ainda estava funcionando o jornal falou algo sobre a cidade de São Paulo, e se eles conseguiram conter a infecção?

Pedro abaixou a cabeça e fechou os olhos. – E se for o contrário, e se estiver como uma grande cidade fantasma?

– Nós temos que acreditar e tentar, senão vamos acabar morrendo aqui, sem ao menos isso.

– Você está certo. Amanhã sairemos então.

E passaram um bom tempo daquela noite acordados, quase não acreditando em tudo o que aconteceu a eles em um único dia. Até que um grande esgotamento acerta Pedro, tentava manter a consciência, continuar em pé, sem fraquejar, mas logo perdeu sua consciência por completo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Espero comentários.



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