O plano do Uchiha mais velho ficou zanzando em sua cabeça durante todo o tempo em que ela permaneceu no quarto do hospital, dormindo num sofá ao lado da cama de hospedes onde Itachi passou o ultimo mês.

Ela vestia uma longa camiseta de Itachi, que lhe servia perfeitamente de camisola. Deixou suas roupas secando perto da janela para que ela pudesse usar no dia seguinte pelo menos até chegar em sua casa e poder trocá-las antes de voltar ao ginásio. A parte mais difícil desse plano, pensou ela, era conseguir falar com os outros sem que Sasuke ouvisse.

O grande problema dos espíritos é que eles podem estar em qualquer lugar, a qualquer hora, ouvindo o que quiserem.

Passou a noite toda cochilando por alguns minutos e acordando em seguida, por sua ansiedade que parecia lhe gritar nos ouvidos, mantendo-a acordada.

Na manhã seguinte, mal viu os primeiros raios de sol e já se levantou, colocando as roupas quase secas com que passou toda a noite anterior. Fez tudo em silencio, querendo não acordar o irmão mais velho, porém, quando estava apenas de sutiã e calça, notou que ele a encarava fixamente e seu rosto queimou em vergonha.

- Acredite, já vi seios maiores. Diga-se de passagem, não apenas vi, então, não se preocupe, não vou te agarrar nem ficar pensando em você enquanto me masturbo. – A naturalidade com que ele falava isso parecia deixá-la com mais vergonha ainda. - Mas, fique avisada, eu tenho sono muito leve, então se da próxima vez não quiser que eu veja, vá se trocar no banheiro.

Ela terminou de se vestir com uma rapidez absurda ao passo em que o Uchiha mais velho apenas se deu ao trabalho de sentar na cama, passando os dedos pelos cabelos muito escuros.

Uma enfermeira entrou no leito quando ela já estava toda vestida, chegando com o café da manhã para os dois, que Sakura comeu rapidamente, porém com satisfação, já que não colocava nada no estomago desde o almoço do dia anterior.

- Bem, eu vou até minha casa e depois volto para colocar sua idéia em prática. Se tudo der certo, você vai ficar sabendo... Se não der, vai ficar sabendo da mesma forma. – Falou ela, pegando sua bolsa e saindo rapidamente.

Foi até a estação de metro mais próxima, chegando em casa em vinte minutos, tomando banho e colocando uma roupa limpa. Despediu-se de uma fotografia dos pais, saindo com uma torrada na boca de volta ao metrô. E em mais vinte minutos, estava novamente em frente ao ginásio.

Estranhamente, ao invés de estarem lá dentro, o loiro que se chamava Deidara e o ruivo Sasori estavam lá fora, sentados e apoiados na parede. O ruivo atrás, com o loiro entre suas pernas, como um casal. E... Aparentemente, eles realmente eram um casal... Pensando bem, combinavam mesmo. Sakura não tinha parado para analisar a sexualidade deles no dia anterior, só que, agora... Nada parecia mais normal, sabe?

Assim que a viram os dois se levantaram, como se tomados por uma vergonha súbita e ela sorriu.

- Preciso falar com vocês, mas tenho de ter certeza de que Sasuke não pode nos ouvir. Naruto também precisa ouvir. – Ela sussurrou quando se viu próxima o suficiente. Os dois a encararam com uma curiosidade ímpar e Naruto se materializou ao lado deles na mesma hora.

- Sem problemas, o idiota lá de dentro não pode sair do ginásio, sem a alma toda ele fica muito limitado no lugar onde morreu. É como se ele estivesse preso. – Naruto falou com aquele sorriso animado de sempre.

Ela respirou fundo, pensando em como começar. Assim que chegou a uma conclusão, passou a falar, rápido e baixo, porém de maneira completamente legível aos três.

- Sasuke se sente mal por vocês não o culparem. Eu passei a noite falando com Itachi e ele deu a idéia de vocês fazerem o contrário, de o culparem por tudo. É arriscado, isso pode fazer com que ele decida morrer de verdade, entretanto pode tirar esse remorso de cima dele e o fazer decidir voltar... Não temos mais muito o que fazer então... Acho que é a melhor idéia. Ele tem que decidir voltar. O que me dizem? – Leves sorrisos gêmeos foram se instalando no rosto dos três espíritos.

- Deixe com a gente... Crueldade não é exatamente um problema pra quem já está morto, Un. – Deidara pareceu verbalizar o pensamento de todos.

- Vamos fazer isso a noite, porque de dia muita gente entra no ginásio, então, fique do lado de fora... Lá pra meia noite. Faremos o possível. – Sasori completou.

E a flor sorriu de orelha a orelha, achando que realmente tinham uma chance agora.

•••

Exatamente a meia noite, Sakura voltou ao portão onde novamente o casal loiro e ruivo a esperavam, com as mãos disfarçadamente dada as costas.

- Sabe... Fico me perguntando o que tem depois que formos embora daqui. Se Sasuke realmente voltar ao corpo... Acho que nós vamos seguir em frente, certo? Un. – Deidara devaneou e Sasori lhe beijou a face.

- Eu não sei... Só falo com os que ainda estão aqui. – Sakura falou, não se incomodando nem o mínimo com a cena. Na verdade os achava um casal bonito. Apesar se sua sexualidade ser perfeitamente heterossexual, não via sentido em reprimir o amor alheio.

- Bem, não entre durante todo o tempo, ele pode arremessar coisas por aí. Quando terminar, um de nós vem lhe avisar. – O Suna finalizou. Ela concordou e ambos passaram pela parede como se ela não existisse desaparecendo dentro do ginásio escuro.

Pouco mais de um minuto se passou em silencio absoluto, até que a luz dos postes em frente a construção começaram a piscar fortemente e algumas palavras passaram a atravessar as paredes sólidas, chegando aos ouvidos da Haruno sem fazerem muito sentindo. O barulho das bolas chicoteando nas paredes a assustava de vez em quando...

O que estava acontecendo ali dentro?

O estrondo de alguma coisa de metal começou a ecoar lá dentro e alguns moradores próximos colocaram as cabeças para fora, querendo ver o que diabos estava acontecendo.

Isso perdurou por vários minutos, até que, quando ela achou que estava tudo bem, abriu um pouco do portão, se enfiando para dentro.

Sakura chegou a ver o susto transpassando pelo rosto de todos os quatro meninos, mas só percebeu o que tinha acontecido quando ouviu um barulho liquido, como uma gota batendo ao chão, sob seu corpo.

Levou uma das mãos para a altura do abdômen, sentindo a ponta afiada de um pedaço de metal atravessando a um ponto especifico de seu tórax, entrando pela frente e saindo em suas costas. Ela não sentia a dor, pela adrenalina absurda que lhe corria o corpo, mas sentia a fraqueza, fazendo com que ela caísse de joelhos no chão.

Os quatro saíram do choque, rodeando-a e falando coisas meio desconexas.

- Mandamos você não entrar antes de avisarmos! – Foi uma das únicas coisas que ela discerniu, mas não soube falar quem tinha pronunciado essa frase.

- Eu... Juro que... Se eu morrer tentando... Salvar sua vida e não... Conseguir... Volto só pra te... Espancar. – Ela murmurou entrecortadamente, golfando uma bolha de sangue que lhe escorreu pela boca, enquanto olhava fixamente para Sasuke.

A inconsciência lhe atingiu em seguida, colocando a mente da flor numa completa escuridão.