Mithra - Em Busca do Sonho escrita por Camille M P Machado


Capítulo 3
Christopher


Notas iniciais do capítulo

A base da personagem Christopher foi criado por Dimi Nyan (ID #124472), porém, a interpretação, adaptação e inserção da personagem no contexto de Mithra foi feita por mim.



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Ele vagava há dias naquele deserto gelado, era uma imensidão branca. Foram centenas de milhas sem encontrar uma única pessoa ou animais, era apenas ele, os vários metros de espessura de neve e algumas árvores avistadas vez ou outra. A comida era escassa e o frio era intenso. Durante o dia andava sem rumo para aquecer o corpo com a frágil luz solar e durante a noite ele se abrigava das nevascas em cavernas.

Esta era uma rotina natural para ele. No inicio fora duro viver em desertos congelados, sozinho, mas se acostumou com o tempo. Arrumar comida num vazio e proteger-se do frio foram lições aprendidas na marra que a vida lhe ensinara. Ele apenas sobrevivia onde muitos preferiam morrer após um longo tempo sem saber o porquê, talvez algo dentro de si o dizia para viver.

Christopher era apenas uma criança de seis anos quando se esquecera de tudo antes do fatídico dia e acordara num mundo coberto pela neve, o mundo branco, como ele o chamou desde então. Não havia ninguém neste mundo, era o único ser racional. Ele aprendera a caçar animais para se alimentar, entender a natureza, seu clima, sua fauna e como se proteger do frio e das nevascas. Mas ainda era apenas um garoto solitário de dezesseis anos.

A primeira vez que falou com alguém desde que perdera a memória foi quando chegou a Mithra para ouvir as saudações e as regras do jogo. Mithra era como seu mundo, um lugar hostil e selvagem, ele sabia o que muitos participantes não saberiam, como se mover e sobreviver naquele lugar.

Ele apertou a pedra vermelha em sua pulseira novamente para consultar o mapa. Segundo o mapa, ele estaria chegando ao pé da montanha, onde a neve desapareceria para dar lugar a uma mata conífera ou algo semelhante daquele planeta. Ele já podia ver a diferença, o frio diminuíra, o ar estava mais denso e fácil de respirar, a neve estava menos alta e as árvores e animais apareciam em seu caminho com mais frequência.

Entretanto, teria que continuar caminhando no dia seguinte, estava anoitecendo e não era seguro andar a noite, a visibilidade era baixa, o frio maior e ainda corria o risco de ser pego por uma nevasca. Seria mais seguro procurar um lugar para passar a noite e retomar a caminhada ao nascer do dia seguinte.

Enquanto ele procurava um lugar para se abrigar durante a noite, o sol caía depressa no céu e a nevasca começava a se anunciar. Achar uma caverna fora difícil com tantas plantas trepadeiras cobrindo as encostas rochosas daquelas montanhas, contudo, tivera sorte de encontrar uma antes do último raio solar. Já era noite quando ele armou uma pequena fogueira e preparou os peixes colhidos durante as primeiras horas do dia e algumas frutinhas para comer. Após comer, ele se preparou para dormir.

Christopher não podia ver devido às espessas camadas de hera que cobriam a entrada da caverna, mas podia ouvir as intensas trovoadas do lado de fora e o estrondoso vento. Dormir com tanto barulho era quase impossível, precisava manter-se em alerta para o caso de algum animal aparecer, contudo, o forte barulho da nevasca camuflaria qualquer ruído de passos de animais.

Não era apenas o barulho que o impedia de dormir, algo naquela caverna o deixava irrequieto, mal conseguia ficar parado em sua improvisada cama para dormir. Ele sentia uma presença poderosa chamando-o, era difícil manter o controle de seu corpo. Parte de si queria seguir o chamado como um viciado que experimentou os efeitos de uma droga e a quer uma vez mais, a outra parte, como um caçador experiente, sabia que seguir aquela tentação poderia levá-lo a morte. Mas a tentação era forte demais, lutar contra ela era difícil, estava preso à caverna até a nevasca passar. Ele suava como um viciado em abstinência.

Ele estava deitado tentando esquecer o chamado quando um vento soprou do fundo da caverna, apagando a fogueira. O sopro perdera forças enquanto um tênue brilho se acendeu no interior da emaranhada galeria de tuneis que compunham aquela caverna. A luz tênue o chamava ainda mais intensamente, mas a sensação era diferente, ele não estava mais sofrendo de abstinência por uma presença desconhecida e não o tentava mais a seguir para o interior daquele lugar como a misteriosa presença outrora o fizera. Aquela luz o deixava intrigado.

Dormir naquele lugar com tudo aquilo acontecendo seria impossível, constatou ele, então decidiu averiguar o que estava acontecendo nos tuneis adentro da caverna. Iria investigar com cautela e preparado para lutar se precisar.

Ele apertou um pequeno botão em sua pulseira, perto da pedra vermelha, e uma luz branca apareceu sobre a pedra. A luz subiu enquanto aumentava o tamanho até chegar acima de sua cabeça e estar do tamanho dela, ela iluminava tudo o que estava num raio de cinco metros e possuía uma forma esférica. Com sua lanterna mágica que o acompanhava, ele prosseguiu devagar.

Ele andou por quinze minutos sem encontrar nada no caminho além de um lago, cuja água era cristalina, o fundo resplandecia num verde-água. O teto da caverna naquela área era aberto, o que permitia o luar iluminar todo o lago e criar o brilho no fundo. Graças ao luar, era possível ver todos os peixes e espécies de plantas aquáticas. Era uma beleza de tirar o fôlego.

Após algum tempo observando aquela paisagem encantadora, Christopher descobrira que era o fundo do lago a misteriosa luz que vira na entrada. Ali, perto do lago, ele se sentia mais sereno, a mente calma e os pensamentos, junto com as aflições, desapareciam aos poucos. Era uma sensação entorpecente e tentadora a continuar experimentando-a.

Ele tentou manter sua mente lúcida e impedir todos os pensamentos de se esvaírem, sabia que algo estava errado com o lago, sentia como se ele o estivesse enfeitiçando. Sair dali era a coisa mais sábia a se fazer, então rodeou o lago para continuar andando em frente. Conforme o rodeava, encontrava vários ossos no chão, alguns de animais, outros de alguma espécie humanoide.

Christopher cambaleou para longe do lago por um longo tempo, mesmo distante, ainda sentia os efeitos dele. À medida que se afastava, tornava-se mais fácil andar e resistir àquela sensação, porém, ele encontrava mais ossos pelo caminho, cada ossada mais frequente. O ar úmido levava o cheiro de morte as suas narinas.

Estranhas inscrições começaram a aparecer nas paredes rochosas conforme seguia o túnel. As inscrições eram antigas, assim como a língua em que elas estavam escritas. Era uma língua morta e há muito tempo esquecida, contudo, por algum motivo, Christopher conseguia entender o que estava escrito.

As inscrições contavam a história de um antigo povo que viveu por muito tempo no interior da montanha.

Eles chegaram à Mithra em sua Segunda Era, quando Mill, a Grande Deusa, criara as várias raças humanoides racionais, esculpidas pela magia. Os Qiwins foram os primeiros, criados à forma física humana e com algumas habilidades que lhes diferenciavam dos humanos, habitantes naturais de vários mundos.

Eles possuíam olhos especiais na qual lhes davam a habilidade de enxergar mais do que olhos comuns podiam, eles conseguiam ver as fraquezas de seus oponentes. Graças à habilidade, ganharam o título de Grande Caçador com o passar do tempo.

Os Qiwins também veneravam Mil como sua Deusa Protetora e, principalmente, como sua mãe. Tratavam a Guardiã como os filhos tratam suas amadas mães, e para Mill, eles também eram como filhos. Ela os abençoava em suas caçadas e os protegia de qualquer mal, como qualquer mãe faria.

Durante séculos, Mill tivera a companhia que sempre desejara, era amada por seus filhos e nunca estava sozinha. Ela sempre tinha alguém para conversar, alguém para rir com ela ou fazê-la rir, alguém para consolar a tristeza de seu coração quando algum filho falecia. Durante séculos, estivera feliz como desejara, apesar de algumas tristezas. Em gratidão a essa felicidade, a jovem guardiã dera-lhes um poderoso artefato aos seus filhos.

Ele concedia ao seu portador enxergar muito além que qualquer outra raça existente poderia, ele possibilitaria o portador a ver tudo. O artefato originalmente pertencera a um mundo antigo, chamado Neasa, e fora replicado em Mithra. Era uma réplica igualmente poderosa ao original.

- Neasa. – repetiu Christopher passando os dedos sobre os caracteres usados para o nome.

Aquela palavra parecia-lhe familiar, já a ouvira em algum lugar, só não sabia ao certo onde.

Durante algum tempo, os Qiwins agradeceram o presente com muitos suculentos banquetes e construções de pequenos templos em sua homenagem. Com o poder, tornaram-se um reino próspero e grandioso.

Contudo, o poder do artefato se desenvolveu com as gerações. Era passada de pais para filhos no nascimento como uma característica genética e, a cada geração, a habilidade crescia e tornava-se mais poderosa. Um poder que ultrapassara até as previsões de Mill.

Os Qiwins possuíam uma compatibilidade muito grande de união ao artefato, esta fora a principal causa de sua extinção.

O que no início era um presente tornou-se uma maldição. O poder era grande demais para ser controlado, viciante demais para ser usado, perturbador demais para qualquer mente normal e o pior, inseparável. O artefato unira-se de forma permanente aos Qiwins, tornando-se parte da raça.

A evolução do poder lhes deu as habilidades de ver o passado, presente e futuro, a verdade por trás da mentira, a realidade ao invés da ilusão, o coração das pessoas, entre outras coisas. A capacidade de ver tudo o que está por trás do véu de segredos era encantadora e, ao mesmo tempo, assustadora.

Descobrir a verdade por trás das mentiras dos outros desencadeou uma discórdia muito grande, era pais não confiando mais em seus filhos, esposas em seus maridos, crianças em adultos, idosos nos jovens e, principalmente, todos passaram a temer Mill. Os Qiwins passaram a viver com medo de suas próprias sombras e aos poucos iam enlouquecendo.

Alguns fugiram daqueles sem sanidade que matavam aos outros sem qualquer motivo, refugiaram-se no interior sombrio das montanhas e juraram jamais voltar a ver a luz. Nas cavernas escuras eles encontraram abrigo e proteção, era difícil enxergar no escuro e isto impedia de ver algumas das coisas que o poder lhes oferecia.

Contudo, não fora o suficiente, muitos enlouqueceram na ausência de luz e as matanças por medo continuaram. Os Qiwins foram extintos aos poucos por seu próprio poder e esquecidos pela Deusa com o tempo, acreditando não haver mais salvação, ela criara outra raça que pudesse substitui-los e lhe fazer companhia.

Esta é a decepcionante história de meu povo, sou o último Qiwin vivo, porém, não será por mais muito tempo. Meu fim está se aproximando, eu posso vê-lo sempre que fecho meus olhos, deixo este aviso na antiga língua da deusa para todos que encontrar esta caverna. Jamais toque naquela coisa, aquele artefato é amaldiçoado e irá matá-lo com seus próprios medos, acabará insano como meus amigos, minha família e eu acabamos.

- O olho que tudo vê, Drust. – proferiu Christopher sem pensar ao terminar de ler a penúltima frase da inscrição.

Drust, o olho que tudo vê, é um poder acima da compreensão e controle de todos, pegue o que quiser, mas fique longe dele.

De alguma forma, Christopher conhecia vagamente Drust. Era estranha a sensação que aquela palavra lhe causava, sentia como se aquilo remetesse ao seu passado, mas ele não conseguia lembrar o que, perdera a memória quando ainda era bem pequeno. Ele queria lembrar-se de seu passado, ler aquela palavra lhe causava esse desejo, queria recuperar o que um dia lhe pertencera e ele perdera. Mas aquela não era a hora, nenhuma tentativa de lembrar funcionava.

Enquanto tentava lembrar, ele se deu conta de que a inscrição terminava no limiar de uma antiga aldeia Qiwin, ou o que sobrara dela. Christopher entrou na aldeia caminhando devagar, sua lanterna mágica assustara hordas de morcegos que fizeram daquele lugar seu lugar de descanso.

À medida que entrava na antiga aldeia, via que as paredes de pedra talhada das casas estavam desgastadas pelo tempo, algumas casas tiveram seus telhados de palha quebrados e o interior das casas, vistas pelas janelas, estavam uma bagunça. Aquele lugar era ruínas muito bem preservadas da antiga aldeia.

A aldeia era formada por dois corredores que levavam até uma construção maior do que as casas normais. A construção maior parecia uma espécie de um antigo templo completamente destruído. Grandes blocos de pedra que uma vez constituíram a parede do templo agora estavam despedaçados no chão.

Apenas uma coisa ainda estava intacta naquele santuário, era uma espécie de pedestal no qual Christopher não sabia dizer o que estava nele. Ele pegou o que estava no pedestal para observar de perto, parecia uma pedra completamente esférica do tamanho de um globo ocular, depois pôs no lugar novamente.

- Que coisa estranha. – pensou em voz alta então se virou para observar a cidade da vista do santuário – Estranha como tudo neste lugar. Essas casas estão intactas demais para uma ruína de milhares de anos e este templo...

Quando se virou para olhar o pedestal e as paredes da construção novamente, fora surpreendido com um brilho singelo. A pedra esférica flutuava alguns centímetros acima da superfície do pedestal enquanto brilhava intensamente. Ela emanava um calor reconfortante, não estava quente nem frio, enquanto prendia a total atenção de Christopher.

Aquela luz o encantava, não conseguia resistir à tentação de não olhar. Ela chamava por seu nome e induzia uma sensação de torpor, enfeitiçando-o. Enquanto olhava para ela, o resto do mundo não parecia existir, ele não ouvia nada, não sentia nada e não via mais nada além daquele brilho caloroso. Então o brilho se apagou e, junto com ele, a pedra desaparecera, deixando-o sozinho na caverna escura e fria.

Seu devaneio enquanto fitava o vazio foi quebrado por um ruído vindo de suas costas. Não percebera o que acontecera ao seu redor enquanto estava no torpor induzido pela pedra, os ossos espalhados pelo recinto se reergueram em forma de esqueletos de várias pessoas que andavam em sua direção.

Ele piscou os olhos, incrédulo, com o que via. Em um de seus olhos, ele via a ruína de uma antiga aldeia quase intacta, do mesmo jeito como vira quando chegara naquele lugar. Com o outro olho, via a aldeia completamente destruída, igual ao templo, e com esqueletos andando em sua direção, alguns seguravam facas e espadas. O andar dos esqueletos eram lento, mas eles nunca paravam de andar, quando tropeçavam e se desmontavam, eles se remontavam e voltavam a andar.

- Drust... – sua voz saíra fraca e horrorizada.

Christopher estava horrorizado e, pela primeira vez, sentia medo, o que quer que fosse aquilo não haveria como pará-los. Ele deu um passo para trás, esbarrando no pequeno pedestal, este caiu no chão e se esfarelara, deixando apenas o pó de pedra. Ele recuava aos poucos, de passo em passo.

Ouviu um ruído de suas costas, era um barulho de alguma coisa riscando a pedra. Ao se virar para ver o que era, viu um aviso na parede da caverna, uma segunda inscrição.

Eu lhe avisei para não tocar naquela coisa, agora sofrerá as consequências. Não poderá mais sair destas paredes!

A inscrição era recente, fora feita naquele mesmo instante. Se Christopher não tivesse visto com os próprios olhos enquanto era escrita, ele provavelmente não iria acreditar. A alma do homem que escrevera o aviso o encarava com fúria, Christopher conseguia vê-lo com o olho direito enquanto o com o esquerdo, não via ninguém.

Ele olhou os esqueletos mais uma vez, estavam mais pertos e se aproximando cada vez mais enquanto ele ficava parado pelo medo. Depois olhou o homem novamente e percebeu que sua vida correria perigo se continuasse ali, seria morto pelos esqueletos para devolver Drust ao seu templo.

Christopher retirou as adagas de seu alforje, preso em sua cintura, e começou a correr. Entrou no primeiro túnel que viu e correu, precisava sair dali se quisesse viver. Ele encontrou alguns esqueletos pela frente que precisou atrasá-los com as adagas, ele cortou alguns ossos, desmontando-os, enquanto corria.

- Onde está a água quando preciso?

Ao fim do túnel escolhido, ele se deparou com uma saleta com quatro caminhos diferentes, contando com a de onde havia vindo. No caminho a sua frente, mais esqueletos vinham ao encontro dele; atrás, tinha os que o seguiram até lá; em sua direita, havia outros; e a sua esquerda, uma horda de esqueletos. Ele estava cercado, havia esqueletos por todos os lados.

- Isso parece um pesadelo! – resmungou em voz alta.

O pesadelo que você escolhera, uma voz ecoara pelos túneis em resposta a ele.

- O que você quer de mim? – gritou.

Drust deve permanecer dentro dessas paredes, repetiu a voz.

Um esqueleto surgira atrás dele e tentara matá-lo, encravara uma faca em seu braço. Ele percebera o esqueleto no último segundo, tivera sorte de conseguir desviar o suficiente para proteger seus órgãos internos, o verdadeiro alvo.

Ele retirou a faca de seu braço e apunhalara o esqueleto em uma de suas cavidades oculares. A princípio, a ideia parecera ridícula, o esqueleto recuara alguns passos atordoado, mas depois voltou ao normal. Entretanto, quando o esqueleto retirara a faca do lugar onde estivera um de seus olhos, ele se desmontou, voltando a ser apenas ossos inofensivos.

Aquilo lhe dera uma ideia, se eles voltavam a ser apenas ossos quando apunhalados em uma das cavidades oculares, então nem tudo estaria perdido, mas ainda teria que fugir dali, não poderia lutar com tantos esqueletos.

Ele seguiu o caminho da direita, onde tinha poucos esqueletos ambulantes. Arremessara a faca com seu sangue onde esteve o olho de um deles enquanto corria segurando a adaga em sua mão esquerda. A outra estava guardada no alforje, o braço direito estava ferido demais para manejar uma adaga. Escorria muito sangue do ferimento profundo, a faca trespassara o músculo de um dos lados e abrira um ferimento até o osso, por sorte o osso estava intacto, mas o músculo estava dilacerado. O ferimento se regenerava aos poucos, fizera bem ele escolher regeneração rápida como uma de suas habilidades.

O túnel da direita era longo, mas não havia ramificações em seu decorrer, o que era bom, pois não apareceriam mais esqueletos em cantos onde ele não consiga ver. O cheiro ali também era agradável, uma mistura do ar úmido e mofado, preso em um lugar fechado, com a umidade da neve, a terra e flores do exterior da montanha. O aroma era sinal de que estava se aproximando da saída, ele já conseguia ver alguns feixes de luz no final do túnel.

À medida que corria, a luz ficava mais intensa e o cheiro menos mofado. Suas pernas estavam cansadas de tanto correr, podia sentir os músculos de suas pernas se distendendo com seu esforço excessivo. Era questão de vida ou morte, precisava sair dali.

Quando finalmente alcançou o exterior da caverna, a luz do sol da manhã o cegara, estivera à noite inteira em uma caverna escura com o pouco de iluminação de sua lanterna. As pupilas demoraram a se acostumar com tanta claridade, quando voltou a enxergar alguma coisa, viu que estava em um penhasco. Aquele túnel levava para uma passagem do outro lado da montanha, onde, em baixo, corria um grande rio.

Ele se virou para ver onde estavam os esqueletos e viu que eles estavam parados no limiar da entrada da caverna. Eles brigavam entre si, mexiam seus maxilares como se tentasse dizer algo, mas nenhuma voz saia, e esticavam seus braços tentando pegar Christopher sem sair da sombra da caverna.

O jovem caçador ouviu uma explosão e um clarão surgiu, estava novamente com os olhos ofuscados com tanta incidência de luz. Os pássaros de toda a floresta gelada voavam para longe, assustados, eles grunhiam enquanto um pilar enorme de uma luz azulada se estendida da montanha até o céu, vista apenas com o olho direito. Várias almas subiam aos céus enquanto os esqueletos no interior da caverna voltavam a ser somente ossos de pessoas que morreram há muito tempo.

Quando o pilar se apagou, levando todas aquelas almas embora, Christopher deixara se jogar no chão, exausto e aliviado, os esqueletos eram um problema a menos a que se preocupar. Sentado na encosta do rochedo, a dor em seu braço ferido começava, era intensa. Ele sentia como se seu braço tivesse sido partido ao meio, queria gritar de dor, mas a voz não saía e o braço ficava imóvel. A dor e o cansaço eram tantos que ele acabou dormindo, ali mesmo.

Em alguma parte de Mithra, uma mulher de aparência jovial assistia às almas partindo sentada em um dos galhos de uma árvore gigante. O cabelo castanho estava solto em suas costas e seus olhos vermelhos com as pupilas em forma de prismas negros observavam ao espetáculo com atenção.

- A maldição dos Qiwins foi quebrada. Agora que o artefato foi retirado de sua aldeia, suas almas poderão descansar em paz.


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