Destino escrita por Eve


Capítulo 29
Capítulo Vinte e Nove




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XIX

 

— Inacreditável! – Atena resmungou. Havia passado boa parte da manhã ensinando a pequenos diabinhos um pouco de boas maneiras, supervisionara a parte final da limpeza e reforma da biblioteca, havia visitado a cozinha e todos os criados para tomar notas sobre o que ainda seria necessário para o perfeito funcionamento do castelo, tudo isso apenas naquele dia. E quando a noite finalmente chegara e ela só pensava em dormir, havia encontrado no caminho mais uma coisa a impedindo.

— Sinto muito, minha senhora. – O criado se desculpou. – Mas não posso fazer nada sobre isso hoje, precisarei de algumas ferramentas da cidade e com essa chuva...

— Eu sei, eu sei. Tem razão. Sinto muito por incomodá-lo, pode voltar a seus aposentos.

— É um prazer servi-la, milady. – O criado curvou-se numa reverência. Seu companheiro esgueirou-se com dificuldade para fora da lareira, um pouco sujo de fuligem. Nesse momento, a porta que dividia seu quarto e o de Poseidon se abriu.

Ele adentrou o aposento cauteloso e observou com uma expressão interrogativa o servo que estivera examinando a lareira levantar-se e espanar as cinzas de sua roupa.

— Algum problema aqui? – Perguntou finalmente.

— Minha lareira está obstruída. – Atena respondeu. – Provavelmente a chuva deve ter derrubado parte dela e as pedras estão bloqueando a saída da fumaça.

— Nós podemos consertar isso, senhor. – O servo mais velho e que não havia entrado na lareira começou a falar rapidamente. – Mas não hoje, pois precisaremos de materiais e ferramentas da cidade e...

— Já disse isso. – Atena o interrompeu. – Podem se retirar.

Os dois saíram apressados. Atena virou para Poseidon, que continuava lá:

— Você também já pode retornar a seus afazeres.

Ele a ignorou, dando um passo à frente.

— Não pode dormir aqui sem acender a lareira. Está muito frio e...

— Eu sei. – Ela o interrompeu, enquanto caminhava até o cabide e pegava seu manto. – Por isso mesmo vou para o quarto do segundo andar, os móveis de lá foram trocados recentemente e a limpeza daquela ala já foi concluída.

Atena parou um segundo para fechar o manto ao redor de seu pescoço. Quando ergueu a cabeça, Poseidon já estava em sua frente.

— Não precisa descer para o segundo andar. – Ele falou lentamente, encarando qualquer ponto abaixo de seus olhos. Inclinou a cabeça levemente antes de concluir a frase. – Pode dormir comigo.

Atena não respondeu. Estava muito focada em observar o rosto dele, tão próximo quanto estivera quando ele a beijou naquela manhã, pegando-a totalmente de surpresa. Os olhos verdes brilhavam, mas ele estava sério. Ela não havia dormido no quarto de Poseidon na noite passada e não pretendia voltar para lá agora que havia se recuperado da crise que a acometera, fazendo-a quase sufocar durante o sono. Ficar próxima demais de seu marido apenas servia para lhe confundir mais e mais sobre aquela súbita mudança de sentimentos em relação a ele. Sua rejeição se transformara em algum tipo de desejo sem que ela sequer percebesse, e não confiava mais tão completamente em seu julgamento racional quando o assunto era Poseidon.

— Não, obrigada. – Ela conseguiu dizer finalmente, e saiu de perto dele, caminhando rumo à porta.

Poseidon segurou seu braço.

— O que os criados irão comentar se souberem que você preferiu mudar de torre a dormir com seu marido?

Atena franziu os lábios, considerando aquele comentário. Os novos servos poderiam mesmo fazer comentários inoportunos caso interpretassem mal aquela mudança de cômodo, e rumores venenosos eram tudo que os novos senhores não precisavam para se estabelecer bem ali. Então, mesmo contrariada, convenceu a si mesma que a desculpa que ele dera para que ela dormisse ao seu lado era tão boa quanto qualquer outra.

— Tudo bem. – Ela cedeu, fazendo-o sorrir.

...

O quarto de Poseidon estava deliciosamente aquecido. Tirou seu manto, pendurando-o ao lado do dele, e acabou se deitando no mesmo lugar que ocupara na última vez que estivera ali. Ele se deitou ao seu lado e os dois permaneceram em silêncio. O crepitar do fogo na lareira e o bater insistente do vento e da chuva nas janelas fechadas eram os únicos ruídos que perturbavam aquela paz. Atena estava cansada, mas não exatamente com sono, então resolveu quebrar o silêncio:

— A biblioteca já está completamente restaurada. Era a última parte a ser concluída, então temos agora todo o castelo disponível para uso.

Poseidon virou-se completamente para ela antes de responder.

— Isso é ótimo. Foi bem mais rápido do que eu pensei. Acredito que mereça congratulações pelo seu esforço nessa restauração. Jamais pensei que veria esse castelo trazido de volta à sua antiga glória.

— Obrigada. - Ela corou de leve ao aceitar o reconhecimento. - E eu estava pensando... Como já estamos em condições de receber hóspedes, poderíamos fazer nosso primeiro baile. Mostrar a todos que Atlântida está de volta à ativa.

Dessa vez foi ela que se virou de lado para ficar de frente para Poseidon. Estava ansiosa por sua resposta, pois sempre sonhara em organizar seu próprio baile.

— Com toda certeza. – Ele respondeu com um sorriso. – Na verdade, é exatamente de um baile que estamos precisando. Convidaremos todas as famílias de feudos vizinhos e isso facilitará as novas negociações em que tenho me engajado, além de ser um ótimo pretexto para renovarmos os laços com os antigos vassalos de meu tio.

Atena acenou em concordância, o nervosismo de ser pensar em lidar com todas aquelas famílias nobres invadindo sua animação pelo evento iminente.

— Ótimo. Começarei a organizar tudo amanhã mesmo, e poderemos enviar os convites dentro de alguns dias. Ou quando a chuva nos permitir.

...

Os dois continuaram a conversar sobre as questões mais urgentes do feudo e do castelo até que Atena bocejou.

— Acho que podemos esperar até amanhã para resolver o que tivermos de resolver. – Poseidon falou e aproximou-se, depositando um beijo em sua testa. – Durma agora.

Atena encolheu-se em suas cobertas. Esses pequenos gestos dele sempre a surpreendiam, mas ela não podia dizer que não a agradavam.

— Boa-noite. – Ela desejou, com a voz terrivelmente seca.

— Boa-noite. – Ele respondeu, e mesmo sem olhar ela conseguia ver o seu sorriso.


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