Numa Folha De Papel Qualquer escrita por Lia Mcleaff


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Carta sem remetente
A um destinatário sem endereço
Numa rua que não existe
Em algum lugar de um mundo imaginário



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“Mãe, você pode me abraçar mais uma vez?

Sussurrar "eu ainda te amo", em meus ouvidos?

Mãe, você mentiu?

Poderia me dizer por quê?

Há algo mais profundo que eu temo

Justifique o mal que eu retrato

Punhais na escuridão encontram seu caminho quando a lua está cheia e com um brilho penetrante”

Elizabeth II – Requiem for the Innocent (Kamelot)

Casulo.
Acho que posso chamar assim o que deixei pra trás.
Casca vazia... Ou talvez cheia de emoções perdidas.
Feridas abertas que a metamorfose natural da minha alma transformaram em cicatrizes.
Muitas ainda doem. Acho que vão doer pra sempre. Sempre se sente falta de membros amputados...
De partes perdidas de si.

Mas aprendi duas palavras a respeito da vida.
Duas que acho que a definem melhor do que quaisquer outras que já foram usadas.

Ela continua...

O vento se encarrega de levar pra longe as folhas secas que o tempo se encarregou antes de matar.
As marcas não somem, mas o corpo se encarrega de curar as feridas.
Estancar sangramentos.
Transformar os cortes em marcas. A dor em lembranças.

As lições tomam pra si a responsabilidade de não nos permitir os mesmos erros. Mas não apagam os erros cometidos.

Minha mãe me dizia que alguns erros não podem ser consertados.
Peças de cristal quebradas não podem ser coladas.

Eu passei do ponto sem retorno... Eu fui muito além dele.

O vazio hoje me cinge como um véu de noiva. Cobrindo meus pensamentos, se estendendo pelo meu corpo. Arrastando-se no chão atrás de mim.
Apagando as minhas pegadas.

Me deixando finalmente tentar esquecer o que eu achei que fosse inesquecível.
Superar o que nomeei insuperável.


Minha garganta tornou-se mais larga. E consigo hoje engolir o que pensei que fosse ficar engasgado pra sempre.

O que antes me aterrorizava, hoje não passa de mera sombra.
O escuro não me assusta mais.

Olhar para trás não significa mais nada. Por que o que está atrás de mim, hoje eu sei, é inalcançável.

E como um peixe fora da água que se cansa de se debater na cesta do pescador e aceita a morte inevitável sem lutar mais, eu acho que aprendi a me entregar pra vida. E deixá-la me levar.

O mar não vai me alcançar onde estou.
Não vou aprender a respirar fora da água.
Então simplesmente espero que a falta do oxigênio que eu mesma me vetei leve de mim a vida de que eu mesma abri mão.

Me liberto do meu corpo. Deste corpo que não pode mais.
Mas não morro.
Não experimento a morte plena.

Talvez renasça das cinzas.
Talvez descubra um novo caminho.

Mas tal qual o que me precede, o que me sucede também é inatingível.
E o que não posso tocar, não me toca mais.

E nesse escuro que agora me cerca, eu simplesmente fecho os olhos e me deixo dar um passo a frente.

Eu me jogo hoje neste abismo, antes tão pleno de incertezas e medos.
Hoje tão simples... Tão comum.

Eu não espero nada desta queda. Não olho nem quero ver se há um chão esperando por mim em algum lugar deste infinito.
Me limito a sentir o vento.

E se Deus não me der asas, então ao menos na eternidade da queda eu vou poder dizer um dia que soube o que é voar.


Ao meu passado, adeus.
O meu futuro, a Deus.

E o meu presente, a mim.

“Inspire profundamente

Cheire estes corredores de ódio

Grave seu nome nestas paredes antes que seja tarde demais

Frios e retorcidos

Eles resistiram

O que era para eu fazer?

Tudo que eu sempre quis era uma fração da verdade

Caminhando nas sombras de minha mente enegrecida

Perdida dentro desta fútil vaidade do tempo

E se existir um Deus, um inferno e um paraíso?

Fogo é a tormenta que eu devo enfrentar

Morrendo pelas almas que eu abandonei

Ninguém vai impedir minha queda em desgraça

Sangre em mim

Observe-me de sua prisão enquanto eu revigoro minha juventude dolorosa

Sofro e exalo

Você e eu somos relíquias, nós provocamos e nós reclinamos

Caminhando nas sombras de minha mente enegrecida

Anjos almejam minha aflição, aflição eles encontrarão”

Elizabeth III – Fall From Grace (Kamelot)


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