Destino escrita por Eve


Capítulo 32
Capítulo Trinta e Dois


Notas iniciais do capítulo

oi gente. feliz 2017 :)



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XXXII

 

 

 

Quando Poseidon era criança e visitava seu tio em Atlântida, seu maior encanto sempre fora o mar. Aquela presença fronteiriça nas terras do feudo exercia verdadeiro fascínio no seu eu infantil, principalmente pelo fato de os domínios de seu pai estarem tão terrivelmente longe de qualquer pedaço do litoral que ele só era contemplado pela visão algumas vezes a cada poucos anos. Ele se lembrava claramente de, numa das primeiras vezes em que havia passado uma temporada mais longa ali, ter presenciado pela primeira vez o mar revolto e as tempestades violentas características de Atlântida. E lembrava também de perguntar a seu tio como era possível tamanho caos, se ainda no dia anterior ele estivera tomando banho em águas plácidas sob um céu sem nuvens. A resposta que lhe fora dada era de conhecimento geral de qualquer pessoa um pouco mais velha do que ele na época: Há sempre uma calmaria antes da tempestade.

Pois bem. Sua vida nesse momento se parecia terrivelmente com a calmaria antes da tempestade. A relativa paz envolvendo todos os assuntos com os quais ele estava lidando no momento - o agrupamento dos vassalos, o recuo de Cronos, seu relacionamento com Atena, a ordem no feudo - parecia o presságio de algo terrível que estava para acontecer, e ele não sabia se este algo terrível era a guerra iminente contra Ótris ou outro acontecimento ainda mais catastrófico.

De qualquer maneira, não havia muito a se fazer além de esperar o desfecho de tudo aquilo. Portanto, Poseidon se concentrava nas suas tarefas diárias e tentava deixar de lado esse sentimento sufocante. No momento, terminava de redigir alguns decretos quando um de seus intendentes bateu a porta do escritório.

— Com licença, milorde. - O rapaz pediu enquanto se fazia presente à sua frente e estendia um pesado envelope na sua direção. - Um mensageiro do feudo Olimpo acaba de deixar aqui essa correspondência.

— Obrigado, Henry. - Poseidon respondeu enquanto recebia o envelope e dispensava o garoto com um gesto. Desde o casamento, ele não havia mais entrado em contato direto com os Norwood. Vez ou outra, via Atena escrever cartas para suas irmãs ou prima, provavelmente, e pedia que acrescentasse suas lembranças, mas nenhum tipo de negociação oficial ou mesmo comunicação espontânea acontecia entre os lordes Valence e Norwood. Portanto, presumiu que aquela fosse uma das correspondências pessoais de sua esposa, e decidindo dar um tempo em seus afazeres, deixou seu escritório e saiu para procurar Atena e entregar-lhe a carta em mãos.

Foi primeiro à biblioteca, onde ela costumava passar as tardes livres, mas lá encontrou apenas Ulisses que o informou ter ouvido Atena dizer que iria deitar-se um pouco pois estava se sentindo indisposta. Poseidon apressou-se em subir as escadas até seus quartos após ouvir isso, preocupado que Atena pudesse estar sentindo uma recaída de suas misteriosas crises. Porém, ao chegar em seus aposentos, descobriu que estavam também vazios. Procurou tanto em sua câmara como na dela, assim como no quarto de vestir e até nos banheiros, concluindo que de fato ela não estava ali. Foi então até a mesa de Atena, decidido a deixar lá o envelope para que ela visse quando retornasse de onde quer que estivesse.

O móvel estava completamente coberto de penas, tinteiros e pergaminhos, assim como alguns e livros e velas utilizadas até a metade, indicando noites longas de planejamento para os futuros eventos do castelo. Sabendo que Atena não gostava que desorganizassem sua bagunça, abriu uma das gavetas para colocar ali dentro a carta de sua família. Seria uma tarefa rápida e simples se sua atenção não tivesse sido capturada por algo inesperado.

Poseidon nunca fora excessivamente curioso ou bisbilhoteiro. Mas ao ver ali uma carta inacabada na caligrafia inconfundível de Atena, com seu nome despontando em meio às palavras escritas lindamente no papel, qualquer impulso que ele não sabia possuir fez com que tirasse aquele pergaminho da gaveta e o trouxesse para ser examinado mais de perto.

Era de fato uma carta, direcionada à Perséfone Norwood. Sem conseguir conter-se, uma rápida leitura das primeiras linhas deixou claro que a prima de Atena havia perguntado sobre o seu casamento, e particularmente, sobre seu marido, na correspondência anterior.

Ele estava completamente ciente de aquela era a privacidade de Atena. E talvez, se ele estivesse um pouco menos apaixonado, e consequentemente, menos inseguro e estúpido, Poseidon teria respeitado isso e simplesmente deixado para lá. Entretanto, a sede de querer conhecer o pouco que fosse dos sentimentos que Atena mantinha tão seguros dentro de si o fez devorar com voracidade as palavras que ela havia escrito para sua prima.

Como anteriormente observado, era uma carta inacabada. Ainda assim, o conteúdo que ali havia era o suficiente para fazê-lo se arrepender de ter intrometido-se no que não era seu assunto. As palavras lidas o deixaram com um gosto amargo na boca e uma sensação de vazio no peito, mas antes que pudesse processar muito além disso, ouviu passos na escada e em direção à porta, e rapidamente guardou de volta o pergaminho que não lhe pertencia.

— Nik me disse que o viu subir até aqui. - Era a voz de Atena, é claro. - Estava me procurando?

Poseidon respirou fundo e tentou portar uma expressão que não entregasse o caos que se alojara dentro de si. Virou em direção à entrada do quarto a tempo de vê-la caminhar até ele e casualmente ficar na ponta dos pés para dar-lhe um rápido beijo nos lábios, sua forma usual de cumprimento. Pigarreou e esforçou-se para formar uma frase completa.

— Chegou uma carta do Olimpo, e eu supus que fosse para você. - Ele conseguiu falar enquanto lhe estendia o envelope. Atena o pegou, aparentemente não notando nada de errado em sua voz. Poseidon observou enquanto os olhos cinzas corriam pelo pergaminho, e a bela face iluminava-se em toda sua glória.

— É um convite! - Ele conseguiu registrar a animação na voz dela mesmo com a nuvem que encobria seus pensamentos. - Hebe vai se casar e eles desejam nossa presença na cerimônia. Será antes do nosso baile, então poderemos ir sem problemas, sim?

Poseidon demorou um pouco para compreender que ela estava lhe fazendo uma pergunta. Apenas quando notou sua espera cheia de expectativa ele esforçou-se para falar:

— Sim, claro… - Registrou superficialmente o sorriso que ela abriu ao ouvir a confirmação que esperava, e observou ainda alheio quando ela disse algo sobre iniciar os preparativos para a viagem e saiu apressadamente, não sem antes dar-lhe outro beijo, dessa vez na bochecha.

Poseidon sentia como se o tivessem revirado do avesso. Fechou os olhos e a caligrafia de Atena ainda queimava por trás de suas pálpebras, frescas como se aquela carta tivesse acabado de ser escrita. A decepção o consumia de dentro para fora, mesmo que no fundo ele soubesse que não havia motivo para sentir-se assim. Engoliu em seco e reuniu as forças que lhe restavam para sair dali. Aquela era a tempestade que havia ameaçado desabar durante toda essa frágil calmaria, e ele estava descobrindo da pior maneira possível que não estava preparado para enfrentá-la.


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