Neve e Chama: A Segunda Era dos Heróis. escrita por Babi Prongs Stark Lokiwife


Capítulo 27
Capítulo 25: Mary Lane & Gyles


Notas iniciais do capítulo

Leiam as notas finais.



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Mary Lane Greyjoy

Dois dias se passaram lentamente. Um igual ao outro. Durante o dia montava o Urso das Neves juntamente com a selvagem e sentia o coração disparar toda vez que subia no dorso do animal, não tinha nenhuma garantia de que a criança selvagem pudesse mesmo controlá-lo, ou se de fato poderia confiar nela. Mas estava tão perto de seu objetivo, estava tão perto de tudo o quê sua vida significou todo esse tempo.

Pela noite comia o pouco que tinham e recuperava as forças. O perigo não a assustava, a fome e a sede não a incomodavam, o frio era perturbador, mas suportável. Quando estavam 'acampadas', sempre ficava encarando Melonny, que parecia séria, havia perdido a doçura e até uma parte da inocência que sempre demonstrou ter. O brilho de seus olhos parecia temer algo. 'Será que ela pode ver o futuro?' Mary Lane encarava-a, parecia sentir-se desafiada, no jogo de quem desvencilha o olhar primeiro, mas antes de qualquer uma desviar, a pirata acabava adormecendo. E era aí onde o verdadeiro desafio começava. Pois o pior não vinha quando estava acordada, mas sim quando tinha os olhos fechados.

Aqueles pesadelos deixavam-na furiosa, havia anos que não sonhava com o pai, pensava ter superado esse medo. Pensou até mesmo que sua mente havia apagado de suas lembranças aquele rosto tão distante. Seria aquela face a real, ou apenas trabalho de sua imaginação? Estando a possibilidade de vingá-lo tão próxima, os pesadelos do passado despertaram nesses antigos temores. Como antigamente, não gritava ou se mexia durante um pesadelo, pelo contrário, ficava paralisada de medo, acordava ofegante e, apesar do frio, ensopada de suor.

Sempre que abria os olhos encontrava a selvagem acordada, recostada ao Urso das Neves com os olhos brilhantes fitando-a, tragando-a num mar de suspeitas e desconfianças. O brilho que variava entre o azul e o verde dos olhos dela a perturbava, pois tinha a sensação que ela podia ver sua mente e observar seus medos, tinha a sensação que selvagem poderia entrar nela se quisesse, tal como entrava no urso, entretanto, caso pudesse, nunca tinha tentado. Não que ela tivesse realmente percebido. E essa desconfiança mais uma vez fez sua espinha gelar.

Ao amanhecer do terceiro dia elas chegaram. Tal como toda a ilha, a costa norte era pedregosa e traiçoeira. Apesar disso, a selvagem não teve dificuldade em encontrar a entrada da caverna submersa. O Deus Afogado ouvira suas preces, a maré estava baixa e era possível entrar a pé. Os olhos da selvagem brilhavam como nunca quando ela sussurrou.

- Ele está lá... Posso vê-lo, farejá-lo e senti-lo... Tenha cuidado. - O estômago da capitã embrulhou como se feito de gelo. Por um momento suas pernas pareceram bambear.

- Não virá comigo? – Perguntou a Mary Lane, por puro reflexo, não que precisasse da ajuda da selvagem, mas se algo acontecesse a ela o resto do grupo a culparia.

- Não. – Respondeu a menina com o trinado melodioso que era sua voz – Isso é algo que deve fazer sozinha. Esperarei aqui... Com ele. – Indicou o urso com a cabeça. – Até o escurecer. Se não voltar eu vou buscá-la.

Mary Lane sorriu, num misto de graça e incredulidade. Se o pior acontecesse e o maldito subjugasse-la, não seria uma garotinha selvagem verde de verão que conseguiria derrotá-lo. Quase gargalhou, como se a menina tivesse contado uma piada. Mas estava nervosa demais para ressaltar isso, então, com a mão no cabo de sua espada, já preparada para desembainhá-la caso  necessária, adentrou na caverna.

Os pés ficaram completamente mergulhados em água salgada e gelada, até o tornozelo. Mas o mar era seu amigo e seu território. Não teve dificuldade em caminhar silenciosamente, apesar da água ecoar um suave som em resposta a cada uma de suas passadas arrastadas. O interior da caverna era escuro, úmido e frio. O coração da Greyjoy martelava tão alto que temia que os inimigos fossem capazes de ouví-lo. Estava apavorada? Ramsay Snow era o monstro de sua infância, ela nunca temera nenhuma das historias das amas mais do que temera o próprio mar. Porém a loucura da mãe a assustava e o responsável por isso enchia suas noites de pesadelos.

Ódio, raiva e desejo de vingança estavam presentes, tão misturados ao medo que pareciam um só sentimento, ambíguo, paralisante e incentivante. Ela continuou a avançar. Não soube quanto tempo se passou, mas logo ela viu uma luminosidade no fundo da caverna. Cessou o passo e analisou o ambiente, a fonte da luminosidade ela logo identificou como uma fogueira. Estava próxima.

Encheu-se de coragem e deu um passo à frente, depois outro e outro. À medida que se aproximava, podia ver o fundo da caverna. Havia uma pequena fogueira, que era a fonte de iluminação, a fumaça subia até o topo e ía embora através de pequenos buracos, tal como Drogo descrevera. A água salgada terminava em um monte de terra e algumas formações pedregosas, que se erguiam alguns metros à frente, no topo estava a fogueira e uma silhueta humana.

O único som que ouvia-se era o barulho do mar batendo contra as rochas do  lado de fora dos túneis, quando aproximou-se mais escutou o som de uma lâmina sendo afiada. Suas pernas tremeram. Sonho e pesadelo, paz e medo. A sua mão apertava cada vez mais forte o cabo da lâmina, isso fazia-a sentir-se mais segura. Mas ainda assustada. Esse medo era completamente irracional, o bastardo de Bolton era um covarde e nunca fora um bom lutador. E depois de tanto tempo estava envelhecido. Enquanto ela era uma exímia guerreira, agraciada com toda a aptidão da juventude.

Com uma pisada leve, retirou os pés da água, subindo devagar o monte de areia, escondeu-se por detrás de uma enorme projeção rochosa. Parou a uma distância de poucos metros, agora podia ver o rosto de seu inimigo. Ele era pálido, como sua mãe descrevera, os cabelos outrora negros agora estavam cinzentos, numa estranha guerra em que os fios negros perdiam para os grisalhos. Rugas se formava ao redor de seus olhos claros e desvairados, mas tinha uma expressão mista de loucura e sadismo.

Estava prestes a sair de seu esconderijo e atacar quando notou uma segunda figura, não podia ver seu rosto, vinha do leste, por onde a caverna se estendia até onde sua vista não alcançava. Logo duas vozes começaram a ecoar, também vindo leste. Andavam vagarosamente, como que temerosos. Lembrou-se certa vez das histórias que contavam, 'Os meninos do Bastardo', logo pensou. Que agora deveriam ser chamados de 'os velhinhos do bastardo', quase riu da ironia, mas o nervosismo não deixou-a mover um músculo sequer.

- Você não trouxe carne. – Rosnou Ramsay.

- Não havia, Lord Bolton. – Respondeu o primeiro recém-chegado, que ainda tinha seu rosto envolto em sombras, numa voz baixa e submissa, sem ousar olhar o outro nos olhos.

- Você não procurou direito! Há sempre carne lá em cima! – Acusou o velho sentado em frente a fogueira – Eu o preveni o quê lhe aconteceria se voltasse de mãos vazias. - Os outros dois homens iniciaram uma série de risos. - E vocês dois estão rindo do quê?! Com a permissão de quem?! Afinal, também voltaram de mãos vazias, não?! Calem-se e agradeçam aos deuses por não estar com vontade esfolar-lhes os paus! - Ambos pararam de rir e resmungaram algo que ela não pode escutar, logo seguiram para próximo da fogueira, aonde sentaram-se. Ramsay tornou a falar com o primeiro. - Estenda a mão. 

O outro tremeu violentamente enquanto lamuriava palavras estranhas e desconexas, deveria estar chorando.

- Por favor, Lord Bolton. Não há nada. Por favor não faça isso. Por favor. – Implorou caindo de joelhos em súplica.

- Estenda a mão, Fedor. – Ordenou com um sorriso cruel.

Cada músculo do pobre ajoelhado tremia, mas ele fez aquilo que lhe foi ordenado. Com a mão iluminada pelo fogo, Mary viu com horror que o único dedo restante nela estava num tom marrom-acinzentado, deve ter sido esfolado diversas vezes, as cicatrizes deixavam-no naquele aspecto podre. Na ponta a carne era viva e vermelha, com sangue seco ao redor. Não havia unha. Não havia pele.

O bastardo aqueceu a lâmina no fogo, observando enquanto Fedor chorava e o fitava numa posição suplicante e submissa.

- Quando acabarem-se os dedos, esfolarei a mão, depois os pés, então braços e pernas, e logo você ficará como aquele selvagem. É isso que quer, Fedor?

O homem ajoelhado balançou a cabeça negativamente.

- Você deveria ser-me grato, eu salvei a sua vida, por tanto você é meu. Entendeu? Você acha que é um homem, Fedor? O que é você?

- Eu não sou um homem. Sou menos que um rato. Sou um verme em forma humana.

- E quem é você?

- Eu sou Fedor. – disse o ajoelhado rapidamente. – Seu Fedor.

- Meu Fedor .– repetiu Ramsay – E voltará a falhar comigo?

- Não, Lord Bolton. Por favor... – Choramingou.

- Fique quieto, é apenas um dedo... Não me faça compará-lo ao meu antigo Fedor, aquele que me decepcionava menos que você... De certo teria conseguido carne... Agora fique quieto! Se continuar a me perturbar esfolo sua mão inteira.

O bastardo caminhou lentamente, degustando de cada momento de sofrimento do homem. A faca brilhava num laranja incandescente, começou a tirar as primeiras camadas de carne. Foi só quando o grito do torturado ecoou em seus ouvidos que Mary Lane voltou a si e retomou o controle de seu corpo. Mas não podia fazer nada, eles estavam em quatro. Três, na melhor das hipóteses, caso o esfolado não fosse levado em conta. Por um momento perguntou-se se não deveria estar ali acompanhada de alguns de seus homens, ou mesmo algum de seus companheiros de viagem. "Isso é algo que deve fazer sozinha." Escutou a voz de Melonny em sua mente. Não saberia dizer se era sua imaginação, ou sua cabeça pregando alguma peça. Mas de alguma maneira aquilo a acalmava, parecia não estar mais sozinha.

Esgueirou-se novamente para a água, contornou a formação arenosa, quase que completamente submersa, imperceptível. Andou novamente, para perto de outra formação rochosa. Enquanto saía da água, desequilibrou-se numa rocha que soltou-se da formação, o quê fez a água respingar de maneira mais sonora. Percebeu que um dos homens que estava à fogueira aparentou ter escutado algo. Por puro reflexo mergulhou. Mas ainda assim ele resolveu verificar se algo havia de errado.

- Vai aonde, Alyn? Não vai me dizer que  já vai tirar a água do joelho? - Disse o companheiro.

- Cala a boca, Damon! Se atrapalhar Ramsay ele te tira o couro!

- Mijão de uma merda! - Rebateu.

- Moiçola desprezível! - Respondeu enquanto distanciava-se.

Alyn aproximou-se da margem de água. Olhou a superfície escurecida. Mary Lane encarou-o nos olhos, mas ele não podia vê-la debaixo d'água. Iria se virar e voltar para seu lugar quando um estranho brilho fê-lo observar melhor a margem. Um brilho metálico. Curioso, agachou-se, ficando acocorado. Seus olhos arregalaram, mas era tarde demais. A lâmina bronzeada da adaga da jovem pirata já havia penetrado fundo em sua garganta. Levou as mãos ao pescoço, tentando gritar, mas tudo que saía era um sangue quente e borbulhante. Mary Lane, quase não suportando o peso, segurou o corpo, antes que tombasse na água e o respingar entregasse de vez sua presença. Aos poucos deixou o cadáver afundar. Emergiu mais uma vez, puxando o ar como se nunca tivesse respirado, restaurando seu fôlego de ferro. Vagarosamente saiu da água. Já deveriam ter notado a falta daquele. Mas para a sua surpresa nenhum dos demais olhava para ela. Estavam de costas, o único deveria vê-la era Fedor, que estava ocupado demais gemendo de dor. Um sorriso estranho desenhou-se na face da pirata enquanto finalmente desembainhava a espada, que ruiu silenciosamente. "Chega de ser um rato de embarcação! Homens-de-ferro não temem à morte!"

- Pyke! – Rosnou ela avançando com espada em punho.

Damon sequer teve tempo de reação, mal virou-se e a lâmina de Mary Lane já havia atingido sua face. O sangue espirrou frenético. O homem não gritou, seu corpo estremeceu de leve e tombou ao chão tão logo a pirata retirara a lâmina que lhe incrustara nas fuças. Uma poça escarlate banhava a areia sob o corpo. O bastardo recuou assustado, o sangue pingava na pequena a adaga que antes usara para torturar seu prisioneiro. Pelo canto dos olhos ela viu que Fedor ainda estava ajoelhado e observava assustado o que ocorria à sua frente. O coração de Mary Lane acelerou, não sabia se de medo ou de ódio.

Estava frente a frente com seu pesadelo. Ele desembainhara uma espada. "Afinal, não poderia ser assim tão fácil."

- Mas olha o quê temos aqui? - A voz dele estava trêmula, apesar de carregada de um tom que demonstrava superioridade. - Mas quem pelos Sete é você, cadelinha? Veio com a tripulação que meus meninos viram aportar por aqui? Devo admitir que estava com saudades de minhas caçadas... E não é que me aparece uma logo aqui!?

Mary Lane avançou, mas a espada do bastardo aparou seu movimento. Os golpes se sucediam de ambos os lados, sempre aparados, as espadas se faziam de línguas metálicas que entoavam uma melodiosa e ruidosa canção, um dueto mortal. O bastardo, num movimento de sorte, chutou Mary Lane, que recuou, desequilibrou, cambaleou e acabou caindo no chão, soltando sua espada próxima do cadáver de Damon.

- Ha ha ha... Então? Qual o nome da vadia? Não foi lá grande coisa. Mas não me divirto faz muito tempo. Então já está de bom tamanho. Quando começar a criar minhas meninas novamente, darei seu nome a uma delas. Não é mesmo, Fedor?

O estranho não respondeu, mas aproximou-se de Ramsay, acuado, amedrontado com a situação, apertava sua mão onde seu dedo ainda sangrava. Finalmente a luz da fogueira permitiu que Mary Lane avistasse a face do estranho. Os cabelos eram brancos e quebradiços, a pele pálida e pastosa, coberta de rugas. A boca que outrora era responsável por inúmeros sorrisos, agora estava com o maxilar torto e os dentes estavam quebrados.

Lágrimas vieram aos olhos de Mary Lane sem serem convidadas, marejando aquele olhar sempre tão duro, entretanto ela não permitiu que caíssem. Sabia quem era aquela figura, não estava como em seus sonhos, porém era ele assim mesmo. Ainda que sem nenhuma lembrança real, ela o reconheceria em qualquer lugar. A Greyjoy estava imobilizada pela descrença, não podia mover um centímetro, então se limitou a encará-lo.

- Não adianta mais chorar. Não sou um homem assim tão vil. Prometo dar-lhe uma morte rápida. - A pirata parecia não escutar nada que o Bolton falava. Estava hipnotizada coma visão de Fedor. Aquilo estava absurdamente errado. Não era assim que um homem de ferro deveria se comportar, não era assim que um príncipe deveria ser. Sua mente vagueou até a pessoa demente e fraca que a mãe era. Antes de tudo Jeyne havia sido uma adolescente sonhadora, como todas as outras. O bastardo havia transformado-a em uma sombra de si mesma, seria tão estranho se ele tivesse feito o mesmo com Theon?

Ramsay estava a poucos metros dela, aproximando-se, tinha a espada em riste, apontada para ela. Ergueu alto a lâmina, iria dar o golpe de misericórdia. A jovem ainda parecia estar perdida em memórias. "Não é assim que um home-de-ferro deve se comportar." Não saberia dizer se a voz que ecoava em sua mente era de Melony, de sua tia Asha, de Jeyne, sua própria ou mesmo de Theon. Mas algo acendeu dentro de si. Um sentimento ambíguo, não saberia dizer se era medo ou ódio. A visão de Fedor fê-la cerrar os dentes furiosamente. O sentimento não era mais ambíguo. Tudo o quê lhe restara era o ódio. A lâmina do bastardo desceu.

Num rápido movimento ela rolou para o lado, se sujou-se com o sangue de Damon, desviando do golpe de Ramsay, que ficou furioso e avançou novamente, gritando e segurando a espada como se fosse um cutelo. Um som de carne sendo rasgada ecoou, sangue jorrou, seguido de uma aterrador grito de dor que pareceu ecoar por todos os túneis daquele lugar.

A mão do bastardo caiu no chão ainda segurando a espada. Ele gritou observando o toco de onde escorria sangue em abundância, caiu no chão se contorcendo em dor.

- Mary Lane. - A voz da pirata parecia cansada, ela se erguia com dificuldade, apoiando-se na espada que ainda estava banhada com o sangue do bastardo. - Mary Lane. - Sua voz ganhava mais força. Olhou para Theon, que apenas assistia amedrontado. Olhou mais uma fez para Ramsay, que encarava-a incrédulo enquanto segurava o toco em que se resumia seu braço. - O nome da sua cadela será Mary Lane Greyjoy! - Sua voz saíra num grito.

- Desgraçada, cadela, vadia! - Ramsay gritava enquanto se arrastava para longe e tentava se levantar, a pirata sorria enquanto o perseguia a passos lentos. Quando alcançou-o pisou no coto. O bastardo gritou como nunca antes.

- Fique quieto! – Rosnou ela – É só uma mão... Se continuar a me perturbar esfolo a sua cara.

Ramsay olhou-a visivelmente assustado e ela sorriu com malícia.

- Pensando bem... Vou fazer isso de qualquer jeito.

E avançou com um sorriso perverso no rosto.

Gyles Tyrell

Ele foi o primeiro a vê-las chegarem. Estava afastado do grupo, nos bosques, quando as viu. Ambas vinham a pé, com um urso das neves pouco atrás, porém o animal não parecia perigoso e sim submisso. Quando se aproximaram mais, notou que os olhos do urso tinham um estranho brilho, ora azul, ora verde, semelhante aos olhos de Lady Melony, e também notou que havia duas pessoas montadas no animal. À medida que se aproximava pode ver que ambos eram velhos, o primeiro parecia inconsciente. O segundo tinha um olhar distraído e um sorriso estranho no rosto, sua cara tinha uma tatuagem como era próprio dos escravos de Volantis. A tatuagem era semelhante a alguns quadriculados desbotados, que outrora deveriam ter sido vermelhos e verdes.

Seu olhar se dirigiu para Melony, ela parecia está bem e incólume, mas tinha uma expressão estranha, vazia, duvidosa. A Capitã Greyjoy por outro lado não tinha expressão alguma e estava coberta de um sangue que não era seu. A pergunta ‘Quem?’ estava em seus lábios mas ele a reteve, Mary Lane Greyjoy havia entrado nessa jornada apenas pela sua vingança e parecia que havia conseguido-a finalmente. Os outros dois ele não saberia dizer quem eram, mas achou que no momento era melhor segurar sua curiosidade.

- Ajude-nos a descê-los, Gyles. – Pediu Melony com a delicadeza de costume.

Ela lhe tratara pelo primeiro nome, como apenas os íntimos deveriam fazer. Mas não havia insolência em seu tom, apenas naturalidade. Ela não entendia a necessidade de pronomes como Sor, ou milorde. Ele se adiantou em direção aos dois, ajudando-os a descer, o urso não se moveu, sequer notou-o. O primeiro, agora acordado, quase caiu, tinha uma expressão medrosa, como se esperasse ser atacado por Gyles a qualquer momento, demorou muito a compreender que ele lhe oferecia ajuda. Gyles notou que a mão esquerda tinha apenas um dedo e este era esfolado. Enquanto a outra tinha a dois faltando.

O outro homem sequer tinha uma mão. E ficava cantarolando baixinho com os olhos curiosos. Não parecia ser muito inteligente. O velho se afastou de Gyles, como se pensasse que o cavaleiro iria matá-lo. A Capitã Greyjoy se aproximou dele e com uma ternura inesperada guiou-o até o navio.

Enquanto ajudava Melony com o segundo homem, Gyles começou a especular a identidade do primeiro. A Greyjoy não parecia ser a mulher mais afetuosa do mundo, se tratava aquele velho com tanto carinho ele deveria ser no mínimo importante.

Lady Melony dispensou o urso com um aceno de mão. A expressão dela continuava perturbada e aquilo o preocupou. Será que tinha visto Mary Lane lidar com Ramsay? Pela quantidade de sangue nas vestes dela, julgava que o bastardo havia tido uma morte muito violenta. Ao longe pode ouvir os homens de ferro saudando sua líder.

O segundo homem estava dando trabalho para acompanhá-los. Qualquer coisa o distraía, como se tivesse passado toda a vida em um calabouço, e a todo momento Gyles tinha que puxá-lo para guiá-lo ao caminho correto.

- Passas bem, milady? – Perguntou à Melony.

- Não fui ferida. – Respondeu com sua voz titilante – Estou apenas impressionada. Estou tentando entender vocês do sul. Me chamam de selvagem, mas o que ela fez não me pareceu nada civilizado.

- Viu algo que a perturbou? – Perguntou tentando adivinhar se ela estava traumatizada.

- Não. Mas ouvi gritos. Por tanto tempo que pensei que nunca fossem acabar, pensei que ele nunca fosse morrer. E senti cheiro de sangue na pele do urso... Muito sangue. E também carne queimada. Mas não carne de animal.

- Eu sinto muito que tenha tido que passar por isso, milady. Sei que não entende a violência. Deixe-me tentar lhe explicar, aquele homem fez um mal terrível à Capitã. Ela estava apenas lhe devolvendo o favor.

Ela franziu o cenho tentando absolver o que ele havia dito.

- Há favores que não devem ser devolvidos. - A voz dela era sombria, como se pudesse prever alguma coisa. Suas palavras fizeram a espinha de Gyles gelar. E ele logo quis mudar o assunto que parecia perturba-la tanto.

- E quem é este? – Indicou com a cabeça o homem que levavam para o navio.

- Ela o trouxe, junto com o outro e alguns papéis... Não sei quem é, mas posso senti-lo. Ele não é tudo o que aparenta ser.

O homem começou a cantarolar em uma língua estranha e para sua surpresa Melony o acompanhou. Gyles sentiu um arrepio subir pela sua nuca, mesmo sem saber o significado sabia que havia algo muito errado com aquela canção. A mesma que Lady Tully cantara alguns dias atrás.


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Notas finais do capítulo

Oi Galerinha
Tenham calma, hehhehe, eu sei que muita gente quis me matar essa semana. Não foi de proposito, o nosso beta, Pepi, estava tendo problemas com a faculdade, tinha que ler dois livros supercomplicados e por isso a demora. Mas eu acho que compensou, a betagem ficou magnifica. Muito do que leram foi também obra dele. Ele não apenas corrigi meus erros, mais lapida os capítulos. Algo pelo qual eu sou muito grata.
Espero que tenham gostado. E aguardo ansiosamente pelos seus comentários.