Há muito a ser dito de duas pessoas que se amam tanto, mas não ficam juntas. Talvez seja uma punição, uma punição bem colocada para ele, que já havia cometido tantos erros, tantos pecados. Punição essa, que chegava a ser tourtura.

Não havia palavra que descrevesse melhor este momento: tortura. Respiração calma, corpos tão colados que o mais suave batimento, o mais leve arrepio era sentido pelo outro. Mãos entrelaçadas, tudo isso era pura tortura. Tortura essa, que era mútua.

Tortura para ela, que mesmo prestes a se casar com outro homem, não tinha a capacidade de ficar um segundo longe deste sem se sentir incompleta. Não era certo, ela sabia. Mas não era algo que ela podia evitar.

Tortura para ele, que amava essa mulher mais que a própria vida, e nunca seria capaz de deixá-la, nem por um mero segundo.

Aquele momento, para ambos, era precioso. Talvez, nunca teriam essa oportunidade novamente. Lily prometeu à si mesma que, assim que a cerimônia de casamento terminasse, ela não voltaria a ver James. No momento em que fez a promessa, porém, não lhe parecia tão difícil de cumpri-la.

Naquele momento, eles não precisavam de mais nada. Nenhuma palavra. Nenhuma troca de olhares significativos. Nenhum pensamento que, de alguma forma, contradisesse o que eles haviam feito. E continuavam fazendo.

Lily pensava que nunca, de forma alguma, seria capaz de trair. Ninguém merece isso. Mesmo assim, esse era um pensamento que não tinha o poder suficiente para detê-la. Não com James. Não desse jeito.

James, por outro lado, já havia cometido esse possível crime moral inúmeras vezes. Em nenhuma delas sentiu culpa. A razão verdadeira disso é que ele, na verdade, nunca acreditou em amor. Ele pensava que era tudo atração sexual desentendida. Hormônios. Mas, neste momento, sua mente era completamente contra essa opinião. Aquilo que eles estavam vivendo não era mera atração sexual. Não com Lily. Nunca com Lily. Era mais do que isso, muito mais do que isso.

Permaneceram em silêncio por mais alguns segundos, até que ele falou. Sua voz rouca soou na nuca da garota, abafada pelos cabelos ruivos e ondulados.

– Você ainda me ama.

Não era uma pergunta. Lily sentiu um arrepio subir pela espinha, enquanto saboreava o hálito quente que tocava sua pele nua. Sim, ela ainda o amava. Mas, por mais que ela abominasse a mera ideia de sair de seus braços, ela teria que seguir em frente e aprender a amar o homem com quem se casaria. Ela não respondeu. Não queria que ele criasse esperanças. Não queria quebrá-lo ainda mais. Esperou pelo próximo argumento, mas este não veio. E permaneceram em silêncio, submersos em seus próprios pensamentos. Pensamentos estes, que eram direcionados um ao outro.

Ele não devia fazer isso. Não devia procurá-la, não devia voltar a ela. Isso era masoquismo. Cruel e puro masoquismo. Era errado. Era proibido. Mas James sempre teve uma inclinação ao proibido.