Past Vs Future escrita por letycia


Capítulo 9
Capítulo 9 . Memórias




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Capitulo 9

Memórias

Dois dias depois de termos voltado de Forks, Angel e eu estávamos de novo num avião, desta vez com destino à Escócia. Um grupo de vampiros andava a fazer estragos e nós iríamos repor a ordem.

Angel dormitava no acento de primeira classe ao meu lado enquanto eu escrevinhava, distraidamente, num bloco de notas. Um hospedeiro de bordo parava muitas vezes à minha beira e perguntava se eu necessitava de alguma coisa. Agradecia mas negava sempre a sua ajuda. Talvez, à uma semana atrás, me teria interessado por este humano. Era alto, com cerca de 1.83m, cabelos loiros e olhos azuis. Aparentava ter 23 ou 24 anos. Seria uma boa distracção para um voo nocturno onde não há ninguém para observar. Mas a minha mente só se preocupava com uma coisa, «quem era Edward?».

Não aguentava mais este silêncio e pressenti que dentro de 2 minutos o hospedeiro iria fazer nova abordagem, por isso, fiz o que toda a gente costuma fazer.

– Angel, estás a dormir? – Bati-lhe levemente no ombro e falei perto do ouvido.

Esperei durante uns segundos mas não obtive resposta. Voltei a abanar-lhe o ombro.

– Agora já não estou a dormir. – Disse sem abrir os olhos.

– Está tudo muito sossegado. – Resmunguei largando-lhe o ombro.

– Olha que o senhor hospedeiro bem que não se importava de quebrar o silêncio contigo. – Um leve sorriso apareceu-lhe nos lábios.

Dei-lhe uma estalada no ombro e recostei-me no meu acento com os braços cruzados. Angel abriu os olhos e virou a cabeça na minha direcção, sem nunca a desencostar da almofada.

– Diz lá o que te apoquenta!? – A sua voz dizia-me que apenas perguntou por mera cortesia, ele sabia perfeitamente o que me enchia a cabeça.

– Aquele rapaz não me sai da cabeça. – Olhei-o nos olhos. – Não te lembras de nada de quando eu fui transformada?

– Não. – Falou após uns momentos de pausa.

– Bolas. Tenho a certeza que temos alguma ligação de quando eu era humana, apenas não consigo lembrar-me do quê! – Suspirei. – Todos os transformados passam por isto? Perdem as suas memórias de humanos?

Angel ficou em silêncio por mais tempo do que esperava e uma sensação de ansiedade começou a crescer dentro de mim.

– Bem, não. Normalmente conseguem reter algumas informações, embora, digam eles, que essas memórias se apresentam um pouco esbatidas, desfocadas. – Tinha desencostado, finalmente, a cabeça da almofada e esta escorregou-lhe para as costas.

– Mas, eu não me lembro de nada! Como é isso possível? – Inclinei-me na sua direcção e, dobrando a perna direita, coloquei o joelho em cima do meu acento.

– Lembraste do sangue que tinhas no vestido?

– Sim, lembro-me. – Retrocedi até ao ano de 1918, em Chicago, quando acordei na cave com Angel. O meu vestido branco, o meu vestido de noiva, estava ensanguentado.

– Nem todo esse sangue provinha da mordida na tua barriga. Julgo que quando caíste bateste com a cabeça na esquina de algum passeio e isso fez com que perdesses muito sangue. Felizmente o veneno começou a actuar no teu golpe e impediu que te esvaísses em sangue. Penso que deve ter sido aí que perdeste a tua memória.

– Queres dizer que nada tem a ver com a transformação? Se hoje fosse humana teria amnésia? – Perguntei.

– Bem, se fosses humana, hoje estarias morta. – Sorriu tentando aligeirar a conversa, mas parou assim que o fulminei com o olhar.

– Boa, sou uma vampira com amnésia. Onde é que já se viu tal coisa. – Angel encolheu os ombros. – Sabes, se calhar é por causa disso que tenho o poder que tenho. Como o meu cérebro está tão livre de memórias, entretêm-se a absorver os poderes dos outros só para se sentir mais completo. – Resfoleguei.

– Caroline, eu…

– Deixa lá. Volta a dormir. Não te aborreço mais. – Angel abriu a boca para falar novamente, mas achou que era melhor deixar-me me paz. Voltou a colocar a almofada debaixo da cabeça e virou a cara para a janela.

Ainda sentia o fogo da frustração a queimar-me o peito. Baixei o olhar e encarei o meu bloco de notas. Tinha desenhado a cara de Edward e um ponto de interrogação na sua testa!

«Estou a ficar paranóica» pensei para comigo.

Aterrámos na Escócia, ainda não eram seis da manhã, e mal pusemos os pés naquele país vimos logo marcas da destruição. A primeira página de todos os jornais nacionais relatava a existência de novos desaparecimentos e mortes. Ao todo, já iam em 26 mortes e 14 desaparecidos.

– Isto acaba hoje! – Cuspiu Angel entre dentes.

A nossa busca levou-nos até à entrada de uma caverna onde os vampiros se esconderiam durante o dia para fugir à luz do sol. Aproximamo-nos lentamente e sem chamar qualquer atenção. Ouvimos passos de alguém ao longe, junto a um riacho, mas havia mais alguém dentro da caverna a alimentar-se. Angel fez-me sinal que iria para o riacho, deixando o vampiro da caverna para mim. Assim que partiu eu tratei de entrar discretamente na caverna húmida.

Estava escuro, mas os meus olhos nunca me traiam, fosse em que condição fosse. Assim que curvei, junto a uma das paredes, avistei uma vampira, debruçada sobre um cadáver, a alimentar-se. Certifiquei-me de que não havia outros lá dentro. O meu plano era atacar de surpresa, ela nem saberia o que lhe caíra em cima, mas não tive muito cuidado com o que pisava e um osso humano acabou por estalar debaixo no meu pé, soltando um baque surdo. A vampira virou-se na minha direcção em posição de ataque e eu imitei-a, silvando por entre dentes. Agora que me vira iria ser mais complicado, mas nada me podia deter, eu era uma Volturi e tinha a confiança de um.

– Caroline? – A vampira à minha frente parou de me mostrar os dentes, mas nunca abandonou a sua posição de ataque.

O meu cérebro demorou algum tempo a processar a informação.

– Como sabes o meu nome? – A minha pergunta era uma ordem ao mesmo tempo.

– Oh céus. – A vampira ergueu-se e colocou uma mão à frente da boca. – És mesmo tu!

– Como sabes o meu nome? – Voltei a repetir com mais força.

– Não te lembras de mim? – Ela apontou para si. – Sou eu. A Lilith.

De repente tive uma visão de um campo de milho. Estava um dia solarengo e tinha que cerrar os meus olhos para conseguir ver. Alguém atrás de mim chamou o meu nome e eu virei-me. Lilith, numa versão humana, com pele dourada e olhos azuis vibrantes corria na minha direcção por entre o milho curto que nos chegava à cintura. Sorri e acenei na sua direcção.

– Tu eras a minha melhor amiga. – Disse sem fôlego, enquanto regressava ao presente.

– Sim. – Ela sorriu. A sua pele agora era pálida e tinha os olhos vermelhos sangue de qualquer vampiro que não fizesse parte do clã dos Cullen ou dos Denali.

– Como é que… - Não consegui terminar a frase. «Como é que te tornaste nisto? Quem te transformou?» não seria o momento mais oportuno para fazer tais perguntas.

– Eu tenho imensa pena, Caroline. Desculpa, nunca tive a oportunidade de te dizer isto.

– Mas de quê? A que te referes? – Ainda continuávamos a uma distância considerável uma da outra mas todas as posições de ataque tinham sido abandonadas. Ouvíamos bem e por isso não tínhamos necessidade de nos aproximar-mos.

– O teu casamento. – O seu olhar era de pena. – Sofri tanto no dia em que soube o que tinha acontecido. Queria ir ter contigo mas ninguém sabia por onde andavas.

– Casamento… o que tinha acontecido… o que aconteceu? – De repente senti a minha cabeça pesada e tive necessidade de a apoiar numa mão.

– Oh céus, desculpa Carolina. Nem quero imaginar o que sofreste e percebo perfeitamente que queiras por tudo para trás das costas e esquecer. Não volto a falar no assunto.

– Não… eu apenas não me lembro. Por favor, Lilith. Conta-me! Preciso de saber. – Supliquei.

Ela deu um passo hesitante na minha direcção e parou.

– Tu ias casar, Caroline. Mas uma semana antes o teu noivo foi contagiado pela febre-amarela que assolava a nossa região. Ele morreu dois dias antes da vossa boda. – A sua voz estava carregada de dor. – Na noite em que ele morreu e no dia seguinte ninguém conseguiu entrar no teu quarto. Tinhas-te fechado lá dentro e nem mesmo a tua mão conseguia fazer com que saísses, comesses ou bebesses alguma coisa.

Uma voz feminina, doce e suave soou na minha cabeça. Era a voz da minha mãe, sabia-o, mas não me lembrava de como era o seu rosto.

– No dia da tua boda, um Domingo, fugiste de casa, de manhã cedo e levaste contigo o teu vestido de noiva. Andamos à tua procura durante horas, mas ninguém te encontrava em lado nenhum. O teu pai reuni-o grupos de busca, compostos por vários homens da vizinhança, mas não houve sinal de ti. Nunca apareceste, nem mesmo o teu corpo. – Prossegui-o Lilith. – Agora vejo o porquê.

O seu olhar percorreu todo o meu corpo. Senti os meus joelhos quererem ceder. Apetecia-me deixar-me cair no chão e começar a chorar com toda a informação que estava a receber. Abracei a minha barriga e baixei a cabeça.

– O meu noivo… - Disse com a voz a fraquejar. - …como é que ele se chamava?

Antes que Lilith me conseguisse responder Angel irrompeu pela caverna dentro e saltou para cima dela arrancando-lhe a cabeça num só movimento. Tudo o que ouvi foi um grito abafado de Lilith antes de conseguir sentir um buraco abrir-se no sítio do meu coração e o afundar. Quase senti o meu peito ser rasgado ao meio por saber que a minha única ligação ao passado, a única pessoa que me podia dizer quem eu era, estava morta. Morta pela primeira pessoa que conhecera desde que “renascera”. E eu não conseguia fazer com que o meu corpo se movesse para impedir Angel de retalhar a minha melhor amiga e acender uma fogueira para queimar os seus membros. Todo o meu ser estava aturdido, como se estivesse a ver-me através de um videojogo. Até a dor que o poder de Jane infligia não era nada comparado com o que eu estava a sentir naquele momento.

Deixei-me cair de joelhos no chão e em seguida o meu corpo embateu violentamente no chão de terra. Angel correu para a minha beira e pegou-me pelos ombros.

– Caroline? Caroline, estás bem?

Conseguia ouvi-lo, mas não me apetecia responder. Naquele momento estava outra vez no meu quarto, quando soube que o meu noivo tinha morrido. Não queria ver ninguém, não me apetecia fazer absolutamente nada. Ficava todo o dia deitada na cama, apenas a existir. «Não quero existir mais» lembro-me de ter pensado. « Não quero existir num mundo onde tu não existas», «prometeste que nunca me abandonarias…» gritei nessa noite.

Os abanões frenéticos de Angel chamaram-me de novo para a realidade e nesta realidade o meu peito doía ainda mais do que na noite de 1918. Afundei a cabeça no peito de Angel e solucei. Um choro sem lágrimas que me sufocava a garganta e me impedia de respirar com precisão. Angel, segurou no meu corpo e acariciou-me as costas. Depois, um pensamento fez-me recuar dele e colocar-me imediatamente de pé.

– Porque a mataste? – Começou por ser um sussurro.

– Ela era inimiga. – Respondeu-me.

– Não, não era! Porque a mataste? – Berrei.

– O que estás a dizer? – Angel não compreendia. Levantou-se devagar.

– Ela era a minha melhor amiga, Angel. A minha única ligação com o passado. Eu podia perceber quem sou e tu tiraste-me isso! – Continuava a berrar.

– Não, Caroline. Ela estava a atacar-te. – Angel estendeu a mão direita na minha direcção, com a palma virada para cima. O gesto que sempre fizera quando queria que eu a pegasse.

– Ela não estava a atacar-me. A Lilith estava a contar-me coisas sobre o meu passado. Ela conhecia-me!

– Lilith? Foi assim que ela se apresentou a ti?

A sinceridade e compreensão na voz de Angel fez com que a minha raiva para com ele acalmasse. Ele estava a tentar dizer-me alguma coisa e eu não estava a ouvir.

– Como assim? – Perguntei.

– Oh, Caroline. Não me estavas a ouvir. Eu falei-te desta vampira antes de sairmos do castelo. O nome dela é Denice e consegue vasculhar o cérebro de qualquer pessoa e ir buscar memórias. Usa-as para enfraquecer o inimigo, levando-o a pensar que a conhece e depois, quando sente que o inimigo está vulnerável ataca. Ela estava a fazer isso contigo e estavas a acreditar. – Deu um passo na minha direcção e ao ver que não recuava juntou-se a mim e aconchegou-me no seu abraço.

– Desculpa ter berrado contigo, Angel.

– Não te preocupes com isso. Não levei a mal.

Permanecemos assim até eu me começar a sentir com mais forças.

– Angel?

– Sim, Caroline? – Baixou o olhar para me encarar.

– Eu tenho que ir a Forks. Alias, eu vou a Forks. – Reformulei. – Tenho que saber mais sobre quem é o Edward. Se quiseres podes vir comigo, mas compreendo se não quiseres vir.


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Notas finais do capítulo

Obrigado mais uma vez pelo apoio...
Se gostaram, não se esqueçam de deixar um review em baixo (é importante para os autores sentirem-se acarinhados) e não se esqueçam de favoritar a história...podem também recomendar (já agora, ahah)