Folhas De Outono escrita por Sheeranator Mafia


Capítulo 134
A canção final




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Camilla não parava de me mandar mensagem. Eu nunca as apagava, era uma maneira que escolhi de matar a saudade, reler todas. Sempre que Penny chutava, ela mandava mensagem. Sua barriga parecia bem maior do que eu havia visto antes de partir. Ao contrário do que vivi em Copacabana, as pessoas não pareciam animadas com o fim do ano. As ruas continuavam com aspecto normal, exceto pelo fato de estarem ainda enfeitadas para o natal. Nos fundos da casa, uma enorme árvore segurava um pequeno balanço em seu mais baixo galho.

“Sempre quis uma casa na árvore.” –Comentou Teddy.

Me sentei no balanço e pedi para que ele não balançasse. Teddy ficou parado do meu lado, com as mãos nos bolsos e o capuz cobrindo a cabeça. No quintal, pouca neve cobria o gramado e uma parte tinha lama. Me balancei devagar, sem tirar meus pés do chão. O vento era delicado ao tocar meu rosto. Eu conseguia ver Imogen lavando a louça na cozinha. A neve tinha parado, mas ainda estava acumulada no ombro de Teddy. Decidimos relembrar o que nossa mente fez o favor de guardar. Nos vimos na escola, sentados no gramado. Teddy tocando violão, enquanto Beth e eu observávamos. Eu sentia sempre que era observada, mas nunca encontrava os olhos cruéis que desejavam nosso mal. Os jogos de hóquei que não pude terminar. Os sonhos que deixei de sonhar. Os novos que construí. Aquele velho Teddy que parecia tímido e românico, estava na minha frente, com neve nos ombros. Estava mais alto, com a barba para fazer, tatuagens no braço, levava cigarro no bolso, dizia beber socialmente. Apesar de ainda parecer o mesmo, Teddy era outro. Assim como tudo que me cercava. O rio não é o mesmo e nem o homem que mergulhou nele. Ao ficar olhando para Teddy, lembro de tudo o que aprendi. Aprendi o valor de uma boneca, o valor de um treino, o valor de um lindo vestido, o valor de um amigo. Sinto falta da Beth, Samy, até mesmo da Lori, que se mostrou outra pessoa, no final das contas. Nunca mais toquei um violino, mas sei que não esqueci o que devo fazer. Teddy olhou a hora em seu relógio vermelho no pulso esquerdo e me chamou para entrar. Imogen nos ofereceu um chocolate quente em uma caneca marrom escrita “I love chocolate”. Ficamos na sala, procurando algo de interessante na televisão, Teddy havia saído para falar com alguém no telefone, não ouvimos a conversa.

“Vamos nos preparar?” –Perguntou Teddy, voltando para a sala.

John desligou a televisão e cada um foi para seu respectivo quarto. Teddy pegou sua roupa social e a levou para o banheiro. Fiquei com todo o quarto e o espelho de corpo inteiro na porta do pequeno guarda-roupa. Coloquei o vestido e fechei o zíper lateral. Fiquei por dez minutos me olhando, até Teddy bater na porta e antes de eu permitir, ele já havia entrado.

“Deslumbrante.” – Disse Teddy.

Sorri. Teddy selou seus lábios nos meus, rapidamente e procurou meias na gaveta. Perguntei sobre o vestido e ele disse que eu não poderia ter escolhido outro melhor, mas nem ao menos olhou para mim enquanto respondia. Ele encontrou o par de meias e seu celular começou a tocar no banheiro, ele saiu correndo e bateu a porta. O ouvi pedir desculpas ao longe. Penteei o meu cabelo e o prendi de cinco maneiras diferentes e nenhuma me agradou. A porta bateu novamente, era Imogen perguntando se poderia entrar. Ao entrar no quarto, Imogen notou minha feição desanimada e perguntou se eu precisava de ajuda. Aceitei e falei sobre meu penteado. Ela me sentou na cama e pegou o pente preto e duas presilhas. Jogou todo o meu cabelo para o lado direito e o penteou. Usou as presilhas do lado esquerdo e pegou mais no pote. Arrumou minha franja e me levou até o espelho. Eu havia penteado daquele jeito, mas não com tanta delicadeza e carinho, o que deixou o penteado lindo. A agradeci e ela saiu sorridente. Sobre a cômoda perto da porta, peguei um perfume e borrifei três vezes. Me sentei na cama e coloquei o sapato. Respirei fundo e de repente, a ansiedade tomou conta de mim. Ninguém batia na porta, eu só conseguia ouvir as passadas fortes na madeira do chão do outro lado. As sombras invadiam meu quarto por baixo da porta. Depois de longos minutos, Teddy entrou no quarto e perguntou se eu estava pronta. Apenas afirmei com a cabeça e me levantei. Apressado, Teddy pediu para eu encontrá-lo na sala, enquanto ele faz um telefonema. Nunca o vi tanto nesse celular.

John dirigiu até o local, já se passavam das sete horas da noite quando chegamos. Matt foi calado por todo o caminho e apenas ficou olhando pela janela. Perguntei se ele estava bem e nada disse, apenas deu um leve sorriso. O lugar já estava cheio, mas as mesas próximas ao palco ainda estavam vazias, era o total de cinco. 

“Uma dessas mesas, é a nossa, podem se acomodar enquanto eu vou lá atrás resolver umas coisas.” –Ele disse e em seguida, beijou a minha testa.

Nos sentamos e com os olhos, acompanhei todos os passos de Teddy até atrás do palco e observei três fãs o parando para tirarem fotos e ele as atendeu.

‘Querem beber alguma coisa?” –Perguntou Imogen.

Eu estava realmente com sede e apenas pedi um copo d’água. Não demorou muito e um homem de terno branco foi para o centro do palco e o som de conversa parou. O homem bateu de leve no microfone e o som parecia bom.

“Boa noite a todos! Dentro de instantes, o cantor Edward Christopher se apresentará.” –Sua fala foi interrompida por gritos e aplausos. –“Bom, aproveitem o som do DJ Michael e divirtam-se!”

O homem saiu do palco e o garçom chegou com os nossos pedidos e um grande copo de d’água gelada pra mim. Eu já havia esquecido o que me tornava tão aflita aquela noite. As vezes, parecia que eu conseguia ouvir cada conversa das mesas próximas. O homem falando sobre o quanto pretende faturar no próximo ano, a mulher planejando casamento. Senti meu celular vibrar na pequena bolsa de mão que resolvi levar, o peguei e vi o nome de Camilla.

“Alô?”

“FELIZ ANO NOVO!” –Disse Camilla.

“Ainda não é ano novo.”

“Grossa! Só estou me adiantando, porque não poderei falar contigo a meia noite mesmo. Como está o show?”

“Ainda não começou. O lugar é incrível! Todo decorado em branco e dourado e tem um cheiro bom, de coisa nova.”

Fiquei conversando com Camilla por vinte minutos e ela disse estar com medo da conta de telefone. Camilla também contou que viu a ultrassonografia de Penélope e disse ser um bebê grande e gordo. Teddy se aproximou por trás de mim e colocou sua mão sobre meu ombro direito e me chamou para acompanhá-lo. O segui e fomos para o backstage. Várias pessoas corriam, faziam suas tarefas para que tudo desse certo. Colocaram o microfone no Teddy e ele ajustou seu violão.

“Por que me trouxe aqui?” –Perguntei.

“Só um segundo.”

Teddy entrou em uma porta branca e por lá ficou por dez minutos. Voltou com uma caixa retangular preta em mãos.

“Espero que ainda saiba usar.” –Ele disse, me entregando.

Abri e pude ver um violino marrom. Eu não entendia mais sobre marcas, então parecia um violino comum. Neguei com a cabeça e Teddy insistiu em dizer que eu tinha que abrir o show dele.

“Sei que ainda sabe tocar, é igual a anda de bicicleta.” –Ele disse.

“Dez minutos!” –Gritou uma mulher, passando por nós.

“Confio em você.” –Ele disse.

Teddy foi em direção a escada a qual levava ao palco. Permaneci estática no meu lugar e vi Teddy acenar me chamando. Lentamente, andei em direção a ele. Pude ouvir alguém bater no microfone novamente e anunciar Teddy. Ouvi gritos e aplausos de novo. Ele subiu e deu uma corrida até o microfone. O vi acenar para todos e desejar boa noite.

“Antes que eu comece meu show, quero chamar alguém para abri-lo, tocando a única música que sabe tocar em seu violino. Yolanda Lane.” –Disse Teddy.

Os aplausos foram aumentando. Teddy me chamou e o medo me prendia no mesmo lugar. Ele insistia e veio em minha direção.

“Não tenha medo. Me desculpe por fazer isso contigo, mas sei que será especial.” –Ele sussurrou.

Subi no palco e fui até o microfone. Teddy segurou a caixa a qual estava o violino. Timidamente, desejei boa noite a todos e pedi para que me entendessem. Com dificuldade, coloquei o violino no ombro, pude ouvir que as pessoas cochichavam.

“Ainda posso ouvir vocês.”

Com o completo silêncio, eu conseguia ouvir um zumbido no meu ouvido, que quando pequena, diziam ser o barulho do sol. Arranhei um pouco o violino e som saiu péssimo. Respirei fundo e pude ouvir alguém rindo, aquilo me consumiu e o medo se foi. Consegui tocar a música do Titanic. A confiança tomava conta de mim a cada nota. Parecia que eu nunca havia parado de tocar. Fechei os olhos e apenas deixei minhas mãos serem levadas pela emoção. Ao término da música, abri meus olhos lentamente, a visão da plateia fora ofuscada pelos fortes holofotes. Aos poucos, pude ver que todos estavam de pé. Imogen sorria e me mandou um beijo. Matt apenas aplaudia e John assoviava. Na mesa ao lado, a fisionomia aparentemente familiar, atraia minha atenção. Era Lori. Fiquei surpresa e ela sorriu ao notar que meus olhos a reconheciam. Abaixei o violino e olhei para quem estava ao seu lado, era Ethan. Beth. Kelly-Anne. Todos me aplaudindo de pé. Alguém da produção, apareceu do meu lado e pegou meu violino. Acenei para a mesa da Lori e em seguida, para Imogen. Olhei para o lado esquerdo e vi Teddy sorrindo para mim. Me senti realizada por não o ter decepcionado. Foi com aquele sorriso que decidi encerrar minha história. Bom, acho que isso é o começo, mais uma vez.

FIM


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Notas finais do capítulo

BOM, então é isso, esse é o último capítulo. Pretendo postar ainda umas notas finais, mas nada que mude a história.
Muito Obrigada por acompanharem até aqui, espero que não tenham se decepcionado e tenham curtido cada palavra. Pretendo escrever outra fanfic, mas vou esperar minha vida se estabilizar e eu possa postar tranquilamente.
Vocês me tornaram uma pessoa muito feliz, curtam a página fanfic folhas de outono e mantenham contato comigo e saibam quando surgirá outra fanfic. Obrigada novamente, vou chorar ):
Jenny, thewalkingteddy