Segredos Meus escrita por Rella


Capítulo 4
Capítulo 3




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Capítulo 3


- Amo! Eu ainda a amo, mãe. – Michael estava tenso ante aquela situação. As notícias não mentiam, e seus sentimentos também.


Sra. Katherine se inclinou para frente tomando as mãos de Michael para si. Mirou-o.

- Mas já se faz tanto tempo...

- Não importa o tempo! Ainda sinto o mesmo. Essa é a verdade.


Ela olhou para o jornal próximo a Michael.

- E Tatum?


Ele se ergueu, levando a mão aos cabelos.

- Eu gosto dela, mas...


Pausa.

-Não é o mesmo. – Concluiu Katherine.


Michael se aproximou deitando a cabeça no colo de sua mãe. Nada disse. Precisava apenas de um aconchego de alguém especial.

Katherine beijou-lhe os cabelos ao tempo em que o acariciava no braço, suavemente.

- Meu filho. – Ela murmurou rente ao ouvido dele.


Michael esboçou um sorriso, sentindo o peito esquentar e o perfume almiscarado dela, próprio de mãe.

- Minha mãe.


As lembranças vieram à tona, tendo Michael ali tão próximo como nos dias em que era preciso embalá-lo, cantarolando uma canção qualquer para que dormisse.

Recordara de quando conhecera a garota de olhos cintilantes e inspiradores.

No início, ninguém além da família podia assistir o ensaio do grupo Jackson 5. O pai, Joe, tinha o receio que plagiassem algo.

Michael já estava muito próximo da pequena Allie, confidenciando sempre as suas aventuras em cada apresentação que fazia na cidade e, fora dela. Allie, excitada, com as suas fantásticas narrativas, pedira:

- Me deixaria assistir seu ensaio?


Aquele sorriso que lhe preenchia os lábios juvenis era tão doce, sendo capaz de logo após um pedido, nunca receber um não. Michael precisou pensar, não havia dúvidas que Joe seria contra.

- Allie, não sei se posso.


Ele viu-lhe o sorriso esvaecer.

- Ora, por quê?


Naquela mesma tarde, Allie se encontrou sentada no sofá surrado na casa da família Jackson, presenciando o soar
de uma das mais tocantes vozes que já ouvira na vida.

Tivera sorte, pensava Katherine. Os garotos iniciaram o ensaio sozinhos já que o pai tivera que chegar mais tarde de um de seus dois empregos.

Joe nunca vira Allie, porém já ouvira sobre ela nas madrugadas em que dormiam em hotéis após os shows. Os irmãos de Michael o assediavam dizendo que estava namorando. Mas não era verdade, pelo menos até aquele momento.




- Está magnífica!


Allie sabia que não estava magnífica, e mesmo assim, sorriu retribuindo o educado elogio.

O moço ofereceu o braço, cortês, e ela aceitou caminhando assim para alguma mesa vazia no vasto salão.

O baile estava agitado com aquelas músicas dançantes da época. Anos 80.

Lessie se acomodou na mesa de Allie junto ao
seu par. Eles pareciam se divertir a cada brindada que davam nas taças. Já deviam estar bêbados. O parceiro de Allie, Alfred, dizia-se ser judeu. E talvez era o que o levasse a ser tão sério. Tinha longas pernas e não parava de ajeitar a franja que insistia em cair nos olhos. Allie o achava tímido, e talvez um tanto aparvalhado por ser tão alto. Mal se falavam.

- Vocês estão assim de ir dançar conosco?


Alfred e Allie se entreolharam. Ela estava para responder quando ele a interrompeu:

- Oh, não. Vão vocês e divirtam-se!

- Allie? – Indagou Lessie, percebendo a sua expressão de desaponto.

- Está tudo bem. – Mentiu.


Kim não demorou a surgir com Jonh. Afastaram as cadeiras e se sentaram. Kim permanecia agarrada ao braço dele com um sorriso indisfarçável. Se serviu com a taça de vinho intacta de Allie.

- Algum problema, All? – Tomou um gole. – Não parece estar se divertindo.


Não estou.


- Claro que estou me divertindo! O baile está lindo e...


Kim se aproximou para beijar os lábios de John. Mas ele se esquivou tomando a taça de Kim, e emborcando-a na boca, desesperado. Não parecia nada confortável junto a ela.
Allie ficou imóvel por um instante, espantada. Se prontificou a buscar mais bebida quando Alfred se ofereceu em seu lugar.

- Fique. - Ele desviou o olhar a John, desconcertado. – Eu trago mais bebida.


Quando voltou, ele se aparvalhou ao deixar as taças na mesa, fazendo uma rolar sobre o vestido de Allie. Ela se levantou segurando a parte manchada de vinho, incrédula.

- Hã... – Alfred não sabia o que dizer. – Desculpe.


Allie apenas olhou-o. Saiu.

- E-eu posso levá-la até...

- Não! - Por pouco não gritou. - Esqueça. Eu vou me limpar.


Alfred voltou a se sentar. John se remexeu na cadeira, inquieto.

- O que há com você, John? – Perguntou Kim.

- Eu... – Ele se erguia. – Vou trazer as bebidas.

- John... – Kim estava prestes a implorar para que ele ficasse, segurando-o pelas mãos.

- Espere aqui.


Allie se encontrava próxima ao banheiro quando sentiu dedos lhe apertarem o braço. Olhou para a mão antes de se voltar à pessoa.

- John? – Ela quase precisou gritar por estarem muito perto da pista de dança.

- Allie... – A voz embargada. – Eu preciso falar com você.

- Está bem. Só espere eu...

- Não posso.


E Allie se descobriu de olhos abertos em um beijo. John a estava beijando, entrelaçando os dedos em seus cabelos, agora desalinhados.



Fevereiro, 1978


- Deus, estou atrasada!


O relógio não mentia. Allie desceu apressada os lances de escada com os livros nos braços e os cabelos soltos mal escovados.

Atrasada! Atrasada!


Voou para fora do internato. Seria o seu primeiro dia na universidade. Chovia, e tinha pressa demais para subir e
procurar um guarda-chuva. Correu para a aula.

- Está atrasada. As aulas começam às 8:00m e não às 8:10m. Se quiser entrar, espere a próxima aula.


Ótimo!, pensara ela, irônica. Nem um "bem-vinda" havia recebido ainda.

Quando o sinal tocou, Allie adentrou a sala se acomodou próximo as janelas. Suas roupas ainda estavam úmidas.

- Seja bem-vida! – Escutou, sem entender. Alguém se sentou na carteira à sua
frente.

– John Gambone. – Estendeu a mão. Allie apertou. – E você?

- Oh – Ela sorriu, nervosa. – Allie. Allie Holmers.

- Tome. Vista isso. – Ele se desfez do próprio agasalho. Ofereceu-o. – Não seria nada bom adoecer. Temos muitos seminários para esse ano!


Allie riu, simpática.

- Está brincando! Eu não posso aceitar.

- Claro que pode e... – O professor havia chegado. – Nos falamos mais tarde. – Falou baixo e com pressa.


Estudaram por exatos quatro anos. John era um aluno exemplar. Gentil, simpático... um sonho para qualquer garota. Menos para Allie.

Será?


- Mas que está fazendo?


Allie arfava, tentando se recompor.

- Quer saber? Eu não sei. – Confessou John. – Não sei mesmo.

- Nem eu.


Ela o agarrou pelo colarinho, beijando-o avidamente.


Michael e Tatum O’Neil?


Allie deixou-se levar e subiram para o quarto. Uma estranha urgência os acompanhava. Deitaram-se. Beijaram-se.

Ela abriu os olhos enquanto o sentia percorrer seu pescoço, e deparou-se com o porta-retrato de Michael. Allie percebeu as mãos dele explorá-la e foi como se voltasse ao tempo, naquela primavera de 1976, onde via e sentia as mãos de Michael, delicadamente, desbravando e acompanhando as linhas de seu corpo. Onde ele, descobria pela primeira vez a mulher em sua natureza. Ela podia se lembrar das respirações conjuntas e tensas, do roçar singelo dos corpos,dos beijos dele contra a sua pele... de Michael.

Afastou John.

- Eu não posso.


Quando percebeu que a próxima rosa não viria mais, guardou a última em um livro.


Já se fazia cincos anos que terminou, mas o sentimento ainda era vivo para ela.


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