Shamandice escrita por Prana Zala


Capítulo 10
A porta para o passado e futuro




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“Há portas que, após ultrapassadas, parecem ser trancadas para sempre, mas às vezes só é preciso lembrar onde está a chave para reabri-las”

Shaka e Milo conversavam animadamente com Aioria e Mu sobre a programação da semana enquanto bebiam uma taça de champanhe numa das maiores festas que a alta sociedade já tinha visto. Depois de tanto tempo sem poderem sair do Santuário, a festa na casa de Saori Kido viera bem a calhar. Não que eles gostassem de “festa de negócios” como aquela, mas era bom sentirem o cheiro da civilização de vez em quando. Aioria zombara de diversas mulheres de elite com chapéus chamativos e Shaka criticara a falsidade da alta classe. Diferente de Camus, Saga e Aldebaran, eles não costumavam acompanhar a deusa naquele tipo de evento. Apesar de terem vencido a batalha contra os Santos de Apollo, a guerra era muito recente para que eles ficassem despreocupados e deixassem Athena sozinha; afinal, Julian Solo havia se aproveitado de uma festa como aquela para sequestrá-la.

Para a maioria dos cavaleiros, a festa só poderia ter vindo em melhor hora se eles não estivessem ainda machucados por causa da última batalha com os Santos. Escorpião, por exemplo, que quase perdera a vida durante a luta com Orestes e outro Santo, estava bastante dolorido, só conseguira sair da enfermaria e participar do evento graças à ajuda dos cosmos de Aioria e Athena. Mas era, provavelmente, o mais empolgado com o evento, e a ansiedade era tanta que, apesar da festa começar apenas às 17h, acordara Shaka antes do sol raiar e arrastara-o para treinar super cedo, pois estava ansioso demais para dormir. Os dois foram os primeiros a se apresentarem para acompanharem a deusa à festa e, desde que tinham chegado, interagiram com metade das mulheres solteiras. Aioria podia jurar que os dois iriam desaparecer logo no começo da festa, mas, para sua surpresa, os dois apenas conversavam com as mulheres, depois se afastavam juntos e iam beber ou comer algo.

No começo, Leão se incomodara ao saber que os dois estavam em um relacionamento, pois eram ambos homens, mas, vendo-os juntos, bem e sem que tivessem mudado seu comportamento com relação aos outros cavaleiros, ele não só se acostumara com a ideia como via a situação com bons olhos. Enquanto conversava com o casal e Um, ele se perguntava se o fato dos dois serem um casal poderia fazer com que o escorpiano e o pisciniano se reaproximassem, já que Shaka era super amigo de Afrodite, e, com aquilo, o clima entre os cavaleiros de ouro melhorasse e os laços se estreitassem. Como seria se Peixes estivesse ali, conversando com eles, junto de Milo? A imagem que surgia em sua cabeça era tão improvável de acontecer que Aioria quase riu de si mesmo. Havia coisas na vida que não tinham conserto e a amizade daqueles dois era uma delas.

— E aí, cambada? Curtindo a festa? – perguntou Aldebaran, juntando-se ao grupo, acompanhado de Camus.

— Muita formalidade – respondeu Mu.

— Nem me fale! E isso porque essa não é das piores, viu? Não tem noção de cada uma que eu já fui... Esses ricos têm uma mania de esbanjar que vou te contar, hem, meu amigo! – comentou o brasileiro, pegando uma taça de champanhe – Pelo menos podemos comer do bom e do melhor e beber o quanto quisermos.

— Não deve beber muito, não estamos aqui descansando – lembrou Camus.

— Eu sei. Infelizmente, estou tendo que me contentar apenas com champanhe... Mas bem que a gente podia revezar e assim todo mundo beber um pouco, né?

— Falando em revezar, quem está com a Senhorita agora? – perguntou Mu – Eram vocês que estavam com ela, não?

— O Saga ficou com ela e o Afrodite já deve ter se juntado a eles – respondeu Touro – Muita gente perto chama a atenção, né? E eles iam para a sacada, dá para corrermos para lá em uma fração de segundos. Ela foi cumprimentar um casal lá porque parece que a velha está doente e por isso está lá fora, respirando ar puro.

— Velha? Isso é jeito de falar, Aldebaran? E se alguém te ouvir? – repreendeu Shaka.

— Ah, eles têm uns nomes muito complicados! Nunca que vou decorar isso.

— Aposto que o Camus lembra! – desafiou Aioria.

— Ih, acho que dessa vez nem você, hem, Camus! Era muito difícil. Mas era um velho duque e a esposa. Parecem gente importante, ele tem aquelas condecorações na roupa.

— Você deveria saber, não é a primeira vez que os encontra. – repreendeu Camus, enquanto escolhia uma das taças de champanhe que estavam sendo oferecidas pelo garçom - Eles são o duque e a duquesa de Västerbotten, da Su... – Aquário começou a explicar quando foi interrompido pela tosse de Milo, que havia se engasgado.

Foi tão repentino que todos olharam para o companheiro. Aquele bebia champanhe como se fosse água, por que todo aquele escândalo com a bebida?

— Quem estava com a Senhorita quando ela disse que iria encontrar esse casal? – perguntou Milo, após retomar o fôlego.

— Nós dois e Saga – respondeu Aldebaran – Por quê...?

Não deu tempo de ninguém perguntar qualquer coisa. Escorpião abandonara a taça praticamente no ar, que foi segurada por Shaka, e saíra correndo. Correndo, literalmente. O primeiro impulso de Shaka, após segurar a taça no segundo seguinte que Milo a largou, foi correr atrás do amigo. Não entendia o que estava acontecendo, mas pelos seus anos de contato com o grego sabia que tinha algo a ver com Afrodite e o passado dos dois. Será que o tal casal era conhecido deles? Será que descobriria algo? Queria saber de tudo, mas queria, principalmente, ter certeza de que os amigos ficariam bem. Não sabia o porquê não falavam do passado, mas podia ser porque o assunto fazia mal para ambos, não só para Afrodite (ninguém precisava lhe dizer isso para que percebesse o quanto o pisciniano ficava alterado com o assunto). Temia uma briga ou outra cena que prejudicasse também a reputação da encarnação de Athena.

A princípio, Camus pretendia continuar onde estava, como se nada tivesse acontecido, mas como Aioria, Aldebaran e, para sua surpresa, até Mu, seguiram o escorpiano, resolveu acompanha-los, sob o pretexto de ajudar a evitar qualquer conflito que viesse a ocorrer. De fato, também queria saber o porquê o casal de condes atemorizara tanto Milo. Sim, temor: fora isso que vira refletido nos olhos do antigo amante na fração de segundo que antecedera a correria. Nunca o vira tão desesperado, tão apressado. Obviamente queria saber o que se passava, quem não quereria?

Quando Milo chegou na porta da sacada, encontrou Afrodite abrindo-a para ir ao encontro de Saori. O grego, sem a menor cerimônia, puxou-o pelo braço, impedindo-o se sair.

— Hey, o que es...? – começou a reclamar o pisciniano, mas foi calado pelo outro cavaleiro, que esfregava a manga da camisa na boca do sueco, numa tentativa de remover seu batom, enquanto o afastava da sacada.

— Tira logo essa merda de maquiagem! – ordenou Escorpião, estressado.

— Para, Milo! Me deixa! – esbravejou Peixes, tentando se soltar sem chamar a atenção dos demais convidados da festa.

— Melhor: saia daqui! – mandou Escorpião, desistindo da tentativa de retirar a maquiagem do sueco – Agora!

— Com quem você acha que...! – começou a responder o sueco, mas, de repente, Milo o empurrou para a parede e colocou-se à sua frente, na mesma hora em que Athena voltava da sacada com Saga e um casal de meia-idade.

— Aconteceu algo? – perguntou a deusa, preocupada com o sumiço do pisciniano e estranhando a nítida agitação de Milo, na mesma hora em que chegaram Shaka, Mu, Aioria, Aldebaran e Camus – Por que estão todos aqui?

— Senhorita, Shaka vai acompanha-la... – dizia o escorpiano quando a condessa o interrompeu.

— Milo? Milo Alexopoulos? É você mesmo?

Milo estava paralisado. Não esperava ser reconhecido tão facilmente! Não sabia o que fazer, o que falar; não sabia se fingia não os conhecer ou se cumprimentava e tentava tirá-los dali, para que não vissem Afrodite. Queria, simplesmente, correr o mais rápido que conseguisse para o mais longe possível, mas Athena certamente reprovaria a ação e isso causaria uma comoção no ambiente. Sentiu Afrodite, em suas costas, agarrar fortemente sua camisa. Ainda bem que era centímetros mais alto do que o amigo de infância, pois ele podia, ainda que não completamente invisível, encolher-se atrás de si e não chamar a atenção do casal. Naquela hora, não se lembrou do quanto odiava o sueco, ou do quanto era odiado por ele, nem de tudo de bom ou de ruim que fizeram um para o outro em todos os anos de inimizade. Em seu cérebro, apenas piscava a luz de alerta e a mesma mensagem estava estampada em todos os lugares: resolva isso antes que eles vejam Afrodite! Não pensava em Camus, em Shaka, em Athena, em ninguém mais: sua mente estava completamente ocupada tentando resolver a situação.

— Algum problema? Afrodite, por que está escondido aí atrás? – perguntou Shura, juntando-se ao grupo ao estranhar a concentração dos colegas.

— Afrodite? Afrodite está aí??? – perguntou a senhora, com os olhos arregalados e já marejados.

— Mas o que está acontecendo aqui? Como Afrodite poderia estar aqui? Milo, então é você mesmo? – perguntou o duque, nitidamente perdido.

— Milo, o que está acontecendo? – perguntou Athena, repetindo a pergunta do duque.

— Não é nada, senhorita, apenas um desentendimento – respondeu o grego, tentando parecer normal.

— Se você está aqui, Milo, então Afrodite também está! É ele está com você, não é? Eu sei que é! – afirmou a mulher, correndo até Milo e segurando-o pelos ombros – Afrodite, darling, deixe-me vê-lo novamente! – pediu ela, tentando tirar o cavaleiro de Escorpião da frente do sueco, mas não conseguiu movê-lo nem um centímetro.

— Tia, por favor, recomponha-se – pediu Escorpião, finalmente, para a condessa, que já chorava desenfreadamente – Como ele poderia estar comigo? Recebeu a notícia, não?

— Era mentira, eu sei que era! – chorou ela, elevando a voz, entre soluços – Ele jamais deixaria aquilo acontecer, você jamais deixaria aquilo acontecer com ele! Se você está aqui, ele também está, tenho certeza! Eu sempre soube que o veria de novo, tenho esperado-o todos os segundos da minha vida!

— Querida, por favor, vai passar mal novamente...! – implorou o marido, aproximando-se da esposa, preocupado – Milo, por favor, pare com essa brincadeira de mal gosto. Você e Afrodite. Já têm idade para saber o quanto é cruel o que estão fazendo conosco.

— Tio, não é brincadeira. Tia, por favor, acalme-se... – disse Milo, tentado manter a situação sob controle. Aquilo era pior do que um pesadelo.

— Eu só quero rever meu Afrodite! Darling, por favor...! Crian... ças... – chamava a condessa entre soluços até desmaiar, repentinamente.

Saori, o conde, Aldebaran, Camus e Aioria correram ao socorro da senhora e Milo aproveitou a situação para despachar Afrodite dali. Shaka criou imediatamente uma ilusão para não causar tumulto com os demais convidados, mas manteve seus olhos voltados para Escorpião o tempo todo. Viu o amigo sussurrar algo para o suposto inimigo e empurrá-lo para longe dos outros. Acompanhou a corrida do sueco somente enquanto pode manter os dois em seu campo de visão, depois voltou a se concentrar no grego. Milo colocou uma mão na testa, num misto de alívio e preocupação. Depois foi ajudar no socorro da senhora desmaiada.

A condessa foi levada para a enfermaria particular da mansão Kido, seguida por todos os cavaleiros que presenciaram a cena, exceto Afrodite. Ao chegando na enfermaria, Athena ordenou que todos voltassem, menos Milo e Camus. Ela queria um ambiente o mais calmo possível para que Milo pudesse conversar com o conde, pois, depois daquele reencontro, ela sabia que havia muito a que ser dito entre os dois, mas temia que o escorpiano e seu temperamento explosivo pudessem atrapalhar o diálogo. Assim, acreditava que Camus seria necessário para apaziguar uma situação tensa (apesar da recente distância entre os dois, ela sempre soube que o aquariano era quem mais o acalmava).

— Shaka pode ficar em vez de Camus? – perguntou Milo, assim que ela ordenou a volta dos demais.

Camus sentiu como se tivesse sido apunhalado no peito. Sabia que não era mais a pessoa mais importante para Milo e que o grego e o indiano agora estavam juntos, mas doeu ser preterido tão nitidamente. Sentiu ciúmes e inveja de Shaka, que fora escolhido e que poderia entender melhor toda a situação, se é que já não soubesse o que o casal de condes significava para Milo e Afrodite.

— Se você assim preferir, claro que sim – respondeu a deusa. O que seria dito ali certamente era um assunto muito pessoal para Escorpião e, por isso, ela não queria obriga-lo a compartilhar a situação com mais pessoas do que necessário.

Obedientemente, os demais cavaleiros retiraram-se e o médico atendeu a condessa. Devido a seu frágil estado de saúde e ao choque sofrido, ela não resistiu e desmaiou. O conde também explicou que ela tinha acabado de sair do hospital e que fazia já alguns meses que se encontrava adoentada, com supervisão médica diariamente. O médico, então, medicou a paciente e se retirou, deixando os dois cavaleiros, Athena e o conde sozinhos. O conde suspirou longa e penosamente e sentou-se ao lado da esposa. Seus olhos estavam casados, seu rosto demonstrava que perdera quase todas as energias. Milo encarou-o por alguns segundos e, finalmente tomando uma decisão, puxou uma cadeira para sentar-se ao lado do conde. Shaka acompanhou o amigo, encostando-se na parede log ao lado do companheiro. Athena permaneceu mais distante, mas totalmente atenta ao desenrolar da cena.

O silêncio pesou no ambiente, sem que qualquer um dos presentes fizesse qualquer barulho. Passados alguns minutos, o conde finalmente, talvez após pensar no que gostaria de falar primeiro, iniciou seu monólogo:

— Milo, meu filho... – suspirou o duque, como se tivesse falado algo que lhe machucava – Eu não sei o porquê vocês dois fizeram o que fizeram. Não sei, de verdade. Passei os últimos anos da minha vida tentando entendê-los. Todos os dias eu me perguntei inúmeras vezes onde errei e se errei ao deixá-los partirem. Sua tia me falou que era contra vocês irem desde o início, mas eu não consegui proibi-los. Afinal, eu sempre apoiei o filho dos outros a ir.

Milo sentiu o coração ficar pesado e quase teve dificuldades para respirar. Há anos ninguém o chamava de “filho”, há anos não ouvia a voz daquele que, para ele, era mais do que um pai. E, uma década depois da última vez que o vira, assustava-o ver aquele homem tão desgastado pelo sofrimento e pela angústia como estava – por sua culpa, inclusive, independentemente do quanto quisesse culpar apenas Afrodite por aquilo.

— Mas eu realmente acreditava que vocês dois voltariam para nós. – continuou o duque, percebendo que Escorpião não pretendia se manifestar – Vocês eram melhores do quaisquer outros, e eu sempre achei isso porque vocês puderam escolher. A maioria das crianças que embarcavam naqueles navios para aquela vida dura não deixavam nada para trás, pois não tinham nada. E vocês não só tinham o mundo inteiro como também tinham um ao outro. Você sempre teve o que faltava em Afrodite: a sua determinação, sua sagacidade, a malícia para o mundo; e ele sempre teve aquilo no qual você era deficiente: a capacidade de perdoar qualquer um, de amar facilmente e de ver o lado bom de tudo. Vocês dois sempre tiveram aquele forte senso de justiça que eu sempre achei que foi a causa da união de vocês. Vê? Você tinha a força da mente para ultrapassar qualquer barreira e Afrodite tinha a força do coração para evitar que vocês se perdessem no caminho. Isso sempre foi o que pensei.

O grego não conseguiu deixar de pensar na decepção do conde se visse no que Afrodite se transformara. Ou melhor, na decepção com Milo se soubesse no que o escorpiano transformara aquele garoto de coração dócil, justo e misericordioso, mas nem por isso frágil e manipulável. Ah, o que o duque falaria se pudesse ver naqueles olhos azuis do sueco a quantidade de ódio e mágoa que o grego ali injetara?

— Nos anos que se seguiram foi muito difícil para nós ficarmos sem recebermos notícias, mas sabíamos que era o pedágio a ser pago. – falou o conde, resignado – Nada é de graça nesse mundo, você sabe disso melhor do que ninguém. As cartas que mandavam era o que mantinha a tranquilidade do nosso coração, ainda que elas só tenham começado a chegar anos após a partida de vocês. Quando soubemos que vocês estavam novamente juntos ficamos quase tão felizes como éramos enquanto vocês moravam conosco. Achamos que era questão de tempo até podermos vê-los novamente. Compramos uma boa casa aqui em Atenas, o mais perto de onde sabíamos ser o Santuário, apesar de não sabermos a localização exata. Sua tia veio para a Grécia e passou três meses redecorando a casa, para estar do jeito que vocês gostam para quando fossem para lá. Cheguei até a verificar como fazer para ficar o máximo de tempo possível na Grécia, para que pudéssemos ficar o máximo de tempo juntos. Nossos dias eram só felicidade pela expectativa dos tempos difíceis terem passado.

“E aí recebemos o mensageiro que você mandou. Nosso mundo desmoronou ali, no momento em que ele nos passou o seu recado. Achamos que iríamos morrer de dor. Você não imagina o quanto nos doeu, Milo, você não faz ideia! Se fizesse, talvez jamais tivesse mandado aquela mensagem. Mas aí pensamos: ‘peraí, se Milo está bem, Dite está bem também, porque Milo jamais deixaria que algo acontecesse com Dite’. E você certamente estava bem, senão não teríamos recebido um mensageiro em seu nome, mas no nome daquele amigo em comum que vocês tinham. Porque se um tivesse realmente morrido, o outro também teria. Você pode questionar essa informação, é verdade; de fato, nada o impediria de sobreviver e do Dite morrer. Só que sempre sentimos, aqui no peito, que um jamais deixaria o outro morrer, independentemente do que tivesse que fazer. Mas a maior prova de que vocês dois estavam vivos é que, se fosse verdade que só você estava bem, você teria voltado ainda que só para nos contar pessoalmente e estar perto de nós para chorarmos juntos. E você não veio. Esperamos um contato por dias, que você não mandou.

“Tem noção de como eu me senti ao ter que contar para o seu pai que tínhamos perdido você em algum lugar pelo caminho? Já pensou em quanto isso afetou a sua família? Seus irmãos estavam loucos para conhecê-lo, porque quando você foi embora eles eram pequenos demais para lembrar. Seu irmão até dizia que queria ser cavaleiro também! Ele só não seguiu adiante com essa ideia porque a mãe dele não deixou. Você partiu o coração do seu pai, Milo. Lembre-se de que fui eu que o convenci a deixá-lo seguir o seu caminho. Você não sabe o quão mal eu fiquei, quantas vezes eu me culpei por ter destruído sua família. A minha foi minha decisão, minha culpa, minha responsabilidade. Foi meu filho que quis ir embora, foi meu filho que viu o meu apoio à Athena e decidiu dedicar-se à ela. Foi meu filho que eu autorizei a ir. Mas você... Você era uma criança, altamente influenciável. Seu pai o confiou a mim, aí você decidiu dedicar-se à mesma deusa que meu filho. E eu intervim a seu favor. Eu o apoiei, desde o começo. Eu viajei para a França, encontrei seu pai, prometi a ele que o devolveria um homem feito e que ele teria orgulho de ver o homem no qual você se transformaria. E eu... eu não pude cumprir minha promessa.

“Além de ter quebrado a minha palavra, nós perdemos nossa razão de vida sem vocês. Filhos são as coisas mais importantes para os pais, você não tem noção do quanto. Você se lembra de como doeu quando perdeu sua mãe? – Milo assentiu, num movimento quase imperceptível de cabeça, com o olhar fixo no chão – Acredite: perder um filho dói imensamente mais. Dói tanto a ponto de acharmos que vamos enlouquecer.

“Já estávamos quase enlouquecendo e quase perdendo as esperanças quando um dia a Claire simplesmente fugiu de casa. Era algo para ser uma desgraça, mas se transformou na única esperança que guardamos nos últimos dias. Ela disse que nunca chegou à Grécia, mas sabemos que sim. Vocês três eram uma alma em três corpos. Eu podia não saber onde estavam, podia ter revirado a Grécia e não os encontrado, mas, se tem alguém que conseguiria achá-los, esse alguém era ela. Ela era a única que entendia vocês dois como se estivesse olhando para si própria no espelho.

“Veja só como é a vida: ela passou uma semana sem sair da cama, só chorando por achar que os tinha perdido, e então, de repente, desapareceu. Ela não aguentou ficar parada. Ela tinha certeza de que não era verdade. Seus tios, os pais dela, mobilizaram o país para encontrá-la e ninguém a viu. Sabe como ela era, imagine nosso pânico ao imaginá-la sozinha pelo mundo. Ela tinha a inocência do Dite, mas não podia se defender tão bem quanto ele. E aí, tão de repente quanto desapareceu, ela voltou pra casa. E voltou com as lágrimas secas e sorridente. Era óbvio que ela os tinha encontrado, e era óbvio que Afrodite estava bem! Porque não importa o quão bem você estivesse, ela nunca teria voltado ao normal se apenas você estivesse bem. Ela negou todas as vezes que perguntamos, fingiu meia dúzia de choros e crises depressivas, mas sabíamos que ela estava mentindo. E foi essa centelha de esperança de um dia reencontrarmos vocês dois que nos deu forças.

“Toda vez que ela viajava, ficávamos nos perguntando se ela estava com vocês. E isso nos fazia nos questionarmos o porquê vocês se afastaram usando uma mentira tão cruel. Por que aceitaram Claire de volta, mas não nós? As flores e o cartão que você nos mandou nos fizeram ter certeza de tudo o que especulávamos e mais dúvidas sobre o que não sabíamos!

“Sabe, essa incerteza toda fez muito, mas MUITO mal para a sua tia. Pra mim também, mas eu sou homem e consigo lidar melhor com a dor. Milo, querido, espero que nunca tenha que passar pelo que estou passando para entender o quanto encontrá-lo hoje nos fez bem e mal ao mesmo tempo. Imaginei por anos como seria a minha reação, se eu iria falar por horas, passar um sermão, chorar, fazer um mundo de perguntas... Mas hoje eu entendi 100% a reação do pai da Claire quando ela voltou depois de ter fugido: quer saber? Não me importa! Não quero saber o motivo, nem por onde andaram se não quiserem contar, eu só os quero de volta. Quero os dois de volta. – o duque segurou as mãos de Milo com força – Não estou pedindo que larguem a vida que levam, apenas que nos deixem fazer parte dela. Você e Afrodite são minhas amadas crianças e eu só quero poder acordar de manhã e pensar: “hoje vou fazer um mimo para os meus garotos” ou “vou ver o que meus garotos estão fazendo”. Ainda que vocês não tenham muito tempo para nós, que nos reservem apenas um, dois dias por ano, que serão os dias mais ansiados por nós. Por favor, Milo, estou pedindo, não!, estou implorando que você e Afrodite nos deem essa felicidade. Sua tia não aguenta mais tanto sofrimento e eu estou a ponto de sufocar-me. Por favor, Milo, por favor!

Milo ouvira ao monólogo em silêncio. Athena e Shaka permaneceram todo o tempo calados, quase sem respirar, fazendo o possível para passarem despercebidos e não incomodarem. O clima da sala estava tenso e Shaka podia sentir em Milo o quão perdido ele estava. De fato, Escorpião não sabia o que devia fazer ou até mesmo dizer. Devia manter a mentira de Afrodite, devia negar que ainda mantinha contato com Claire, devia contar que se tornara inimigo de Peixes, devia fingir amnésia? Ele não sabia qual das opções seria a “menos pior”. Optara por ficar calado durante o monólogo do conde porque temia dizer algo impensado e acabar metendo os pés pelas mãos.

Ele sabia que Afrodite não voltaria para os pais. Tinha mais certeza disso do que certeza de que ele jamais trairia Athena. Apesar de já terem rompido a amizade na época, quando Peixes decidiu nunca mais ver os pais, Milo logo percebeu a irreversibilidade da conduta e o quanto tal decisão quase matou o sueco. Não precisava estar próximo dele para perceber – e talvez ninguém precisasse. Achou que o cavaleiro iria morrer de tristeza ou, mais provavelmente, desistir da vida. Assistiu-o, em silêncio, se automutilar mais do que quando seu mestre o traíra, a se isolar mais do que quando ele o traíra e, pela primeira vez, vira-o definhar como se só estivesse bebendo água e nada mais. Percebera o quanto o inimigo sabia ser dissimulado, o quanto conseguia enganar os outros, quando nem Shaka reparou o quanto Peixes estava mal. Algumas pessoas nascem com talento para as artes, outras nascem com o talento para lutar e outros nascem com talento para enganar. Afrodite era um mestre na arte da atuação. Milo percebera isso ao observar como ele agia com as pessoas em seu convívio e como os outros o viam. Por fora, parecia sempre ser uma rosa linda e saudável, ainda que, por dentro, não lhe restasse uma única pétala.

Tinha decidido manter distância, não se intrometer, fingir que não percebera o abismo no qual o outro estava e de onde nem tentava se reerguer, mas tropeçou no recente inimigo certa noite e tivera a certeza de que ele não passaria do dia seguinte se nada fosse feito. Seu lado negro festejara a certa morte do rival, enquanto o outro lado sentira uma pontada aguda de culpa. Sabia que sua traição estava intrinsecamente ligada à decisão do antigo amigo de se afastar para sempre dos pais, então não deixava de ser responsável por aquele definhamento. Pensou em Claire e em como ela sofreria com a morte do amado amigo e aí usou a moça como desculpa interna para intervir. Como o duque dissera, ela jamais seria completamente feliz se somente Milo estivesse bem, porque ela amava os dois igualmente. E ela era, naquele momento, a única que poderia trazer Afrodite de volta ao mundo dos vivos. Naquela noite, Milo saiu para a gandaia com Shaka, mas aproveitou um momento ocupado do amigo para correr até um telefone. A moça, então, aproveitou-se de todo o mimo com o qual seus pais sempre lhe trataram para conseguir permissão para visitar a Grécia tão de repente. A princípio, seus pais não a autorizaram porque consideraram a justificativa de “um sonho me disse para eu ir e eu de repente fiquei com vontade de conhecer o Pathernon” muito superficial para que a moça faltasse na escola por três dias (era o tempo que pedira) e gastasse centenas de dólares com a passagem de última hora. Mas ela disse que queria, bateu o pé, chorou e, por fim, trancou-se no quarto, dizendo que ninguém a amava e que ela também não iria mais comer. E o pai, como sempre, demorou trinta minutos para fazê-la sair, já com a mala feita, a passagem comprada e um chofer à espera. Ao contrário do que parecia para quem apenas soubesse desse relato, Claire não era a menina mimada e birrenta que parecia, valendo-se dessas artimanhas raras vezes, somente quando considerava algo importante – e Milo jamais teria ligado e falado para ela ir imediatamente se não fosse urgente e importante.

E poucos sabiam, mas a ligação de Milo realmente salvara Afrodite. Se a moça não o tivesse encontrado no mercado, abraçado-o e ficado ao seu lado, ele não teria, provavelmente, sobrevivido àquele dia. Tudo porque decidira nunca mais rever os pais.

Se após sofrer tanto não tinha voltado atrás de sua decisão, não seria agora, após anos, que voltaria. Mas, com certeza, o fato de tê-los revisto, ali, na mesma mansão, havia-lhe feito mais mal do que qualquer outra coisa poderia fazer.

E no meio disso tudo estava Milo, sem saber o que fazer. Gostava muito dos pais de Afrodite, inúmeras vezes mais do que de seu próprio pai, e tinha muita gratidão por eles o terem aceitado e tratado como se fosse um filho. Ele, uma criança que a maioria dos casais na posição dos pais do pisciniano teria se esforçado em afastar dos filhos, encontrou naquela família o amor, a ternura e a paz que desde a morte de sua mãe ele não experimentava.

Após alguns minutos novamente de silêncio e reflexão, Escorpião levantou-se da cadeira, parou na frente do conde e curvou-se até quase formar um ângulo de 90º entre suas pernas e seu tronco. Shaka, Athena e o duque fixaram os olhares no grego, aguardando sua próxima ação com ansiedade.

— Por ter sido ingrato e uma má influência para o seu filho, eu peço desculpas. Por não ter dado a notícia pessoalmente, eu peço perdão. Sinto muito por muitas coisas que eu fiz e espero, de coração, que minhas ações não sejam mais tão prejudiciais a vocês. Infelizmente, o Afrodite que vocês conheceram não existe mais, e não me eximo de parte da culpa por isso. Por isso, peço sinceramente que me desculpem! – suplicou Milo. Retornando à posição ereta, continuou – Mas tenho certeza de que, se ele estivesse aqui, o que ele mais desejaria é que vocês conseguissem ser felizes e que, onde quer que ele esteja, ele certamente pensa em vocês todos os dias. E eu espero que consigam encontrar paz e tranquilidade daqui pra frente, sabendo que todas as escolhas que o Afrodite fez foram muito ponderadas e refletem o que ele acreditou ser o melhor. Sinto também por não poder me comprometer a lhes fazer uma visita, ainda que de um ou dois dias por ano, mas quero que saibam que, enquanto eu estiver vivo, sempre pedirei aos rezarei pelo melhor para vocês. Por vocês, pela Claire e por todo mundo que Afrodite e eu acabamos deixando quando partimos para lutar pelo que acreditávamos. Se julgarem apropriado, peço que mandem lembranças minhas à Claire, sabendo que, diferentemente do que imaginam, não mantenho contato com ela há mais de uma década.

— Então, é assim que vai ser...? – murmurou o duque, já sem forças para contestar – Você vai continuar negando e mentindo, e nós vamos continuar fingindo que estamos vivendo...

Apesar de ter mantido a compostura durante todo o seu monólogo, as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto já tão cansado do conde. Milo repetia a si mesmo que ele não tinha o direito de destruir mais ainda aquela família, então tudo o que podia fazer era levar adiante a mentira de Afrodite, aguentar a própria dor e sair da vida do duque e da duquesa. O que mais ele poderia fazer? Qualquer outra resposta faria com que ele tivesse que explicar o que acontecera entre ele e Peixes, o que só traria mais dor ao casal, além da impressão de terem sido friamente rejeitados pelo próprio filho, pois Peixes não voltaria a se encontrar com os dois. Assim, tendo tomado sua decisão, Escorpião curvou-se novamente, pediu perdão mais uma vez, e perguntou a Athena se já poderia ir. A deusa consentiu e os dois cavaleiros dirigiram-se à porta, enquanto o duque ainda chorava.

Shaka colocou a mão no ombro de Milo, quando o amigo foi abrir a porta para saírem, e reparou que ele tremia suavemente, mas tentava manter a expressão de indiferença a tudo o que tinha acontecido naquela noite. Escorpião sabia que havia portas na vida que, uma vez ultrapassadas, não podiam ser cruzadas novamente. Independentemente do remorso que a ultrapassagem pudesse causar.

oOo oOo oOo

Milo e Shaka, após serem “dispensados” por Athena, voltaram para a festa, por mais que preferissem voltar para casa e não enfrentarem a avalanche de perguntas que certamente os estava esperando. E, como imaginaram, mal saíram da enfermaria e encontraram Aldebaran, Aioria, Camus, Mu e Shura na porta, não só aguardando novidades frescas, mas também porque era onde sua deusa estava. “Imagina!”, exclamou o brasileiro, “não estamos montando guarda aqui esperando por vocês, mas sim porque Athena está lá dentro e devemos ficar por perto; maaaaaaas, aproveitando que estamos todos aqui, Milo, será que pode nos explicar o que houve há pouco? Porque eu estou boiando!”. E começou a perguntar, apesar dos olhares de repreensão de Mu e de Camus, pois tinham combinado que ninguém perguntaria algo, pelo menos não naquela noite. Mas o cavaleiro de ouro queria saber se Milo era mesmo sobrinho daquele nobre casal (era condes, por Zeus! Parentes diretos do rei da Suécia!), se eles eram parentes de Afrodite, por que Peixes simplesmente desaparecera, por que o casal parecera tão surpreso ao rever Escorpião, o que ele pretendia fazer agora...

— Deba, olha, na boa, podemos conversar mais tarde? – perguntou Milo, fazendo o possível para parecer o mais normal e amigável possível, já que Touro era um dos cavaleiros que ele mais queria bem ali no Santuário – A Srta. Kido falou para Shaka e eu aproveitarmos a festa, então, como não sabemos quando teremos outra “folga”, eu quero é encher a cara e relaxar essa noite! It’s party time, baby! Você fica com a Srta. a partir de agora?

— Claro, claro! Deve ter sido muito puxado para você, um turbilhão de emoções. Deu pra sentir a tensão no ar também. Vá, vá. Nos vemos mais tarde, talvez amanhã no Santuário. Pode beber até desmaiar que a gente dá conta do recado, ainda que algo aconteça, né, cambada? Se bem que acho que champanhe não te derruba, mas quem sabe depois de ultrapassar uma dezena de litros, né? Mas... está tudo bem mesmo com você, Milo? Precisa de algo?

— Que isso, cara, estou bem, sim. Nada com o que se preocupar.

— Ok, ok, então vão se divertir, vocês dois! – disse Aldebaran, tentando parecer animado. Os dois mal tinham dado o primeiro passo para longe do grupo quando Saga surgiu, após um tempo sumido.

— Shaka, pode dar uma mão aqui? – perguntou o cavaleiro recém-chegado.

— Claro. Algum problema? Algum Santo foi visto pela redondeza? – perguntou Virgem, preocupado.

— Não, é com Afrodite. Vocês são amigos, então acho que você vai ter mais resultado do que eu.

— O que houve com ele? – perguntaram, simultaneamente, o indiano e Aldebaran.

— Esse é o ponto: eu não sei. Mas ele passou por mim mais de uma hora atrás e parecia estranho. Fui atrás dele, mas ele se trancou no quarto e não sai e nem responde quando tento falar com ele. Se ele está com algum problema, você, Shaka, deve ser o mais indicado para falar com ele.

— Posso ir também? – perguntou o taurino – Se eu puder ajudar em algo...

— Alguém tem que ficar comigo e com a Srta. Kido. – interveio Camus, sempre preocupado com as responsabilidades acima de tudo.

— Eu fico – prontificou-se Shura – Não estou em bons termos com ele nas últimas semanas, ainda não perdoei aquela traição, então eu não iria lá de qualquer jeito para ver se ele está bem.

— Athena não o puniu, não considerou aquilo uma traição. Não deveria falar dessa forma. – repreendeu-o Saga.

— Que seja. Não muda o fato de eu não estar em bons termos com ele. Vão, vão. Ou melhor, vá quem quiser.

— Eu ficarei também. – disse Aioria – Não é bom baixar a guarda e deixar a Srta. Kido com pouca proteção. Mas depois me contem como ele está.

— Eu acho que deveríamos ir Saga, Shaka, Camus e eu – opinou Aldebaran – O Shaka e eu somos amigos dele e Camus sempre teve mais influência sobre ele do que qualquer outro de nós. Se for muita gente vai acabar mais tumultuando do que ajudando, e aí sim ele pode acabar ignorando a gente. Quero dizer, quando estamos mal não queremos uma montoeira de gente, não?

— Eu fico aqui no lugar de Camus – disse Saga – Como falei, já fiz o que poderia ter feito e ele não me ouviu. Também acho que vocês três são ideais para irem. Camus, você se incomoda?

Aquário deu de ombros. Preocupava-se com Peixes, mas, no fundo, queria mais era saber como Milo estava. Ele podia ter transado com Afrodite algumas vezes, mas o carinho que sentia por ele em pouco superava o coleguismo e a amizade que sentia por Aldebaran e Mu, por exemplo. Também não sabia se seria de boa ajuda, pois a última vez que estivera sozinho com o sueco fora humilhantemente rejeitado, então não sabia se sua tal “influência” continuava intacta.

Shaka, antes de ir com os dois cavaleiros, olhou para Milo, preocupado em deixa-lo. Escorpião fez sinal para que o virginiano fosse, que não se preocupasse. De fato, o grego parecia muito bem, inabalado pelo episódio. Virgem foi, então, rapidamente ao encontro do amigo, que deveria estar acabado após rever os pais. Será que Saga também sabia que os condes eram pais do pisciniano? Ainda bem que ele participara da conversa entre Milo e o casal de suecos, pois agora podia entender melhor o quanto o reencontro devia ter afetado o outro amigo. Finalmente viera a saber mais sobre o tal passado dos dois amigos, ainda que a narrativa tivesse sido unilateral por parte do pai de um deles.

O palácio em que ocorria a festa era próximo da entrada do Santuário, propositalmente, pois permitia que a Srta Kido mantivesse uma agenda como a única herdeira da família Kido e sua já não tão nova vida como deusa Athena. Ainda assim, a ida até à Décima Segunda Casa não teria sido muito rápida se não fossem cavaleiros de ouro. Ao chegarem ao seu destino, encontraram dois dos servos de Afrodite preocupados com o mestre, de plantão na frente de sua porta.

Primeiro, Shaka, depois Aldebaran e, por último, Camus, os três fizeram suas tentativas de fazer com que Afrodite ao menos desse sinal de vida, todas sem sucesso. Virgem ficou frustrado. Tentou, então, obter resposta ao falar que tinha conversado com o casal de condes e Milo e queria conversar com o sueco, mas o cavaleiro não se manifestou. Depois de mais de meia hora tentando, Aldebaran e Camus já estavam quase desistindo e voltando para junto de Athena quando, surpresos, viram Milo chegando na última Casa do Zodíaco.

— Shaka – chamou Escorpião, enquanto se aproximava da porta onde Virgem esperava um sinal de Afrodite – Não me espere em casa essa noite, ok?

Por mais que os três soubessem que Milo, certamente, sabia muito mais do que se passava na cabeça do pisciniano do que qualquer outra pessoa, nenhum deles acreditou que o grego poderia ter sucesso e ser atendido por Peixes, pois nos últimos anos um nunca fora visto consolando o outro e eram inimigos declarados – e, do jeito que parecia estar o sueco, a última pessoa do mundo que ele gostaria de ver seria um inimigo.

— Öppna dörren, Aphros – ordenou Milo – Det är jag.

Alguns segundos se passaram sem sinal, mas, logo, para a surpresa dos demais cavaleiros presentes e dos servos de Peixes, ouviram a porta ser destrancada. Antes do escorpiano colocar a mão na maçaneta, Deba, literalmente de queixo caído, fez sinal de que tentaria entrar também.

— Não, Deba – disse Milo, colocando o braço nocaminho do taurino – Dessa vez, não. Eu vou sozinho.

Milo abriu a porta o mínimo possível, de modo a permitir apenas sua justa passagem, e, já dentro do quarto, trancou-a novamente. Os três cavaleiros de ouro ficaram ali, parados, por mais alguns segundos, incrédulos, tentando abstrair o que estava acontecendo.

Aldebaran estava confuso porque sempre acreditara que os dois não se suportavam, mas agora não tinha tanta certeza se eles realmente se odiavam. Shaka estava perplexo por ter sido ignorado e por Milo ter sido aceito; não que ele não desejasse que os dois reatassem os laços, mas sentiu ciúmes da cumplicidade que eles pudessem resgatar e medo de ser deixado de lado. Camus, por sua vez, sentiu um incômodo no peito como jamais sentira, parecido com o incômodo de quando viu Milo e Afrodite “treinando”, semanas antes, e percebeu a proximidade dos dois.

Um mal presságio recaiu sobre Aquário, tão forte que parecia sufocá-lo. De todas as pessoas no mundo, a última que queria que se aproximasse de Milo era Afrodite. Não sabia o motivo, mas, definitivamente, aqueles dois não podiam reatar a amizade.


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Notas finais do capítulo

Nem vou me desculpar mais pela demora em postar porque já virou lugar-comum. Fiquei empacada nesse capítulo por quase dois anos, é sério! Apesar de ter escrito 80% dele ainda em fevereiro de 2012, faltava interligar umas ideias e eu ainda queria fazer umas alterações... Aí, como estava muito demorado, pulei pro capítulo 11, o capítulo 11 ficou pronto, comecei o 12 e o 10 ainda estava parado... Aí cansei da demora, decidi que de hoje não passava e terminei. Não ficou como eu queria, mas é página virada!
Finalmente uma parte do passado do Milo e do Afrodite começa a ser esclarecido! Demorou, mas chegou a hora. E eu estou com a impressão que o Camus, que era o 2º protagonista, está ficando em 4º lugar, ahaha! Daqui pra frente, então...! Enfim, só falta ajeitar o título do próximo capítulo e vou agendar aqui pra lançar ainda esse mês (seria vergonhoso demorar mais só estando faltando o título).
Mais uma vez, obrigada a todos os que leem, leram e/ou pretendem continuar lendo essa fic! Vou postando a passos de tartaruga, mas quem persiste chega ao fim, ehehe!



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