Folhas De Outono escrita por Sheeranator Mafia


Capítulo 76
Uma ligação




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“Ele sabe que estamos escondendo alguma coisa.” –Sussurrou Camilla.

Teddy era inteligente o bastante para perceber que meu tom de voz não era o mesmo que ele conhecia. Como eu queria poder ligar para ele, mesmo que fora por segundos. O mais importante agora era ligar para a polícia, mas eu nem ao menos sabia onde estava.

“Você conseguiu ver alguma coisa do caminho?” –Perguntei a Camilla.

Ela negou com a cabeça e secou suas lágrimas. Parecia que Camilla não entendia muito bem o que estava acontecendo. Talvez o fato de estar comigo, parecia que tudo estava bem. Não estava. Me levantei e sussurrei para Camilla.

“Vou ao banheiro.” –Eu disse.

Caminhei até a porta e dei três batidas na porta. Quilômetro a abriu. Tínhamos um código. Esse era para banheiro. Eu não queria ficar gritando sobre as minhas necessidades. Quilômetro ficava sentado no inicio do corredor e dava para ver a porta. Segurando meu braço direito, me conduziu até o banheiro. No caminho até o mesmo, pude ver o telefone na sala, próximo a televisão. Entrei no banheiro e fiz o que tinha que fazer, mesmo não estando com vontade. Depois, analisei cada detalhe do basculante. Parecia impossível quebrar aquilo sem fazer barulho. Quilômetro bateu na porta. Eu não poderia demorar mais de cinco minutos. Durante o caminho de volta, decidi conversar com ele.

“Qual seu nome?” –Perguntei.

Ele permaneceu calado e me empurrou para dentro do porão e rapidamente trancou a porta. Talvez fosse um nome feio. Camilla estava mexendo no meu celular. Acho que não estava tão bem escondido quanto eu imaginava. Ela tentava ligar e ele não ligava. Ela começava a bater nele. Tomei o celular de sua mão e o coloquei de volta onde estava escondido. Onde eu achava que estava escondido.

Como eu já disse, não tenho uma religião mas gosto de acreditar em Deus. Estranho são as pessoas culpá-lo por tudo de ruim que acontece no mundo. “Por que Deus deixou isso acontecer?”, “Se o seu Deus existe, por que ele deixou essa pessoa morrer?”. As pessoas dizem não acreditar nele, mas quando tudo dá errado, culpam Ele por suas ações erradas. Eu pareço uma religiosa falando assim, mas só lembrei Dele porque pela janela, pude ver Luiz estacionando seu Gol antigo. Na traseira, próximo a placa, havia um adesivo escrito “Deus é fiel”, ele não é o tipo de pessoa que eu acho que acredita em Deus.

Quilômetro abriu a porta e deixou no chão, um prato de comida e dois copos de suco de maracujá. Ele logo fechou a porta e Camilla e eu fomos lá pegar a comida. Arroz, Feijão carioca, salada e frango. A comida estava realmente muito boa.

“Vocês podem ligar para alguém.” –Disse Cristina entrando no porão.

Me levantei rapidamente.

“Teddy!”

“Ana!”

Camilla e eu falamos ao mesmo tempo. O sorriso que ela tinha no rosto, talvez imaginando uma conversa ao telefone com Ana, sumira. Corri até Cristina e ela nos levou até a sala.

“Nada de falar em polícia, me salvem, essas coisas que vocês estão imaginando.” –Disse Cristina.

Ela me deu o telefone e ficou sentada ao meu lado. Disquei os dois primeiro números de Teddy, mas olhei para Camilla sentada no sofá oposto.

“Qual o número da Ana?” –Perguntei.

Camilla abriu um sorriso e começou a dizer os números. Disquei e quando começou a chamar, passei para ela. Camilla ficou em pé na minha frente e não parava de sorrir. Eu só consegui ouvir o que Camilla dizia.

“Ana...estou bem... hum-hum... sim... estou comendo... hum-hum...hum-hum... não... não sei... ela está aqui... na minha frente...sim... vou passar pra ela... estou bem sim...tá... tá bom...tchau.” –Camilla passou o telefone para mim.

“Ana?” –Atendi.

Antes que ela respondesse, Cristina tomou o telefone de minha mão e o desligou. Ela se levantou e se retirou da sala. Camilla e eu ficamos observando Cristina se afastar e sumir nos corredores.

“O que Ana te disse?” –Perguntei a Camilla.

“Onde a gente tá, se estamos comendo bem, se estamos sem mal tratadas e um monte de coisa.” –Camilla disse colocando seu cabelo atrás da orelha.

Quilômetro deixou que ficássemos na sala por um tempo. Estava bem mais fresco do que o porão. Um garoto negro passou correndo em frente a janela e Camilla correu para ver. Me levantei e fui até a janela. Ele havia pulado o muro para pegar uma pipa que caiu no quintal de Luiz. Ele passou pela janela novamente e ficou nos encarando. Um menino começou a gritar por ele e ele voltou a correr. Ele aparentava ser alguns anos mais velho que Camilla. Talvez onze anos. Ela agora tinha nove. Ele era bastante magro, mas tinha uma barriga um pouco grande. Era alto também.

Sobre a mesa, próximo ao telefone. Havia um pequeno bloco de anotações e uma caneta. Camilla foi distrair Quilômetro e eu arranquei três folhas e do bloco e peguei a caneta e escondi na cintura.

“Yolanda!” –Disse Quilômetro.

Gelei. Virei lentamente para ele e Camilla já estava ao seu lado. Tentei disfarçar.

“Volte para o porão.” –Ele disse.

Meus ombros caíram aliviados. No porão, mostrei a Camilla o que eu havia conseguido pegar. Acho que ela não entendeu muito bem. Escrevi o endereço e o nome de Mary e Ana no papel.

“Vou aguardar aquele menino passar aqui de novo.” –Eu disse.

Dobrei os papéis e os escondi em meu sutiã. A caneta guardei junto com o celular. Toda hora eu olhava pela janela e nada do menino aparecer.

“Por que não pergunta onde estamos?” –Camilla perguntou.

Até que fazia sentido o que ela havia dito, mas talvez o menino poderia responder isso quando eu mostrasse o papel a ele. Me sentei na escada e Camilla decidiu dormir. Queria não me preocupara que nem ela, mas eu estava fazendo o papel de irmã mais velha, eu que tinha que arrumar uma solução para tudo que estava acontecendo.

Passaram-se quatro horas, mais ou menos, e o menino voltou. Novamente para pegar uma pipa. Subi nos caixotes e comecei a bater no vidro da janela. Ele demorou para identificar o som e enfim, olhou para mim. Lutei para tirar o papel do sutiã e o desdobrei e estiquei contra o vidro. O menino olhou para os lados e se aproximou lentamente. Ele se agachou e leu o papel. Negou com a cabeça.

“Não sei onde fica.” –Ele disse.

O vidro dificultava um pouco a conversa.

“Onde estamos?” –Perguntei.

Ele não entendeu.

“Onde estamos?” –Aumentei um pouco o tom de voz.

Ele ainda não havia entendido. Fui falando pausadamente. Eu não poderia aumentar a voz, Quilômetro me escutaria. Desci os caixotes e peguei a caneta no buraco. Escrevi no verso “Onde estamos?” e voltei para a janela.

“Angra dos Reis.” –Respondeu o menino.

“Me ajuda.” –Eu disse.

O menino fez o mesmo sinal que eu fiz para que ele esperasse. O esperei. Ele saiu correndo com a pipa e demorou para voltar. Aliás, ele não voltou mais.



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Notas finais do capítulo

Como passaram o Natal? Espero que bem.
Feliz por ainda estarem acompanhando a fanfic e garanto que em breve, coisas fofas vão acontecer, aguardem.
Obrigada por ler. Eddictedhoran. Jenny.



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