III – Fallen + Himmel

- Fallen! Não consegue parar de falar, só por cinco segundos???

Fallen finalmente parou de falar e olhou para Prince. Seus olhos de prata carregando uma expressão entre surpresa e curiosidade encontraram os olhos de rubi do irmão, que carregavam uma expressão consideravelmente... Revoltada.

- Desculpe? – Fallen indagou, de sobrancelhas ligeiramente erguidas, contrastando com as sobrancelhas franzidas do outro. Ou melhor, com a sobrancelha visível, já que a outra se encontrava enfaixada juntamente com seu respectivo olho. Apenas um ferimento leve ainda não cicatrizado, resultante da recente falha do que Prince chamaria de “Plano de Dominação Mundial do Fallen”.

- “Desculpe” mesmo! Você está falando tanto que parece um gravador sem botão de ‘stop’!

Fallen riu. Aquele riso melodioso, cristalinho e – aparentemente – sincero que vinha constantemente do rapaz e que encantava tanto às pessoas (que no fundo, ele desprezava tanto) e lhe rendia constantes perdas de obstáculos. Para qualquer um que visse a cena, ele concerteza era uma boa pessoa (o conhecido “Genro que mamãe pediu a Deus”). Para Prince, ele era apenas um bom ator.

- Bom... O que eu posso fazer? – Ele comentou sorridente, dando de ombros – Está um lindo dia... Não acha?

De fato, mesmo que o rapaz de cabelos de ouro e olhos de prata provavelmente estivesse querendo mudar de assunto, a manhã de começo de inverno estava inegavelmente adorável.

O sol matinal brilhava doce e aconchegante por entre algumas nuvens que mantinham o céu escondido, tornando necessário apenas um agasalho mínimo caso se quisesse proteger da brisa que agitava as folhas tão alegremente que parecia uma criatura viva recém-libertada.

- Só você mesmo pra não se animar em um dia como esses – Fallen concluiu, enquanto observava um bem-te-vi na janela.

Prince suspirou. Fallen realmente achava que ainda o enganava facilmente?

- Pois eu acho que o clima não tem nada a ver com o fato de você não parar de falar...

- Ah não? – Fallen desviou o olhar de prata do bem-te-vi para Prince, com um suave sorriso nos lábios.

- Definitivamente não. Aliás, falar desse jeito faz sua “mascara” – Prince fez as aspas com os dedos – ficar meio frouxa. Aconteceu alguma coisa desde que voltamos pra cá, não aconteceu?

O sorriso de Fallen desapareceu. O bem-te-vi alçou vôo, assustado. Prince sorriu. Pelo jeito, havia mexido na ferida recém-aberta. Alguma coisa definitivamente havia acontecido.

- Opa, acho que sua mascara acabou caindo – comentou um Prince sorridente.

- Eu estou bem – Fallen levantou-se – E não, não aconteceu nada. Mas se meu ‘falatório’ o incomoda...

- Cuidado, não vá esquecer a mascara, hein? – Prince zombou, enquanto Fallen se distanciava. Bom, pelo menos agora ele poderia ter um dia tranqüilo. Ou pelo menos era o que ele pensava. Afinal, desde quando Prince conseguia ter um dia tranqüilo?

*

- Demônio estúpido...

Enquanto deixava a água que caía do chuveiro correr livremente por seus cabelos e seu corpo, Fallen sabia que no momento podia apenas xingar Prince. Talvez por intrometer o focinho onde não devia, ou talvez por sua repentina esperteza, afinal Fallen não podia negar pra si mesmo que ele havia acertado em cheio.

Fechou a torneira e saiu do chuveiro, apoiando-se na pia para encarar a própria imagem no espelho que começava a desembaçar aos poucos.

Aparentemente, não havia nada de errado consigo mesmo.

Acompanhou com os olhos o lento caminho de uma gota d’água que escorria de seu cabelo para seu obro, para seu peito e deste para o resto do corpo esculpido em marfim.

Sim, fisicamente estava tudo certo.

Mas ao encarar os próprios olhos, Fallen sentiu de imediato a falta de sua “máscara” de garoto bonzinho, e de sua naturalidade para transformar seus olhos de agulhas de prata em prata maleável. E não era de hoje. De fato, encontrava-se quase impossibilitado de fazê-lo desde aquele dia...

FLASHBACK ON~

Fallen sentia-se leve. Leve demais, a ponto de sentir-se flutuando. E incapaz de abrir os olhos. Mas não se importou. Fazia algum tempo que não se sentia tão... bem?

De alguma forma, sabia por que estava naquele lugar desconhecido. Provavelmente havia perdido a consciência (o que significava que seus planos, carinhosamente apelidados de “MMM’s” por Demetra, haviam falhado). Mas decidiu apenas descansar. Nada mais parecia importar no momento.

- Fallen... – uma voz nem feminina nem masculina, nem aguda nem grave, mas de certa forma reconfortante, chamou-o. Mas o loiro não queria responder. Aquela voz que o deixasse descansar em paz.

- Fallen – a voz insistiu

-... Quem me chama? – ele finalmente reagiu

- Porque fez tudo aquilo? – A misteriosa voz ignorou a pergunta do jovem e fez a sua própria. E ele sabia muito bem ao que ela se referia. Obviamente era sobre seus planos recém-falhos de ‘limpar o mundo’.

- Como ‘porque’? – Fallen riu – Me dê um único motivo pra continuar vivendo nesse mundo, pútrido do jeito que está.

FLASHBACK OFF~

Depois disso, parecia até que havia sido atingido por algum tipo de maldição. Por mais que tentasse, Fallen simplesmente não conseguia deixar de pensar nela. Naquela maldita garota de cabelos cor de rubi, olhos cor de lua e um nome um tanto peculiar (pra não dizer até irônico): Himmel [1]. E que apesar do nome e da aparência de anjo, tinha um coraçãozinho tão negro quanto o dele. E que ultimamente (como já foi dito) não saía de seus pensamentos.

Um poderoso trovão rasgou os céus, anunciando uma tempestade próxima. Enquanto secava os cabelos de seda dourada, Fallen observou as nuvens juntando-se no céu, como pequenas peças de um quebra-cabeça aliando-se para formar algo maior.

Ele sorriu. Se aquela situação estava se tornando um obstáculo, ele sabia o que fazer.

*

Himmel sentia-se sozinha. Naquele grande quarto decorado em estilo grego assim como o resto da casa, acolhida dentre os lençóis de seda branca, por mais difícil que fosse ignorar seu orgulho (que não era pouco) e admitir, Alice fora a que chegara mais próxima de que ela pudesse chamar de “amiga” em muito tempo. E agora ela estava morta. E Himmel estava sozinha novamente.

Ouviu o som delicado da campainha tentando sobressair-se em meio à tempestade. Com um suspiro, desembrenhou-se dos lençóis, e de certa má vontade, levantou-se, olhou de relance i espelho que refletia sua figura de cabelos ruivos e ondulados e olhos brancos [2] como a lua, e ajeitou a alça da camisola de seda negra que cobria com suavidade seu corpo de porcelana.

Seus pés descalços percorreram os corredores de mármore frio, mas ao abrir a porta, a sensação de choque térmico foi tão forte que ela até esqueceu-se de fechar a porta na cara de seu visitante inesperado. O chão de mármore parecia quente se comparado à ira fria das chamas prateadas dos olhos dele.

Não havia dúvidas. Apesar de os olhos dele normalmente parecerem agulhas ao invés de lava prateada, e de vários fios dourados estarem colados à sua face molhada (assim como a roupa no resto do corpo [3]) ao invés de impecavelmente arrumados no melhor estilo eu-sou-um-anjo (aparentemente, o gênio esquecera-se de pensar em um guarda-chuva), seus próprios olhos não a enganavam. Era Fallen.

- Himmel... – Foi ele quem quebrou o curto silêncio frio entre os dois.

- O que veio fazer aqui? – E apesar de por uma fração de segundo ter quase sentido a leve impressão de alguma parte de si ter se sentido feliz por Fallen ter vindo procurar por ela debaixo de chuva pesada, não perdeu a compostura.

- Porque foi embora? - A voz dele se sobrepôs à dela, com um tom visivelmente ressentido e consideravelmente... magoado!?

Obviamente, Himmel sabia muito bem do que Fallen estava falando. Depois das MMM’s, ela simplesmente desaparecera sem se dar ao trabalho de dar satisfações a ninguém. Mas não era porque tinha concordado em ajudar Fallen em seus planos doidos que agora tinha a obrigação de dar satisfações a ele!

- Simplesmente... Não é da sua conta – Ela defendeu-se no mesmo tom.

- Se não fosse – Ele retrucou num tom acima, visivelmente com os nervos à flor da pele – Eu não estaria pensando em você 24 horas por dia!

Himmel bufou pelo nariz. Fallen também [4]. Encararam-se. Olhos de fogo prateado contra olhos de fogo branco. No fundo, ambos sabiam que naquela situação, só havia uma coisa a se fazer.

E Fallen o fez. Beijou-a. E ela retribuiu. Pela primeira vez sem brigas, palavras ferinas provocativas ou disputas, apenas cedendo-se um ao outro. Fallen deixou que Himmel embrenhasse os dedos entre seus cabelos dourados arranhando seu pescoço, e Himmel deixou que Fallen abraçasse sua cintura delicada, unindo o corpo encharcado dele ao anteriormente seco dela. Duas forças destrutivas finalmente unidas e em paz em um beijo carinhoso e apaixonado [5].

- Fallen... – Ela murmurou, olhando-o com ternura.

- Himmel... – Ele murmurou de volta, retribuindo o olhar.

E embora fosse grande a possibilidade de nenhum dos dois passarem por cima do orgulho para dizê-lo, eles sabiam que não havia mais chance alguma de escapatória, e havia uma certeza:

Definitivamente, era amor.

The end <3 [6]

Agora, as observações inúteis da autora :3

[1] – “Himmel”, em alemão, quer dizer “céu”

[2] – Não, apesar dos olhos brancos, ela não é cega u-u

[3] – Cadê minha câmera nessas horas? e_é

[4] – Que fofos xD

[5] – Amen e.e’

[6] – Até que enfim u-u / Essa foi a mini-fic mais comprida que eu já vi :D