Thalia:

Não preciso nem dizer que Nico me encheu o saco depois do encontro com Afrodite, me perguntando sobre o que diabos a gente estava falando e que negócio era aquele de “Limite de aproximação”. Garotos...

Enfim... Isso não importa agora. Até porque estamos aqui, parados na frente da casa alugada de Ares.

- E agora?- perguntou Nico ao meu lado enquanto encarávamos a porta de uma mansão vermelho-sangue. – Tiramos par-ou-ímpar pra decidir que corre primeiro?

Eu ri.

-Cala a boca e aperta a campainha... Ou o interfone, sei lá que droga essa mansão tem!

-Okay... – Ele se aproximou do botão ao lado da porta... E o apertou.

No momento seguinte estávamos jogados no chão, cobrindo nossas cabeças com as mãos, enquanto tiros, granadas e mísseis soavam apouco acima de nós, e Ares apareceu escancarando a porta segundos depois, com uma garrafa de cerveja em uma das mãos, barba por fazer, uma bermuda preta, camiseta vermelha e um boné do UFC...

E uma cara nada boa também.

Eu olhei para ele, indignada, e cutuquei Nico ao meu lado quando o deus apertou a “campainha” novamente, e o barulho cessou.

-Que diabos...? – meu namorado resmungou, apoiando-se nos joelhos e nas mãos e encarando-o. Ele abaixou os olhos para nós dois, e balançou a cabeça como se não acreditasse que estávamos deitados no chão.

-O que, por Zeus, foi aquilo?! – gritei, tirando o pó da calça e puxando Nico para cima.

- Efeitos sonoros, garotinha. Afasta os ladrões, intrometidos e idiotas. – respondeu ele. – Agora entrem logo, e sem mais perguntas idiotas até o fim do dia... Ainda não sei como Afrodite me convenceu a ficar do lado de vocês... – resmungou, e eu passei por baixo do seu braço puxando di Angelo pela manga da blusa azul.

Aquilo  estava uma zona só.

A mesa no centro do que eu suspeitava ser a sala de estar estava cheia de pacotes de salgadinhos de queijo, latas e garrafas de refrigerante e cerveja, o sofá tinha cuecas e roupas viradas do avesso e um taco pela metade no braço, uma caixa de pizza aberta e um Walkie-Talkie ao lado. E isso não era a pior parte!

O chão estava coberto por uma coisa grudenta, o que me fazia me sentir em um bar. A bancada da cozinha estava nojenta, no mínimo. E olha que eu não sou lá a pessoa mais organizada do mundo, mas aquilo... Era como entrar na toca de um rato.

Um rato bem forte, poderoso e rico. Mas ainda assim, um rato.

Nico piscou os olhos com força.

-Deuses, eu acho que esse cheiro vai me deixar com náuseas pelo resto do ano...

- Eu acho que vou vomitar... – anunciei, e corri para a primeira porta que achei, na esperança de que fosse o banheiro. E acredite, eu realmente queria que fosse.

A suíte de Ares tinha, como toda suíte, uma cama bagunçada, roupas para todo lado, um edredom jogado no chão... Mas as semelhanças com uma suíte “comum” param por aí.

Até porque tinha uma deusa pelada deitada na cama...

... E várias camisinhas usadas jogadas pelo chão.

Botei todo o meu almoço pra fora ali mesmo na porta, e depois saí dali completamente zonza.

Nico me encarou.

-Eu acho melhor você não entrar ali... Porque se você não morrer ao olhar o que tem ali dentro... Eu te mato. – resmunguei.

Mas antes que ele pudesse me dar uma resposta, Ares ligou a televisão de 60 e tantas polegadas.

-Então... Agora que já conhecem minha casa, podem começar a limpar.

[...]

-Droga, Ares! Onde está o esfregão?! – gritei com ele.

Aquele deus idiota estava assistindo UFC fazia quase uma hora, e Nico e eu tínhamos começado a limpar a pouco mais de 30 minutos.

Sim, nós reclamamos durante meia hora. Mas pelo menos eu consegui convencer Ares de que não limparíamos a suíte ou o banheiro. Eca.

Revirei o armário de produtos de limpeza atrás da porcaria do esfregão. Ele definitivamente não estava ali!

-ARES!!! ONDE ESTÁ A DROGA DO ESFREGÃO!!! – Gritei com ele.

Ele se limitou a dar um gole na cerveja que mantinha na mão e responder.

-Não temos esfregão nessa casa.

Fiquei vermelha de raiva. Estava cogitando a hipótese de viras o balde de água em sua cabeça e correr dali, mas Nico agarrou meu pulso antes que eu chegasse ao balde.

- Calma Thals. Não faz isso.

Ele usava um conjunto de moletom felpudo azul-claro, e tinha arrumado uma vassoura. Mas isso não me ajudaria muito a tirar a gosma do chão, então...

-Nico...

-O que foi? – ele virou o rosto para mim. Eu sorri diabolicamente.

- Preciso que você deite no chão.

-O quê?! Eu... Você... O QUÊ?! – ele gaguejou confuso. Suspirei.

-Relaxa, eu só não acho o esfregão... – expliquei, e uma linha de compreensão passou por seu rosto, seguida de uma de incredulidade.

- Não mesmo! Esse é meu moletom favorito!

Empurrei o balde de água no chão com o pé, e dei uma rasteira no meu namorado, que caiu de costas com um baque.

-OUCH! – reclamou.

-Desculpa, mas você não me deu alternativa. – respondi, e levantei suas pernas, empurrando e puxando para limpar o chão, e pelo menos dessa vez ele cooperou comigo.

-Ei, garotinha! – Ares gritou.

-O QUE VOCÊ QUER AGORA?! QUE EU COLOQUE UMA SAIA E DANCE A HULA?! – gritei de volta.

[...]

-Thalia, eu ainda vou te matar por dar ideias a esse cara. – Nico me encarou.

 Nico de saia e com dois cocos pela metade cobrindo os mamilos não é lá uma coisa que a gente vê todo dia...

- Eu não achei que ele iria fazer isso de verdade! – ri da cara dele.

-Você ainda vai me pagar se sairmos vivos daqui! – avisou, e foi para a sala enquanto eu cuidava da louça na pia.

-Aloha!!! – gritei da cozinha para ele, e ri novamente quando ele gritou meu nome, indignado. Mas antes que eu pudesse continuar zoando as pernas peludas do meu namorado, Ares deu um berro.

-GAROTINHA! POR QUÊ NÃO SE JUNTA A ELE ENQUANTO A LUTA NÃO VOLTA?!

Parei de rir de imediato

É... Hoje definitivamente não é o meu dia.

Valeu, deuses!