A música não saia da minha cabeça. O domingo sem mais nada para fazer, não impedia que eu apenas pensasse em Ed. Ainda não fui ao seu encontro, porque ele fora a Londres com sua mãe, resolver coisas sobre seu novo CD, o qual eu estava ansiosa para ter em mãos. Pela primeira vez, decidi entrar na internet. O computador ficava em um pequeno quarto, o qual Mary denominou como escritório. Inúmeros livros e três estantes, completamente cheias. O computador estava localizado ao lado de uma dessas estantes. Ao entrar na internet, decidi procurar notícias do Brasil e nada mais aparecia sobre minha família. Mas tinha minhas dúvidas se eles ainda estavam presos. Não deveria temer nada, afinal, por segurança, não diriam onde estou. Vi algumas notícias recentes sobre o que acontecera no país e cada vez mais ficava feliz por agora estar na Inglaterra. Enquanto eu lia, meu celular tocou, era Ethan.

“Ethan?” – Perguntei ao atender.

“Oi, Yolanda. Tudo bem? É que, não tenho nada para fazer hoje e queria saber se aceita ter aula ainda hoje.” – Ele disse.

Parecia uma boa ideia, pensei um pouco antes de responder e eu vi que também não tinha mais o que fazer no resto da tarde.

“Claro! Depois das 2 p.m pode ser?” – Perguntei.

“Excelente! 2 horas eu passo ai! Poderia me passar seu endereço?” – Ele disse.

Realmente eu precisava ocupar meu domingo com alguma coisa, e Ethan era perfeito para isso, afinal, eu queria aprender violino o quanto antes. Ao ver notícias sobre a minha cidade, fiquei com saudades. Apesar de a vida ser melhor aonde estou agora, confesso que a energia do Brasil é diferente, as pessoas parecem felizes o tempo inteiro, ao contrário de Framlingham, onde você quase não encontrava ninguém. Queria voltar lá um dia, longe de onde eu morava, mas ainda assim queria ir para o Rio, no réveillon talvez. Desliguei o computador e fui assistir um filme com Mary. Ao terminar, fomos para a cozinha almoçar, já eram 12:45 p.m, o que poderíamos considerar tarde. Depois do almoço, tomei um banho rápido e me tornei apresentável para Ethan. Coloquei uma calça do moletom preto e uma regata branca, soltei meus cabelos e desci para a sala. Ethan tocou a minha campainha exatamente as 2 p.m, Ingleses são realmente muito pontuais. Abri a porta e havia uma semelhança com Ed. Ambos tocaram minha campainha com algum instrumento na mão.

“Olá, Ethan! Entre!” – Eu disse abrindo mais a porta.

“Com licença!” – Ele disse ao entrar.

O levei até a sala e o apresentei a Mary, que parecia ter gostado dele. Ele colocou seu violino no sofá e pegou as cifras para a música que eu aprenderia, ou tentaria. Ele tocou a primeira vez e observei seus dedos. Olhando, nem parecia tão difícil, mas eu sou um problema.

“Você é muito bom!” – Disse Mary.

“Muito obrigado, mrs. Lane” – Ele disse, com uma voz serena.

Ele ficou me ensinando por duas horas, claro que nesse meio tempo, paramos por quinze minutos para lanchar. Comemos uns cookies preparados por Mary, que aliás, é uma excelente cozinheira. Ao voltarmos para a aula, tentei tirar um som do violino enquanto Ethan conversava comigo.

“Você gosta do Ed, não é?” – Ele perguntou.

“Ele é meu melhor amigo.” – Eu disse, sem para de tocar o violino.

“Claro...” – Ele disse.

“Você também está se tornando um bom amigo!” – Eu disse, ainda olhando para o violino.

“Agradeço pelo reconhecimento!” – Ele disse.

Parei de tocar o violino, olhei para ele e sorri. Percebi que ele se aproximara, talvez para tentar algo mais,  quando meu celular toca e o nome de Ed aparece na tela, imediatamente atendi e Ethan se afastou novamente.

“Alô?” –Atendi.

“Landy? Acabei de fazer uma sessão de fotos!” – Ele disse parecendo feliz.

“Sério? Poxa, queria ter ido!” – Eu disse.

“Pedi para que deixassem para Framlingham, mas não quiseram...”- Ele disse.

“Tudo bem, verei outras e outras sessões!” – Eu disse.

“Mas essa foi a primeira, talvez a mais importante.” – Ele disse.

“Ed, todas serão importantes iguais e sei que terão muitas pela frente.” – Eu disse.

Ouvi ele sorri e pude notar como isso fazia falta no meu dia. Um dia sem sua presença, parecia o que chamamos de “eternidade”.

“Você tem razão! Foi meio constrangedor, mas foi legal. Tá fazendo o que?” – Ele disse.

“Ah, o Ethan tá aqui me dando aula de violino.” – Eu disse.

“Mas hoje?” – Ele perguntou.

“Sim, ele não tinha nada para fazer e nem eu, dai ele se ofereceu para vir e achei uma boa ideia.” – Eu disse.

“Claro, ele soube que eu não estava em Framlingham!” – Disse Ed.

“Como saberia? Ed, tudo bem, já acabou mesmo.” – Eu disse.

Não queria que Ethan soubesse da conversa e evitei ao máximo dizer besteira. Ethan não estava olhando para mim, mas era óbvio que prestava atenção na conversa. Me despedi de Ed e desliguei o celular e coloquei na mesa de centro.

“Ele se sentiu incomodado com o fato de eu estar aqui, não é?” – Ethan perguntou.

“O que? Não! Claro que não! Só se espantou com o fato de hoje ser domingo e ter aula.” – Eu disse e sorri meio sem graça.

“Acho que já passaram duas horas.” – Disse Ethan olhando seu relógio.

Conferi no relógio do celular e realmente haviam passado duas horas, mas ele apenas se lembro disso por causa do Ed, não queria que ele fosse embora por isso, mas não ia impedi-lo. Ele juntou suas coisas e se levantou. Levantei logo em seguida e me sentia incomodada com o fato de ele ir embora.

“Vai mesmo?” – Perguntei.

“Por que? Quer que eu fique?” – Ele perguntou.

“É que... parece que está indo embora somente por causa do telefonema do Ed.” – Eu disse.

“Não, claro que não, deu minha hora já.” – Ele disse com um simpático sorriso em seu rosto.

O acompanhei até a porta e Mary foi atrás, ela realmente havia gostado dele. Ethan foi embora e eu voltei para a sala. Eu tinha medo de que Mary pudesse fazer algum grande elogio sobre Ethan na frente de Ed. Queria que Ed voltasse logo, isso só aconteceria tarde da noite. Eu sentia um orgulho tão grande de Ed, um menino talentoso finalmente conseguindo traçar seu caminho, o qual eu quero fazer parte de cada passo e apoiar em momento difíceis, assim como ele faz em minha vida.