Dezembro. escrita por Hingrid Stilinski


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

EEEEEEE, finalmente isso saiu! Tá bem maior do que o esperado e até que fofinho. Aos que já leram "Biblioteca." a algum tempo e curtiram esses dois, tá ai mais uma casquinha do relacionamento deles. Enfim, espero que gostem! Nos vemos nas notas finais.



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Isso é bom demais pra ser verdade. Sem brincadeira pessoal, eu nasci com minha bunda branca virada pra lua, só pode. Essa era a única explicação plausível que eu conseguia pensar por estar me arrumando, agora, nesse exato momento, pro meu primeiro encontro. Não meus caros, não meu primeiro encontro de verdade, mas sim meu primeiro com alguém que realmente significava alguma coisa pra mim – algo mais do que pena ou pura atração física.

Meu primeiro encontro com Cabel Foster. Depois de meses o observando de longe e mais algumas semanas depois que ele me abordara – e me beijara – pela primeira vez, finalmente eu tenho a chance de encontra-lo em algum lugar que não seja nossa – NOSSA! - biblioteca usual.

Sim, podem gritar, eu sei que sou sortuda. Até agora não sei como, mas sou. Sempre, em toda minha vida, pensei que eu acabaria como minha tia do Texas, gorda e solteirona, sem ninguém pra amar, mas mesmo assim feliz e com uma boa vida. Amor nunca foi algo apelativo pra mim e nem nunca seria, mas agora parecia a coisa mais excitante do mundo.

Me olho no espelho pela centésima vez e percebo que estou com o rosto corado, ansioso. Há muito tempo eu não tinha essa expressão, mesmo. Nem me recordava da última vez que ficara tão doida pra sair de casa como agora.

– Oi Josh, tchau Josh – Grito para meu irmão enquanto desço as escadas mais tarde. Josh apenas me olha com confusão no rosto, mas não faz perguntas. Ele é do tipo que preferia não saber o que eu estava aprontando até que as consequências surgissem. Meu irmão é uma pessoa sábia para seus 21 anos. Muito sabia.

Já minha mãe, por outro lado...

– Não tão rápido mocinha – Ela me para antes que minha mão toque a maçaneta da porta. Merda. Ela é realmente rápida, essa mulher que me pariu. Viro calmamente para a porta da cozinha onde ela se encontra com as mãos na cintura e o cabelo louro que eu herdara preso num coque.

– Sim, mamãezinha querida?

– Bajulações pra outra hora Chris – uma sobrancelha levanta como quem diz “eu que te pari menina, te conheço muito bem” – e, me diga outra vez, quantos anos esse rapaz tem mesmo?

– Dezenove – respondo prontamente – mas com alma de cinquenta. Não se preocupa, ele é antiquado, não vai tentar me estuprar no meio do cinema ou coisa parecida.

– Então vão ver um filme? – Um sorriso de triunfo aparece no rosto dela e eu reviro os olhos. Não havia comentado com ela onde iriamos e, para dizer a verdade, nem eu sabia.

– Não enche mãe. Agora eu vou indo, sabe, cara gostoso me esperando . – Aponto pra porta, abrindo-a e me jogando pra fora em seguida, antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa pra me deixar envergonhada.

Bufo por causa do frio – já estávamos em dezembro cara, dezembro! – e faço minhas botas caminharem até a biblioteca, onde nos encontraríamos. A fachada grande e antiga me salda depois de alguns minutos me arrastando pelas ruas e paro rapidamente, antes mesmo de subir os degraus, observando aquela cena de longe.

Cabel estava sentado no último degrau, usando a jaqueta de couro preta de sempre, os olhos em alguma direção que não importava, pois o rosto dele não mostrava interesse, mas sim expectativa. Cara, ele estava realmente esperando por mim no frio, como um cavalheiro.

– Você realmente não cansa de encarar os outros de longe, não é mesmo Chris? – Sua voz surge no meio dos meus devaneios, me assustando – como sempre. Seus olhos castanhos agora estão voltados pra mim e cara, parece que eu não via aquele rosto há meses.

– Velhos hábitos nunca morrem – Dou de ombros, mas da pra se ouvir muito bem o tom urgente na minha voz. Eu estava ansiosa demais por aquilo e infelizmente não tinha como disfarçar. Cabel sorri e desde a escadaria de dois em dois degraus, parando na minha frente com toda sua aura e sua cara não-tão-mais-fechada.

– Não me importo que você me observe, mas de mais perto é melhor, não acha? – Ele levanta uma das sobrancelhas e eu engulo em seco. Tão perto, meu santo anjo caído!

– P-pois é. Muito m-melhor – Gaguejo de uma forma patética. Era bem incomum aquilo acontecer, até perto dele, já que eu sou uma pessoa muito bem eloquente, mas cara, de repente a ficha caiu: Eu estava tendo um encontro com Cabel, sabe, o cara no qual eu estou apaixonada há meses? Ele mesmo. Balanço a cabeça e finjo não notar o quase sorriso que ele dá pela minha gagueira – Pra onde vamos?

– Você já vai descobrir – Ele pisca e da alguns passos a frente, só para olhar pra trás e perguntar com uma cara meio cínica – ou você já desistiu da ideia de sair comigo? – Mais uma vez, o quase-sorriso volta e eu cruzo os braços, sentindo o couro da minha própria jaqueta – não vou comentar que estamos com jaquetas quase idênticas.

– Você é um sádico filho da mãe sabia? – Murmuro e posso jurar que o que saíra da boca dele agora fora uma risada.

– E um “puta de um gostoso”, deixe-me lembra-la – Ele emenda e pelo meu anjo caído, minhas bochechas queimam de vergonha. Precisava mesmo lembrar daquilo?

Vendo meu embaraço, os olhos de Cabel parecem se divertir mais, coisa que eu não notava neles antes do dia fatídico em que nos conhecemos – bom, que ele me conheceu, porque eu praticamente já sabia tudo o que ele fazia naquela biblioteca. Na verdade, eu nunca o vira fazer brincadeiras ou até mesmo demonstrar algo quando não era comigo. Talvez eu que estivesse sonhando alto, mas ele era um cara bem fechado.

– Vamos logo Chris. – Ele estende uma das mãos, convidando-me a segura-la. Arregalo os olhos e quase tenho um treco no meio da calçada gelada, mas com alguns passos rápidos à frente, seguro firme em sua mão. Ele treme um pouco e me lança um olhar que me da calafrios – Meu Deus, Chris, você deveria ao menos usar luvas. Está congelando!

– Jura? – Falo sincera, tentando relevar o aperto que ele agora dava em minha mão, tentando esquentá-la. – Eu tenho mãos geladas querendo ou não, Cabel. Não é como se luvas fossem mudar a genética. – Dou de ombros, fazendo-o revirar os olhos, como se já estivesse acostumado com minha teimosia.

– E outra coisa – ele continua e puta merda, ele estava mesmo levando minha mão pra perto da boca? – quantas vezes já não lhe disse? Me chame de Cabe – e dizendo isso, ele pressiona os lábios gentilmente na minha mão, olhando dentro dos meus olhos como sempre fazia, praticamente olhando no fundo da minha alma. Puta que pariu, puta que pariu. Maldito sádico!

Meu coração disparado estava alegre e praticamente pulando pra fora do meu peito como sempre e eu sabia que do jeito que ele segurava minha mão, podia muito bem senti-lo. Talvez seja por isso que ele não tirara o seu habitual sorriso torto da boca nem por um minuto enquanto caminhávamos para sabe-se lá onde.

Não podia fazer nada se aquela era a primeira vez que ele segurava minha mão! Era uma coisa boba, romanticazinha, mas cara, não sabia que tinha mexido tanto comigo. Agora eu entendo o porquê de tanto fuzuê em filmes e livros sobre o amor – quando se gosta de uma pessoa, qualquer coisinha te deixa nervosa e parece que é o gesto mais significativo da sua vida inteira.

– Então Cabe – falo depois de um tempo e ele aperta um pouquinho a minha mão, em aprovação ao apelido – que tal parar com todo esse mistério e me dizer logo onde está me levando? É sério, eu não sou boa com mistérios.

– Mas você é boa comigo – ele fala simplesmente e olha com o canto dos olhos pra mim – e eu sou um mistério, segundo você mesma. Então, fico feliz que eu seja o único mistério pelo qual você é boa com – satisfeito com minha reação atônita, ele volta a olhar pra frente – porque sabe, eu sou meio ciumento.

Meu santo e pecaminoso anjo caído.

– Você realmente gosta de se divertir as minhas custas, não é mesmo? – Murmuro completamente vermelha. Ele não olha pra mim, mas sinto seus ombros relaxarem um pouco mais.

– Estou sendo sincero, só isso. – Da de ombros e posso perceber que nunca o vira tão relaxado - Com você vale a pena...

Finalmente ele para e percebo que estamos na frente de um restaurante pequeno pelo qual eu já passara na frente tantas vezes e nunca tive a chance de entrar. Ele abre a porta com certa familiaridade e me puxa pra dentro de modo gentil. Ainda meio atônita – porque cara, esse garoto realmente conseguia me deixar fora dos eixos! - consigo me manter ereta ao lado dele, analisando o local pela primeira vez.

O restaurante/lanchonete era pequeno, como um café e tinha algumas mesinhas com bancos (que eram mais sofás do que bancos) bem distribuídos, formando um local aconchegante. Alguns garçons serviam as mesas ocupadas e o movimento parecia normal, leve, vazio na medida certa. O balcão do caixa ficava num dos cantos, perto da cozinha e tudo ali era muito bem decorado.

O lugar era realmente a cara de Cabe: discreto, lindo e aconchegante – pelo menos pra mim. Era realmente perfeito! Sorrio abertamente para ele, que me analisa em silêncio. Pude perceber um lampejo de alivio passando por seus olhos, mas fora tão rápido que talvez eu tenha imaginado. As reações dele eram muito imprevisíveis.

– Cabel, tudo bem? – Uma garçonete de meia idade se aproxima, sorrindo pra ele. Cabe apenas acena com a cabeça e então os olhos da moça param em mim. O sorriso parece aumentar, até mais quando ela percebe nossas mãos ainda juntas. – Oh, vejo que finalmente trouxe aquela garota que você comentou!

Pera. Cabe comentou de mim pra alguém?

Encaro seu rosto e posso jurar que ele me parece meio envergonhado. Ele murmura algo como “a mesa de sempre, Beth” pra garçonete que vira, ainda alegre, pedindo para nós a seguirmos. Aparentemente ele vinha ali bastante, para chamar alguém pelo nome e falar algo como “a mesa de sempre”. Mas, pra falar a verdade, não é esse fato que está prendendo minha atenção - e sim o de que ele falara sobre mim.

!!!!!!!!

Sentamos numa mesa perto de uma das janelas, dois degraus mais alta do que as do meio do estabelecimento. Era um local que eu imaginaria facilmente a figura fria e quieta de Cabe estando, lendo um livro de ficção cientifica e comendo rosquinhas, vários olhares o observando e ao mesmo tempo não o enxergando como eu o enxergava agora – meio encabulado e não tão distante, mas ainda assim amedrontador, galante e lindo.

– Você vem aqui com frequência, né? – Pergunto assim que Beth sai, deixando os cardápios, prometendo voltar logo e me lançando um último olhar animado – Ela parece te conhecer bem.

– É só que eu não me enturmo – ele murmura, apoiando um cotovelo na mesa para apoiar o queixo, me olhando com os olhos sádicos e profundos de sempre – então quando eu apareço com alguém, é uma verdadeira surpresa.

– E você comentou de mim! – Afirmo mais animada do que deveria. Oh merda. Seus olhos captam minha felicidade exagerada e todo o sinal de desconforto se vai de seu rosto, dando lugar a uma expressão divertida.

– Eu tendo a comentar sobre meus interesses para estranhos. É um dos meus hábitos, apesar de não parecer – ele termina de falar com seus olhos diretamente fixados nos meus, esperando minha reação – que claro que vem logo, demonstrando o quão pasma eu estou.

Meu anjo caído, eu era tão previsível. A risada baixa dele sai facilmente, coisa que vinha ocorrendo com mais frequência. Minhas mãos – agora tenho as duas livres, infelizmente – tremem um pouco mais, demonstrando meu nervosismo. Ah cara, realmente previsível.

– Hoje parece o dia oficial de atordoamento de Christinas, só pode!

– Que bom que estou conseguindo o que eu queria. – Ele continua com sua risada baixa, pouco comum. – Como já disse, suas reações são impagáveis.

– Imagino que sejam – franzo os lábios e imito sua posição, apoiando o queixo em minha mão direita – mas cara, as suas também não ficam muita atrás. Só são mais difíceis de ler.

– Então você é uma boa leitora? – Os seus olhos se semicerram, ainda divertidos e seus lábios com os cantos meio repuxados parecem mais convidativos do que nunca. Ah caramba.

– Digamos que eu tento – dou de ombros, tentando me distrair de seu rosto perfeito a poucos centímetros de mim. – e agora mesmo, eu me sinto muito Bella Swan. – Murmuro, mas pela cara que ele faz, posso ter certeza de que ele ouvira. Dessa vez, sua habitual risada sai alta, forte e faz com que mais olhares voltem-se para nós.

– Você realmente está comparando isso a Twilight? – Ele diz por fim, me tirando do transe que ficara quando ouvira o som de sua risada. – Me desculpe desapontá-la Chris, mas eu não sou Edward Cullen.

– Agradeço todos os dias por isso, acredite. – Falo, dando um sorrisinho – A única coisa que vocês têm em comum é a beleza. – Concluo e com isso uma de suas sobrancelhas levanta.

– Sério Chris?

– Acho que você realmente não se vê direito no espelho – balanço a cabeça, meio incrédula – mas pode ficar tranquilo, eu prefiro você.

– Isso me deixa muito aliviado, obrigado – Ele responde, ainda com a voz divertida. – Não sabia que você era fã de vampiros brilhantes.

– Por favor, não! – Dessa vez sou eu quem ri alto – Eu adoro vampiros, claro, mas não. Só sei de Twilight por causa da Hannah, minha melhor amiga. – Falo por fim e reparo que os olhares a nossa volta continuam em nós. Não que eu me importasse, claro. Nada ali importava a não ser o puta gostoso na minha frente. E ew, isso foi piegas.

– Hannah. Você fala bastante dela. Talvez eu deva conhecê-la um dia?

– Quem sabe, se você ainda quiser me vez depois de hoje. – Dou de ombros pela milionésima vez no dia e posso ver o sorriso de Cabe aumentando.

– Porque não iria querer? Acho que você também não se dá muito valor, Chris. – Cabe me olha como quem desaprova algo e sua mão pega a minha que estava despreocupadamente apoiada na mesa há alguns minutos. É claro que meu coração dispara que nem um idiota quando ele brinca com meus dedos. – Se você não valesse apena, eu não estaria aqui agora.

– Sabe, daqui a algum tempo você vai se arrepender por aumentar meu ego desse jeito. Sério. – Murmuro, meio sem graça. Cabe apenas olha pra mim e, cara, não vou ser eu que vai quebrar esse silencio muito menos o contato visual.

– Prontos pra pedir? – Beth chega por fim, mas Cabe nem faz menção em olhar pra ela. Seus olhos ainda prendem os meus, assim como seus dedos prendem minha mão.

– Pra mim o de sempre. E pra Chris...?

– Ah, pra mim... Pode ser um cappuccino com creme extra e um pedaço de torta de maçã – Falo sem desviar os olhos também, quase automaticamente. Eu frequento muitos cafés, sabe. Coisa de adolescente.

Beth sai sem dizer mais nada e então, Cabe e eu entramos numa espécie de conversa sobre nossas vidas. Coisas banais, engraçadas e leves, nada muito diferente das nossas conversas na biblioteca, mas ao mesmo tempo são sim, extremamente diferentes. Ele me pergunta sobre relacionamentos anteriores, se eu já tirei a carteira de motorista e coisas do gênero, enquanto eu pergunto sobre que tipo de shampoo ele usa, qual sua marca de roupas favorita e se ele dorme pelado. Pois é.

Aos poucos o tempo passa e infelizmente eu mal o sinto. Nosso pedido chega e faço uma nota mental de que Cabe só toma café preto e adora rosquinhas de morango (sabia que tinham rosquinhas no meio!). Agora a conversa é um pouco mais séria, mas ainda tem aquele tom divertido: seus piores medos, momento mais vergonhoso da infância e o que mais quer no futuro, tanto próximo quando distante.

– Hmm, o que eu quero pro meu futuro próximo eu já consegui. E pro distante, bem, quem sabe abrir uma firma de advocacia. – Ele da mais uma mordida em sua rosquinha, os olhos voltados, pensativos para rua. – Mas quem sabe? Futuro é futuro. Tudo pode mudar.

– Muito profundo senhor Foster.

– Obrigado, obrigado – Ele fala, sério, mas seus olhos estão divertidos – E você senhorita Johnson?

– Ok. Futuro distante... Bem, não tão distante, mas eu quero entrar em Standford, assim como você. E não, não é por você antes que me pergunte. É por mim. E futuro próximo... Acho que também já consegui tudo o que queria. – Você, penso involuntariamente e merda, acabo corando. Cabe levanta uma sobrancelha, mas não fala nada, apenas segue com as perguntas.

Logo estamos discutindo como pagar a conta e cara, Cabel Foster é um cara persuasivo. Ele acaba pagando tudo, mas só depois de prometer que da próxima – sim meus caros, haverá próxima – eu que pago tudo.

– Então... – Começo assim que botamos o pé para fora do café, mas ele me interrompe com um beijo leve, rápido demais. Seus lábios estão frios sobre os meus e de repente, ele está andando, me puxando pela mão.

– Desculpe, queria fazer isso desde que lhe vi na biblioteca. – Ele me olha rapidamente e cara, eu não consigo falar nada. Cabe não me beijara mais, infelizmente, depois daquele primeiro dia, então era meio óbvio que eu ficasse sem ação, deixando ele me arrastar pela calçada gelada.

Tudo ao meu redor parece indiferente, só o calor de sua mão na minha é que importa. Meus lábios ainda lembram o breve beijo, como um fantasma e eu me sinto muito otária por isso. Não estava agindo nem um pouco como eu mesma naquele dia cheio de pensamentos românticos e frases bregas. Mas vocês querem saber? Eu não ligo.

Andamos lentamente até minha casa – ele fez questão de me levar de volta, como o cavalheiro sádico que é -, ainda de mãos dadas e conversando um pouco sobre cada coisa. Cabel é sempre muito formal quando fala e eu me sinto um pouco intimidada com meu inglês arcaico e gírias sem fim, mas quando me desculpei por isso em uma das nossas conversas ainda na biblioteca, ele afirmara que gostava do modo que eu falava.

A cada dia eu sinto que posso ser eu mesma ao lado desse cara. E isso é algo muito bom para uma pessoa como eu, que não gosta de confiar nos outros. Eu posso dizer com certeza que confio no cara mal encarado que anda com passos firmes, uma mão no bolso e outra segurando a minha e não se importa de estar ao meu lado. É. Isso é muito legal.

– Chegamos – falo enfim, parando em frente ao portão da minha casa, sorrindo meio timidamente. Cabel assente e solta minha mão, meio constrangido.

– Sabe Chris, eu ando pensando nisso há um tempo – ele começa, não olhando pra mim, o tom da sua voz baixo e calmo. – e é horrível ter que manter algo para mim mesmo, com você tão perto assim.

– O que você quer dizer com isso, Cabe? – Sussurro em resposta, meio confusa e não sei se quero ou não saber o que ele vai dizer em seguida. Só o que me faltava ser dispensada agora.

– Eu quero dizer que me apaixonei por você. – Finalmente ele levanta seus olhos e encara os meus de um modo estranho, doce – Por você, Chris, com seus 16 anos e esse cabelo loiro indomável, com seu gosto duvidoso por homens e palavreado engraçado. E eu estou aqui, me declarando na frente da sua casa, depois do nosso primeiro encontro em pleno dezembro, como o bom rapaz que eu sou. – Ele sorri de leve no final e bem lá no fundo do meu cérebro eu rio de sua ironia, mas no momento eu não consigo fazer nada a não ser deixar minha boca escancarada.

– Meu santo anjo caído, isso é alguma pegadinha? – Murmuro sem querer e Cabel olha pra mim, meio confuso – Porque cara, eu realmente não sei como reagir. Quer dizer, Cabel Foster acaba de se declarar pra mim! Pra mim! Porque, cara, se você ainda não se tocou que eu ando caidinha por você nos últimos meses, deixa eu te lembrar: eu ando bem apaixonada por você também e puta que pariu.

– Pois é, puta que pariu – Ele dá um sorriso definitivo agora, um dos maiores que eu já vi ele se empenhando a dar e pega minha mão de novo, apertando-a entre seus dedos.

– Esse não é o momento em que você me beija? Porque segundo os filmes, é bem agora sabe. – Minha voz sai alta e ainda meio alarmada, mas Cabe só ri e com sua outra mão, puxa minha cintura para mais perto, calando minha boca com a sua.

O beijo que ele me dera há dois meses não é nada comparado com esse. No primeiro, eu sentia sua diversão meio sádica e agora, puxa, podia dizer que era por pura vontade e tão esperado por ele quanto era pra mim. Ele explora cada canto da minha boca com a mesma vontade que eu e me puxa mais forte ainda contra si. Meu coração volta ao ritmo suicida de sempre e cara, acho que meus joelhos viraram geleia.

– Desculpe interromper – Uma voz conhecida surge do nada, o que faz Cabe me largar rapidamente – mas isso aqui é uma casa de família.

– Josh! – Grito e meu irmão revira os olhos, os braços cruzados contra o peito. Ele está a poucos metros de nós, encostado em seu carro e com uma cara não muito feliz. Ah, que ótimo.

– Agradeça por ser eu e não o papai, Chris. – Ele responde meio seco, seus olhos agora voltados para Cabe. Ah merda. – Você deve ser o cara que minha irmã tanto fala. Cabel, né?

– JOSH! – Repito, mas sou prontamente ignorada. Josh se aproxima, os olhos analisando Cabe de cima a baixo. Volto meus olhos para ele também, mas Cabe parece bem mais relaxado do que eu imaginaria. Ponto pra mim. Eu acho.

– Sou eu mesmo. – Cabe fala e seus lábios sorriem minimamente (sorrisos desse gênero são rotina agora pra ele). Ele estende a mão que estava na minha cintura há poucos minutos para meu irmão, já que a outra ainda segurava a minha. – E você deve ser Josh, o irmão mais velho que Chris tanto fala.

– É. Soy yo. – Josh aperta a mão de Cabe firmemente e semicerra os olhos – Você não é um pouco velho pra ela não?

– Josh, já chega. Por favor – Falo entre dentes, soltando uma risadinha sem jeito. Josh levanta as mãos como quem se rende, lança um último olhar para Cabe como quem diz “estou de olho” e passando por nós, entra em casa. Ah cara, porque meu irmão tinha que estragar tudo?

– Seu irmão é legal – Cabe murmura, me puxando para perto de novo. Eu ainda não estou acostumada com todo esse toque, não que eu esteja reclamando, não, claro que não, mas que ainda é estranho, é.

– Quando ele não pega a irmã mais nova aos beijos com um cara mais velho na frente de casa, ele é sim. – Ponho minha mão livre na sua nuca e aproximo seu rosto do meu – Mas agora, deu de falar do meu irmão ciumento, ok?

Cabe não fala mais nada, apenas volta a me beijar ainda com um sorriso nos lábios – um sorriso que eu coloquei lá, e ando colocando com uma frequência bem grande. De novo, posso sentir que sua urgência é tão grande quanto a minha e pelo meu anjo caído, aquela língua ainda ia me deixar doida. Eu sou realmente uma sortuda do cacete!

– Cara, isso tá mesmo acontecendo comigo? – Consigo falar quando nos separamos minutos depois, já que nossos estúpidos pulmões precisam de oxigênio.

– Pensei que você fosse uma boa leitora. – Ele diz, ofegante igual a mim e com sua testa colada na minha.

– Eu disse que tento, né. Você ainda é um mistério, mas é um alivio que eu seja boa com o seu tipo de mistério.

– Também fico aliviado por isso. – Ele ri e seus olhos se voltam para meus lábios – Acho melhor eu ir, antes que eu te beije de novo. – Ele murmura por fim, meio hesitante.

– Eu não reclamaria, sério. – Falo, mas ele já está separado de mim, segurando apenas a minha mão.

– Boa noite, senhorita Johnson. – Ele se inclina um pouco, beijando pela segunda vez no dia a minha mão – Nos vemos em breve. – E Cabe se vira, soltando-se e pondo suas duas mãos recém-livres nos bolsos da calça.

– No lugar de sempre? – Grito para suas costas e ele apenas me olha sobre os ombros, ainda caminhando.

– Sempre. – E sorri meu sorriso favorito de novo, sumindo na esquina alguns segundos depois.

Me demoro por mais alguns segundos no lado de fora de casa, estupidamente estática. O frio faz com que minhas pernas se locomovam depois de um tempo e é só quando me jogo em minha cama no meu quarto que a ficha cai.

– O-M-F-G! – O grito que eu dou para meu teto me parece extremamente apropriado para o momento, afinal de contas, eu tenho muita coisa para digerir.

Cabel Foster, o cara no qual eu perseguia há tempos e que me parara certo dia na biblioteca, me beijara sadicamente e me chamara para sair depois de dois meses de uma certa amizade, tinha se declarado para mim na frente da minha própria casa, encarado meu irmão de frente e me beijado. Três vezes num dia só (ok, uma vez fora só um selinho, mas quem liga?).

Eu deveria realmente agradecer a todas as histórias piegas existentes, porque todas elas fazem jus à estupidez que é estar apaixonado por alguém. E acreditem, se você ainda não tentou, deveria, porque vale muito a pena.

Eu quem diga!

xxx



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Notas finais do capítulo

E é isso! Mais um momento fofinho desses meus dois tchutchucos.
Esperam que tenham gostado de mais um momento desses dois o quanto eu amei escrever. Tá bem melosinho e o final não ficou exatamente do jeito que eu esperava, mas pois é, tá ai!
Procurando a primeira one-shot? Tá aqui fella: http://fanfiction.com.br/historia/251428/Biblioteca./
Deixem reviews, seja xingando, me corrigindo ou me idolatrando, tô aceitando tudo! See ya.