Folhas De Outono escrita por Sheeranator Mafia


Capítulo 65
Dezembro 26, 2005.




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“Olha, Teddy, não quero conversar sobre o universo em que vivemos agora, é meu aniversário.” –Eu disse. –“Vamos comer o bolo.”

Fui até Teddy e segurei seu braço esquerdo. Tentei puxá-lo, mas foi em vão. Teddy não saiu do canto.

“Não, espera.” –Ele disse. -“Aquela conversa que você queria, sobre eu confiar em nosso relacionamento. Já sei o que dizer sobre tudo isso.”

“É muita coisa?” –Perguntei.

“Não.” –Ele respondeu.

“Então o que é?” –Perguntei novamente.

“Depois de tudo o que eu fiz, eu acho que te amo melhor agora.” –Ele disse.

Cruzei os braços e tentei fingir que não me senti balançada com o que ele disse.

“Mais uma frase de uma música sua?” –Perguntei.

“Não.”-Ele respondeu. –“Ainda.” –Completou.

“Nada entre nós vai se resolver antes de eu voltar para o Rio.” –Eu disse. –“Agora vamos ao bolo, estou com fome.”

Apesar de eu não ter aceitado conversar direito com Teddy, ele foi carinhoso e continuamos agindo como melhores amigos. Fomos para a cozinhar e acabamos com metade do bolo. Era todo de coco por dentro. Já estávamos de férias e era uma quinta-feira, 9:32 a.m, o natal já era domingo e na segunda viajaríamos para o Rio de Janeiro.

25 de Dezembro, 8:04 a.m

Teddy viajou para Londres no sábado de manhã. Não, não fui me despedir dele, mas ele me deixou uma carta. Passei a véspera de natal com Mary, terminando de conferir as coisas para a viagem do dia 26. Me sentei na cama e pude notar a neve acumulada na janela. Nunca vi nada de especial em neve, aliás, ela forma lamas pela cidade, é terrível. Desci as escadas e Mary estava fazendo panquecas.

“Feliz natal, querida!” –Ela gritou sorrindo.

“Feliz natal, Mary!” –Eu disse, não muito empolgada.

Fui até Mary e a abracei. Como sempre, me deu um abraço sufocante, mas eu até que gostava.

“Olha o formato das panquecas!” –Ela disse com um lindo sorriso no rosto.

Eram pequenas árvores de natal e achei que aquilo seria a coisa mais especial de todos os natais da minha vida.

“Ah, olha o seu lanche sobre a mesa.” –Ela disse apontando para a mesma.

Me virei e vi cinco cupcakes sobre a mesa. Todos com desenhos de papai Noel. Me sentei a mesa e comecei a comê-los. Eram de chocolate com morango. Quem me dera que todos os cafés da manhã fossem assim.

Terminado o lanche. Fui para meu quarto. Eu ainda não havia lido a carta deixada por Teddy. Ela estava sobre a mesa de estudos, ao lado do meu caderno. Me sentei na cadeira e decidi abrir a carta.

Sei que volta no inicio do ano que vem, mas pra mim, parece que você nunca mais vai voltar. Não nos despedimos devidamente e gostaria que me mandasse algo do Brasil, nem que seja uma foto. Você continua sendo a minha melhor amiga e quero cultivar isso para sempre. Tenha uma ótima viagem. Em anexo a esta mensagem, lhe escrevi três músicas as quais fiz pensando em você e quero que as leia sempre que sentir falta de casa, falta de Framlingham. Boa sorte com seus sonhos no Brasil. Você é uma garota incrível, obrigado por me permitir ser seu amigo. Um ótimo natal e feliz 2006. Que ele não te decepcione.”

Teddy escreveu o recado em uma folha de caderno. Grampeadas a ela, haviam mais três folhas, com as músicas que Teddy havia comentado. Eu já as conhecia. Era “I love you”, “Firefly” e “Autumn Leaves.” Nossa, como eu me sentia feliz lendo Autumn Leaves, escrevemos juntos. Por que deixamos escapar os bons momentos?

A campainha tocou duas vezes. Fui até a escada, para ver para quem Mary havia aberto a porta. Era Ethan. Com uma mão no bolso da calça e outra carregando uma sacola. Desci a escada correndo e o abracei. Ele retribuiu o abraço apenas com o braço que estava livre, o esquerdo.

“Feliz natal!” –Ele disse sorrindo.

“Feliz natal, Ethan!” –Eu disse empolgada.

“Trouxe algumas coisas...” –Ele disse abrindo a sacola.

“Presentes?” –Perguntei tentando olhar o que havia dentro.

“Calma!” –Ele disse protegendo a sacola. –“Vamos pra sala.” –Ele completou.

Mary veio conosco.

“Mary, este aqui é seu.” –Ele disse.

Ethan pegou um pequeno embrulho vermelho e entregou a ela. Mary o abriu e de dentro dele, tirou um lindo colar. O pingente era uma rosa.

“Muito obrigada, Ethan!” –Ela disse. –“Nem comprei nada para você...”

“Não se preocupe com isso, Mary.” –Ele disse sorrindo. –“Agora o seu.” –Disse pra mim.

Ethan tirou uma pequena caixa azul de dentro da sacola.

“Este aqui, minha mãe quem escolheu.” –Ele disse me entregando a caixa.

Desamarrei a fita dourada e abri a tampa. Era um anel solitário prateado.

“Nossa... ele é muito lindo, Ethan!” –Eu disse o colocando em meu dedo.

“Fico feliz que tenha gostado!” –Ele disse. –“Este é o meu presente.”

Ethan me entregou uma caixa maior, era amarela com uma fita azul. Abri e era um case para violino. Tinha meu nome nele.

“Você não me deu isso!” –Eu disse espantada. –“É lindo!”

Tirei o case da caixa e admirei cada detalhe.

“Muito obrigada.” –Eu disse abraçando Ethan.

Enquanto o abraçava, o telefone começou a tocar. Mary foi atender.

“Você e seus presentes.” –Eu disse para Ethan.

“Yolanda, é o Ed.” –Disse Mary.

Peguei o telefone da mão dela.

“Alô?” –Atendi quase sem voz.

“Feliz natal, Landy!” –Ele disse parecendo feliz. –“Leu a carta?”

“Feliz Natal, Teddy.” –Eu disse tímida. –“Sim, li sim.”

Ethan observava toda conversa e isso me incomodava. Olhei para Mary e ela entendeu que eu queria ficar “a sós” com Teddy.

“Querido, vamos comer alguma coisa.” –Mary disse para Ethan.

Ethan se levantou e acompanhou Mary até a cozinha. Minha tensão passou e me sentei no sofá.

“Obrigada pelas músicas.” –Eu disse.

“Nem foram todas.” –Ele disse sorrindo. –“Escrevi muito mais.”

Ficamos em silêncio por um tempo.

“Que horas é o vôo?” –Ele perguntou.

“5 a.m” –Respondi.

Voltamos a ficar em silêncio.

“Desculpa não ter me despedido direito.” –Ele disse.

“Quero que o meu primeiro abraço de 2006, seja seu.” –Eu disse. –“Sem contar a Mary, obviamente.”

Ouvi Teddy sorrir e me deu um aperto no coração.

“Vou reservar isso para você também.” –Ele disse.

Senti que Teddy queria falar mais alguma coisa, mas desistiu. Talvez fosse falar “sem contar a minha família”, mas deve ter achado demais, porque só tenho a Mary.

“Onde vão ficar?” –Ele perguntou.

“Na Urca.” –Respondi.

“É muito distante de onde você morava?” –Teddy perguntou.

“Não...” –Eu disse lamentando.

O silêncio voltou a tomar conta da conversa. Era estranho ter que me despedir por telefone.

“Você vai me ligar quando chegar lá?” –Ele perguntou.

“Não sei, é bastante caro. Posso mandar mensagem a cada minuto.” –Eu respondi.

“Aguardarei as mensagens.” –Ele disse sorrindo. –“Tenho que desligar agora.”

“Tudo bem.” –Eu disse.

“Tchau, Landy. Divirta-se. Até algum dia.” –Disse Teddy.

“Tchau, Teddy...” –Eu disse.

Um esperou o outro desligar e antes que alguém tomasse tal decisão.

“Eu te amo.” –Deixei escapar.

“Sentirei saudades.” –Ele disse. –“Eu te amo muito, Landy.”

Teddy desligou o telefone. O silêncio só não era maior, porque dois carros passaram na rua. Senti um vazio. Já estava me cansando de engolir o choro.

“Você não vem...”-Dizia Mary. –“Querida?”

Mary se sentou ao meu lado e a abracei. As lágrimas escapavam pelos meus olhos e eu não conseguia evitar. Senti Mary fazer carinho em minha cabeça e por lá fiquei por longos minutos.

“Querida, vai ficar tudo bem!” –Ela disse passando as mãos em meu rosto.

Mary secou minhas lágrimas e meu acalmou com sua doce voz.

“Vocês vão se ver daqui a poucos dias.” –Ela comentou.

Afirmei com a cabeça e passei as mãos em meus olhos. Me levantei e fui até a cozinha, onde Ethan estava sentado.

26 de dezembro, 2:50 a.m

 Eu não dormi, não consegui simplesmente fechar os olhos como se nada fosse acontecer. Eu estava indo embora, minha vida estava ficando. Era a última vez no ano que eu veria meu quarto e neve. É, nunca dei devida importância a ela, mas sentiria falta da neve. Meu quarto já estava bastante vazio, minha cama estava devidamente arrumada e algumas roupas estavam no armário ainda, sem necessidade de levá-las. Peguei meu caderno e comecei a ler tudo o que escrevi nele sobre Framlingham. Eu ria e ficava com o coração apertado. A cada página, a minha ida ficava mais difícil. Ethan. Teddy. Lori. Achei que pessoas não poderiam me surpreender tanto, até conhecer eles. As horas corriam e eu nada poderia fazer, partiríamos para o aeroporto as 3:40 a faltavam quarenta minutos para isso.

“Yolanda?” –Mary perguntou antes de abrir a porta.

“Pode entrar.” –Eu disse.

Mary abriu a porta devagar e ela carregava uma pequena mala.

“Vamos?” –Ela perguntou.

“Já?” –Perguntei fechando meu caderno.

“Para ir com calma. Já está tudo arrumado?” –Perguntou Mary.

“Sim, está...” –Eu disse.

“Ethan vai no aeroporto?” –Ela perguntou.

Neguei com a cabeça. Já havíamos nos despedido no natal. Acho que meu coração nunca doeu tanto quando doeu ao ver Ethan chorar. Ele realmente se importava com a minha ida, eu simplesmente queria levá-lo comigo.

Coloquei meu casaco azul e pendurei minha mochila nas costas. Peguei minhas duas malas e as levei para a porta da frente. Voltei para o quarto e tranquei a porta. Coloquei a pequena chave como pingente do meu cordão e fui de encontro a Mary, que me esperava na porta da frente.

“Pronta?” –Ela pergunta.

Respirei fundo e dei uma olhada geral na casa. Não, eu não estava pronta. Um táxi já nos esperava lá fora e o motorista ajudou Mary a guardar as malas.

“Tranque a porta, querida.” –Ela disse.

Coloquei a chave na fechadura externa e fui fechando a porta lentamente. O interior da casa ia sumindo com o diminuir da fresta e enfim, a porta se fecha. Rodei a chave quatro vezes e a tirei. Passei a mão esquerda na porta e caminhei em direção ao taxi. Entreguei a chave a Mary.

“Você está bem?” –Ela perguntou.

A ignorei e entrei no carro. Mary e o motorista entraram minutos depois. O táxi começou a andar e me virei para trás. Eu realmente estava indo embora.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e preparem-se, a história vai mudar.
@eddictedhoran



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