Camilla não parava de olhar para o anel. Toda hora pedia para ver. Nathan foi nos visitar e ela jogava indiretas para ele e apontava para o meu dedo. Passei a tarde no computador, pesquisando pelas músicas que tocaram na festa. Agora eu tinha facebook. Ethan excluiu seu MySpace e nunca mais falei com ele desde então. Descobri que a boyband que tocava, era uma chamada One Direction. Não pesquisei muito sobre, mas ouvi alguns singles. Deixei de lado e gritei por Pedro. Começamos a pesquisar por móveis em lojas online e Camilla nos ajudou a escolher algumas coisas. Compramos uma cama de casal, geladeira e fogão. De presente, Pablo pediu para que escolhêssemos uma televisão.

Nos mudaríamos, de fato, no próximo mês. Fevereiro. No prédio, nos conhecem por Olívia, Emilia e Lucas. Mas Camilla contou tudo para sua amiga Helo, que prometeu não contar para ninguém. Estava se tornando frequente as visitas de Nathan no apartamento. Confesso que ele não me agradava muito. Só tinha camisa de banda de rock. Acho isso muito legal, mas suas atitudes não muito. Talvez, porque foi criado apenas pela mãe e avó, ele seja mimado. Acho que ele nunca penteou aquele cabelo. Sua pele não era nem branca demais ou morena. Digamos que, amarela. Seu perfume era forte demais. Ele ia embora e o perfume ficava por quase duas horas. Ele só usava seu all star preto. Nunca o vi com outro tênis ou calçado. Ou nunca reparei também. Ele vivia dizendo que o tipo de boate a qual Pablo agora era dono, era para pessoas fúteis, que não sabem o que é cultura. Pablo apenas ignorava. Afinal, ele continua ficando rico. Com pessoas sendo fúteis ou não. Apesar de tudo, ele era um cara romântico, devo admitir. Vinha com poemas para dedicar a Camilla, que pouco se importava. Ele tocava violão, o que me fez lembrar do Teddy. Fazia tempo que ele não passava pela minha cabeça, mas Nathan me fazia lembrar dele. Só por tocar violão mesmo.

Já era Fevereiro. Terminamos de arrumar todo o nosso apartamento no dia 17. Camilla se trancou em seu quarto. Ela parecia muito feliz. Ela e eu que pintamos o quarto de roxo e branco. No seu aniversário, em janeiro, Pablo deu um notebook para ela e agora aquilo era seu novo mundo. Ficou trancada por horas naquilo dentro do seu quarto. Era sexta e Pedro foi com Pablo para a boate. Fiquei sentada no sofá, lendo um livro. Antes que meu sangue se transforme em álcool. Era bem interessante. Na metade do livro, ela falou sobre seu verdadeiro amor, o qual perdeu para o destino. O que me fez vagar nas memórias de Framlingham e lembrar que 17 era aniversário do Teddy. Comecei a sentir um aperto em meu peito. Eu me perguntava, como eu havia esquecido de tal data.

“Você simplesmente não vai acreditar!” –Camilla disse, com seu notebook na mão.

Fechei o livro e arrumei minha postura. Encostando completamente minhas costas no sofá. Camilla se sentou ao meu lado e no youtube tocava Moments, da boyband inglesa. Eu ouvi a música sem entender o que Camilla queria com isso. Me apaixonei pela música. Era um som calmo com sentimentos intensos. A música acabou e Camilla ficou me encarando com um largo sorriso.

“É... é uma linda música.” –Eu disse.

“E?”

“E... gostei.”

“E?”

“Não sei, Camilla. O que quer com essa música?”

“Pesquise quem a escreveu.”

Olhei desconfiada para ela e Camilla colocou seu notebook, quente, sobre meu colo. Abri um site de busca e procurei pela música. Fotos de Teddy com um dos integrantes da banda, começou a aparecer. Olhei para Camilla e ela começou a afirmar com a cabeça.

“Ele agora é um astro!” –Ela disse.

Desci a página e mais fotos iam aparecendo.

“Agora você vai querer ele de volta, né?” –Ela disse, cutucando meu braço esquerdo.

Fechei o notebook e o devolvi para ela. Peguei meu livro e o abri na página que estava marcada. Pedi para Camilla voltar para o quarto. Ela foi, resmungava algo que eu não compreendi. Encarei a página 120 do livro e nada li. Aguardei a porta do quarto se fechar e junto com ela, fechei o livro. Levei minhas mãos a cabeça e por um momento, sorri. Era orgulho. A lembrança do jovem Teddy apresentando suas músicas para mim, me fazia querer chorar. Ainda não sabia se de tristeza ou felicidade. O som da banda inglesa era abafado pela porta fechada do quarto de Camilla. Mas dava para compreender. Era a mesma música que eu havia escutado na Low Club. You don’t know you’re beautiful. Era a única frase que eu havia gravado, de fato. Já passavam das onze da noite.

“Ele tem um twitter!” –Camilla disse.

Ela voltou com seu notebook. A página laranja do twitter do Teddy estava aberta. Eu não estava entendo por que Camilla queria isso. Eu estava tão bem com Pedro. Estamos escolhendo a data para nosso casamento e Camilla me faz lembrar do meu ponto fraco.

“Cria uma conta e segue ele.” –Ela disse.

Neguei com a cabeça. Levantei do sofá e Camilla também.

“Olha, eu já segui ele. Não o vi responder ninguém, mas talvez ele te reconheça!” –Camilla disse, empolgada.

“Já disse que não.”

“Tudo bem.”

Camilla voltou para seu quarto. Eu sabia que se voltasse a manter um contato com Teddy, minha relação com Pedro iria por água abaixo. Claro que amo Pedro, mas meu amor pelo Teddy era algo diferente. Acho que mudará nunca. Mas eu queria ao menos saber da sua vida. Se isso valesse estragar a minha. Me sentei no sofá de novo e tentei o livro. Mas acho que li a palavra “ele” cinco vezes. Até que desisti do livro.

Acordei com algo quente tocando meus lábios. Abri os olhos e era Pedro. Ele ainda cheirava ao seu perfume, ainda parecia arrumado e não aparentava estar bêbado. Quando notei, estava dormindo no sofá. Me sentei e puxei o braço direito de Pedro. Olhei no relógio em seu pulso. Eram 4:07. Olhei para ele e sorri. Ele se sentou ao meu lado e contou sobre uma briga que teve na boate. Confesso que não prestei muita atenção. Comecei a imaginar como ele reagiria ao saber que Camilla havia encontrado maneiras de eu falar com Teddy novamente. Além disso, ele agora era famoso. As vezes eu afirmava com a cabeça e falava “Nossa”. Quando a história enfim acabou, Pedro se levantou e beijou minha cabeça e caminhou em direção a cozinha. Fui no quarto de Camilla e ela já estava dormindo. Deixamos uma parede em branco, para Camilla colar, desenhar o que quiser. E lá já tinha rabiscado, “1D”. Fechei a porta e vi Pedro voltar da cozinha comendo um sanduíche natural.

“Vá dormir. Parece cansada.” –Ele disse, com a boca cheia.

Afirmei com a cabeça e dei um selinho nele. Fui ao banheiro e escovei meus dentes. Fiquei olhando para o meu reflexo no espelho e eu podia ver uma pessoa confusa. Meus olhos estavam fundos. Joguei a água gelada em meu rosto e me olhei no espelho novamente. A água percorria o meu rosto e caia na pia, ao poucos. Peguei a toalha vermelha, pendurada ao lado do espelho. Enxuguei meu rosto, mas não conseguia desgrudar meus olhos do meu reflexo. Começou a passar pela minha cabeça que eu estava enganando o Pedro. Mas isso não estava acontecendo. Deixei Framlingham de lado já para evitar isso. Sinto algo muito especial por Pedro. Chamaria de amor. Já imaginei meu futuro ao lado dele, que simplesmente foi apagado pela lembrança de Teddy. Fui para minha cama. Não preciso dizer que não dormi direito.