Quando chegaram ao hospital, Misaki e Usui se dirigiram à recepção da ala de emergência e requisitaram uma consulta com um neurologista. A recepcionista pediu que aguardassem, e que preenchessem um formulário de entrada no hospital. Eles sentaram-se na sala de espera e começaram a escrever, até que ouviram uma voz terrivelmente familiar:

    — Ora, ora! Se não é o Usui Takumi!

    Misaki logo adquiriu uma feição feroz e Usui, instintivamente fechou a cara. Ela levantou-se rapidamente e cerrou os punhos, encarando o indivíduo que se encontrava à sua frente.

    — Igarashi Tora! — disse ela — O que faz aqui?!

    — Gentil como sempre, Maid-san... — disse ele em um tom de deboche. Um infeliz me acertou uma bola de beisebol, a caminho de meu treino de hipismo no colégio. E vocês? O que fazem aqui?

    — Algo que, certamente não te interessa. — disse Misaki. — Só... Suma da nossa frente.

    — Ayuzawa-san, que é esse sujeito? — perguntou Usui, ainda com a cara fechada.

    — Ninguém importante. — respondeu ela.

    — Hm... Amnésia, né? — disse Igarashi com a mão no queixo. — Interessante. Então, meu caro amigo, deixe-me ajudá-lo a recordar das coisas. — ele colocou sua mão no ombro de Usui, que ainda mantinha um olhar desconfiado — Você se lembra de quando disse que odiava o Colégio Seika? Que a presidente do colégio lhe dava nojo, com seu jeito mandão e tirana de ser?

    Usui agora parecia confuso e desviou o olhar para o chão.

    — Isso... Isso é verdade? — perguntou ele.

    — Claro que não! — disse Misaki. — Usui, não acredite nele!

    — É verdade sim, Usui. — disse Igarashi, se aproximando de Usui e descendo sua mão para o seu peito musculoso, carnudo e levemente definido. — Você mesmo disse que queria fugir para o meu colégio, o Miyabigaoka, para que ficássemos juntos, longe dessa tirana — sua língua passou pelos seus lábios e ele mordeu a extremidade do lábio inferior.

     Usui olhou para Misaki, como se pedisse ajuda ou como se implorasse que ela lhe desse uma prova definitiva de que tudo o que Igarashi disse era falso.

    — Ayuzawa-san — disse ele — eu nunca faria isso...

    — Usui... — disse Misaki, maravilhada pelo seu rosto fofo de vergonha — Não se preocupe, eu não acredito em uma palavra desse porco mentiroso. Você não deve se lembrar, mas... Você me salvou dele, certa vez. — acrescentou ela um pouco corada.

    “Esse sujeito estava querendo que eu me transferisse para o colégio dele. Mas eu não quis. Então, não satisfeito com isso, ele arquitetou um plano para que eu fosse lá e me sujasse. Assim, eu teria que tomar um banho ali mesmo. Mas, enquanto eu estava no banho, ele trocou minhas roupas por um uniforme de maid muito vulgar e tentou me atacar enquanto estávamos em sua sala. Mas, você apareceu e... Bem, me salvou desse mimado pervertido idiota.”

    Igarashi soltou uma risada.

    — Muito boa história, Maid-san. — disse ele — conseguiu me entreter... Mas acho que vai precisar de mais que isso para me separar do Usui, não é, meu querido?

    — Desencoste de mim, seu lixo! — disse Usui com um tom de voz cortante e os olhos sérios voltados para Igarashi. — Qualquer pessoa que fez isso com a Ayuzawa não é alguém que mereça respeito.

    Igarashi não se moveu, e Usui levantou o cotovelo e golpeou o rosto de Igarashi no lado do rosto. Enquanto caía para o lado, Igarashi cerrou o punho e tentou socar o queixo de Usui. Mas Usui deteu o golpe segurando seu braço e, aplicando um golpe de judô, ele rodopiou e arremessou Igarashi alguns metros à frente. Ele voou e quicou no chão, rolando.

    Algumas pessoas que estavam por perto chamaram os seguranças, e eles logo chegaram, segurando Usui e Igarashi, de forma que eles não podiam mais se mover. Igarashi sorriu maliciosamente e conseguiu gritar antes que o levassem embora:

    — Como esperado de um brutamonte que só sabe usar a violência! Mas, não se preocupe, isso terá volta...

    Os seguranças tentaram tirar Usui dali, mas Misaki explicou a história (talvez omitindo algumas coisas) e eles permitiram que Usui ficasse.

    Quando as pessoas se dispersaram e os seguranças foram embora, Usui virou-se para Misaki com o rosto corado e os olhos voltados para o chão.

    — Me-me desculpe — disse ele — não queria te fazer passar por esse constrangimento. Eu realmente peço desculpas.

    — Não se preocupe Usui. Ele estava nos incomodando, eu agradeço por você ter feito o que fez — acrescentou ela com um sorriso.

    Usui soltou um suspiro.

    — Ufa! Me sentiria um nada se tivesse feito algo que você não gostasse. Você é tão gentil comigo, me ajudando dessa forma. — disse ele com seu lindo e sedutor sorriso. Ele tomou a mão dela. — Obrigado, Kaichou.

    Misaki corou rapidamente. “Estamos muito perto” pensou ela.

    — N-não é nada — disse ela instintivamente. Seu coração batia descompassadamente e gotículas de suor surgiram no seu rosto.

    Usui também respirava mais rapidamente. “Ela é tão linda...” pensou Usui.

    O celular de Misaki começou a tocar. Usui se desconcentrou um pouco, mas Misaki simplesmente ignorou o aparelho, perdida nos lindos olhos verdes de Usui. “É impressão minha ou estamos mais perto ainda?” pensou ela. Então ela baixou os olhos para os lábios de Usui e corou mais ainda quando percebeu que desejava por aqueles lábios tão perfeitos. Usui então se moveu para frente, quando eles foram interrompidos.

    — Misa-chan! Que coincidência.

    — M-mamãe?! — disse Misaki desconcertada. Ela percebeu que ainda segurava a mão de Usui e a largou repentinamente.

    Usui, tão vermelho quanto Misaki, deu as costas e colocou a mão na parte de trás da cabeça.

    — Então, o que faz aqui? — perguntou a mão de Misaki sorridente.

    Misaki gaguejou um pouco pela interrupção inesperada mas conseguiu dizer:

    — O Usui está com uma leve amnésia, então, como Presidente do Conselho Estudantil, vim acompanhá-lo ao médico.

    — Ah, entendo. — disse a mãe dela. — Eu vim chamá-lo, o doutor está prono para vê-lo, Usui-kun. Consultório 4.

    — Obrigado, senhora Ayuzawa.

    — Então, vamos, Usui. — disse Misaki — Até mais, mamãe!

    — Até de noite — respondeu a mãe dela dando um tchauzinho.

    Usui seguiu Misaki pelo corredor e disse:

    — Já sei de quem você puxou toda essa sua beleza, Ayuzawa-chan.

    — Baka! Pare de falar besteiras. O consultório é esse. — disse ela entrando numa sala à direita.

    Atrás da mesa da sala, sentado em uma cadeira giratória, estava um homem alto, magro, com cabelos brancos e curtos, usando óculos e vestindo um jaleco branco. Apesar disso, aparentava ser bem jovem, com uns 30 anos.

    — Boa tarde, jovens. — disse ele — Como posso ajudá-los?

    Misaki descreveu a queda de Usui e disse que ele havia perdido a memória. O médico ouviu tudo atentamente e balançando a cabeça em sinal afirmativo. Eles fez algumas anotações em um computador branco. Por fim, ele perguntou:

    — E ele já se lembrou de alguma coisa?

    — Bem — disse Misaki — ele já teve alguns lampejos de memória, mas quase sempre ele precisa de um estímulo para que isso aconteça.

    — Nesse caso, ele provavelmente está com amnésia parcial, não muito grave. Ele deve se recuperar totalmente em, no máximo, duas semanas. A não ser que se seja um caso muito raro em que o indivíduo não recupere todas as memórias, deixando um vazio em alguns momentos da sua vida. De fato, estímulos ajudam a lembrar de tudo mais rapidamente. Mas, por via das dúvidas, irei passar alguns exames para você fazer, Usui-kun.

    Uma hora depois, Usui e Misaki estavam de volta ao consultório, com todos os exames feitos.

    — Então — disse o doutor — Tudo está bem. Aliás, esse é um ótimo exemplar de cérebro. Acho que vou querer examiná-lo daqui a 30 anos.

    — O QUÊ? — disseram Misaki e Usui em uníssono.

    O doutor soltou uma risada.

    — Relaxem, meus jovens. Segundo minha expectativa, nessa hora ele não vai mais estar precisando dele.

    Isso não melhorou muito a cara de espanto dos dois.

    — Mas voltando ao presente — disse o médico. — o quadro é exatamente o que eu esperava. Ele está com amnésia e não creio que remédios vão ajudar muito. Assim, só posso aconselhar que ele visite lugares em que já esteve, de preferência onde ele teve emoções fortes. Isso fará com que ele recupere as memórias mais rapidamente. Caso tenha dor de cabeça, pode tomar qualquer remédio que quiser.

    — Muito obrigado, doutor — disse Usui fazendo menção de sair. Então ele virou-se e perguntou — Desculpe, mas não acho que peguei o seu nome.

    — Eu sou o Dr. Anderson Insanity Platt Osbourne.

    — Vamos, Usui. — disse Misaki puxando Usui.

    Eles saíram do hospital e ficaram caminhando na rua.

    — Poxa, já está anoitecendo... — disse Usui.

    — Verdade.

    — Entao, o que faremos agora?

    — Vamos para casa. Amanhã conversamos.

    — Boa ideia. Só há um problema.

    — Qual?

    — Etto... Onde é que eu moro?