Yumi hesitou, parando na saída da estação de metrô. Ela meneou a cabeça para o lado e lançou um olhar sugestivo para Ryouta Kise, que estava do seu lado, retraído por causa da chuva que caia torrencialmente pelas ruas da cidade.

– Aposto que nessa sua mochila não há nenhum guarda-chuva. Estou certo? – ele perguntou, aproximando-se mais de Yumi, tencionando em mexer na bolsa que ela carregava nas costas. A ruiva o empurrou para longe, movimentando-se para o lado, para que Kise ficasse longe da mochila.

– Você sabe que eu não tenho!– ela grunhiu, batendo as mãos ao lado das coxas, preparando-se para o banho de chuva que viria. – Eu tenho que ir para a casa, por isso não posso ficar aqui como uma mulherzinha, – ela apontou para ele e o cabelo jeitoso–, e esperar que a chuva cesse.

Decepcionando, Kise passou as mãos pelos cabelos perfeitamente lisos e sedosos. Dourados, exatamente como as últimas nuances dos raios solares no final de tarde. – Se você for, eu vou junto. – ele sorriu para ela, caminhando lentamente para a chuva que caia de forma intesa. A camisa branca que ele vestia rapidamente ficou transparente sobre o corpo, arrancando um olhar curioso de Yumi, que o analisava indiscretamente pelo canto dos olhos, também lançando-se contra a chuva.

A água fria envolveu o corpo quente da ruiva, e o vento gelado arrancou um arrepio que Yumi pode sentir percorrer pela extensão de todas as terminações nervosas do corpo. Ela se abraçou e começou a caminhar rapidamente, encolhendo-se em torno do casaco que vestia, pesando sobre os ombros.

– Está mais forte do que eu imaginava! – ela olhou para o loiro que estava ao seu lado, caminhando sem muito esforço; um passo dele, equivalia dois de Yumi.

Kise olhou atentamente para Yumi que se esforçava para abrir os olhos sobre a água que lavava o rosto, pesando sobre os cílios clarinhos. Ele circulou pelas costas da ruiva e puxou a mochila que ela carregava, levando-a com uma das mãos, enquanto a outra puxava os enormes cabelos de Yumi para o lado, desgrudando-os das costas. – Deixa que eu levo para você, Yumicchi.

– Esquece, Kise. ­– ela parou no meio da rua deserta, e girou nos calcanhares ficando de frente para o loiro. – Não adianta continuar sendo legal comigo, pois eu não vou ficar com você.

Surpreso, ele permaneceu em silêncio, encarando-a com certo temor. Era verdade que ele estava interessado em Yumi, mas também não era um homem insistente. Ryouta realmente estava sendo gentil e legal, exatamente como era com qualquer pessoa. – Eu não estou te flertando, Yumi. – ele fez uma pequena pausa, ajeitando a mochila dela nas costas. – Acho que você tem medo de homens gentis. – por fim, ele sorriu desajeitado, passando por ela, deixando-a para trás.

Furiosa, Yumi bateu com um dos pés no chão, explodindo uma pequena poça de água que se formava. – Eu não tenho medo de você. – ela berrou, porém o som estridente de um trovão a fez saltar para frente, segurando inconscientemente a camisa do loiro, em um apelo para que ele a esperasse.

– Você tem medo de tempestades? – ele olhou sobre o ombro, e achou divertido aquela faceta de Yumi, algo desconhecido até o momento. Campbell estava séria, imóvel, puxando-o gentilmente pela camisa do uniforme, frustrada com a própria reação. Como a ruiva morava sozinha, ela possuía medo de tempestades e dos constantes terremotos que atingiam a cidade em que morava.

– Eu só não gosto. – ela admitiu, afastando a mão da camisa de Kise, recompondo-se como se nada tivesse acontecido.

– Deixe me cuidar de você até chegarmos a sua casa. – ele ergueu o braço e passou sobre o ombro de Yumi, puxando-a para o seu lado, enquanto ela relutava, o xingando de vários palavrões possíveis. – Acalme-se Yumi, eu não vou fazer nada!

– Não acredito em você. – ela beliscou a mão dele que estava sobre o seu ombro, apesar do gemido de dor, ele não recuou. – Kise! Sai de cim... – um novo trovão interrompeu as palavras de Yumi, fazendo-a caminhar como um robô enferrujado. O loiro não conseguiu conter o sorriso de canto que se formou, acomodando-a melhor em torno do braço.

Ryouta podia sentir os ombros e a cabeça dela tocar levemente o peito, analisando o quanto ela era delicada e pequena, mesmo que por fora fosse uma garota orgulhosa e birrenta. Yumi cedia lentamente em torno dos braços de Kise, que mesmo sobre a chuva e o vento gélido, estavam quentes e aconchegantes. Até mesmo o medo que ela possuía dos trovões e raios haviam diminuído ao estar ao lado de Ryouta.

Os raios roxos e esbranquiçados coloriam o céu de modo assombroso, prendendo o olhar do casal que caminha pelo calçadão vazio. O vento frio também colaborava para o inicio da grande tempestade que se aproximava, facilmente visível através do manto negro e ondulado que se aproximava furtivamente pela extensão do céu.

– Você acha que poderíamos ser atingidos por raios? – Kise baixou a cabeça para fitar Yumi, que somente balançou os ombros, mascarando a tensão que havia aflorado em seu corpo. Os raios eram tão intensos que Yumi realmente ficou temerosa com tal possibilidade.

– Acho melhor nos escondermos em algum lugar. – Campbell deu-se por vencida, deixando que Kise comandasse a situação. O loiro sorriu orgulhoso de sua vitória, puxando Yumi para sua frente, guiando-a com as mãos nos ombros para a marquise de uma loja, que já se encontrava fechada.

Os dois ficaram ali por alguns segundos, analisando as árvores que balançavam bruscamente por causa do vento. Yumi deu um passo para trás, grudando as costas contra o peito de Kise, recuando para que os pingos grossos de chuva não caíssem sobre ela, mesmo que já estivesse completamente molhada.

Preso no clima, Kise ergueu as mãos gentilmente, e apoiou sobre os braços de Yumi, envolvendo-a timidamente. – Me desculpe, mas você não gostaria de trocar de lugar comigo?

Os olhos verdes de Yumi analisaram milimetricamente os trejeitos do rosto de Ryoutaro, aceitando por fim o que ele havia sugerido. A ruiva ficou com as costas apoiadas contra a parede, enquanto Kise se acomodava na sua frente, apoiando as mãos ao lado do corpo de Yumi.

– Ainda está chovendo em você? – ele falou pacificamente, aproximando o queixo do topo da cabeça dela, controlando-se para não abraçá-la e, possivelmente, levar um chute nas partes intimas. Yumi ergueu ligeiramente a cabeça, encolhendo-se entre os braços dele, protegendo-se do vento que congelava as roupas molhadas que estava vestindo.

– A chuva já não me atrapalha, só o vento e o frio que está me matando. – Yumi sabia que não deveria ter dito aquilo, pois havia soando como um convite para que ele se aproximasse ainda mais dela. E foi exatamente o que ele fez. Kise deslizou os dedos frios pela parede, e acomodou as mãos em torno dos flancos de Yumi, colando o corpo molhado contra o dela.

Automaticamente, Campbell ergueu os braços e envolveu a cintura de Kise, admirada com o seu porte físico e tamanho. Yumi adorava homens altos e com traços másculos e mau intencionados, oposto de Kise; que aparentava ser um príncipe de contos de fadas. Loiro, alto, ótimo porte físico, cavalheiro, perfeito em tudo.

– Yumi, você foi a única mulher que eu conheci em toda a minha vida que me repudiou de todas as formas. – a voz dele soou melódica, fazendo Yumi estremecer dos pés a cabeça. – De todas as garotas que conheci, com certeza, você é diferente de qualquer uma delas.

– E daí? – ela ergueu a cabeça, obrigando-o recuar levemente o corpo para trás, com a intenção de olhá-lo nos olhos cor de mel. – Não se engane. Eu sou irresistível mesmo, e ótima jogadora de basquete. – ela se gabou, arrancando uma gargalhada carregada de Kise. Ele guiou os lábios até tocarem a bochecha de ruiva, beijando-a timidamente ali. Yumi concentrou-se para não fazer algo impensado, retorcendo-se em torno dos braços dele. – Seja homem, Kise.

Nas pontas dos pés, Yumi afastou as mãos da cintura do loiro, envolvendo-o em torno de pescoço, beijando-o com intensidade; deslizando os lábios molhados sobre os dele, pedindo passagem para que o beijo se tornasse mais intenso. Kise permaneceu sem reação por alguns segundos, mas logo ele deslizou as mãos, passando pela cintura e costas de Yumi, permitindo que a língua dela invadisse o interior de sua boca.

Os dois permaneceram sob a proteção daquela marquise descobrindo as sensações que um despertava no outro. Yumi sentia o corpo queimar, mesmo que estivesse congelando. Os raios e trovões pareciam estar distantes, mesmo estivessem sobre as suas cabeças, colorindo o céu cinzento com flashs intensos e reluzentes.