Destino escrita por Eve


Capítulo 34
Capítulo Trinta e Quatro


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá. Sei que essa foi uma demora considerável para alguém que tinha prometido estar de volta à ativa, mas juro que não estive parada: os capítulos um ao quinze foram revisados, e se alguém estiver no mood, tem o meu incentivo para reler esse início da história. Estou fazendo o possível para conciliar a revisão do restante dos capítulos já postados com os novos que ainda estou escrevendo, espero que compreendam ♥



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XXXIV

 

 

 

O tempo revolto continuava a castigar Atlântida impiedosamente. Havia chovido quase que sem parar pelos últimos dois dias e se as coisas continuassem naquele ritmo eles provavelmente teriam prejuízo nas colheitas. Era uma sorte que Atena e sua comitiva tivessem partido num dos dias de trégua daquele dilúvio ou sua caravana sequer teria sido capaz de encontrar a estrada por onde seguir.

Apenas dois dias tinham se passado desde que Atena partira para o Olimpo,  mas ainda assim o castelo já parecia mais vazio e sombrio sem sua presença. Poseidon preferia evitar tanto quanto possível passar muito tempo no escritório, biblioteca ou mesmo em seu quarto, já que estes eram os cômodos que costumava dividir com sua esposa e portanto pareciam estranhamente grandes e silenciosos sem ela ali.

A saudade de Atena não era a única coisa que o atormentava. Não havia conseguido - muito embora tivesse tentado arduamente - tirar o conteúdo daquela carta surrupiada de sua mente, e assim permanecia constantemente atormentado pela incerteza. Tudo o que ele pensava saber sobre a relação dos dois tinha sido posto em cheque quando lera as palavras de Atena. Havia decidido não confrontá-la a respeito disso até que voltasse de sua viagem, mas ela só retornaria dali a dez dias ou mais, dependendo das condições do tempo, e Poseidon já começava a achar que enlouqueceria nesse meio-tempo.

Para se manter ocupado e distraído das questões que o atormentavam, Poseidon se dedicava à preparação para os eventos que aconteceriam no feudo dali a pouco mais de duas semanas. Agora que todos os preparativos para a chegada dos vassalos tinham sido concluídos, ele tratava dos arranjos bélicos.

Todos os homens da cidade em idade apta para lutar já tinham sido devidamente convocados e registrados, e nas horas em que não estavam ocupados no campo ou em seus ofícios, se revezavam em grupos para receber treinamento no castelo. O ferreiro local, junto de seus aprendizes, trabalhara em dobro nas últimas semanas, forjando as armas, armaduras e outros equipamentos necessários para um combate, assim como os carpinteiros e outros artesãos que pudessem ser necessários à equipagem do exército.

Poseidon ainda não tinha desistido completamente de resolver aquele conflito pela via diplomática, mas considerando o histórico de Cronos, não era provável que seu pai fosse desistir de sua reivindicação. A última esperança que ele tinha era que conseguisse reunir tropas tão vastas que fariam Cronos decidir recuar antes de entrar em um embate de fato.

Sir Ulisses, por ser ainda o único cavaleiro residente no castelo, se encarregara de treinar os pajens e escudeiros, uma ajuda surpreendentemente útil, mas que não fora o suficiente para diminuir a má impressão que Poseidon nutria por ele. O sentimento parecia ser recíproco, e por isso os dois evitavam interagir mais do que o que fosse estritamente necessário. Agora que o único elo entre eles estava ausente era ainda mais raro que trocassem algum palavra ou fizessem qualquer tipo de contato.

Por causa da chuva ininterrupta o treinamento diário estava acontecendo na área interna do castelo, mais precisamente no grande salão. As longas mesas e bancos de madeira, assim como o estrado, haviam sido arrastados até que estivessem encostados nas paredes e os rapazes ocupavam a parte central, puxando pesos de ferro, madeira e pedras, se dividindo em duplas para praticar luta corpo a corpo e até arriscando manejar espadas, bestas e outras armas. Poseidon se deteve por um momento para observar o progresso dos jovens guerreiros e satisfeito com o que via, se retirou para tratar de seus outros afazeres.

Algumas horas depois, a chuva cedeu de sua vazão intensa para um chuvisco fino, e ele aproveitou a pequena trégua para ir até a vila. Cavalgou rapidamente a distância entre os muros do castelo e o conjunto de pequenas casas que se aglomeravam ao redor de uma praça central onde ficava a pequena igreja da cidade e ocasionalmente eram montadas as feiras e festivais que os próprios moradores organizavam.

A maioria da população estava ocupada trabalhando no castelo ou nos campos e pomares apesar da chuva, mas havia algumas crianças brincando por entre as casas ou cuidando dos pequenos animais que as famílias criavam para sua própria subsistência e aqui ou ali ele via também mulheres estendendo roupas recém-lavadas ou limpando seus quintais.

Poseidon era reconhecido e cumprimentado por onde passava, e seguiu até a igreja para lá deixar seu cavalo em segurança e cumprimentar padre John. Quando cumpriu seu intento, foi então a pé até as hospedarias.

O castelo abrigaria as famílias dos vassalos e suas criadagens, mas outros visitantes além dos de sangue nobre eram esperados para as festividades em Atlântida - tanto dos feudos vizinhos quanto viajantes independentes que viviam em constante peregrinação para divulgar seu trabalho ou oferecer serviços aos senhores das terras onde estivessem - e por isso a cidade devia estar preparada para hospedar os forasteiros da melhor forma possível.

Atlântida tinha duas estalagens: a primeira existia desde que Poseidon era criança e tinha sido fundada por um casal de moradores mas atualmente era gerida apenas pela mulher que havia se tornado viúva há alguns anos. Mary já tinha uma idade avançada e recebeu Poseidon afetuosamente quando o pequeno sino na porta anunciou sua chegada. Ela usava um vestido surrado e um avental manchado, os cabelos mais brancos do que castanhos escapando do coque no alto de sua cabeça. Escutou atentamente enquanto ele lhe passava as instruções e comemorou a notícia de que logo teriam visitantes.

— É tão raro termos movimento nessa época do ano! - Ela lamentou. - E desde que Peter se foi, tem sido difícil manter isso aqui sozinha.

Poseidon concordou educadamente e ofereceu ajuda do castelo no que ela precisasse antes de se retirar e seguir rapidamente para o próximo prédio. Trovões já retumbavam à distância e ele gostaria de estar de volta em casa antes que a tempestade desabasse novamente.

A segunda estalagem era um misto de pousada e taberna e havia sido construída mais recentemente por um senhor que se mudara para Atlântida depois de perder os dois filhos numa batalha em que seu antigo suserano se envolvera. Poseidon entrou no estabelecimento e novamente foi anunciado pelo sino na porta, mas não havia ninguém para recebê-lo dessa vez. Caminhou por entre as mesas ainda vazias até o balcão nos fundos. Algumas canecas, barris de cerveja enfileirados, mas nenhum sinal do anfitrião.

Estava prestes a buscar algum modo de anunciar sua presença quando a pequena porta atrás do balcão se abriu e de lá saiu uma jovem com uma bandeja em cada uma das mãos. Ela as depositou pesadamente no balcão antes de notar sua presença ali. Quando finalmente o viu e o reconheceu, provavelmente pelas vestes e pela compleição física inconfundível, corou e fez uma reverência.

— Meu senhor. Desculpe a demora, estava ocupada na cozinha preparando os…

— Não se preocupe. - Ele a interrompeu antes que começasse uma explicação longa demais. - Estou procurando o proprietário, Philip, se não me engano? Tenho alguns assuntos a tratar com ele.

Ela assentiu rapidamente.

— Sim, sim, irei chamá-lo num instante. - E saiu pela mesma porta por onde veio. Poseidon aguardou mais alguns minutos e ouviu quando voltou a chover. O ruído alto da água lá fora era o único som além da lareira crepitando no canto do salão. Finalmente, o dono da estalagem apareceu, seguido de sua funcionária.

O tal Philip também já era velho o suficiente para ser pai ou avô de Poseidon - embora provavelmente fosse mais novo que Mary - e o cumprimentou com animação depois de secar as mãos em um dos panos encardidos em cima do balcão. Seus poucos cabelos e também os ombros estavam permeados por respingos da chuva. Poseidon foi tão breve quanto possível ao explicar a situação e assim que todos os detalhes tinham sido combinados, fez menção de deixar o estabelecimento.

Philip exasperou-se.

— Mas de maneira alguma permitirei que meu senhor saia daqui nesse temporal! - Ele deu a volta no balcão e colocou um banco para que Poseidon se sentasse. - Fique aqui até o tempo melhorar ou acabará ficando doente. Minha neta irá lhe servir nosso melhor hidromel enquanto eu vou até os fundos tirar minhas tortas do fogo, estarei de volta em um minuto.

Poseidon não teve muita escolha além de fazer o que o homem dizia, e a chuva realmente estava muito forte para que ele voltasse a cavalo para o castelo. Antes que se desse conta, a jovem atendente já tinha colocado um copo cheio à sua frente. Ele aceitou e tomou um gole enquanto observava a moça virar-se para limpar metodicamente os copos que trouxera nas bandejas, que claramente já estavam imaculados.

Só então ele se deu conta de que ela estava constrangida pela sua presença ali. Poseidon suprimiu um sorriso. O tempo que passara apenas com Atena quase o fizera esquecer de que ele geralmente causava esse efeito nas mulheres. Quando era mais jovem, sua mãe costumava dizer que ele e o irmão eram belos demais para o próprio bem.

Decidiu tentar quebrar o gelo.

— Então, você é neta de Philip?

Ela ergueu os olhos, surpresa, como se o mero fato de ele lhe dirigir a palavra fosse estarrecedor. A jovem tinha belos olhos, de uma cor entre o verde e o azul, que davam alguma vida ao rosto comum. Clareou a garganta antes de responder:

— Sim. Minha mãe me mandou para Atlântida há algumas semanas para cuidar dele. Nós somos a única família que meu avô ainda tem.

Poseidon assentiu. Não sabia o que falar em seguida, uma vez que era perda de tempo se apresentar. Não havia segredos quanto à sua identidade. Pegou um dos copos que estava a seu alcance e o estendeu a ela.

— Beba comigo. - Sugeriu. Ela olhou dele para o copo, desconfiada, antes de enchê-lo com a mesma bebida que o servira e puxar um banco para sentar-se à sua frente, do outro lado do balcão. De perto ele conseguia notar melhor suas bochechas pronunciadas, o cabelo longo e castanho e até a parte do seu colo exposta pelo pequeno decote.

— Vamos fazer um brinde. - Ele propôs. - Como se chama mesmo?

— Medusa. - A jovem respondeu.

Poseidon ergueu o copo, e ela o imitou.

— À sua saúde, então, Medusa. - E tocaram os copos antes de virá-los.


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Notas finais do capítulo

*música de filme de terror toca ao fundo*
Esse capítulo foi um daqueles que por mais que eu já soubesse exatamente como seria e estivesse até ansiosa para vê-lo pronto, deu um trabalho enorme para vir a existir. Porém, descobri que escrever à mão é um santo remédio pra me tirar do bloqueio, então talvez os próximos não sejam tão demorados.



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