Neve e Chama: A Segunda Era dos Heróis. escrita por Babi Prongs Stark Lokiwife


Capítulo 49
Capítulo 47: Eddard & Melony




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Eddard Baratheon

Narcysa Lannister já lhe causara muita raiva, e lhe dera todos os motivos para odiá-la, mas quando a vira às lágrimas e pedindo pela morte, Ned não pode deixar de sentir pena e vontade de ajudar a loira. A mãe sempre lhe dissera que um dia seu bom coração iria lhe trazer problemas, que às vezes a sobrevivência tinha que ser colocada acima de seus ideais, quando um dos guardas valyriano entrou na cela, com o intuito de violar Narcysa, ele viu a verdade nisso.

Ele lutou, obviamente, e Drogo o ajudou, porem o máximo que seus esforços somados conseguiram foram desviar a atenção dos guardas de Narcysa para eles. A loira estava em segurança, mas Ned pagara um preço caro por isso, e pior, levara o primo junto. Os novos cortes latejavam dolorosamente, cobrindo os antigos, não era um Meistre, mas sabia que se não limpasse os ferimentos eles poderiam infeccionar, ainda mais na imundice daquele calabouço.

A loira caminhou hesitante na direção dos dois, ambos estavam com os corpos tão doloridos que mal podiam se mover. Ela usou os trapos umedecidos do antigo gibão de Drogo, para limpar os ferimentos de ambos, com uma delicadeza quase tocante, algo que a antiga Narcysa jamais se incomodaria em fazer. A mesma que dor endurecia alguns a amolecera, a tornara uma pessoa melhor.

– Me pergunto onde está Aemon? – disse Drogo enquanto a loira limpava os cortes em suas costas

– Não é óbvio? – disse ela rouca porem com um tom ligeiramente irônico

– Acha que ele está morto? – perguntou Eddard

– Duas pobres crianças de verão – falou ela revirando os olhos – Ainda não compreenderam? O Martell nos traiu.

Eddard arregalou os olhos incrédulos, mesmo que não gostasse muito do dornes jamais suporia algo assim. Eles haviam lutado lado à lado afinal. Foram companheiros de viajem. E o tio Brandon os nomeara como ‘Doze’. O inimigo era louco e sedento de sangue, por que escolheria trair a própria pátria?

‘Por que odeia os Targaryen’ – a voz de sua mãe pareceu responder em sua cabeça – ‘Você já viu provas desse ódio. Ele busca uma vingança há muito saciada. Busca a ruina daqueles que pensa que são seus inimigos.’

– Maldito seja – praguejou baixinho

A porta da cela se abriu, Narcysa se pôs de pé ficando entre eles, e quem quer que tivesse aberto-a. A coragem dela era admirável, estava desarmada, fraca e indefesa, por mais que tivesse boas intenções o que poderia fazer se decidissem matar todos eles?

– Finalmente o encontro, Eddard da casa Baratheon – disse uma voz – Um homem conheceu uma garota tempos atrás. Essa garota trocou de rostos dezenas de vezes, mas retornou ao rosto original. Arya da Casa Stark é uma amiga da Casa do Preto e do Branco.

Mesmo sem jamais tendo encontrado-o pessoalmente, mesmo tendo ouvido apenas historias, mesmo sem ver seu rosto. Eddard conhecia o dono daquela voz.

– Jaqen Raghar – pronunciou verdadeiramente impressionado

Sua mão foi em direção ao bolso e se fechou em volta da moeda braavosiana. Ele se levantou vagarosa e lentamente, estendendo-a em direção ao homem na porta, a luz estava atrás dele, de modo que não podia ver seu rosto, apenas a silhueta.

– Valar Morghulis – sussurrou

O homem se abaixou até que ficassem da mesma altura, e os olhos da silhueta brilharam ambares.

– Valar Dohaerys, Eddard, da Casa Baratheon. É tempo do homem tirar o garoto e seus amigos daqui.

Melony

Apesar de alguns poucos hematomas, e das marcas de dedo ao redor do pescoço, Melony estava relativamente bem. Com fome, com sede, frio e suja, mas bem melhor se comparada à Lailla. A garota tivera ambas as pernas quebradas ao tentar lutar contra o inimigo e escapar, Melony tentara ajuda-la, mas o máximo que pode foi coloca-la em uma posição confortável.

– Não se preocupe, Mel, Aemon passou anos em Citadel, ele saberá o que fazer. – disse ela

Porém Melony não acreditava tanto assim no macho de pele de cobre. Ela sonhara com uma cobra da mesma cor picando um grande corvo albino, e então se enrolando quase que docilmente nos braços do Híbrido Negro. E mesmo que não entendesse muito sobre o povo do sul da Muralha, tinha convicção do que aquilo significava. Aemon os traíra.

Ela tentara avisar à fêmea mas esta não acreditara. Dissera que Aemon era um bom homem, que o macho de pele cor de cobre lhe salvara a vida, que sonhos eram apenas sonhos, e que Melony não devia falar esse tipo de coisa. Depois disso ela se calou. Brynden lhe dissera que devia seguir seus sonhos, contudo jamais explicara se eram seus desejos ou os sonhos verdes, ela supunha que seu antigo professor deixara esse enigma para que ela própria resolvesse.

Pensar em Brynden fazia o peito da garota doer, ele já deveria ter partido à essa hora. E dificilmente ela reencontraria Mãos Frias ou Folha novamente. Pensar nisso doía também. Melony fechou os olhos e dormiu.

O sonho era verde. Durante essa viagem tivera mais sonhos verdes do que durante toda sua vida, porem ao contrario dos outros sonhos verdes comuns, nesse ela estava em uma sala vazia, com apenas uma mulher em seu centro, ela sorria em sua direção e Melony sentia que dessa vez não era uma mera espectadora.

A mulher deu um passo em sua direção, os cabelos eram castanhos e os olhos também, ela usava um vestido vermelho e tinha um colar com uma enorme pedra translucida em seu centro.

– Quem é você? – ouviu-se perguntar

– Durante a maior parte de minha cidade fui chamada de Melisandre – respondeu a mulher – Foi esse o nome que R’hollor me deu. Todavia o nome escolhido pela minha mãe foi Melony.

– Você é a minha mãe – era uma afirmação, não uma pergunta, mas ainda assim a mulher assentiu com um sorriso ainda maior – Por que me deixou? – perguntou-a. Não estava se queixando, não havia ressentimento ou tristeza em sua voz, apenas curiosidade

– Eu não a deixei minha querida – respondeu a mulher – Estive sempre com você. Eu vi os seus primeiros passos, e estive ao seu lado quando vestiu sua primeira pele. Eu assistir você crescer e a auxiliei como pude em cada passo que deu.

– Quando eu estava com o Híbrido Negro... – sussurrou Melony – Aquelas palavras... Nunca foram minhas...

– Eu estava ao seu lado – sorriu Melisandre se aproximando – Sussurrando àquilo ao seu ouvido. Não era mentira, minha querida. Tampouco o que o Corvo de Três Olhos lhe disse. A escuridão nem sempre é fria, minha filha. O Fogo pode sim vencer a escuridão, mas não é porque ele é quente. O fogo vence o frio por conta de seu calor, isso é certo, mas o fogo só vence as trevas por conta de sua luz. E nada a mais!

O coração de Melony acelerou quando reconhecia as palavras daquele que lhe fora um pai, na boca daquela que seria a sua mãe. Porém Melisandre não havia terminado pois continuou cantarolando a tão conhecida canção.

Escuridão não vem apenas das trevas e nem tudo que reluz é ouro. A escuridão nem sempre será fria. E o Fogo não é somente luz. Às vezes a chama consome e não ilumina. E às vezes a neve seduz.

– O que isso significa? – perguntou Melony curiosa

– Significa que nem tudo é o que parece, filha. O mal às vezes se disfarça de bem, e o bem de mal. Mas o mundo é como é. E as trevas estão destinadas a perderem. Elas sempre vão existir, sempre vão lutar, mas vez após outra serão derrotadas pela luz. É assim que tudo funciona, é ao redor disso que o mundo gira. Ainda que os humanos não saibam. A luz sempre vence as trevas, não será diferente agora.

Melony engoliu em seco sem saber o que pensar. As lições com Brynden que sempre foram sua bússola não pareciam ter muita utilidade agora, ele pouco lhe falara sobre isso, não por falta de conhecimento, mas sim por ter o costume de deixar que ela seguisse seu próprio caminho.

– O Filho da Harpia é um servo da escuridão, tal qual eu fui a vida toda, defendia às sombras pensando que estas eram apenas filhas da luz – prosseguiu a mulher sorrindo com ironia para si mesma – Contudo o Filho da Harpia pensa servir apenas aos seus propósitos, desconhece se tratar de um emissário das trevas. Eu fiz minha escolha, e para salvar você escolhi a luz. Mas ele... Ele abraçaria sua verdadeira natureza, tornando-se ainda mais perigoso, devem para-lo antes que isso aconteça.

– Ou então? – perguntou Melony

Nem mesmo os deuses ousam supor quem triunfante sairá. Pois o mundo é cinza, onde não há nem o bem e nem o mal. – cantou Melisandre – Mas quando as terras do poente forem regadas com sangue real, um novo rei se erguerá. Trazendo Valyria à Ascensão. Ou os heróis uma nova era construirão.

Ela deu mais um passo em direção a Melony cessando a distancia entre elas. A progenitora era bem mais alta que a própria Melony, a garota tinha que olhar para cima para olhar em seu rosto, os olhos igualmente castanhos se encontraram.

– Eu vi nos represeiros... Você tinha cabelos e olhos vermelhos, mas agora eles são castanhos como os meus...

– Eu tinha aquela aparência por que R’hollor modificou o meu corpo, quando renunciei-o voltei a possuir o aspecto com o qual nasci e também me tornei mortal.

Ela tirou o próprio pingente pendurando-o no pescoço da filha, então segurou o rosto de Melony com ambas as mãos. Os dedos dela eram macios, contudo gelados como a neve.

– Seja cuidadosa, minha filha, meu corvo branco e brilhante de três olhos.– ela beijou o topo da cabeça da filha e começou a se desvanecer, ainda teve tempo de sussurrar – Lembre-se que estou sempre ao seu lado.

Melony abriu os olhos sentindo a pedra translucida queimar friamente em seu peito. A porta da cela estava aberta, e ali estava Eddard.

– Nos temos que ir agora, logo haverá guardas... – dizia ele

Melony se levantou vagarosamente observando o que acontecia ao seu redor, uma femea e um macho de cabelos cor do sol estavam à porta, juntamente com outro macho que ela desconhecia, enquanto Eddard estava abaixado ao lado Lailla, falando baixinho com esta. Melony sequer imaginava o quanto que teriam que andar ou correr até chegar em segurança, entretanto com ambas as pernas quebradas, sabia que Lailla não poderia acompanha-los. Se um dos rapazes estivesse bem poderia até carrega-la, mas julgando pelo estado em que ambos estavam...

– Não posso ir Ned. Tenho que ficar por ele. – disse a garota com um sorriso cansado

– Nos já dissemos que o Martell é um traidor, milady – disse Drogo com um tom ferido – Não vale apena se arriscar por ele.

– Não vale a pena se sacrificar por ele – concordou Eddard – Lailla eu não posso permitir que morra...

Ela acariciou o rosto do irmão sorrindo docemente

– Ned... Eu já estou morta. – levantou então parte da camiseta revelando um profundo corte na cintura, o cheiro fétido preencheu o ar, a pele ao redor estava vermelha e amarelada, Melony já tinha visto ferimentos assim quando vestia peles. A femea estava certa, ela já estava morta.

– Não! – exclamou o macho recuando – Não você...

– Está tudo bem. Aemon cresceu entre os meistres, ele é o único que pode me ajudar em um raio de quilômetros. Ele me salva, e eu salvo ele. Nós nos veremos de novo, maninho.

‘Talvez’ – pensou Melony com tristeza – ‘Mas não nessa vida’

– Ele não vai ajudar... Eu não posso...

– Vá. Eu só iria atrasa-los, não vale a pena. Mesmo se ele não puder me ajudar, eu quero gastar minhas ultimas horas salvando-o. Ele salvou minha vida, Ned, eu devo salvar a dele, não quero partir com essa divida. Vão.

Um barulho no fim do corredor. Um dos machos falou.

– Um homem avisa que devem partir.

– Lailla... – soluçou Eddard

– Vão. Eu quero isso. Mas se eu não voltar... – ela apertou a mão do irmão o puxando para perto – Diga aos meus pais que fui em paz, e faça pazes com Gendry, Ned, por mim. Você é o herdeiro de Storm End afinal.

– Você vai voltar, Lailla – ele apertou a mão dela com força – Tem que voltar.

Ela sorriu e o puxou, dando um beijo em sua testa.

– Eu te amo, maninho.

– Eu também te amo, irmãzinha – respondeu com a voz embargada e beijando o rosto dela

Ele se levantou e partiu.

– Obrigada – sussurrou Melony o seguindo. A fêmea de cabelos dourados ecoou seu agradecimento e um à um eles partiram, apenas macho de cabelos cor do sol ficou para trás. Ele se despediu também e os acompanhou até a saída.

Mesmo com a pouca iluminação ela pode ver que os olhos cinzas de ambos os machos estavam embaçados, e também os azuis da fêmea de cabelos dourados. Ela própria limpou as lágrimas que escorriam do rosto.

‘Que os deuses abençoem Lailla por seu sacrifício’ – pensou certa que era a ultima vez que via a garota.


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