Renly Lannister, O Leão de Tarth

Renly não queria assistir à final das justas. Havia se machucado muito em seu próprio combate. Não ganhara, mas também não perdera. Seu rival, Gyles Tyrell, estava igualmente machucado e impossibilitado de competir. Durante o combate, que pareceu-lhe interminável, eles feriram incansavelmente um ao outro, mas ambos se recusaram a desistir.

O Lannister estava frustrado. Deveria ter ganhado esse maldito torneio, deveria ter impressionado a mãe e se mostrado digno. Teria nomeado talvez a mãe, Brienne, como rainha do amor e da beleza. Mas ela estava longe de ser uma lady. E o que era para ser uma honra talvez se tornasse zombaria. Então ele teria nomeado a Rainha Daenerys. Não havia um ser que pudesse dizer que a Mãe dos Dragões não fosse digna de tal título.

Mas agora nada disso importava. Perdera. Quase podia ouvir as zombarias da irmã Narcysa. Nervoso, passou as mãos pelos cabelos. Malditos sejam! Ele era o filho de Jaime Lannister, deveria ser um prodígio com a espada, tal qual o pai fora. Ouviu passos próximos, olhou para atrás e em sua direção vinha, mancando, Gyles Tyrell. O Espinho Sangrento mancava e não parecia muito melhor que o próprio Renly.

– Você foi um adversário difícil. – disse ele com a voz calma e impassível – Há muito tempo não enfrento alguém assim...

– Digo o mesmo de você. – respondeu Renly com cortesia.

– Devo confessar que quando o vi não pensei que fosse grande ameaça, é claro que você é grande, mas parece desajeitado... Não era exatamente o que se espera do filho do Regicida.

Renly se retesou tentando controlar a fúria. Escutara isso a vida inteira, mas ainda assim era difícil. Não se importava com a sua aparência, tampouco com o quê dissessem sobre isso. É claro que não era tão belo quanto seu pai fora, mas não era uma visão repugnante. Porém irritava-se quando escutava chamarem-no de Regicida.

O rei que seu pai matara era completamente demente e cruel, pretendia queimar a cidade levando consigo todos os que nela residiam, seus crimes eram incontáveis... Mas mesmo assim ninguém reconhecia o bem que Jaime Lannister fizera ao reino naquela noite. Fora o Regicida quem salvara Brienne, fora graças ao apoio do Regicida que a Daenerys conseguiu reverter a guerra ao seu favor e ganhá-la com facilidade. Mas, ainda assim, Jaime Lannister fora exilado, ninguém reconhecia as vidas que salvara, preferiam odiar o homem que matou o rei que jurou proteger.

– E você não é exatamente o que eu esperava de um Cavaleiro de Highgarden. – respondeu com frieza.

– O quê quer dizer? – perguntou Gyles.

– Esperava alguém mais... florido. Mais parecido com o seu tio Loras, talvez com as mesmas preferências.

Renly observou seu adversário mudar a postura para defensiva, o queixo endurecer enquanto se afastava. Talvez tivesse atingido um calo. Ou quem sabe um espinho. Sorriu vitorioso. De qualquer modo, o Erva Daninha não voltaria a aborrecê-lo.

Pensou em conseguir uma garrafa de um vinho de Dorne, porém sabia que era fraco para o álcool e sua mãe, Brienne, ficaria profundamente decepcionada se o visse bêbado. Isso para não mencionar seu tio Tyrion. Se bem que o anão não tinha muita moral para reclamar desse tipo de atitude.

Então repentinamente escutou uma voz feminina cantando. Era uma música calma em uma língua desconhecida, acompanhada por uma voz melodiosa que faria inveja a qualquer sereia. Curioso, ele foi em direção a origem do som. Sua busca o levou até um pátio abandonado. Havia uma garota ali, sozinha. Ela usava um vestido azul e vermelho, possuía cabelos lisos e castanhos, era linda.

– Milady? – sussurrou chamando-lhe atenção.

– Perdão, Sor. – disse ela com uma reverência – Pensei que estava sozinha.

– E estava. Eu apenas fiquei curioso. Em que língua cantava?

– Oh! – ela sussurrou corando – Eu não tenho certeza.

– Como?

– Eu nunca ouvi essa canção, apenas sonhei com ela, repetidas vezes... Um meistre me disse que tem traços de alto valyriano mas não pode ter certeza.

– É muito bela. – sussurrou

– Obrigada. – disse ela desviando o olhar envergonhada com a atenção. – Você é Renly Lannister, certo? O Leão de Tarth, que lutou mais cedo.

Renly assentiu com uma careta.

– Achei-o magnifico, Sor. Me lembra muito o seu primo Tommen.

– Conheceu o meu primo? – perguntou com o cenho franzido.

Não entendeu a comparação. Tomem era um rapaz baixo e roliço. Um covarde traumatizado pelos seus dias como rei, pelas loucuras da mãe, entre outros problemas. Agora passava todo o seu tempo com gatos e livros e pouco saía de Casterly Rock. Enquanto Renly puxara à mãe, sendo muito alto e com uma força descomunal.

– Oh sim! Fui protegida da casa Lannister em meus primeiros anos de vida. Seu tio Tyrion me falou sobre você, Sor.

– Está decepcionada? – perguntou tentando conter o ressentimento na voz.

– Nem um pouco. Exatamente o que eu esperava do filho de guerreiros como Jaime e Brienne Lannister.

Renly sorriu e lhe estendeu o braço.

– A última justa está para começar, milady, deseja me acompanhar?

– Seria um prazer, Sor. – respondeu ela com um sorriso aceitando seu braço.

Eles caminharam por alguns segundos em silêncio.

– Por que não quis assistir as justas, milady?

Ela corou.

– Estava fugindo de meu protetor, Astor Mallister, ele me persegue como uma sombra... Queria apenas ficar sozinha e respirar um pouco.

Renly sorriu. Mas antes que pudesse perguntar qualquer coisa ouviu os aplausos da multidão. Os cavaleiros se posicionavam. A Justa Final iria começar.